quarta-feira, 31 de maio de 2006

República da utopia - Jayme Copstein

Quem tem razão, na polêmica despertada pelas declarações do ministro Tarso Genro, sobre direitos adquiridos, é o presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Marco Antônio Barbosa Leal. Opinando sobre a proposta de limitar os salários do setor público pelo que ganha o presidente da República, foi taxativo: dêem ao resto do funcionalismo ao que dão a Lula – cartões de crédito para pagar todas as despesas da família, mais um amigo como Paulo Okamoto, para pagar outras contas, e estendam a todos o direito dos filhos de usar cinco, seis, sete carros, e ninguém precisará sequer de salário.

Façamos justiça, contudo, ao ministro Tarso Genro, que deve perder seu cargo por desconhecer o dogma dos tempos da urna, quando a mentira muda de nome para tornar-se “verdade operacional”. Ele não terá chance de explicar a diferença entre direito e privilégio adquirido, este fruto de jeitinhos e falcatruas, sacramentadas pela demagogia barata de políticos populistas, com o aval da Justiça. É como se chega a uma patriótica pensão por ser descendente de Tiradentes, apesar de Tiradentes não ter deixado descendência, como aconteceu em Minas Gerais.

Se conseguíssemos banir toda a corrupção e decretar a nulidade dos seus efeitos, com toda certeza e dentro da mais absoluta ordem constitucional, encolheríamos de maneira significativa as despesas públicas. Mas, como bem disse o desembargador Marco Antônio Barbosa Leal, seria necessário começar pelos cartões de crédito do presidente da República, cujo faturamento todos pagamos com aqueles 40 % dos impostos que nos são extorquidos.

Bastaria também pôr na cadeia os corruptos e dizer aos filhos de Lula que automóveis ter tantos quantos desejarem, desde que trabalhem honestamente para comprá-los.
Mas aí já seria mudar o nome de Brasil para República da Utopia.

Consciências desertas - Jayme Copstein

Pouco se fala da Nova Zelândia, lá do outro lado do mundo. Por isso mesmo não se sabe que o país, de sólida economia, elevados índices de saúde, educação e segurança, tem o sistema previdenciário que mais se aproxima da perfeição.

Lá, todos contribuem para a previdência com percentual fixo sobre os ganhos mensais. Não há limite para o desconto. Quando chega a hora da aposentadoria, porém, só concedida a partir dos 65 anos de idade, a todos os neo-zelandeses, independente do tempo e do valor da contribuição, o beneficio é fixo: 2 mil dólares. Nem mais nem menos

Como falar-se em perfeição se quem contribuiu mais – por exemplo, os que contribuíram sobre salários de 20 mil dólares – devem sujeitar-se a uma aposentadoria igual a de quem só descontou sobre mil dólares, a vigésima parte, e assim mesmo vai usufruir o dobro do que ganhava trabalhando?

A resposta é simples: quem ganhou salários de 20 mil dólares mensais, teve como poupar e investir em previdência privada, para garantir renda maior e o padrão de vida a que estava acostumado. Aos demais, aos que não auferiam ganhos para tanto, a sociedade reconhece e recompensa pela contribuição do seu suor ao bem-estar de todos. Assegura-lhes uma quantia para viverem com dignidade..

Seria possível implantar-se um sistema assim no Brasil, onde sobram discursos mas carece de justiça social? A resposta é “não”. Ao brasileiro, de maneira geral, independente do grau de instrução, do credo religioso ou da filiação partidária, falta mentalidade para ser igual, para dividir o bem-estar com os semelhantes, para não tentar a vantagem do privilégio, mesmo com a consciência de que o que sobra a uns é tirado dos demais.

Falar em justiça social para pessoas assim é pregar no deserto.

terça-feira, 30 de maio de 2006

No caminho de Damasco - Jayme Copstein

Foi descortesia inominável, o tom moralista do presidente do Sindicato dos Fiscais de Tributos do Estado, Carlos Agostini, ao lembrar a atividade profissional do advogado trabalhista Tarso Genro na defesa de direitos trabalhistas do funcionalismo público. Com toda a certeza, não haverá dificuldades para organizar, entre colegas deste líder sindical, uma extensa lista dos que recorreram e se beneficiaram dos serviços do bacharel que sequer sonhava em se tornar o ministro da Coordenação Política, mesmo porque a Pasta ainda não existia nem de sua criação se cogitava.
O que se pode e se deve externar em relação ao ministro Tarso Genro e a todos os seus correligionários, é perplexidade diante de tanta incoerência. Há muito tempo pede-se a reforma da burocracia brasileira, para eliminar distorções e a conseqüente sangria dos cofres públicos, em conseqüências de diretos, boa parte deles muito mal adquiridos, graças à demagogia barata de partidos populistas e de decisões estapafúrdias de juízes bizantinos.
Ontem era Lula fazendo tórridas declarações de amor a José Sarney, a quem chamara, no passado, de ladrão de terras. Ontem era o próprio sr. Tarso Genro demonizando Fernando Henrique Cardoso porque ele desejava a mesma reforma que o ministro prega agora.
Estará acontecendo uma nova versão do caminhante na estrada de Damasco, Paulo de Tarso, que não era genro de ninguém, convertendo-se ao cristianismo que perseguia com ferocidade? Estará Tarso Genro, que não é Paulo, convertendo-se ao neo-liberalismo, que amaldiçoava com tanto fanatismo?
Milagres acontecem, é uma só uma questão de fé.

O convescote - Jayme Copstein

O jornalista André Singer, porta-voz da Presidência da República, convocou entrevista coletiva, hoje de manhã para comunicação importante à imprensa. Os presidentes dos Três Poderes haviam se reunido para deliberar a criação de um plano de carreira com a unificação dos vencimentos do funcionalismo público brasileiro.
Perguntado por pormenores da reforma, André Singer não sabia nada, além de ter havido a reunião. O porta-voz parecia querer carimbar o encontro como uma conferência tipo Casablanca, quando os Três Grandes decidiram os destinos da II Guerra Mundial.
Tarefa ingrata. Não fosse a presença da ministra Ellen Gracie, a coisa estaria mais para Convescote dos Três Patetas que para salvação da pátria. Com a pompa sem poder esconder as circunstâncias, o objetivo indisfarçável do Planalto e seus parceiros do Legislativo era o de atenuar os efeitos eleitorais da enésima greve dos funcionários da Previdência Social e do Ministério da Saúde.
Houvesse alguma intenção veraz de resolver os problemas da burocracia brasileira, providências mais simples e menos controversas, como a regulamentação do direito de greve do funcionalismo público, já teriam sido já teriam sido propostas, debatidas e até aprovadas há muito tempo.
Isso nunca foi feito porque o funcionalismo público tem sido massa de manobra da demagogia, hoje aboletada no Palácio do Planalto. Daí, para acalmar os ânimos dos grevistas, uma intenção de projeto que nem foi ainda para o papel e terá longo caminho a percorrer, a partir do momento da sua proposição concreta.

