sexta-feira, 28 de abril de 2006

Além dos hormônios - Jayme Copstein

Fico me perguntando se a ascensão da ministra Ellen Gracie à presidência do STF está sendo interpretada corretamente.
De maneira alguma contesto a importância do registro inédito: é a primeira mulher a assumir posição tão alta na história da República, o que a tornará, também, a primeira mulher a assumir a presidência desta mesma República, nos próximos meses.
Será tudo o que temos a dizer, diante uma carreira exemplar de estudos e dedicação, começada com o ingresso no Ministério Público Federal e continuada com brilhante desempenho no Tribunal Regional Federal da 4ª Região?
O fato de ser mulher deverá considerado mais importante do que a austeridade, o equilíbrio e o bom-senso demonstrados ao longo da sua atuação na vida pública?
O deslumbramento pela “avis rara” não estará mais uma vez escondendo nossas predileções pelos milagres, pelos seres do destino, divinizados para conduzir o povo à Terra da Promissão?
O jornalista americano Joseph Pulitzer dizia que só há uma profissão que dispensa formação: a de imbecil. Este já nasce pronto , diplomado até com PhD.
A ministra Ellen Gracie é a prova de que Pulitzer tinha razão. Em um país de leviandades e sofreguidões, ela simboliza a vitória da inteligência casada à virtude.
Enfim, um horizonte à vista para homens e mulheres. Pouco importam os nossos hormônios.

Sob os escombros de Chernobyl - Jayme Copstein

Vinte anos após a tragédia, a Ucrânia dispõe-se a desenterrar a verdade oculta sob os escombros de Chernobyl.
É improvável que o consiga. Mais espesso e impenetrável que a blindagem de cimento, erguida para isolar o reator explodido, é o mito construído para ocultar os crimes cometidos pelo bolchevismo onde se instaurou no poder.
Se compararmos as duas ditaduras, as mais horrendas da história humana, a impossibilidade de definir qual foi a mais cruel não exclui que, ao menos o nazismo não escondia o propósito de escravizar os demais povos para servir à raça que se sentia superior.
O bolchevismo, sob uma utopia de justiça e igualdade, dissimulou o mesmo propósito de escravizar os demais seres humanos para servir oligarquias que, tal como os hitleristas, só se diferenciavam de criminosos comuns, pela pregação messiânica. Se os nazistas exterminavam seres humanos para salvar a raça superior da degeneração dos seres inferiores, os comunistas se assumiram protetores dos pobres e dos oprimidos, e sob esse pretexto oprimiram e empobreceram os povos que submeteram.
É extraordinário que o mito tenha sobrevivido à própria derrocada da União Soviética, agora recoberto com uma aura de romantismo, muito do agrado dos jovens, e que gera ícones como Che Guevara. É o mesmo mito que impede a verdade de vir à tona em Chernobyl. Será descrito sempre como acidente indesejável. Jamais se chegará com profundidade na origem da tragédia.
Em sua edição de anteontem, Zero Hora publicou entrevista do engenheiro Yuri Andreyev, em que ele conta seu teste de ingresso ao corpo técnico da usina. Pediram-lhe que imaginasse a explosão de um reator nuclear.
Andreyev elaborou três hipóteses em que o desastre poderia ocorrer. Foi repreendido porque reatores soviéticos não explodiam.
O relato confirma o que foi publicado sem grande destaque, poucos anos depois, quando caiu o muro de Berlim. Os técnicos haviam alertado à direção de Chernobyl da iminência da explosão com tempo suficiente para evitá-la.
Foram ameaçados de processo como inimigos do povo porque, de acordo com as normas de segurança do partido, a explosão só seria possível por sabotagem dos inimigos do povo.

