quinta-feira, 29 de setembro de 2005

País gracioso - Jayme Copstein

Primeiro foi Miro Teixeira, assumindo o Ministério das Comunicações, prometendo criar do nada um padrão brasileiro de tevê digital. Anunciou, na ocasião, suculenta verba de 800 milhões de reais só para pesquisas. Depois disso, a única notícia que se teve, da boca do próprio Miro Teixeira, é de que equivaleria a tentar inventar a roda.
Sobre os 800 milhões, nada. Quanto foi gasto, onde foi gasto, quem gastou o que, ou até mesmo – hipótese a mais provável – se essa dinheirama existiu de verdade, se tudo não passou de cantiga de ninar eleitores.
Agora é o novo ministro Hélio Costa que põe o seu sensível coração a serviço da telefonia para os pobres. Pena que não levou o cérebro junto. Ou, no mínimo, uma calculadora, que poderia ter comprado nas casas de 1,99.
Depois de conveniente recuo, quando alertado de que contratos têm de ser respeitados, Hélio Costa anuncia acordo com as operadoras de telefonia, para reduzir o valor da assinatura básica pela metade, mas multiplicando o custo da ligação.
O assinante tinha direito a 300 minutos mensais – 10 minutos por dia – pagando 2,75 centavos por minuto de ligação excedente, em pacote de quatro minutos. O telefone do pobre, inventado pelo ministro, terá limite de apenas três minutos diários – três vezes menos – e pagará 31 centavos por minuto excedente – dez vezes mais.
É ou não é o Brasil, como dizia Pedro Vaz Caminha, um país gracioso?

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Doença antiga - Jayme Copstein

Mais de 70 de pequenas empresas, consultadas em uma pesquisa, queixaram-se que a nossa burocracia, sustentada a impostos escorchantes, lhes impede o crescimento e a respectiva criação de empregos.
Um dos pesquisados reclamou que são gastos em torno de 152 dias para se legalizar uma firma de pequeno porte no Brasil. As empresas consultadas mantêm, em média, 50 postos de trabalho. Então, se alguém desejar trabalhar, progredir, criar 50 empregos, não consegue fazê-lo legalmente antes de cinco meses e cinco dias, quase meio ano, porque lhe exi-gem 17 procedimentos, em comparação com as modestas seis formalidades dos países desenvolvidos.
A burocracia e seus entraves nasceram ainda ao tempo do colonialismo português, quando Lisboa precisava criar sinecuras rendosas para mandar ao Brasil quem quisesse povoá-lo. E foi aí que se institucionalizou a figura do burocrata, espécie de deus todo-poderoso, de cujos humores depende o anda-mento da vida nacional.
Há forte resistência para resolver os problemas da burocracia porque eles se inserem em uma doença antiga, chamada parasitismo social. Fonte, aliás, da demagogia barata que se mascara de moralismo para esconder a sua própria imoralidade.
Alguém pensou em certos políticos? Acerto em cheio.

Conversa de índio - Jayme Copsteion

Segundo o jornal Zero Hora, o professor Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras, rebela-se contra a grafia Erechim, para o nome desse município do Rio Grande do Sul. Enviou até um exemplar do Vocabulário Onomástico da própria instituição, que registra Erexim.
Foi a Academia que definiu o “j” para os sons de ge e “x” para os chiados na ortografia de palavras de origem indígena. É puro artifício. Os índios não tinham nenhum sistema de escrita. Não há base etimológica para estabelecer grafias. De transliterações nem se fala.
Não há como contestar a necessidade de padronizar as coisas do idioma. Mas quando se inventa uma ortografia, há de se respeitar as exceções impostas pela tradição. Foi assim que a Bahia conservou seu amado “h” e Bagé não se afrescalhou , trocando o “g”! pelo “j”.
A Academia pode dizer o que bem entender. Erechim é com “ch. Esta é a tradição. Estamos conversados.

O pano da mesa - Jayme Copstein

A manchete dos jornais esta manhã dá conta de que, decorridos menos de 60 dias, até as fichas de nova reforma do ministério foram apostadas na disputa pela presidência da Câmara federal.
Qual a cor do pano para cobrir o tampo desta hipotética mesa onde sentam aqueles que, em nome do eleitor, decidirão o terceiro na linha de sucessão, para governar a república em eventualidades?
O pano verde onde se aposta tudo, até mesmo o dos outros – no caso, o patrimônio dos eleitores – e o que menos importa é a honra?
Ou será o pano vermelho dos leilões, com a bandeira esfarrapada à porta, nos quais quem dá mais leva o bagulho, pouco importando o preço exorbitante? Afinal, quem paga é o eleitor...
Quem sabe, aquela negociação na penumbra dos cabarés de interior, ao som da acordeona asmática, assassinando um velho tango.
“Champanha e quinhentão”
– Não. Dois vermutes e 300 “pila”.
“ Tá pensando que eu sou o quê? Dois uísques e 400 ‘ferro’...”
Pode até ser ficção. Mas que estão prostituindo a República, estão.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