Boas companhias - Jayme Copstein

Quatro figuras fáceis da política brasileira, reuniram-se na semana passada, em Nova York, para conspirar:
1º) Renan Calheiros, presidente do Senado, de trajetória política digna do Guiness pela versatilidade. Foi comunista, collorido, ministro tucano e agora é o mais novo amigo de infância de Lula.
2º) Luiz Otávio, um pioneiro: primeiro político brasileiro a ter indicação rejeitada para integrar uma sinecura rendosa no Tribunal de Contas da União. Motivo: carência de bons antecedentes.
3º) Jader Barbalho corrido do Senado por Antônio Carlos Magalhães, com envolvimento no sumiço nebuloso de um milhão de reais do Banco do Estado do Pará e também de outros dinheiros vultosos da Sudam, com beneplácito da senadora Roseana Sarney, que dirigia o conselho do órgão.
4º) O indefectível José Sarney, cujo governo, fruto de azar, pôs na lata do lixo alguns decênios da história brasileira, e do qual o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, em 25 de fevereiro de 1986, disse, conforme a Folha de São Paulo: “"Sarney não vai fazer reforma agrária coisa nenhuma, porque ele é grileiro no Maranhão e não vai querer entregar as terras que tomou dos posseiros”. Escusado traduzir: grileiro é ladrão de terras.
5º) Ney Suassuna, envolvido no mais recente escândalo da República, o das ambulâncias.
Os “neo-inconfidentes” conspiraram contra a candidatura própria do PMDB e para costurar o apoio à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, seu mais novo amigo de infância. Apesar do caráter secreto da reunião, só não se sabe, até agora, de onde saiu o dinheiro para pagar a viagem e hospedagem do quinteto – todos detém mandato eletivo: Barbalho é deputado federal, os demais são senadores.
As decisões já são do conhecimento público. Sarney participou da inauguração de um trecho da Ferrovia Norte-Sul, que ele começou a construir, quando presidente por azar do Brasil, e da qual se diz que liga coisa alguma com parte nenhuma. Diante de tanta devoção, Lula disse ao “ex-grileiro”: “Meu querido presidente Sarney, quando eu te convidei para vir aqui é porque de vez em quando este país precisa ter humildade e fazer justiça às pessoas. Foi um gesto de reconhecimento a um homem que governou este pais na dificuldade que governou. ... E comeu o pão que o diabo amassou. Sarney, nunca ofendi, nunca lhe fiz uma provocação com uma palavra que não pudesse dizer publicamente. E, eu sei quanto este homem foi ofendido, sei como ele foi atacado”.
Diante desta prodigiosa memória de Lula, Sarney devolveu com a mesma amnésia: “O ex-presidente vem louvar o presidente atual para dizer o grande administrador que ele é e a maneira com a qual ele vem conduzindo a Presidência. Ele é um dos mais populares presidentes da História do Brasil. Quero dizer da minha fé no futuro e no presidente Lula. Ele terá a minha solidariedade sempre que necessitar”.
Falta ao Brasil instituir uma condecoração: a da Grande Ordem da Cara de Pau, cujo lema seria o velho provérbio: Dize-me com quem andas e eu te direi quem és.

Quintana e o pai - Jayme Copstein

Quando fui para o Correio do Povo, em abril de 1968, coube-me a mesa confronte a de Mário Quintana. A coincidência marcou o início de longos papos descompromissados, logo transformados em amizade. Muito anos depois, quando ele fez o testamento em favor da sobrinha Helena, Antônio Carlos Ribeiro e eu fomos as testemunhas. Mário desejava manter a privacidade da decisão e nos escolheu como amigos de confiança.

As confidências trocadas naquela redação, onde muitas vezes, em domingos e feriados, éramos os dois únicos habitantes do planeta, foram muitas, inclusive sobre o período em que teve problemas de alcoolismo. Contava que na Clínica Pinel lhe haviam detectado pequena deficiência de condução elétrica no cérebro, cujos sintomas a embriaguez aliviava. Substituída a bebida por um medicamento adequado, nunca mais pôs álcool na boca.

Aí paravam as confidências sobre o alcoolismo. Havia algo, entretanto, de que ele não falava. Segundo depoimento de outras pessoas, seu comportamento, quando embriagado, era nitidamente autopunitivo. Abordava os freqüentadores dos bares com grosserias, para lhes esgotar a paciência e ser por eles agredido.
Mais lacônicas, ainda, eram suas referências ao pai que, alarmado com as “poetices”, dele quisera fazer “um homem”, mandando-o estudar no Colégio Militar. A caserna haveria de ensiná-lo.

Em vão. Eliminado do curso pelas sucessivas reprovações em matemática, Mário empregou-se na Livraria do Globo para estar perto dos livros e dos escritores. O pai o tirou lá porque não queria filho vagabundo, zé-ninguém. A relação entre os dois tornou-se crítica.

Mário tentou sepultar conflito no silêncio que reina sobre a figura paterna em sua poesia desta fase, se é que se pode chamar assim a que vai até o tratamento e a cura do alcoolismo. Mas há evidente sentimento de culpa nas grosserias, quando embriagado, em busca de punição.

O conflito começou a ser resolvido com o apoio psicológico recebido na Pinel. Logo em seguida, o início da reconciliação com a figura paterna aparece no poema “O Velho no Espelho”:

(...) Nosso olhar – duro – interroga:
O que fizeste de mim
Eu, Pai,
Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga. Que importa
Eu sou ainda
aquele mesmo menino teimoso de sempre
e os teus planos enfim lá se foram por terra
mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!- vi sorrir nesses cansados olhos
um orgulho triste.

A reconciliação torna-se definitiva, depois, em outro poema, As mãos de meu pai:

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor da terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida.

Mas então, Mário Quintana já libertara em si a figura doce, cuja lembrança é a que todos guardamos dele.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

O disco emperrado - Jayme Copstein

Parece um daqueles discos antigos de gramofone, rachados, em que a agulha emperrava no arranhão e ficava repetindo a última palavra. Suzane von Richthofen depois de vários entra-e-sai da cadeia, volta novo para prisão domiciliar. A agulha trancada na rachadura da Justiça, grita: impunidade, impunidade, impunidade, impunidade.
Por que prisão domiciliar para Suzane, que arquitetou com o namorado e o irmão dele a morte dos pais? É uma das muitas manobras dos seus defensores para caracterizá-la como pobre órfã, incompreendida e massacrada pela mídia, às vésperas de seu julgamento.
Conseguido o benefício na sexta-feira, os advogados tinham pressa em levá-la para casa no mesmo dia. Acusaram o juiz da Vara Criminal, onde corre o processo, de “má-vontade” por ele ter se recusado a assinar o alvará de soltura sem a indicação clara do domicílio para onde seria levada. Acabou sendo providenciado o endereço de uma dos próprios advogados.
Há uma outra indagação, sem resposta desde que o processo de Suzane von Richthofen começou: por que tribunal do júri, se a materialidade caracteriza o latrocínio? Não se trata da intenção de antecipar a herança – é o roubo de valores que havia na casa quando o crime foi cometido.
A próxima manobra dos defensores de Suzane é conseguir que não seja julgada com seus cúmplices. Vão pedir o desdobramento do processo e que a “pobre órfã” enfrente o Tribunal depois, despertando a piedade dos jurados.
De fundo, para o dramalhão, o disco emperrado da Justiça: impunidade, impunidade, impunidade, impunidade.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Abuso ou desacato? - Jayme Copstein