terça-feira, 25 de abril de 2006

O preço da demagogia - Jayme Copstein

O grande problema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é o álcool, como maldosamente andou dizendo o jornalista americano Larry Rother. É o cheiro de tinta fresca.
Lula não pode ver parede recém pintada que logo baixa nele uma curiosa mistura de Pedro Álvares Cabral, Jesus Cristo e Barão de Münchausen: nunca na história deste país alguém foi tão perfeito e praticou tantas façanhas.
Quarta-feira passada, em Porto Alegre, ao inaugurar o setor de emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição, o presidente afirmou que a saúde melhorou tanto no Brasil, que “não está longe da gente atingir a perfeição no tratamento da saúde neste país”.
Não é necessário chegar-se ao extremo de se mostrar as eternas queixas de gente nas imensas filas do SUS, como a televisão mais uma vez fez ontem. Basta ler a auditoria do Tribunal de Contas da União, apontando a desorganização e a falta de segurança no funcionamento do sistema nacional de transplantes, onde país gasta 400 milhões de reais anualmente.
As conclusões do relatório são estarrecedoras: em torno da metade dos órgãos que poderiam ser aproveitados em transplantes e salvar vidas, vão para a lata do lixo por falta de equipes qualificadas para diagnosticar morte cerebral, providenciar autorização da família e retirar os órgãos aproveitáveis.
Quanto custará a qualificação de uma equipe para esta tarefa? Vamos sugerir, exageradamente 200 mil dólares.
Façamos agora um cálculo divisão simples: com os 10 milhões de dólares, preço da passagem do nosso turista espacial, poderíamos ter qualificado 50 equipes para aperfeiçoar o sistema nacional de transplantes.
Este é o preço da demagogia. Não os 10 milhões de dólares. É a vida daquelas pessoas que poderiam ser salvas com mais órgãos transplantados, se o governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva não preferisse investigar as possibilidades de se jogar futebol no espaço sideral.

Nas mãos do eleitor - Jayme Copstein

Se os eleitores indignados, em lugar de brincar de “não brinco mais”, de pregar voto branco ou nulo voto, de substituir “esses que estão aí” por aqueles “que não estão nem aí”, desejarem fazer algo concreto contra a indecência que assola o país, podem começar prestando atenção.
Há um projeto do deputado Gonzaga Patriota, do Partido Socialista Brasileiro de Pernambuco, que manda efetivar, sem concurso, funcionário público exercendo provisoriamente cargo com vencimentos superiores.
Na prática, o projeto consagra, em primeiro lugar, a safadeza nacional, batizada de jeitinho: os espertalhões, que fizeram concursos para porteiro, faxineiro, ascensorista e tiraram o trabalho de pessoas menos qualificadas, serão efetivados como advogados, médicos, dentistas e o que mais for, desde que tenham conseguido, manipulando os velhos cordéis da politiquice, exercer cargos de remuneração superior nos últimos três anos.
Em segundo lugar, a maracutaia – que saudades dos tempos em que isso significava a bandalheira dos outros – aprofunda a apropriação do Estado pelo PT, o Partido dos Trabalhadores pois significa a efetivação de muitos dos 37. 500 correligionários em cargos criados pelo governo Lula com esse claro objetivo.
O que o eleitor, com facilidade, em cada cidade e em cada Estado, cobrar dos lideres desses dois partidos, o Partido Socialista Brasileiro e o Partido Popular a responsabilidade pela indecência. Adianta mais que palhaçadas, com narizes vermelhos de matéria plástica.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

O barato do prefeito - Jayme Copstein

Estourado o escândalo em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a Prefeitura distribuindo cadernos escolares com imagens apelativas, o prefeito Sérgio Stasinski tenta simplificar e desqualificar o que ele denomina polêmica.
Usa a mesma semântica que chama dinheiro escuso de caixa dois e mentira de impropriedade terminológica.
O prefeito Sérgio Stasinski justifica o desleixo de não exigir temas educativos nas ilustrações dos cadernos escolares, com a economia de 15% no preço.
Significa que na proposta apresentada na concorrência, na licitação ou tomada de preços,o que tenha sido,aparentemente o fornecedor era único e não fazia questão de vender. Impôs: se escolher a capa, cobro mais.
Esta fantasia leva a uma indagação: se as mulheres desnudas do Playboy representassem desconto de 20%, o prefeito compraria os cadernos? Não é tudo uma questão de preço, como deu a entender?
O próprio fornecedor tentou justificar-se com a desculpa de que aquelas ilustrações já não são mais editadas em cadernos escolares. Todos devem lembrar-se da polêmica – vá lá, polêmica – levantada pelos pais e educadores ao aparecerem esses cadernos nas papelarias.
O que conduz à certeza do vale-tudo quando se trata de negociar com o poder público: entrega-se lixo a peso de ouro.
O Ministério Público deveria investigar a fundo a história. Deve haver, na lei, uma letra, uma vírgula, um acento que chame às falas todos os implicados dos dois lados do balcão,em tamanha irresponsabilidade.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Papinho de Sherazade - Jayme Copstein