As águas do São Francisco - Jayme Copstein

Além de emendas de deputados, com vistas à eleição da presidência da Câmara de Deputados, o governo federal, tão sovina em pagar ao Rio Grande do Sul o que deve em conseqüência das exportações, começa a despejar dinheiro, para iniciar as obras da decantada transposição das águas do Rio São Francisco.
A notícia não obteve destaque, afogada na lamaceira do mensalão e do mensalinho. É uma pena. Trata-se de delírio antigo, que pode ser enfileirado a tantos outros, ressurgidos com freqüência na demogagia dos políticos, para voltarem à letargia logo adiante, não sem antes devorarem alguns milhões dos cofres públicos.
Nesta questão do Rio São Francisco, em vez de encompridar os olhos para as eleições presidenciais do ano que vem, melhor andaria o sr. Luiz Inácio Lula da Silva se afinasse os ouvidos para a advertência do professor da Universidade de São Paulo, Aziz Ab'Saber, publicada na edição 80 da revista Ensino Superior.
Geógrafo de renome internacional, Aziz Ab'Saber chama a atenção para a bazófia de que a transposição das águas do São Francisco vá beneficiar milhões de pessoas no semi-árido brasileiro. “Cada hora citam um número diferente”, ele diz na entrevista. “Oito milhões, dez milhões e doze milhões de pessoas. Fiz um esforço para verificar qual é o conjunto da população que habita ao longo do vale do São Francisco e do Jaguaribe. Nos meus cálculos, não dá mais do que 400 mil pessoas”.
O governo fala também que o projeto de transposição das águas do São Francisco vai atender a 750 mil quilômetros quadrados, área equivalente a três vezes o Estado de São Paulo. O professor pergunta: “Será possível atender a toda esta região com um canalzinho?”
O problema está em que, tal como em outros projetos, o governo só escutou a voz de multidões mal calculadas, debruçadas sobre as urnas da reeleição, em lugar de ouvir os grandes especialistas que temos em nossas universidades. O professor Aziz não se opõe à transposição de águas do São Francisco, “desde que feita de acordo com projetos bem elaborados e não demagógicos".
Ele acrescenta: “O São Francisco é um rio que cruza os sertões e vem de cabeceiras que fornecem água relativamente em quantidade para o médio vale e, depois atravessa os cerrados e depois vai para a caatinga. Ocorre que o cerrado e a caatinga têm a mesma sazonalidade. Seis meses muito secos e justamente no período da secura do cerrado e da caatinga é que o rio vai ter que fornecer mais água para a transposição”.
O fato é que a água retirada do São Francisco vai fluir pelas beiradas onde estão as fazendas de criação de gado. Passa por cidades próximas do rio. “Esta água – afirma o professor Aziz – vai pôr em risco a cultura de vazante, que é o único espaço que não pertence aos grandes fazendeiros e que responde por grande parte da produção de alimentos da região”. E indaga: “A quem vai servir a transposição das águas do São Francisco?”
Se Azi Ab’Saber perguntasse para o que vai servir, a resposta seria: chamariz de votos nas próximas eleições.

Brisas e furações - Jayme Copstein

Muito interessante a decisão da Corregedoria Geral de Justiça do Rio Grande do Sul, de exigir, a partir de agora, que toda a papelada encaminhada aos fóruns venha devidamente perfurada com dois buracos centralizados.
Ao contrário da aparência, a exigência não é descabida. Perde-se um tempo furando papéis. Eles podem ser comprados já esburacados com engenho e arte nas papelarias. É só pedir que se encontra papel de dois, de três de quatro – tem buraco para todos os gostos.
Descabida é argumentação de que a medida vai apressar os processos e proteger os escrivães das lesões por esforço repetitivo. Fura aqui, fura ali, o único trocadilho que não cabe é furacão porque, em matéria de ventania, o máximo que se pode aspirar nos tribunais, além da poeira e dos fungos, é a amenidade e a lentidão de certas brisas.
O descabimento é porque cabe ao Judiciário, o empregador, proteger seus funcionários e não exigir que as partes e os advogados o façam. Talvez se perca mais tempo nas elucubrações que ornamentam algumas decisões do que na furação de papéis.
Mas há aspectos filosóficos nesta questão. O buraco está se convertendo como medida de todas as coisas no Brasil. Tem buraco no orçamento, tem o buraco do mensalão, buraco mais em cima, buraco mais em baixo.
Como a vida é um buraco em toda a parte, chegamos à conclusão de que o Rio Grande do Sul é um Estado plural. Aqui, pelo menos, a vida são dois buracos. No papel, fora o alho.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Está faltando um - Jayme Copstein

Jair Bolsonaro, que deveria estar enfrentando processo de cassação por quebra de decoro parlamentar, é candidato à presidência da Câmara.
Não que não tenha direito, que é de todos os 513 deputados. É regra da democracia. Falta-lhe, porém, autoridade moral para exercer qualquer mandato eletivo, depois que confrontou com desprezo as mais comezinhas regras desta mesma democracia que lhe garante todos os direitos, menos o de atentar contra a liberdade dos demais.
A democracia tem de conviver com as idéias dos seus opositores, mas há um limite para tolerar as suas ações. Ela não pode ser objeto de sofismas, sob pena de termos de aceitar as ditaduras tão a gosto de Bolsonaro, porque é desejo de maiorias silenciosas ou de minoria ruidosas.
Idéias, quais forem, não fazem mal. Pelo contrário, por mais estapafúrdias, agitam e impelem os seres humanos na busca dos melhores caminhos. Mas orgulhar-se da tortura de um jovem ensandecido por suas utopias, é crime com o qual não podemos conviver.
Repita-se à exaustão: na democracia, há lugar para todas as convicções. Não para a imposição de escolher entre Hitler ou Stalin, entre Pinochet ou Fidel Castro.
Está faltando um na lista das cassações.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Contrastes - Jayme Copstein