Que os dois advogados do PCC, Sérgio Weslei da Cunha e Maria Cristina Rachado não são flores que se cheirem, qualquer nariz gripado percebe a quilômetros de distância. Mas a prisão de Sérgio, ontem, na Câmara Federal, está mais para premeditado abuso de autoridade do que para desacato da dita cuja.
É claro que não estamos falando de autoridade moral. Depois da absolvição dos corruptos do mensalão e da recusa do Congresso em investigar a máfia da ambulância, seria crime impossível por falta de realidade.
Não se precisa de muito cérebro para perceber que as CPIs, com honrosas exceções, não passam de picadeiros eleitorais para acrobacias demagógicas, nas quais é difícil separar os bufões dos ingênuos ou discernir entre veemência e truculência.
Reduzindo o caso às devidas proporções, o advogado do PCC reagiu com ironia a um coice do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), cujas noções de civilidade com toda a certeza não foram adquiridas em colégio de freiras. Tanto escândalo por tão pouco mostra que a Câmara considera o sarcasmo da resposta crime maior do que o próprio suborno praticado por Sérgio e Maria Cristina, para ter acesso a documento sigiloso.
Ainda bem que os deputados só escutaram a graçola do advogado. Se afinassem as orelhas para a voz das ruas, ouviriam o resto da missa. O seu problema seria dar voz prisão a 170 milhões de brasileiros.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Novela da vida real - Jayme Copstein

O juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, da 9ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, acaba de demonstrar que o código dos rábulas de porta de cadeia não prevalece sobre a justiça quando o magistrado não se escraviza, como autômato, à rotina da indolência e da mediocridade. Coube a ele julgar o ator Kadu Moliterno, processado por dar um soco na cara da esposa, Ingrid Saldanha, quando ela o advertiu pela imprudência com que dirigia o carro em que viajavam.
O ator não alegou ao juiz que, por distração, pensou estar em um estúdio de tevê, protagonizando um vilão de novela. A defesa apenas pediu a habitual conversão da pena em cestas básicas, como se fez recentemente no Rio Grande do Sul, onde alguns milhares de reais foram trocados por dúzia e meia de vinténs.
O juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto não aceitou a transação. Ponderou com raro senso de realidade: “Como o ator tem elevado padrão financeiro, submetê-lo a uma pena financeira serviria como reforço à sensação geral de impunidade”.
O magistrado não se referiu a nenhum outro caso, especificamente, mas as suas palavras expressam a perplexidade e a desconformidade da sociedade brasileira com a leniência de alguns tribunais, diante da riqueza ou da popularidade dos réus.
Kadu Moliterno foi condenado a um ano de serviços comunitários. Até maio de 2007, será obrigado a trabalhar oito horas por semana no Lar Maria de Lourdes, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Mais ainda: terá que prestar depoimento a um programa de tevê, sobre o episódio e contar como se relacionou, desde então, coma ex-mulher.
Eis o final perfeito para uma novela da vida real.

Pêsames - Jayme Copstein

Ralph Hoffmann, de Porto Alegre, especialista em comércio exterior, chama a atenção para a irresponsabilidade do ´Governo, na tentativa de lograr a opinião pública e transferir às operadoras de telefonia celular o ônus pelo caos que reina nos presídios.
Hofmann imagina, como exemplo, uma fábrica de cutelarias, a Quality, que produzisse facas de excepcional qualidade, dos talheres de mesa aos instrumentos requintados dos mestres de restaurantes ou eficientes facões dos magarefes em abatedouros.
Em determinado momento, uma pesquisa revela que 35% dos assassinatos no país são cometido com facas. A pesquisa vai mais fundo: constata que 35% das facas usadas pelos assassinos são da marca Quality. Aí, demagogicamente, o Ministério da Justiça ordena que a Quality diminua a qualidade das suas facas.
Não é ficção de Hoffmann. Já não aconteceu o mesmo com as armas de fogo, cujo uso regulamentado deveria diminuir a violência? Ou a opinião pública já esqueceu o referendum que custou milhões à Nação, os mesmos milhões que estão faltando na educação e na saúde, mas sobrando nas cuecas do mensalão?
Não é ficção. É o que está acontecendo de verdade com a pressão do governo sobre as operadoras de telefonia para que, além dos celulares, operem o milagre de corrigir o abismo criado pela alienação, pela desídia, pela demagogia e pela grossa corrupção das autoridades.
Hoffmann manda pêsames à Tim, à Vivo e à Claro. Amplifique-se: pêsames ao Brasil.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Idéias e hegemonias - Jayme Copstein

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Eros Grau, acusou a imprensa de influenciar decisões da Justiça Brasileira, segundo matéria da revista eletrônica Consultor Jurídico. Em palestra na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, no seminário Reforma do Judiciário, promovido pelo Ministério da Justiça, Grau ressuscitou o rótulo de “Quarto Poder” ao dizer que a imprensa constrói “imaginários sociais baseados no pensamento hegemônico”, para condicionar a opinião pública. “As idéias dominantes”, acrescentou o ministro, “são a expressão das opiniões materiais dominantes e é assim que os tribunais decidem”.
São idéias discutíveis, estas do ministro Grau, que têm o direito de tê-las, tanto mas não mais que outros cidadãos desta democracia, os jornalistas aí incluídos. Pela primeira vez, entretanto, um ministro do Supremo Tribunal Federal acusa, em público, haver colegas seus que sentenciam as pendengas, grandes ou pequenas, pela leitura de jornais.
Nada demais – Ruy Barbosa era ávido leitor do Tico-Tico, revista infantil de grande prestígio na época. Mas é engraçado imaginar-se um magistrado, embrulhado em sua toga majestática, pedindo a seção das palavras cruzadas de O Globo para decidir se é anjo ou anja. Quatro letras, todos sabemos que a palavra tem. O gênero é que está em discussão desde a queda de Bizâncio. Ainda não deu tempo para se descobrir.
O que há de alarmante nas idéias do ministro é a semelhança com as que dominavam, há tempos, o pensamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com toda a certeza não haurida nos jornais. Traduziram-se na tentativa de amordaçar a imprensa através de um Conselho Federal de Jornalismo.
Se considerarmos que o jornal é apenas um pedaço de papel, que permite a circulação de idéias sob a forma de manchas de tinta, a questão se coloca sob outro prisma. O que deve predominar? O desconforto do ministro em relação a decisões jurídicas de seus colegas de toga ou a livre expressão do pensamento?
Como não se enxerga nenhuma conexão entre ambas as alternativas, não há o que escolher. A hegemonia da liberdade é sempre preferível.