Os advogados criminalistas são oradores poderosos, capazes de transformar assassinos dos pais em pobres órfãos para torná-los dignos da piedade universal. Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, um dos grandes penalistas do país, ontem demonstrou seu talento ao negar na Câmara Federal qualquer participação sua ou de seus assessores, direta ou indiretamente, na quebra do sigilo bancário do porteiro Francenildo Costa.
Eles não sabiam de nada. Pela versão de Márcio Thomaz Bastos a gente até pode desconfiar que nem Palocci sabia de alguma coisa. Primeiro, contratou um caríssimo advogado defesa. Depois é que percebeu haver alguma acusação no ar.
As reuniões com o Palocci, ainda segundo Márcio Thomaz Bastos, foram apenas para indicar o advogado de defesa, que o coitado do Palocci queria, mas nem sabia pra quê. Nessa creche de anjinhos, Márcio Thomaz Bastos ainda foi obrigado a fazer as apresentações: tanto Palocci como Arnaldo Malheiros sofrem de invencível timidez. Se não houver alguém para dizer, este é o Palocci, este é o Malheiros, os dois são capazes de ficar corados, roendo as unhas, olhando fixo para o bico dos sapatos, incapazes de iniciar conversa. Ainda mais que nem tinham assunto para conversar.
Tanta inocência nos comove. Em um mundo de tanta hipocrisia, nos deixa nostálgicos e nos remete à terna infância, às histórias das mil e uma noites, quando sultão Shariar pedia com voz doce: “Conta outra, Sherazade!”.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Bola fora - Jayme Copstein

O tenente-coronel Marcos César Pontes, condecorado ontem com a Ordem Nacional do Mérito pela façanha de ter sido o primeiro turista espacial brasileiro. Ao agradecer a honraria, quando quis defender o governo das críticas da comunidade científica, cometeu uma gafe.
O tenente-coronel, que também não primou pela modéstia na comparação, disse que Santos Dumont, outro pioneiro, também recebeu críticas.
Há redondo equívoco nesta afirmação. Que se pesquisem os jornais da época. Neles só se encontrará o entusiasmo pelas façanhas de Santos Dumont, mesmo antes de conseguir a dirigibilidade dos balões. O máximo que a imprensa externava era preocupação pela imprudência que lhe custou vários acidentes e quase o matou, como aconteceu com a balão nº 5, que caiu no telhado do Hotel Trocadero de Paris, em 8 de agosto de 1901
Mas foi só. O brasileiro era ídolo em todos os paises do mundo. Em Paris, onde vivia, porque era baixinho foi apelidado carinhosamente de Petit Santôs, que em português pode traduzido como Santinhos. Tal como dizemos – o Carlinhos, o Antoninho, e por aí afora.
É duvidoso que possa comparar este currículo com a transcendental conclusão do tenente-coronel, de que não dá para jogar futebol no espaço. Imaginem se desse e a bola batesse em um daqueles computadores de precisão...
Nem é bom pensar...

quarta-feira, 19 de abril de 2006

O enigma de Getúlio - Jayme Copstein

Sou do tempo em que 19 de abril era feriado nacional porque o ditador do Estado Novo, Getúlio Vargas, estava de aniversário. Adolf Hitler, o ditador nazista soprava as velinhas do seu bolo no dia seguinte, 20 de abril. A coincidência era contada de boca a ouvido, entre risadas, com grandes cuidados para ver se não tinha polícia por perto.
Naquele tempo, Getúlio não era chamado ditador, porque também dava cadeia. Era o chefe da Nação. Seu retrato estava em toda a parte, nas repartições públicas e nos estabelecimentos comerciais. O Departamento de Correios e Telégrafos reduzia as tarifas para telegramas de quem desejasse felicitá-lo.
O tom de opereta retratava o provincianismo do qual Getúlio, homem do campo, jamais conseguiu se desvencilhar. Contrastava com as profundas mudanças por ele instituídas desde 1930, para modernizar um Brasil arraigado a estruturas pouco mais do que medievais, herdadas dos tempos coloniais.
Foi quando a legislação trabalhista tornou efetivo o dia de oito horas de trabalho, que só existia no papel, e colocou o brasileiro sob a proteção da previdência social, até então pouco abrangente. Foi quando teve início a democratização do ensino e a inclusão de crianças e gestantes em inéditos programas de medicina preventiva.
Essas mudanças, nas quais se deve incluir, também, o início da industrialização do país, lhe conferem mérito de estadista. Algumas delas, porém, acabaram traçando uma fronteira a separar interesses atendidos e interesses contrariados. A paixão do confronto impede até hoje uma visão clara do período histórico e contribui para o que se possa pensar em enigmas: Qual a ideologia de Getúlio?
O próprio Getúlio costumava comentar que as oligarquias brasileiras não percebiam que ele as salvara do comunismo. A extrema esquerda, até seu suicídio, exigia-lhe a cabeça. Foi só depois da morte que passou a ostentar seu cadáver como bandeira de nacionalismo.