Segundo o hagiológio, o catálogo dos santos da Igreja Católica, São Severino de Norticum, mais conhecido como São Severino do Ramo era um rico cidadão de Roma, que empobreceu porque doou sua fortuna aos pobres. Feito o que, foi evangelizar os descrentes, atendendo ao chamado de Deus.
Segundo o mensalógico, o catalogo brasileiro de políticos corruptos, São Severino de Nordesticum, mais conhecido como São Severino do Ramo da Esbórnia, era um pobre diabo que virou santo rico, extorquindo impostos da plebe, através dos dinheiros públicos que botou no bolso. Feito o que passou a mandar e desmandar na República
No Brasil existe um Santuário em homenagem a São Severino de Norticum, na cidade de Paudalho, Pernambuco.
Em Brasília, a cidade do Bandalho, existe um santuário em homenagem a São Severino de Nordesticum, de Pernambuco. É a Câmara Federal que o canonizou presidente.
Dizem que São Severino de Norticum salvou a alma de uma mulher, convencendo-a a dar aos famintos de uma cidade austríaca destruída pelos bárbaros, as grandes quantidades de comida que armazenara.
Dizem que São Severino de Nordesticum, o faminto, persuadiu alguém a lhe dar 8 milhões de reais para salvar a pátria, não distribuindo à imprensa os segredos de bastidores que acumulara. E mesmo banido do altar, para continuar estátua de gesso, olhar beatífico para o alto e boca fechada, convenceu esse mesmo alguém de lhe empregar a parentela e os amigos de peito,
Como se vê, o Brasil é um país de contrastes. Só falta alguém que diga isso. Se for homem, vira filósofo ou cientista social. Se for mulher, posa nua para o Playboy.

As invenções da imprensa - Jayme Copstein

A afirmação da Executiva Nacional do PT, de que não existe crise, que ela é inventada pela imprensa para destruir o partido, explorando erros de correligionários, merece profunda reflexão.
Não é que, olhando-se a fundo, a afirmativa pode ser veraz? O Katrina, o furacão que devastou a Louisiana, nunca existiu. Foi criado a partir de algumas ventanias que bem poderiam ter ficado em segredo, não fosse o desejo da imprensa de destruir Nova Orleans.
E o incêndio de Roma, então? Na época a imprensa ainda não tinha nascido mas havia os precursores, aquelas bestas chamadas historiadores que inventaram tudo para o “impeachment” de Nero, o pacato tocador de lira. Ele só queria o bem dos outros e cantar seus versinhos. Cometeu lá seus errinhos – matou a mamãe – mas que importância teve isso diante do seu amor ao povo?
Os otários que se acautelem. Somos tão poderosos que um dia, se nos der na veneta, revogaremos as auroras e todos vocês ficarão no escuro. Mas como temos bom coração, haveremos de preservar a poesia do luar, para inspirar homens e mulheres a procriar uma raça de políticos menos hipócrita.

terça-feira, 20 de setembro de 2005

O preço do livro - Jayme Copstein

Está na hora de se analisar a relação entre o preço do livro e o fato de o brasileiro ler tão pouco.
Quando se tem em mente que um volume de 200 páginas, edição pronta e acabada, tiragem de mil exemplares, custa entre quatro e cinco reais, é estranho que não se encontre nada nas livrarias por menos de 30 reais, também em média.
De pouco vale argumentar com aquele beco sem saída, se “brasileiro compra pouco livro porque é caro ou se é caro porque brasileiro compra pouco livro.” Milhões de exemplares de livros didáticos são comprados todos os anos pelo governo e nem isso faz baixar o seu preço. Que o digam os pais, obrigados a comprar edições novas todos os anos, porque o texto muda sempre, ainda que trate da história da pedra lascada.
Impostos? São mínimos. E não é também a propaganda para promover vendas que encarece o livro. Não há indústria no mundo inteiro que receba tal carga gratuita de publicidade.
Seria fantasioso dizer-se que os cinemas viveriam às moscas, caso adotassem o mesmo critério para calcular o preço do ingresso?
O preço do livro – eis um bom título para um filme de mistério.