A bronca do PCC - Jayme Copstein

Nem se precisa ir muito fundo para desvendar o mistério. O PCC, ao desencadear a violência em São Paulo, só perguntava sobre algo que mais uma vez está no noticiário.
“Câmara deve absolver outro envolvido no mensalão”, publica Zero Hora.
É a 11ª absolvição de 14 corruptos que já foram a julgamento na Câmara Federal. Mais não foram absolvidos quatro gatunos amadores, amedrontados com a demagogia das primeiras horas, apressaram-se a renunciar ao mandato.
“Sanguessugas presos são soltos a pedido da Justiça”, - está na Folha de São Paulo.
A Polícia Federal prendeu 46 larápios, implicados na falcatrua das ambulâncias. O Tribunal Regional da Primeira Região não conseguiu definir o sexo dos anjos. Afinal, é “anjo” ou é “anja”?. Tinha gatuno de alto bordo envolvido no escândalo. Como gatuno de alto bordo têm direito a uma justiça originalíssima, apelidada de “foro especial”, em conseqüência, todos foram soltos, pára não se fazer injustiça... aos de cima..
“Supremo Tribunal Federal tranca ação penal de denunciados por crime tributário” – informa a revista eletrônica Consultor Jurídico.
A Receita Federal acabou com a farra de quatro sócios de uma empresa de Manaus, que contrabandeavam produtos eletrônicos da China, mas os rotulavam como fabricados na Zona Franca, para sonegar os impostos. Um dos implicados alegou que a denúncia não qualificava o papel de cada sócio na empresa. Foram todos soltos.
Foi só o que o PCC perguntou, ao desencadear a violência em São Paulo: “Só nós na cadeia? Por que só nós?”

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Os robôs - Jayme Copstein

Segundo recente pesquisa da Data Folha, mais da metade da população brasileira responsabiliza o Poder Judiciário pela impunidade e conseqüente violência que abala o Brasil.
Terá fundamento na realidade esse sentimento negativo da população, que não faz muito tempo considerava o Judiciário a instituição mais confiável do país?
Três registros policiais de um único dia, cobrindo somente o Sul do Brasil, mostram onde o povo busca seus desgostos. Os nove bandidos que assaltavam shoppings no Rio Grande do Sul, a quadrilha de falsificadores de passaportes para vendê-lo a imigrantes ilegais, que atuava em Santa Catarina, e o traficante flagrado com grande contrabando de drogas e munição pesada no Paraná, todos presos ontem, tinham antecedentes criminais e condenações, mas estavam em liberdade, com pena suspensa ou em regime semi-aberto.
A abundância de exemplos como esses, diários, em todos os recantos do país, é conseqüência clara da legislação libertina, cuja devassidão os próprios juízes reconhecem publicamente. Alegam, porém, que estão sujeitos ao seu cumprimento.
A descabida passividade contrasta com a veemência de alguns magistrados em reivindicações salariais, completamente divorciadas da realidade do Estado. Tanta energia assim desperdiçada teria melhor destino se endereçada à reforma da legislação, para permitir que o Judiciário consiga devolver à população a paz e a segurança perdidas.
Fugir a esta responsabilidade induz à reflexão que começaria com uma pergunta: para que juízes que aplicam mecanicamente a lei, se robôs desempenhariam a tarefa com perfeição, sem que se pudesse acusá-los de frieza e insensibilidade. Não passam de máquinas, mesmo.
Os robôs, é claro. É deles que estamos falando.

Sementes da violência - Jayme Copstein

Nosso colega Ruy Carlos Ostermann foi assaltado ontem, quando chegava em casa. Nada de extraordinário no fato em si, afora seu nome ser um timbre do melhor jornalismo que se faz no Rio Grande do Sul.
Surpreende as pessoas que alguém tão conhecido esteja sujeito também aos azares da nossa já banalizada insegurança. É a confusão que se faz entre prestígio e poder. Ruy, inteligente, talentoso, contribuinte valioso de todas as áreas da informação, da cultura ao entretenimento, é tido como poderoso, como qualquer um de nós, profissionais da área de comunicação, mais pela notoriedade dos espaços ocupados em jornais, emissoras de rádio e de tevê que pelos conteúdos que ali divulgamos.
O equívoco nasce nas deficiências da educação no Brasil, aprestada para formar ou adoradores de estátuas de pedra ou militantes de metralhadora na mão. Não forma cidadãos, com a consciência de que o poder é exclusivo do Estado. Não ensina que o poder só pode e só deve ser exercido para o bem comum, através da autoridade, e apenas da autoridade delegada a governantes e fiscalizada pelo parlamento, todos escolhidos livremente pelos eleitores.
A mentalidade deformada, confunde poder, autoridade, prestígio pessoal e notoriedade. Quando alguém conhecido, como Ruy Carlos Ostermann, é assaltado, ainda que a vida toda ele tenha buscado esclarecer o equívoco, são os poderosos de plantão que entram em pânico. Soa o alarme: outros militantes, surgem agora, à margem da lei, para disputar o seu mensalão. O que está ao alcance deles.
Diga-se o que se disser, preguem-se todas as moralidades e todas as ideologias – sem a única e verdadeira revolução que é a da educação para a cidadania, não há solução para o nosso caos.
Por enquanto, o que resta é fazer humor: Ruy Carlos Ostermann acaba de ingressar na mais democrática das nossas instituições, a única que não discrimina cor de pele, credo religioso, condição social ou econômica: a dos assaltados do Brasil

quinta-feira, 18 de maio de 2006

A mola do crime - Jayme Copstein

Parecido com o ex-presidente Itamar Franco, nas ironias baratas e nas descortesias descabidas, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, tem toda a razão quando aponta a responsabilidade do que chama de “minoria branca” pelo caos do Brasil.
Não se precisa de grandes investigações para comprovar o papel da oligarquia endinheirada, que está por trás, também, na manutenção da impunidade assegurada pelo código de porta de cadeia. Basta olhar o problema das drogas, por exemplo, em que a tese dominante, agora, é isentar de culpa o viciado.
O raciocínio é simples: se não representasse negócio milionário e não tivesse consumidores para sustentá-lo, não haveria tráfico de drogas. Quem, portanto, são os clientes dos traficantes senão os que dispõem de dinheiro, e de muito dinheiro, para comprá-las? Não é, com toda a certeza, o pezinho-de-chinelo que furta o televisor comprado pela mãe em suadas prestações. É só procurar em joalherias e lojas de decoração, que se encontram artísticas bandejinhas de prata, para as “carreirinhas” oferecidas nas festas de grandes mansões.
Há uma contradição nisso, pois quem mais clama que a Polícia que nada faz contra os criminosos, é justamente esta oligarquia. Com o dinheiro de seus própriuos crimes, ela preserva o código de porta de cadeia e paga regiamente o rábula para lhe assegurar a impunidade.
Atribuem a Marx uma frase de efeito: “O último capitalista vai vender em prestações a corda com que vão enforcá-lo”. Terá Marx, algum dia, vindo secretamente ao Brasil e conhecido a nossa oligarquia? Como pôde descrevê-la com tanta precisão?