terça-feira, 18 de abril de 2006

O nome da rosa - Jayme Copstein

Os olhares da ciência mundial voltam-se hoje para o julgamento do pedido de aposentadoria do deputado José Jatene, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal.
Há grande expectativa de inovações na área de diagnóstico médico. O deputado alega problemas cardíacos. Por notável coincidência, o mesmo pretexto foi levantando também pelo compadre do presidente Lula, Roberto Teixeira, para não atender ao convite da CPI dos Bingos.
É bom que a Comissão de Constituição e Justiça examine com urgência e cuidado esses corações entupidos de mensalões. Já se inovou na área da economia, quando gatunagem virou “dinheiro não contabilizado”, segundo o grande financista Delúbio Soares; no direito e na moral, mentira passou a ser “impropriedade terminológica”, de acordo com o ilustre advogado criminalista, Márcio Thomaz Bastos.
Falta realmente inovar na área da saúde. Apesar de o médico Antônio Palocci não ter se manifestado a respeito, a nova doença do coração bem poderia ser batizada de “infurto do miocárdio”.
É um nome muito adequado, apesar de a doença ser tão antiga.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Um dia depois do outro - Jayme Copstein

Quem vocês acham que poderia ter dito:
“Como ser humano, tenho pena. Uma pessoa que teve a oportunidade de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, com o respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ao invés de construir um governo construiu uma quadrilha como ele construiu, me dá pena.”
Não se apressem na resposta porque, no Brasil, é preciso saber quando foi dito, para saber-se quem disse. Pode ser qualquer um. É a eterna mesmice da política brasileira.
As declarações são de Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista concedida em 1992, há 14 anos, ao jornalista Milton Neves, hoje atuando na TV Record, respondendo sobre o impeachment de Fernando Collor de Mello. Está reproduzida integralmente na página eletrônica do radialista Mução (http://www.mucao.com.br), âncora de um programa muito popular no Nordeste.
Seguindo com o barco, a Bíblia, no Eclesiastes, tem uma frase lapidar: “Geração vai, geração vem, mas a terra permanece para sempre”. O que talvez devesse ser adaptado assim para a nossa realidade: “Geração vai, geração vem, o Brasil continua o mesmo”.
Como se faz no bom jornalismo, ao reproduzir a entrevista de Lula, Mução convocou Fernando Collor de Mello para que fazer a contraparte. Perguntado se sentia pena de Lula, Collor devolveu:
“Acredito que não seja o caso de pena. A entrevista do Lula foi concedida logo depois do meu afastamento da presidência da República, cargo para o qual fui conduzido por 35 milhões de pessoas e que um magote de deputados safados me tiraram de lá. Entre esses deputados estavam José Genoíno, José Dirceu, estavam auxiliando esse processo o Duda Mendonça, o Paulo Okamoto, esse Jorge Mattoso, enfim todos esses que estão enterrados até o pescoço no maior assalto já visto nesta Nação. Luiz Inácio Lula da Silva prova do seu próprio veneno. Tudo o que disse de mim, ele e os seus asseclas, mostrando hoje que é ele que está praticando.”
Já que hoje estamos bíblicos, com o gosto amargo da impunidade na boca, vale encerrar este comentário com mais uma citação tirada do Eclesiastes: “Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”
Aparentemente, nenhum. Em um país onde Collor e Lula são o alfa e ômega, o princípio e o fim, a conclusão é melancólica: assim como era no princípio será agora e por todos os séculos dos séculos, se o eleitor continuar dizendo amém à demagogia.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Os mamulengos do Zé - Jayme Copstein

Zé Dirceu, hábil manipulador de mamulengos, ao fretar um jato para convencer Itamar Franco a concorrer à presidência da República, emite duas mensagens: 1ª – não acredita mais na reeleição de Lula, apesar das pesquisas; 2ª - procura um novo boneco para sua ópera de vivos – o antigo já não tem mais serventia.
O trêfego Itamar possui as medidas exatas do papel. Quando presidente, foi galã na ópera bufa do sambódromo, que deu 15 minutos de fama à garota de programas Lílian Ramos. Já governador das Alterosas, protagonizou o papel principal de Brancaleone no pastelão da moratória mineira, que custou bilhões de dólares e por pouco não leva o país à bancarrota.
É currículo mais do que suficiente para caber nas artimanhas de Zé Dirceu, forjado na mitologia do totalitarismo, como “homem do destino”, modelo Hitler, Mussolini, Stalin ou Mão Tse Tung.
Zé Dirceu também tem as medidas exatas do papel. Herói que jamais verteu lágrima ou derramou gota de sangue de seu – sempre mandou os outros em seu lugar - tem a arrogância messiânica dos êmulos. Cassado e indiciado por corrupção, alegando trabalhar para a iniciativa privada, seja lá o que isso signifique, dá reposta neurastênica a qualquer indagação sobre o aluguel do jato para falar com Itamar: “Será que vou ter de explicar se vou a um restaurante ou compro uma roupa?”
Para Zé Dirceu, são coisas muito parecidas.