Histórias fora de moda - Jayme Copstein

Para que todos tenhamos conta do naufrágio das nossas ilusões, só falta alguém gritar o clássico “Salve-se quem puder”.
A Polícia Federal prendeu quinta-feira uma quadrilha de portugueses que enviava cocaína para a Europa, dentro de carne congelada. Entre os pertences dos traficantes estavam duas toneladas de cocaína e dois milhões de reais, se convertidos os euros e dólares apreendidos.
Segundo um policial, chamou a atenção que os 677.230 euros eram cédulas de 500, raras aqui no Brasil. Os 63.205 dólares, claro, só podiam estar em notas de 100 que é a de maior valor a circular normalmente.
Mas vá lá que todo esse dinheiro estivesse em notas de 500, até os reais que não são emitidos neste valor.
Literalmente é dinheiro para muito mais de metro. Quem duvidar que empilhe sete notas de qualquer moeda para constatar a altura de um milímetro. Depois, faça as contas.
Pois esta montanha de dinheiro, aprendida na quinta-feira, estava em uma sala da Polícia Federal do Rio de Janeiro, cuja chave fora guardada no armário do escrivão-chefe.
Os ladrões, sem serem vistos por nenhum dos 60 policiais de serviço na delegacia, arrombaram duas portas, mais o armário onde o inquérito estava guardado, leram os registros para descobrir onde se guardam os valores apreendidos, foram diretamente à estante e só levaram o dinheiro e as duas toneladas de cocaína dos portugueses.
Como vocês bem sabem, a cegonha traz os bebês, Papai Noel mora no Pólo Norte, o Coelhinho da Páscoa não trabalha para a Playboy, mas essas são historias fora de moda.
É bom ter os ouvidos atentos. O grito clássico pode vir a qualquer hora.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Museu de horrores - Jayme Copstein

A última piada deste país, que se leva muito a sério, é a intenção de Sebastião Augusto Buani, o homem do mensalinho, de se candidatar a deputado federal. Tal como Karina Somaggio, a ex-secretária de Marcos Valério, que até quis posar nua para a Playboy para financiar a campanha. Sendo pessoa séria, segundo ela própria, não quer entrar em nenhum esquema de mensalão ou coisa que o valha.
Não se consegue compreender porque Buani e muitos outros aventureiros são chamados de empresário pelos jornais. Concessionário de restaurantes da Câmara Federal, lá chegou sabe-se como, e as revelações que ele próprio faz de sua conduta pessoal são estarrecedoras.
Antes de qualquer outra consideração, Buani não denunciou Severino Cavalcanti. Apenas confirmou as revelações do ex-empregado, Izeilton Carvalho, com o qual se desentendeu por questões de dinheiro. Ele não queria denunciar Severino. Izeilton Carvalho diz que é para que não lhe quebrassem o sigilo bancário.
Buani contou à jornalista Marta Salomon, da Folha de São Paulo, como conseguiu seduzir a companheira, uma mulher apetitosa que ostenta em suas aparições públicas. Tentou conquistar outra freqüentadora bonita do restaurante da Câmara, mas ela recusou, alegando estar comprometida. Em troca lhe ofereceu a irmã, a quem, palavras de Buani, assegurou “casa, comida e roupa lavada”.
Não é de se admirar que alguma das muitas legendas que são verdadeiros prostíbulos políticos, aceite a candidatura de Karina,Buani e Jeanne Mary Corner, a agenciadora de encontros que servia Marcos Valério. De admirar é o país ainda admitir esta estrutura política, com partidos de aluguel e voto proporcional, que transforma o parlamento em um museu de horrores.

Frases e mitos - Jayme Copstein

Quando o regime militar se abriu, veio a anistia e começou o retorno dos exilados, encontrei na rua da Praia um amigo, cujo currículo tinha como principal item sua lealdade aos ideais de extrema esquerda.
Estava transtornado diante da iminente volta de Brizola. “Não pense ele que chega aqui e assume o comando”, me falou já em pé de guerra, mostrando que 20 anos de ditadura não lhe haviam ensinado a lição. Continuava a luta encarniçada pelo poder, origem da frase: “Esquerda só se une na cadeia ou no hospital”.
Mas não são as frases o elemento importante para se analisar a crise da nossa esquerda. Mesmo porque não passam de falácia. Esquerda, direita, centro, ou o que seja só se unem enquanto podem manter o poder. Ao menor aceno de aumentar o quinhão, descabam para a incoerência, a traição, a corrupção e até a autodestruição.
O grande problema brasileiro são os mitos que geram essas frases, alguns dos quais, de tão repetidos, acabam por adquirir aparência de verdade, dentro da melhor dialética hitlerista.
Jeitos de governar, ética na política, monopólio do saber, da verdade e da democracia, tanto de caçadores de marajás com o de redentores da espécie humana, escorrem esgoto abaixo quando se vislumbra qualquer suculência.
Oscar Wilde tinha razão: pode-se resistir a tudo, menos às tentações.

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

O país dos coitadinhos - Jayme Copstein

A desonestidade no Brasil é tão criativa que há necessidade de um imenso dicionário para listar todas as falcatruas. Mas o povo simplifica a classificação em duas categorias: ladroeira, quando é dos outros, “desaperto”, quando é da gente.
A tese não é nova. Foi levantada pela primeira vez por Emil Farah. O que separa uma categoria da outra é a coitadice, espécie de passaporte que se obtém sob vários pretextos: mulher gastadeira, marido zangão, amante argentina (antigamente era francesa), namorado gigolô, filhos estróinas, genros vadios, vícios ocultos, bebedeiras "sem-querer" e também porque ou se é muito jovem ou velho demais.
Não se perdoa no Brasil é a burrice. É o que faz o esperto apostador do jogo do bicho, por sinal proibido por lei, jogar no burro quando um gato cai do telhado. Pois não é burro o gato que cai do telhado? Não tem perdão.
O onipotente Severino Cavalcante, que até há poucos dias dava todas cartas, chantageava o presidente da República e trocava ministros, foi apanhado por burrice. Com os bilhões do mensalão jorrando à farta, foi logo extorquir vinténs de um concessionário de restaurante da Câmara?! Que asno!!!
Só resta a Severino provar sua coitadice para escapar da entaladela.
É um pobre velhinho de 73 anos, pode até morrer do coração.
Ou então: de que ele irá viver, o pobre, se perder a gorda aposentadoria de deputado estadual por Pernambuco?
Viva o Brasil, o país dos coitadinhos.