A fúria dos maribondos - Jayme Copstein

O pacote de medidas de segurança que senadores e deputados agora estudam em regime de urgência, já podia ter sido aprovado através dos projetos isolados que dormem há anos, senão há décadas, nas gavetas do Congresso.
Ao contrário do que parece, não foi a ação do PCC que levou os políticos a pensar na segurança da população. Fosse isso, leis mais severas e providências efetivas para prevenir a violência, há muito já estariam em vigor. É a vizinhança das eleições de outubro que os faz zumbir como maribondos em fúria.
Enquanto havia tempo, os nossos geniais salvadores da pátria dedicavam-se a aperfeiçoar o código dos rábulas de porta de cadeia, propondo o direito de voto aos apenados. Em masmorras onde a autoridade passou às mãos dos bandidos e em que um ladrãozinho de galinhas, para preservar a sua própria vida, é obrigado a assassinar a quem lhe ordenarem, se não for malíciosa a idéia é de incurável idiotia ideológica. Com cerca de 130 mil “eleitores”, Marcola poderia se eleger deputado federal – legenda de aluguel, não haveria de lhe faltar – e ele ganharia legalmente a liberdade para exercer o mandato.
Só faltaria a este memorável projeto, uma quota mínima, com a devida proporcionalidade, para assegurar representação a estelionatários, traficantes e assassinos. Se bem que eles já estejam bem representados no Congresso, impunes, sem estágio pelas penitenciárias e sem ter de pagar ao rábula de porta de cadeia. Pelo contrário, até cobrando...

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Mais perguntas para reflexão - Jayme Copstein

Algumas pessoas reclamaram do comentário de ontem (Perguntas e reflexões), com acusações de sectarismo e até de paranóia, pela semelhança nele identificada entre ações do MST e do PCC, planejadas e executadas com sofisticada precisão e sincronia.
Não se perderá tempo em responder antigas cantilenas, desmoralizadas pelo mensalão. Vamos nos cingir apenas a fatos notórios que as mesmas cantilenas que também dissimulavam sob a capa do bom-mocismo.
Em 2 de maio do ano passado, o jornal O Estado de São Paulo, publicou matéria do repórter Josmar Jozino, denunciando: “MST ensinou PCC a fazer protesto”. (1)
Nela, Jozino divulga conversas telefônicas, gravadas pela Polícia em 4 de abril de 2005, com presos das cadeias de Araraquara e Iaras acertando os pormenores da manifestação de protesto de parentes de detentos, que iria ocorrer dali a duas semanas, em 18 de abril. Oito mil pessoas foram trazidas de todos os pontos do Estado de São Paulo, para protestar em frente à Secretaria Estadual Administração Penitenciária na capital bandeirante.
Tal como a destruição das instalações da Aracruz no Rio Grande do Sul ou a violência deste último fim de semana em São Paulo e em Mato Grosso do Sul, não se consegue trazer oito mil pessoas, seja de onde for, e colocá-las em ordem, em evento desta natureza, sem grande planejamento e forte apoio logístico. Não será com celulares, de dentro de presídios, que se conseguirá realizar tamanha façanha.
A conversa entre dois presidiários esclarece o milagre. Um detento de Iaras explica ao colega de Araquara: “Acabei de conversar com os líderes do MST e eles vão dar e vão passar umas instrução (sic) para a gente e foi marcada uma reunião e precisa passar um salve aí pra poder sintonizar umas pessoas aí da quebrada pra poder apresentar a nossa comitiva lá".
Será que os integrantes do PCC envolveram o MST apenas por gabolice? São perguntas que induzem a mais reflexões.
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(1) Agradecimentos a Flávio Fabris, que nos enviou o texto, à jornalista Marli Gonçalves, da equipe de Carlos Brickmann e ao publicitário Jaime Gimenez Jr., ambos de São Paulo, pela ajuda em recuperar a publicação original.

O lado da lei - Jayme Copstein

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não gostou das propostas – mais promessas do que propostas – de mudanças da legislação penal, para diminuir a impunidade, assegurada no Brasil a qualquer delinqüente que por ela possa pagar.
Argumentou: “Precisamos não cair na tentação da legislação do pânico, da legislação feita em momento de crise que acaba por deformar e desarmonizar o sistema processual, em vez de trazer soluções”.
Muito ocupado, desde o escândalo do mensalão, em orientar a defesa de membros do governo, o ministro não tem tido ocasião de observar que a sociedade está exigindo as mudanças há muito tempo. A crise de São Paulo apenas intensificou o debate.
O jornalista Alexandre Garcia, esta manhã, no jornal Bom Dia da Tevê Globo, revelou que o próprio responsável pelos dispositivos constitucionais onde se gerou a insegurança que nos assola, reconhece seu equívoco. É o ex-deputado constituinte, Nelson Jobim, ministro aposentado do STF, a quem coube suprir as deficiências do relator designado, Bernardo Cabral, incapaz de escrever um texto objetivo e coerente.
Jobim, dominado pela síndrome da ditadura, desejou proteger os políticos do arbítrio da autoridade, para que não mais se repetissem os crimes como os que foram cometidos pelo regime militar. O exagero na dosagem das salvaguardas constitucionais decretou a impunidade que trouxe o caos para a sociedade brasileira.
Afora a confissão de autor do equívoco, também o aval dos criminosos. Nos idos de 1990, quando quis prender um estelionatário, que tentava aplicar golpe no programa de Sérgio Zambiasi, da Rádio Farroupilha de Porto Alegre, um policial surpreendeu-se com a reação do malandro: “Não pode me prender, cara. A lei agora está do nosso lado!”
Alguém tem de dizer ao ministro Márcio Thomaz Bastos, ilustre advogado criminalista, que a sociedade deseja apenas que a lei volte para o lado dela.
Não é pedir muito.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Perguntas e reflexões - Jayme Copstein

O povo está preocupado com os acontecimentos de São Paulo, não pelos boatos espalhados pela Internet, como quis fazer crer, para atenuar a gravidade da situação, o comandante da Polícia Militar. É pela natureza das múltiplas ações, planejadas com sincronia e precisão, a mostrar preparativos demorados e minuciosos, com base em informações coletadas por profissionais, e executadas com a precisão que só a experiência permite. Nada que possa sair do fundo das cadeias, através de dúzia e meia de celulares clandestinos.
A suposta ação do PCC mostra semelhança, na premeditação e organização, como a empreendida pelo MST para destruir instalações da Aracruz no Rio Grande do Sul. Tudo ali foi matemático, do planejamento à execução. Muitas das pessoas envolvidas nem sabiam o que estavam destruindo. Foram incitadas por slogans baratos, do tipo “não se come eucalipto” e outras asneiras deste calão. Da mesma forma que os jovens delinqüentes, abatidos pela Polícia paulista, provavelmente brincassem de polícia-e-ladrão, enfrentando provas de suposta coragem e lealdade, para merecer a admissão na confraria.
Quem está por trás do episódio de São Paulo? Tendo ocorrido na base política do candidato da oposição, terá alguma coisa a ver com as próximas eleições presidenciais? Afora as pessoas comuns, que tiveram a rotina do ganha-pão infernizada, a quem mais os incidentes poderiam prejudicar? E, em conseqüência, a quem mais poderiam interessar?
São perguntas que merecem reflexão.