Hora de reflexão - Jayme Copstein

As pesquisas de opinião mostram que o sr. Luiz Inácio Lula pode se reeleger presidente da República, mas o PT e seus aliados perderão cadeiras no parlamento. Significa que a crise política se prolongará pelo segundo mandato, com piores perspectivas ainda.
O que nos reserva o futuro, se essas previsões se confirmarem?
É hora, pois, de refletir sobre o esgotamento do modelo político e pensar em parlamentarismo e voto distrital puro.
Por que o parlamentarismo corrigiria esta situação, de eleitor votando em um candidato a presidente, ao mesmo tempo lhe negando o apoio parlamentar de que necessita, como acontece agora? Porque só elegeria os deputados, e elegendo os deputados, saberia de antemão que seriam seus delegados para eleger o chefe do governo, o primeiro-ministro.
O candidato a deputado teria de dizer aos eleitores o programa
de governo que apoiaria.
O eleitor vai contrapor: “Eles prometem e não cumprem”.
Prometem e não cumprem porque no Brasil existe essa aberração chamada voto proporcional: nem o eleitor sabe em quem está votando nem o candidato sabe quem votou nele.
O voto distrital acaba com a perversão. O candidato, limitado a uma zona eleitoral, tem de encarar o eleitor olho no olho. Não adianta comprometer-se com grupos econômicos, em troca do dinheiro para catar votos em todos os cantinhos de um Estado. Com um universo restrito de eleitores, as despesas de campanha reduzem-se ao mínimo.
Se “prometer e não cumprir”, como muitos fazem, os eleitores do distrito podem se dirigir à Justiça e pedir a devolução do mandato. Não há, pois, como prometer salários mirabolantes, crédito farto sem juros, abolição de impostos e todo o tipo de trampolinagem que os marqueteiros embrulham em papel celofane, amarrado com fita de seda, para passar gato por lebre. Prometeu, perdeu o mandato.
Não se necessita da fidelidade partidária. O voto distrital puro acaba com as legendas de aluguel e com políticos que só as usam para se eleger. Eles têm de prestar contas ao eleitor.

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Prenúncio do caos - Jayme Copstein

Pelé certa vez disse que brasileiro não sabia votar. Mesmo acertando, Pelé não sabia o que estava dizendo. Nem ele nem a grande massa de eleitores do país sabe nem mesmo no que está votando.
Basta analisar as pesquisas de opinião, que mostram Lula flutuando no escândalo do mensalão. O eleitor não parece muito preocupado em apurar se ele sabia ou não sabia, se comandava ou não comandava a gatunagem. Deseja um craque de futebol que, no último minuto do segundo tempo, marque o gol salvador, mesmo que tenha só passeado em campo durante o resto da partida.
Se o mensalão não afetou a popularidade de Lula, o mesmo não se pode dizer em relação aos seus correligionários. Lula poderá ser reeleito, mas seu partido, com toda a certeza, não repetirá a bancada inicial do primeiro mandato. Parte de seus deputados e senadores já se transferiu a outros partidos, engrossando a oposição. Cassado José Dirceu, grande puxador de votos, o que sobrou enfrentará a ira dos eleitores.
Se Lula, contando neste primeiro governo com a maior bancada da Câmara Federal, só conseguiu tocar o barco, assim mesmo com mediocridade, pagando o preço exorbitante de alianças com o que há de pior na política brasileira, imagine-se o segundo mandato com uma bancada insignificante.
É o prenúncio do caos.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

A Páscoa de todos - Jayme Copstein

As pessoas surpreendem-se com a proximidade, neste ano, da Páscoa judaica e da Páscoa cristã.
Não há motivo para a surpresa. Não há nenhuma coincidência: a Páscoa é a mesma para as duas religiões. A única diferença é que os cristãos acrescentam a ressurreição de Jesus ao comemorar, como os judeus, a libertação do cativeiro no Egito.
O pormenor foi o responsável pelo distanciamento e antagonismo entre cristãos e judeus, hoje já bem mais atenuados. Na verdade, é a mesma fé com seus devotos separados apenas por um tempo de verbo. Os judeus dizem: “O Messias virá.” Os cristãos discordam: “Ele já veio.”
Desta divergência decorrem algumas diferenças de ritual e, também, o cálculo para apurar a primeira lua cheia após o dia 14 do mês hebraico de Nissan, quando os hebreus puderam deixar o Egito. Daí porque as duas datas se aproximam em alguns anos ou se distanciam em outros.
Logo mais, relembrando a redenção, como fazem há milênios – e como Jesus também o fez na ceia em que comemorou a Páscoa com os apóstolos, quando instituiu a Eucaristia – ao partir o pão ázimo, os judeus perguntarão a uma criança por que esta noite é diferente de todas as noites.
A resposta é uma lição da história: por que lembramos os sofrimentos do passado, o amor de Deus que nos resgatou e nos deu por recompensa a liberdade de viver e a alegria da nossa fé em seu nome.
Esta também é a mensagem da Ressurreição de Jesus.
Feliz Páscoa para todos.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Balada da pobre órfã - Jayme Copsteuin