Considerações anfíbias - Jayme Copstein

Fala-se muito das ambições políticas do ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal. Alguns dizem que ele se prepara para se aposentar da suprema corte e se candidatar à presidência da República pelo PMDB.
Outros falam em atalho. Jobim, de fato, se aposentaria do Supremo Tribunal Federal mas se contentaria, por ora, em ser vice de Lula, em eventual reeleição. Naturalmente, confiando em acordo que lhe daria a presidência da República em 2010.
Que o presidente do Supremo tem-se movimentado nesse sentido, a sua proximidade com o Palácio do Planalto, desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso fornecem todos os motivos para as suspeitas.
O grande enigma, entretanto, é como Jobim, enfrentará em eventual campanha eleitoral a acusação de ter barrado a tão ansiada moralização política do país, concedendo mandados de segurança que praticamente livraram já sete deputados da punição merecida e poderão sacramentar a impunidade no escândalo do mensalão.
Haveria fundamentação jurídica para conceder as liminares? Há sérias controvérsias. Uma das contestações é de um jurista de grande acatamento, o professor Miguel Reale Junior, por sinal correligionário de Jobim no PMDB.
Correligionário? Ou ex-correligionário. Ou futuro correligionário?
Afora a promiscuidade da política com a Justiça, também esta situação anfíbia pesará na balança.

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Assombrações - Jayme Copstein

O que se viu ontem, na cassação de Roberto Jefferson, é digno de folclore. Ele era a grande assombração do espetáculo, espécie de Tutu Marambaia ao qual se diz “não voltes mais aqui” para aquietar molecagens.
Durante horas, enquanto ele não chegava ao palco, a platéia de deputados parecia um jardim de infância. Alguns brincavam de discursar patriotadas e moralismos, outros se entregavam a saudáveis passatempos, como passar trotes às colegas pelo celular. Só faltaram os aviõezinhos de papel cruzando de um lado a outro.
Quando Jefferson surgiu em cena, todos se tornaram alunos atentos. Podia-se ouvir uma mosca voando, e não vai se dizer de monturo em monturo, porque a imagem é muito forte, ainda que, nas ruas, esta seja a opinião predominante.
Muitos balançaram com a demagogia talentosa de Jefferson. Mas como o que importava mesmo é o sexo dos anjos, ele é o boi de piranha. Liminar do Supremo Tribunal Federal livrou a cara de seis deputados, com carona já para o sétimo, que é José Dirceu. Não demora, a carruagem estará em programa de extravagâncias da tevê, naqueles concursos de quantas pessoas se consegue enfiar dentro de um fusca.
O extraordinário é que sendo cabeça ou corpo deste monstro de corrupção chamado mensalão, apenas Jefferson seja amputado. Você já viram uma cabeça perambulando sem corpo ou um corpo decapitado dançando o tico-tico no fubá?
Só se for a mula sem cabeça.

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Boi de piranha -- Jayme Copstein

Nem a defesa brilhante dos seus advogados, nem a perfeição de obra-prima do discurso que acabou canto de cisne e nem mesmo os mais de 70 por cento de pontos favoráveis da opinião pública salvaram o mandato de Roberto Jefferson.
Não havia como. Nem por quê. Trezentos e treze deputados, 57 a mais que o número necessário, o cassaram ontem, dando início a uma apregoada depuração "definitiva" da política brasileira.
Este começo, entretanto, não é promissor. Mandados de segurança, concedidos pelo STF a seis deputados – aos quais já se juntou também José Dirceu – dão a impressão que Jefferson é boi de piranha para aplacar a opinião pública. Se não bastar, talvez o sacrifício de mais algum terneiro ou um que outro cabrito permita ao rebanho passar incólume no rumo de novas e palpitantes falcatruas.
Falando com toda a franqueza, cassar ou não cassar mandatos a esta altura dos acontecimentos, não tem a menor importância. Não muda nada. Suplentes, eleitos dentro do mesmo processo eleitoral corrompido, assumirão as vagas, alguns até mais famintos que os alijados. A paisagem seguirá inalterada.
A importância do que estamos assistindo é outra – é a demonstração cabal de que o presidencialismo faliu como sistema de governo. Em nenhuma geografia consegue ser alguma coisa além de feroz disputa pelo poder.
No nosso caso é agravado ainda pela perversão chamada voto proporcional, responsável na Alemanha pela destruição de República de Weimar e também pela polêmica em que hoje se debate a Finlândia, o único pais do mundo que ainda o adota, além do Brasil.
Voto de lista, financiamento público de campanha – tudo isso é mero engodo. São as famosas reformas feitas periodicamente para não mudar absolutamente nada.
No máximo, trocam-se as moscas. O esterco continua o mesmo. A altura do monte é que cresce porque as moscas estão cada vez mais vorazes.