Atrás da mazorca - Jayme Copstein

Quem acertou na mosca, ao analisar os acontecimentos de São Paulo, foi o jornalista Nahum Sirotsky, um dos mais bem informados correspondentes internacionais brasileiros: a organização, em termos de sincronia e logística, está a indicar a participação de veteranos no planejamento estratégico e tático das ações de guerrilha urbana, que transformaram a cidade de São Paulo em praça de guerra.
Não seriam os nossos bandidos, com celulares, que haveriam de conseguir, de dentro de presídios, montar cerca de 200 ataques com tamanha precisão. A tal perfeição só se chega com demorado planejamento e competente sistema de informações e espionagem, apoiado em moderna tecnologia de comunicações.
Pois aí está em que deu a mazorca nacional, infestada de políticos corruptos e de fraudes ideológicas, que montaram a tolerância das leis e até o desmonte das Forças Armadas, as únicas, agora sim, com capacidade para fazer frente ao desafio.
Não se chegará a lugar nenhum com a alienação do governador de São Paulo, Cláudio Lembo, atolado até o pescoço no caos, a dizer que a situação está sob controle. Só se for dos bandidos com quem ele teve de fazer acordo, ontem, para cessar o fogo. O que implica reconhecimento do PCC como parte legítima do processo político.
Menos ainda se chegará a algum lugar com a briga de beleza de Renan Calheiros e Aldo Rebello, sobre a legislação de porta de cadeia, se deve ser revogada ou, no mínimo, atenuada.
Ou com o presidente Lula da Silva, declamando restos de discursos, decorados para a campanha eleitoral de 2002, mas retendo os recursos que o Orçamento destina à segurança pública, a cargo dos governos estaduais.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Casa do Pai Tomás - Jayme Copstein

Absolutamente inaceitável a decisão da Justiça de devolver, ainda que temporariamente, o registro profissional de um médico cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, punição confirmada pelo Conselho Federal de Medicina, em processo que obedeceu a todos os requisitos legais.
Os juízes, apesar de não protestarem contra ele, queixam-se do atrelamento ao código feito pelos rábulas de porta de cadeia, quando se trata de manter nos presídios os criminosos que infestam as ruas, e roubam e matam e apavoram a população indefesa. Mas filosofia da impunidade é transposta, também sob ovino silêncio, ao direito civil, em excessos da chamada da tutela antecipada, para assegurar direitos que nem se sabe se direitos são ou se o réu os têm.
O médico em questão, condenado por um tribunal altamente corporativo como é o Conselho de Medicina, que raramente o faz, a não ser quando não tem alternativa em infrações muito graves, vai a Justiça para se assegurar do hipotético direito de faturar consultas. A decisão atropela o direito dos pacientes de terem sua saúde e suas vidas garantidas pela ética e pela competência do profissional que lhes assiste. Se mais adiante, ele obtiver absolvição, poderá voltar à Justiça para exigir do Conselho de Medicina a indenização lhe cabe por danos materiais e morais.
Nós, jornalistas, enfrentamos problema até pior. Uma juíza do interior do Estado de São Paulo decidiu revogar a regulamentação do nosso exercício profissional. O caso se arrastou dois anos nos tribunais, até chegar-se à simplória conclusão de que o que valia era a lei de quase 40 anos.
Se a questão tivesse parado por aí, menos mal. Mas os que haviam conseguido inscrever-se no Ministério do Trabalho, sem a formação universitária específica, entraram outra vez na Justiça e pediram validade para o registro obtido a partir de uma sentença nula. Para estupefação geral, outra juíza concedeu a tutela antecipada e pôs o Judiciário brasileiro em ridículo, ao fazer nulidades gerarem direitos. Uma heresia que qualquer calouro de Ciências Jurídicas aprende na segunda aula do seu curso.
Não é esta uma Casa do Pai Tomás, onde manda quem grita mais?

É a França, estúpidos! - Jayme Copstein

A interferência de países estrangeiros na América Latina ficou patente com a evolução do caso da Bolívia. Foi só depois de uma reunião privada com Jacques Chirac, o presidente da França, que Evo Morales amansou-se e tornou-se razoável no conflito com o Brasil. É como se tivesse recebido ordens para ficar quieto.
As justificativas de Morales para seu marcha à ré oscilaram entre o infantil e o patético. Faltava-lhe prática, era mais fácil dirigir um sindicato, não fizera por mal e claro, a imprensa – sempre a imprensa – tinha deturpado as palavras, pondo-lhe na boca o que não dissera. Só que à sua imagem furibunda, proferindo desaforos e ameaças, todos assistiram na televisão e está gravada.
Ao menos por enquanto, até Lula resolver seu problema eleitoral, como Morales deu a entender, a crise boliviana ficará em banho-maria. Significa, também, que Monsieur Chirac está votando em nossa próxima eleição presidencial, com uma advertência aos países sul-americanos: comportem-se e poderão brincar de nações soberanas.
É notável que toda a papagaiada ideológica, comandada no Itamarati pelo diplomata amador Marco Aurélio Garcia, tem origem na universidade francesa, pródiga em bolsas de estudos nos seus departamentos de lavagem cerebral. É lá que nasce o antiamericanismo dogmático, que faz a esquerdalha comprazer-se com a dança do ventre quando o fundamentalismo islâmico agride a democracia.
Monsieur Chirac e seus concidadãos ensinam aos otários que os povos são irmão, mas escamoteiam que os Estados sobrepõem seus interesses a todo e qualquer idealismo. Na hora da decisão, descem a borduna:
“C´est la France, stupides! – É a França, estúpidos!”
E mandam Evo Morales e seus assemelhados agitar as massas ou calar a boca, segundo as conveniências.

sexta-feira, 12 de maio de 2006

O país do eleitor - Jayme Copstein

Pela primeira vez, na persistente maré de escândalos, a reação da Câmara Federal a suspeitas levantadas contra deputados, no caso das ambulâncias, tem fundamento. Ao menos até agora, apenas 16 dos 62 parlamentares, citados pela Polícia Federal, estão comprovadamente envolvidos na negociata. Não há por que publicar a íntegra da relação, a não ser que surjam novas provas..
Os 56 deputados restantes foram incluídos na lista por serem autores de emendas ao orçamento, favorecendo bases eleitorais e até atendendo a pedidos de amigos e colegas parlamentares, sem nenhuma vinculo com suas áreas de origem.
A publicação do nome desses parlamentares é manobra para tirar de foco os verdadeiros culpados. Assemelha-se à artimanha do assaltante, flagrado na rua, que grita “Pega ladrão!” para se misturar à multidão e fugir.
O problema reside na deturpação do processo de feitura do orçamento da República, que deveria ser uma peça técnica. Não passa de ficção política, uma larga porta por onde a demagogia e sua irmão gêmea, a corrupção, passam soberanas.
A solução é parte da reforma política que dorme placidamente no Congresso. De lá não sairá até que os eleitores, em vez de asneiras, como anulação de voto, vá às ruas exigir um país mais decente.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Fundo do poço - Jayme Copstein