A OAB paulista anuncia procedimentos para enquandrar eticamente os advogados de Suzane von Suzane von Richthofen, Denivaldo Barni Júnior e Mário Sérgio de Oliveira, este membro do próprio Tribunal de Ética da instituição.
Não foi a tentativa de transformar a assassina dos pais em “pobre órfã” que aborreceu a OAB paulista. Teses mais absurdas e indecorosas são levantadas todos os dias nos tribunais do país, sem que alguém proteste pelo massacre da moralidade e da decência.
A OAB paulista indignou-se com o teatro brega, inadvertidamente desmascarado por um microfone escondido sob as roupas de Suzane, para instruí-la: “chora agora”, “baixa a cabeça”, “faz beicinho”, à medida que a entrevista para a tevê fosse se desdobrando.
Para reforçar a versão e convencer a opinião pública que era armação mesmo, Denivaldo arranjou uma explicação ainda mais fajuta para o escorregão: conversava com ela dentro do automóvel e a instruía a comover o irmão e obter ajuda. Até para pagar comida, a coitadinha não tem dinheiro.
Nos bastidores do circo, escondem-se outros fatos: Suzane cometeu o crime quando tinha menos de 21 anos e pode ser beneficiada pela legislação dos rábulas de porta de cadeia vigente no Brasil: a prescrição é reduzida para 10 anos.
A desmascaramento foi montado de propósito para tumultuar o processo. Já quatro anos se passaram desde que a “pobre órfã” matou os pais. A substituição dos advogados adia o júri marcado para 5 de junho. Com a impunidade, Suzane volta ter direito à herança dos pais, alguns milhões dos quais ela será legalmente excluída se for condenada.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Um país gracioso - Jayme Copstein

Lembram-se do Manoel, já falado nestes comentários (Manoel e o Supremo – (30 de março)? Ele mesmo, o grande filósofo lusitano. Perguntado por que portugueses não inventam anedotas sobre brasileiros, respondeu: “Precisa?!”.
Ontem dei uma carona ao Manoel, justamente quando o rádio transmitia a Voz do Brasil. Ouvimos muito atentos a notícia de que o Censo Legislativo Brasileiro, realizado no ano passado, trouxe revelações interessantes. Por exemplo, desde o último Censo do IBGE, o número de municípios brasileiros aumentou de 5559 para 5564, cinco a mais.
Mas a notícia fez também revelações preocupantes. Apenas em torno 4% de todos os que atuam nas câmaras municipais brasileiras, têm curso universitário. Em mais de 95% dos casos, leis e orçamentos são feitos por leigos, sem a assistência técnica de advogados e contabilistas. Imaginem o que pode sair daí em termo de lagalidade.
Mas houve igualmente revelações estarrecedoras: número significativo de câmaras municipais brasileiras sequer tem sede e personalidade jurídica. Não funcionam. Só existem para pagar proventos de vereadores e seus agregados.
Nesse momento olhei para o Manoel. Pensei que, finalmente, ele ia inventar uma anedota. Enganei-me. Com um doce sorriso, ele murmurou: “Hum!... Que país gracioso!”

A falta do latim - Jayme Copstein

O discurso de defesa do deputado João Paulo Cunha, na sessão da Câmara que o julgou por quebra de decoro parlamentar, foi puro teatro de revista. Tanto fazia que recitasse trechos da Divina Comédia de Dante ou cantasse o Bigorrilho, mestre em tirar cavaco de pau. Dava no mesmo. Havia o acordão e ele sabia que o julgamento era uma farsa.
Daí, a hipocrisia da humildade, beirando o patético: “Serei sempre visto como um mensaleiro", queixou-se o deputado Cunha.
Desde que a Câmara Federal, com as bênçãos de Zé Dirceu, tem como presidente Aldo Rebelo, que um dia quis proibir as palavras estrangeiras, mas não o francês José Bové destruindo pesquisas científicas, dinheiro excuso, originado em suborno, extorsão ou furto, é chamado de não contabilizado (Delúbio Soares); mentira passou a ser imprecisão terminológica (Antõnio Palocci); violação de sigilo bancário mudou para vazamento (Márcio Thomaz Bastos); demissão transformou-se em “afastamento voluntário”; catupé com rebolado virou demonstração de alegria (Ângela Guadagnin); e “denuncismo” é quando nos pegam com a boca na botija.
Fica difícil, pois, entender-se a recente acusação do ministro Tarso Genro, de que a imprensa quer desestabilizar o governo. Ora, de todo esse palavrório, mensaleiro foi o único criado pelos jornalistas. Por ignorância. Se eles conhecessem a história do pretor romano Lucius Antonius Ruffus Appius, que se assinava L.A.R. Appius, a imprensa teria usado um termo mais adequado e verdadeiro.
Que falta o latim nos faz.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