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Em nome da decência - Jayme Copstein

Se o Brasil deseja ser um país respeitado e respeitável, então está na hora de exigirmos que a Câmara Federal tome providências contra o deputado Jair Bolsonaro, useiro e vezeiro em promover desordens dentro do parlamento, coisa que não faria dentro de uma caserna porque receberia imediatamente ordem de prisão de seus superiores.
O deputado Jair Bolsonaro confunde as coisas. Confunde veemência com grosseria, confunde coragem com violência. Principalmente não consegue entender que não estamos escolhendo entre tiranias, porque todas elas são perversas, nojentas e têm as mãos tingidas de sangue. Nem Stálin nem Hitler. Menos ainda imitações baratas subdesenvolvidas.
Falta de decoro parlamentar não é apenas a conduta desonesta. E a indignidade de quem está permanentemente conspirando contra a laboriosa democracia que tentamos há muitos anos construir.
Está na hora de pôr termo a isso, também.
É o nosso protesto em nome da decência e da liberdade.

Almas e armas - Jayme Copstein

Com a mensalão há meses monopolizando o noticiário, mais a ausência de debate público por uma proibição que afronta o direito constitucional da liberdade de expressão, fica à margem do noticiário o plebiscito sobre a venda de armas de fogo, marcado para 23 outubro.
O máximo que a imprensa pode dizer a respeito é o que a Justiça eleitoral decidiu: aperta o botão um, o eleitor diz não, não proíbe a venda; aperta o dois, sim, proíbe a venda legal. Sobre o comércio clandestino, que ninguém se manifeste porque não estão pedindo opinião. É assunto de iniciados.
O governo tem favas contadas sobre o seu ponto de vista, que julga politicamente correto, com origem no mito do bom selvagem, aquele que nasce puro, mas é corrompido pela tecnologia. Equivale a dizer que foi algum marciano, não o próprio bom selvagem, quem inventou as armas de fogo e que alguma força extraterrestre irresistível o faça puxar o gatilho.
Com o que não se considera a educação, para civilizar o ser humano, disciplinar os instintos e excluir a violência. Para certos políticos, ela, a educação, é mais perigosa que as armas de fogo, porque dá discernimento ao cidadão para escolher melhor seus representantes.
Portanto, não são apenas os mensalões que desmoralizam os governos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Teoria e prática da moralização - Jayme Copstein

A mídia está conceituando mal a decisão do deputado Carlos Rodrigues, mais conhecido como bispo Rodrigues, de abandonar voluntariamente o mandato, para escapar da cassação e conseqüente perda dos direitos políticos por oito anos.
As notícias falam em “pedido de renúncia”, quando se trata apenas de comunicação. Detentores de cargos eletivos não pedem – apenas comunicam a renúncia, porque ela não lhes pode ser recusada. É simples manifestação de vontade.
O grande problema na aparente imprecisão semântica é que, sob a suposta renúncia, esconde-se o estratagema de delinqüentes comprovados para escapar à punição, pois implica confissão de culpa.
Como Rodrigues, cuja “mitra” já foi cassada pelo “papa” Edir Macedo, não é o primeiro nem será o último a se valer da artimanha, o Congresso brasileiro passaria da teoria à prática o discurso da moralização, se definisse as condições em que detentores de mandato poderiam a ele renunciar.
Mais ainda: que aos cargos públicos pudessem retornar apenas quando cessados os motivos que levaram a decisão tão extremada, pouco importando sua natureza.
Por exemplo, se fosse por doença, previamente atestada por médico, mediante laudo certificando recuperação da saúde.
Fosse, entretanto, para escapar da punição, não impediria o seguimento do processo. O retorno só seria possível mediante a prova da inocência.

O circo de Severino - Jayme Copstein

Quando um político como Severino aplaude a imprensa, um dos dois está errado. As probabilidades de que seja a imprensa, são totais.
Foi o que aconteceu ontem em sua entrevista coletiva. Severino foi generoso com os jornalistas. Seria ingratidão se não o fizesse. As perguntas dos repórteres foram bisonhas e lhe deram a oportunidade de fazer ironias e até “pôr alguns em seu lugar” (ou “recolher-se à sua insignificância”, como berrou ao deputado Fernando Gabeira).
O que Severino apresentou para defender sua inocência foi um laudo pericial, arranjado em Pernambuco pelo advogado assessório, que não diz nem sim nem não e admite a própria nulidade ao ressalvar a necessidade de exame do documento original.
O principal advogado de Severino, o que não se envolveu no aliciamento do obscuro perito do Recife, reconhece com prudência que só a perícia da Polícia Federal terá validade.
Tudo isso os repórteres engoliram bovinamente, sem tugir nem mugir, em um circo em que dividiram as arquibancadas com amigos e familiares de Severino, rindo do humor malandro e descortês com que ele pretende desqualificar antagonistas.
O grande problema virá depois, se aparecer o cheque recebido por Severino através de assessores. Não será a sua punição, mas a impunidade do advogado assessório e do perito que fizeram a contra-regras do espetáculo. Nada vai lhes acontecer com toda a certeza.