A notícia estarrecedora vem de São Paulo, trazida pela revista eletrônica Consultor Jurídico. Uma juíza de direito, despeitada por ter levado o fora do namorado, advogado do mesmo fórum onde atua, mandou grampear-lhe o telefone, provavelmente para saber quem era a outra que o havia roubado dela.
Não satisfeita, para vingar-se do rompimento, condenou e mandou prender o pai do ex-namorado por porte ilegal de armas, impedindo que apelasse em liberdade para instância superior.
A ficha da juíza é fora de qualquer bitola. Segundo o Consultor Jurídico, ela já responde a processos por embriaguez e assédio sexual, e também a sindicância, por ter indicado advogado para defender duas pessoas presas em flagrante por tráfico de drogas.
O extraordinário: apesar do robusto currículo, seu nome foi incluído na lista para promoções do Tribunal de Justiça do Estado. Foi lá que alguém protestou.
Não se pense, entretanto, em problema exclusivo da magistratura. A imoralidade que enxarca o país, agora se desnuda também na área do Judiciário. É o caos gerado por um projeto de poder que precisa destruir o sistema tradicional de valores, para minar-lhe resistência da sociedade. E o faz, substituindo por ódios mascarados de solidariedade, para incutir fanatismo em seus militantes.
Chegamos ao fundo do poço.. As pessoas são prisioneiras em suas próprias casas, os pobres continuam pobres, os ricos continuam ricos e os salvadores da pátria cevam-se em suculentos mensalões.
Se a Nação não parar para refletir e retomar a educação como um sistema de valores, ela não demora a se derramar no caos.

Estranhos silêncios - Jayme Copstein

Que estranho o silêncio do procurador da República, Luiz Francisco de Souza, notabilizado como ruidoso moralizador da Nação na era pré-Lula. Dele, que era o Catão da República, não se ouve sequer um suspiro de desalento diante da imensa roubalheira que enlameia a era Lula.
Exceção da revista eletrônica Consultor Jurídico (http://conjur.estadao.com.br/static/text/44218,1), que estranho, também, o silêncio geral sobre a intromissão de Luiz Francisco de Souza, para livrar o terrorista colombiano Cadena Colazzos, de supostos desconfortos do presídio da Papuda.
Cadena Colazzos, padre colombiano, estava no Brasil como porta-voz das Farc, as auto-intituladas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, legalizadas tacitamente pelo governo brasileiro. Acusado de homicídio em seu país, aguarda preso o julgamento do pedido de extradição. Como a Polícia Federal informou ao STF que não tinha condições para mantê-lo na carceragem, os ministros Carlos Ayres Britto e Gilmar Mendes ordenaram que fosse para o Presídio da Papuda.
Foi aí que o procurador Luiz Francisco, sem que lhe competisse, e também em flagrante desrespeito ao STF, com a conivência do promotor de Justiça e do juiz da Vara de Execuções Criminais de Brasília, conseguiu devolver o terrorista à carceragem da Polícia Federal.
O caso é muito sério. Afora a apuração das responsabilidades de Luiz Francisco, do promotor e do juiz, é preciso investigar também a súbita predileção pela carceragem da Polícia de Brasília. O que há ali, de tão bom, para levar um procurador da República a cometer um crime?
Vocês, contudo, não seja maliciosos. Pode ser uma questão de mera preferência. Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, adorou o presídio de Belo Horizonte.
Foi de lá que ele fugiu.

Morales e o Brasil - Jayme Copstein

Haverá alguma coisa por trás das provocações baratas de Evo Morales ao Brasil? Não bastasse a desnecessária ocupação militar das instalações da Petrobrás em Santa Cruz de la Sierra, o presidente boliviano ameaça agora usar as tropas para expulsar pequenos agricultores brasileiros que se estabeleceram em áreas fronteiriças e ali vivem em situação de extrema penúria.
Tal como em relação ao gás e ao petróleo, há um acordo firmado em 2005, concedendo prazo até agosto deste ano para a desocupação das áreas invadidas. Não existe motivo para a ruptura do compromisso.
Pode ser que, por trás das bravatas de Evo Morales, estejam os delírios napoleônicos de Hugo Chaves, mas o combustível, certamente, é a tibieza do nosso ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, diplomata competente, sem coragem de dizer “não” às sandices de Marco Aurélio Garcia, amador de Relações Internacionais que assessora o presidente Lula.
Não se precisa desfiar o rosário de ridicularias e fracassos, como o da Conferência de Cúpula América do Sul – Países Árabes, sonhada como uma espécie de cornucópia que haveria de derramar um oceano de petrodólares no continente, transformando Lula e seus correligionários em grandes figuras mundiais, com liderança incontestada sobre a hipotética Comunidade das Nações Sul-Americanas. Afinal, não tinha a uni-los o inimigo comum, os Estados Unidos, o demônio responsável por todas as atribulações dos países subdesenvolvidos?
Olhando os quase três anos e meio de governo Lula, a que se reduziu a ação da diplomacia brasileira, antes considerada uma das mais habilidosas e competentes do mundo? Hugo Chaves entra e sai do Brasil como se fosse casa de Mãe Joana e interfere nos negócios brasileiros quaqndo bem entende. A Rússia desconversou sobre o mirabolante eixo Brasília-Moscou. A China declarou na lata que não tem o menor interesse em mudar a composição do Conselho de Segurança da ONU. A Nigéria nos ama, mas não pensa em trocar a parceria com os países europeus, aos quais vende bastante petróleo e recebe na bucha. Em lugar da Alca, a Alba de Hugo Chavez. E o Mercosul, cuja consolidação nos daria uma posição de força para enfrentar o resto do mundo?
O desprestígio do Brasil desceu a tal ponto que o Paraguai há tempos ameaçou expulsar os brasiguaios, para dobrar a quota dos contrabandistas que fazem a prosperidade de Ciudad do Leste e massacram o comércio legalizado das cidades brasileiras.
Será que Evo Morales, animado por todos esses exemplos, acha que está chutando cachorro morto?