A arma do eleitor – 2 - Jayme Copstein

Os eleitores enojados com mais esta nauseabunda absolvição de réu confesso, o deputado do PT, João Paulo Cunha, querem encontrar um caminho para acabar com tanta indignidade.
As sugestões que começam a pipocar na Internet, por mais engenhosas ou engraçadas que pareçam, são absolutamente inócuas e podem até se voltar contra o eleitor.
A primeira é aquela, já comentada, do voto nulo ou em branco. Não anula eleição, como também já se demonstrou.
A segunda, é a de não reeleger nenhum deputado ou senador. Além de se castigar os políticos decentes, qual a garantia do eleitor que não vai substituir os malandros conhecidos por malandros anônimos? Ou acaso do mensalão ou desta nauseabunda absolvição de corruptos não participou nenhum deputado de primeiro mandato?
Há uma terceira sugestão: a de que todos os eleitores brasileiros passem a usar nariz de palhaço, pára mostrar sua repulsa. Absolutamente inofensivo: os corruptos já acham isso de todos os eleitores e não se impressionariam com a piada.
Todas essas idéias nascem do desconhecimento que o eleitor brasileiro tem a respeito do processo eleitoral. Ele não percebe que não vota em ninguém pessoalmente. Ele vota apenas na legenda partidária e quando identifica um candidato, só está manifestando desejo de que ele seja eleito. Se vai ser eleito ou não, é outra conversa.
Daí, os grandes malandros que manejam os cordéis dos bastidores convocarem toda uma tropilha de figuras populares, como atletas, artistas de teatro e tevê e jornalistas. Já querem até candidatar a deputado este major que está fazendo turismo espacial a preço de liquidação.
Nada contra o major, mas quais as suas credenciais para a indicação à Câmara Federal? Nenhuma. Apenas a notoriedade que resultou da viagem na Soyuz, que deve se traduzir em votos na legenda de um partido.
Portanto, a arma do eleitor é punir os partidos envolvidos no mensalão e no acordo para garantir impunidade aos corruptos. São poucos e facilmente identificáveis.
Seria, antes de mais nada, uma questão de justiça. E depois, pagando-se na mesma moeda, bastaria esta simples manobra para fazer explodir esses partidos. Convençam-se vocês, entre malandros, na hora do “mateus, primeiros os meus”, não tem pai, mãe, irmão, amigo ou aliado. Entregam todo mundo para salvar a pele.

A arma do eleitor - Jayme Copstein

Quem recebe freqüenta este blog não têm motivo para se surpreender com a impunidade de mais um réu confesso do mensalão, o deputado João Paulo Cunha. Desde dezembro, este espaço denuncia-se aqui o acordo para livrar os implicados da punição (“No Reino do Mensalão” – 21/12/2005 – e “Quorum dos canalhas” – 22/12/2005).
Mais ainda: o acordo prevê, ainda, anistia aos poucos cassados, em projeto que não se tem certeza, se neste ano ou no próximo, será apresentado à Câmara sem nenhum escrúpulo, palavra que se evaporou do dicionário parlamentar brasileiro.
O eleitor reage aos escândalos da pior maneira. Há uma besteira correndo com ares de inteligência pela Internet, pregando o voto nulo ou em branco, para invalidar as próximas eleições. O autor ou autores do “não brinco mais”, querem parar o país. Com que utilidade? Ninguém sabe.
Inteligente seria convocar os eleitores para não votar em legendas envolvidas no mensalão. Não é difícil identificá-las. É só pegar a lista dos implicados e cobrar a conta dos respectivos partidos.
Não vale alegar-se que inocentes pagarão por pecadores. Todos conhecemos o provérbio: Dize-me com quem andas, eu te direi quem és. Quem aceita conviver com corrupto, corrupto também é.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