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

O comício dos deserdados - Jayme Copstein

Pesquisa revela que 74 por cento da população brasileira são analfabetos funcionais.Conhecem as letras mas nao entendem o que lêem.
A pesquisa despe em público o que se escondia no privado: a desonestidade, a desfaçatez e a hipocrisia de oligarquias, ideológicas ou não, em permanente luta pelo poder.
A conseqüência é uma sociedade incompetente para resolver a desigualdade, a pobreza, a injustiça e a insegurança, porque dissimula a sua perversidade no bom-mocismo, no politicamente correto, na caridade diletante que substitui a verdadeira solidariedade social e deixa intocadas as raízes do problema.
Apesar da repetição demagógica do provérbio, dá-se um lambari, mas não se ensina a pescar o salmão. É preciso manter os deserdados submissos e disponíveis.
A sociedade brasileira é, portanto, este permanente exercício de hipocrisia dissimulado na eloqüência de um comício de deserdados. Eles são convocados para bloquear estadas, fechar ruas, destruir patrimônio, acossar adversários políticos, gritar palavras de ordem e ouvir discursos de privilegiados – o advogado, o médico, o jornalista, o juiz, o dentista, o economista, o empresário, o contabilista, o capitalista, o burocrata, o artista da novela, as senhoras do chá das cinco, os jovens dos bares da moda.
Só que os deserdados continuam cada vez mais deserdados.

A dança dos bugios - Jayme Copstein

O escândalo de Severino Cavalcanti não surpreende ninguém. Todos sabiam do que se tratava. A surpresa para os desatentos, era a eleição para a presidência da Câmara. Os demais sabiam que era a dança dos bugios, ritual de acasalamento dos políticos brasileiros às vésperas de qualquer eleição. Começa com guerra de excrementos e termina no leito das legendas condescendentes, permissivas, umas, libertinas, outras.
A eleição de Severino era para advertir Lula que reeleição tem preço.
Alguma coisa, agora, assanhou os bugios. José Alencar sai às pressas do PL, Delfim Netto vai para o PMDB, Maluf bate às portas do PTB. Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribuna Federal, reedita Francisco Resek no famoso passo um-prá-lá-outro-prá-cá, Anthony Garotinho reencarna o espermatozóide perneta e luta para não ficar sem legenda.
No tucanato, paz aparentemente. Com o bico comprido substituindo o facão, impõe-se a armadura de ferro para evitar o traseiro de bêbado.
Nesse planeta de primatas, só resta tapar o nariz.

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

O país dos doutores - Jayme Copstein

Em artigo publicado na revista eletrônica Consultor Jurídico (O país dos doutores – 28.08.2005), o juiz de direito e professor universitário Vitor André Liuzzi Gomes analisa sentença que negou a magistrado do Rio de Janeiro a pretensão de exigir dos vizinhos de condomínio o tratamento de “doutor”. Após considerar a gratuidade com que se dispensa o título de doutor a meio mundo no Brasil – certas universidades, não, até cobram para isso – o professor Liuzzi Gomes conclui: “Em um país em que o analfabetismo e a pobreza atingem níveis escandalosos, criou-se o entendimento comum de que, quem consegue concluir um curso superior, qualquer que seja, torna-se ‘doutor’".
O artigo inspirou-me algumas lembranças e outras tantas reflexões, levando-me de volta ao início da carreira profissional, quando tomei contato com o primeiro 'Manual de Redação". É um conjunto de normas para dar unidade aos textos publicados pelos jornais. Diz respeito, entre outras coisas, ao uso de maiúsculas e também a formas de tratamento.
Naqueles manuais, o "dr." , o “de-erre”, como a gente pronunciava, era exclusividade dos médicos, por tradição. O Judiciário tratava de maneira diferente. Em seus editais, antecedia com um “excelentíssimo”, abreviado, o doutor por extenso que acompanhava a assinatura dos juízes; “De ordem do exmo. Doutor Fulano de Tal, Juiz de Direito etc. etc. (...)”.
Como sofro de permanente curiosidade para encontrar a origem das coisas,leituras do cronista Luiz Edmundo ("O Rio de Janeiro do meu tempo", "O Brasil no tempo dos vice-reis") me mostraram um país em que os mitos da plutocracia se sobrepõem à realidade e, por isso, abundam os adjetivos, es-casseiam os substantivos.
É o contraste escandaloso ressaltado pelo professor Liuzzi Gomes em seu artigo. É o analfabetismo e a pobreza (necessariamente nesta ordem) de muitos e o sibaritismo de uns poucos.
Como é da mitologia atribuir saber aos detentores do poder, lembrança provável de "As mil e uma noites", povoadas de sultões justos e magnânimos e vizires nem tanto, fica a impressão de que, originalmente, para separar os mandões dos mandados, aos primeiros foi conferido o adjetivo “douto”, e o “r” acabou sendo pespegado na traseira por questões de eufonia. Fica mais pomposo “doutor” do que "douto".
Que bom que, fora do velho jornalismo, as pessoas começam a se dar conta do despropósito pretendido pelo magistrado fluminense, querendo obrigar os vizinhos a chamá-lo de doutor.
Estamos progredindo. O próximo passo é convencer a alguns “doutores” que liberdade de pensamento é direito assegurado pela Constituição a todos os brasileiros,não mero privilégio da plutocracia.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Os frutos do Conde - Jayme Copstein