As cuecas de Mandrake - Jayme Copstein

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem, a quem interessar possa, que não nomeou nenhum Mandrake para dirigir a economia brasileira. Mas quem compara o reajuste do salário mínimo e dos benefícios de aposentados e pensionistas da Previdência Social, percebe que além do dinheiro sumido, tem dente de coelho nessa cartola de mágico.
É só fazer as contas: o reajuste dos benefícios de aposentados e pensionistas da Previdência Social está calculado entre 4,2 e 4,3%, havendo rumores de que poderá ir a 6%. Seja como for, o número fica distante, não vai muito além da quarta parte do reajuste concedido ao salário mínimo: 16,67%.
Faz tempo que aposentados e pensionistas pagam esta conta exorbitante, em cuja soma entram os benefícios dos marajás, com poder de pressão, herdado por um medieval direito de nascença, e a grossa corrupção que sobrenada na demagogia dos políticos, em perpétua guerra pelo poder.
Em 1988, os benefícios de aposentados e pensionistas foram atualizados pela sua relação com o salário mínimo. Hoje, na mesma relação com o salário mínimo, o valor não ultrapassa 60% da quantia. Aonde foram parar os 40% faltantes?
O presidente Lula diz que não nomeou nenhum Mandrake para dirigir a economia brasileira. Conclusão: fora do governo, mesmo privado da cartola, Mandrake faz desaparecer dinheiro em cuecas

terça-feira, 4 de abril de 2006

Questão de tempo - Jayme Copstein

Os membros do governo repetem, como cantochão, a queixa de que, em conluio, a oposição e a imprensa não os deixam em paz.
Seria ingenuidade descabida achar que opositores são vozes do coro de arcanjos, com vocação para cantar um afinado amém. Sobra, então, a “maldita” imprensa que teima em devassar os bastidores, onde longe dos olhos da platéia, Chapeuzinho Vermelho beija apaixonadamente o Lobo Mau, com escaldante e insuspeitada intimidade.
Depoimento de quem tem mais de seis décadas de estrada por jornais, emissoras de rádio e de televisão: nenhum jornalista, em qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo, por mais que tenha investigado, jamais conseguiu saber algo além do que alguém estivesse disposto a lhe contar. A maior parte das vezes, não se necessita sequer procurar: a informação vem sozinha, trazido por quem calou mas não consentiu. Sendo uma das almas, discorda que São Miguel ficasse com a melhor parte
Se o sr. Luiz Inácio Lula da Silva deseja saber como vaza sua informalidade e a de seus correligionários no trato privado do patrimônio público, que procure entre os íntimos. Ou acaso crê que foram as cadeiras da sala, as xícaras do cafezinho ou cupins do madeirame que expuseram a versão petista do Big Brother Brasil, com prêmio também de um milhão de reais a quem segurasse a bronca do sigilo violado do caseiro Francenildo Costa?
Bom que se precavenha – é mera questão de tempo até que um cúmplice, insatisfeito com quinhão que lhe coube no butim, decida confiar mágoas piores a um jornalista de ouvido atento.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

O dito pelo não dito - Jayme Copstein

Que o Brasil conhece muito pouco o Brasil, prova-o esta senhora deputada, Ângela Guadagnin, que protagonizou a dança do corrupião no plenário da Câmara, para festejar a absolvição do correligionário envolvido no mensalão.
A deputada Guadagnin já estava em evidência desde que os relatórios de cassação de mandatos começaram a chegar à Comissão de Ética da Câmara, da qual ela faz parte. Não fosse ter encarnado uma versão cabocla de Isadora Duncan cabocla (o filme anda correndo a Internet), no máximo ela seria famosa, durante breve tempo, pelas tentativas de retardar os trabalhos da Comissão, em manobra clara para ganhar tempo e permitir às negociações do acordão, do qual resultam as absolvições dos mensalistas.
Não fosse a dança do corrupião, não haveria indignação, menos ainda leitores da revista Veja lembrando, na edição desta semana, que Ângela Guadagnin, quando prefeita de São José dos Campos, foi acusada por seu próprio secretário de Finanças, Paulo de Tarso Venceslau, de contratar a consultoria da CPEM, acusada de arrecadar dinheiro para a caixa dois do PT.
Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do PT. Ângela Guadagnin continuou impávida, sendo acusada, logo adiante, de contratar, sem licitação, a empresa Machado e Daniel, ligada aos ex-prefeitos Celso Daniel, Santo André, e José Machado de Piracicaba.
Está tudo na página 41 da Veja desta semana, acrescendo-se que ela continua enfrentando na Justiça, ainda sem decisão, processo por superfaturamento de contrato com uma agência de publicidade.
Nada disso era conhecido, ou melhor dito, tudo isso era omitido. Só resta é um pergunta cruciante: não há absoluta incompatibilidade entre uma pessoa com tão fornido currículo e uma comissão que pretende ser de ética?