O Conde tinha um nome comprido: Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior. Era filho, como o nome está dizendo, de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, último de chefe de governo do Segundo Império.
O Conde era conde por obra e graça do Papa Pio X que nele viu, mais do que bom católico, um profeta, eis que foi autor da célebre frase: “Criança, jamais verás um país como este!!”
É só olhar os jornais de hoje para nos certificarmos de como era certeiro em suas previsões. Na primeira notícia, Delfim Netto, homem do regime militar, ministro da Fazenda de dois generais-presidentes, está se filiando ao PMDB, o partido que nasceu justamente para opor resistência à ditadura.
Na página seguinte, um bandido, após roubar e assassinar sua vítima com cinco tiros, obtém garantias de vida contra outro de quem tirou a mulher e está na cadeia à sua espera, para matá-lo.
Mais adiante fica-se sabendo que apesar de réu confesso de crimes fiscais, Duda Mendonça continua livre e fagueiro, enquanto os dois delegados da Polícia Federal que o prenderam em um rinhedeiro, estão sendo processados.
O Conde só errou pela modéstia, que não chega a ser pecado e até é considerada virtude. Não só as crianças jamais verão um país como este. Os adultos, também...

Controvérsias - Jayme Copstein

Dois ouvintes me mandam mensagens. Um, do PT, o Partido dos Trabalhadores, para dizer desaforos impublicáveis contra a imprensa. O outro, do PA, o Partido dos Apavorados, para elogiar a imprensa.
O primeiro ouvinte, o do PT, está zangado porque acha que as acusações que pesam sobre José Dirceu são invenção da mídia.
Há controvérsias. A principal parte do próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele comenta com os amigos, segundo a Folha de São Paulo, que José Dirceu, por ser cabeça dura, luta sem chances para preservar o mandato de deputado e com isso só desgasta o governo e o próprio PT.
Já o ouvinte do PA, o Partido dos Apavorados, queixa-se da segurança no Rio Grande do Sul, que apesar dos discursos do secretário José Otávio Germano, vai de mal a pior.
O ouvinte é objetivo. Não se identifica porque tem medo dos traficantes. Mudou-se para Florianópolis, depois que cansou de telefonar para o Disque-denúncia (3228.5100). Foi expulso de sua casa e de Porto Alegre por uma gangue de ladrões e assaltantes que agem 24 horas por dia na Vila Jar-dim, área das ruas Aldriovando Leão e Salvador Pinheiro, agredindo velhos e crianças, arrombando casas e zombando da autoridade – se é que isso existe ainda em Porto Alegre, conclui o ouvinte.
Ele põe a esperança na imprensa. – que uma notícia publicada possa estimular a Secretaria da Segurança a cumprir com seu dever.
No caso, também há controvérsias. O mais provável é que não se vá além de um longo ofício contando as façanhas do passado e do futuro. O presente fica para depois.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Parece... mas não é! -- Jayme Copstein

Na semana passada contou-se (Ver "Acredite se quiser", neste Blog)aquele caso do cidadão que teve seu jardim invadido por um ladrão, pediu socorro à Polícia, não conseguiu ajuda, e depois telefonou outra vez, mentindo que havia matado o gatuno. Segundo a versão, surgiram do nada cinco viaturas policiais, o gatuno foi solto na hora por falta de provas e o cidadão foi preso por falsa comunicação de ocorrência.
Se isso é verdade ou apenas anedota, fica difícil de apurar. Ontem, José Datena, no seu programa da TV Band, mostrou outro caso, o de um bandido paulista que assassina suas vítimas após lhes arrancar a senha da conta bancária.
O bandido foi preso porque, em acesso de fúria, havia matado alguém com cinco tiros e só tinha mais bala no revólver. A vítima seguinte foi um motorista de táxi, que ele submeteu à roleta russa e por sorte o revólver não disparou.
Preso em seguida, dirigindo o carro do taxista, o bandido contou a polícia que estava namorando e tinha engravidou a mulher de outro delinqüente, cumprindo pena em certo presídio. Portanto, não poderia ser conduzido para lá, porque seria morto pelo marido traído.
Em resumo, o bandido solicitou e obteve da polícia garantia de vida, a mesma garantia que não foi assegurada à pessoa a quem ele assassinou com cinco tiros.
Parece mentira... mas não é!

As voltas do mundo -- Jayme Copstein

As voltas que o mundo dá!...
José Dirceu agarra-se com Ibrahim Abi-Ackel, acusado no passado de envolvimento em ilicitudes nunca comprovadas com pedras semipreciosas, e briga com Osmar Serraglio, conduzido à relatoria da CPI dos Correios por sua integridade.
Em ambos os casos, a bancada do PT teve papel importante.
Tal como Alceni Guerra e as prosaicas bicicletas, Abi-Akel e seu filho foram tema de debates acirrados. O escândalo morreu quando as provas não apareceram. Jamais alguém se lembrou de lhes pedir desculpas, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomenda agora, com sabedoria, que se faça em relação a caluniados.
Osmar Serraglio, fala macia e cacoetes de antigo seminarista, ganhou a relatoria da CPI porque parecia ser um pizzaiolo consumado. Era reserva moral da Nação.
Saiu tudo às avessas. José Dirceu levantou a tese de que as coisas cometidas como ministro-chefe da Casa Civil não contaminam seu mandato de deputado. Ou seja: admite que fez mas não pode ser punido.
Como Abi Ackel concorda e Serraglio discorda, José Dirceu quer promover Abi Ackel a reserva moral da Nação e cassar o mandato de Serraglio.
As voltas que o mundo dá!...