quarta-feira, 10 de maio de 2006

No ar – 2º ato - Jayme Copstein

A encenação na CPI dos Bingos só confirma o teatro burlesco, anunciado aqui na segunda-feira, quando se repercutiu a entrevista supostamente explosiva de Silvinho Pereira ao jornal O Globo. Todo o depoimento do ex-secretário geral do PT só tinha uma direção – inocentar Luís Inácio Lula da Silva de ter o comando e até mesmo parte no mensalão. O que só faz aumentar a desconfiança., diga-se de passagem, porque não há, no momento, nenhuma acusação sólida contra ele.
Silvinho, apresentado em crise emocional, só recuperava a plenitude mental e intelectual quando a questão focalizava Lula. Conseguia lembrar até pormenores de fatos remotos, envolvendo o atual presidente da República em 1994, 1998, 2002, desde que exemplificassem sua integridade. Não conseguia lembrar-se, porém, o que disse à repórter de O Globo na sexta-feira passada.
A comédia foi montada como arapuca para que a oposição, a partir do que estava apenas insinuado, caísse no lombo de Lula e até lhe pedisse o impeachment, como antes o Conselho da OAB chegou a cogitar com precipitação. Acrescentaria uma aura de martírio à sua candidatura à reeleição.
A tática é para desviar a atenção do eleitor. Há algo no ar, com cheiro de pólvora, capaz de afetar a campanha de Lula.
A oposição não mordeu a isca. O senador Arthur Virgílio exibiu documento em inglês, obtido em uma corte distrital de Nova York, denunciando uma tentativa de extorsão de 10 milhões de dólares contra Daniel Dantas.
Será desse documento que a entrevista de Silvinho Pereira a o Globo pretendia desviar a atenção? Fica a pergunta no ar.

terça-feira, 9 de maio de 2006

Duas frases - Jayme Copstein

Pedro Simon foi o mais preciso de todos os interpelantes do chanceler Celso Amorim, ontem no Senado, quando ele lá esteve para explicar à Comissão de Relações Exteriores o problema com a Bolívia. Era necessário firmeza na atitude pública, para depois negociar as concessões no privado com Evo Morales.
Na diplomacia é assim. O que se diz externamente delimita a fronteira do que se vai negociar internamente. Simon não trouxe o exemplo, mas vale lembrar que Chamberlain cometeu em relação a Hitler o mesmo erro de Lula em relação a Morales e também a Hugo Chaves.
Os próprios alemães revelaram que, permanecendo as pressões externas, Hitler não teria invadido a Tcheco-Eslováquia. Se insistisse, seria deposto pelos generais e as probabilidades de um Segunda Mundial seriam muito pequenas.
Chamberlain foi a Munique com concessões anunciadas e voltou agitando um papelucho. Proclamou: “Trouxe a paz para o nosso tempo”.
Lula voltou de Foz de Iguaçu sem papeluchos, proclamando apenas que o preço do gás não vai aumentar para o consumidor.
Cada um na sua.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

No ar - Jayme Copstein

Com Aldo Rebelo, presidente da Câmara Federal, mostrando no caso das ambulâncias o zelo que lhe faltou no episódio do mensalão, a entrevista de Silvinho Pereira ao jornal O Globo é puro teatro burlesco.
O acesso histérico, o choro, as coisas quebradas na frente de repórteres, para mostrar arrependimento depois de dois dias de falação, não são nada convincentes. Encenação bem melhor era a do gaúcho Roberto Gigante, hoje afastado da mídia, que se rasgava todo diante das câmeras da RBS TV, em Porto Alegre. Só que Gigante fazia para divertir o público, não para esconder patifarias.
A análise sem alvoroços da entrevista mostra a obsessão dos petistas em demonstrar que Lula, apesar de comandar o Partido, não sabia da tramóia para arrecadar um bilhão de reais. Um dos argumentos de Silvinho é que Marcos Valério não atuou na campanha de 2002. Só foi promovido a hidrófobo-mor nas eleições de 2004.
Seria aceitável se Lula, nas declarações de Paris, não tivesse perfilhado a tese do somos, mas quem não é. Quem diz isso, não pode alegar inocência ou alienação.
O resto da entrevista de Silvinho é pura perfumaria. Mera tática para desviar a atenção do eleitor. Há algo no ar, indicando que a lama do mensalão já lambe a sola dos sapatos de Lula. Pode ser a surpresa dos próximos dias.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Os milagres de Fidel - Jayme Copstein

Pois aí está: todos nós gostaríamos de saber a receita do milagre. Mas parece privilégio de poucos. De bem poucos.
Cada um de nós conhece muitas pessoas que trabalharam com dureza, de sol a sol, anos e anos a fio. Dão graças a Deus quando conseguem um cantinho de seu. Nada de luxo ou exuberante. Apenas um cantinho para ter onde cair morto.
Talvez em outros países seja diferente. Na América Latina é assim.
Agora, vejam: Fidel Castro, o guru da esquerda latino-americana, paladino dos fracos e dos oprimidos, também o ditador mais antigo do mundo, é dono de uma fortuna de 900 milhões dólares. Ou um bilhão e oitocentos milhões de reais.
Como Fidel Castro ganhou tanto dinheiro? É mais rico do que a Rainha Elisabeth II, da Inglaterra, cuja fortuna, acumulada ao longo de séculos, é um pouco mais da metade.
Deve haver algum milagre. Ao que se sabe, há 47 anos Fidel não faz mais nada a não ser governar a ilha com mão-de-ferro e pronunciar discursos quilométricos contra a espoliação dos pobres e a corrupção, muito idênticos aos que estamos habituados a ouvir cá por essas bandas.
Se dividirmos os 900 milhões de dólares pelo número de anos que Fidel está no poder, concluiremos que ele consegue poupar 1 milhão 595 mil 744 dólares por mês do seu salário de governante. O equivalente a mais de 3 milhões de reais por mês.
Em um país onde médico prefere carregar malas em hotéis de turistas, porque as gorjetas representam dez vezes mais do que o governo lhe pode pagar, trata-se de milagre.
Com toda a certeza.

Achados e perdidos - Jayme Copstein

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje um discurso, em Minas Gerais, dizendo que acha muitas coisas. Acha que a Bolívia tem direito a gerir as suas riquezas, acha que a Bolívia tem direito de aumentar o preço do gás fornecido ao Brasil, acha que a Bolívia tem direito a mais isso e acha que a Bolívia tem direito a mais aquilo.
Apesar de achar tantas coisas, o presidente Lula perde-se em um detalhe: o contrato legalmente firmado, prevê a revisão dos preços a cada cinco anos, independentemente das cotações internacionais.
Lula também se perde em outro pormenor: em 2003, a Petrobrás solicitou uma redução nos preços, porque estava pagando pelo recebimento de 24 milhões de m3 por dia e só consumia a metade.
A Bolívia recusou, de pleno direito, com apoio no contrato que agora Evo Morales, comandado por Hugo Chaves, faz letra morta. A Bolívia estava cumprindo a sua parte. Fornecendo os 24 milhões de metros cúbicos por dia e o que o Brasil fazia desse volume de gás, se gastava ou não gastava era problema do Brasil.
Não havia o que contestar. Havia um contrato legalmente firmado, era preto no branco.
Como se vê, apesar de achar tantas coisas, Luiz Inácio Lula da Silva está completamente perdido nesta jogada.
Vocês não acham?

quinta-feira, 4 de maio de 2006

A vez do Judiciário - Jayme Copstein

É fantasiosa a versão de que o sumiço de processos do Fórum Central de Porto Alegre é obra de interessados em destruir provas. Não encontra fundamento nas circunstâncias do fato.
Os processos estavam sendo descartados pelo cartório, por concluídos há muito tempo ou interrompidos por falta de interesse das partes. Como desleixo é marca registrada e carimbada da burocracia nacional, foram colocados em um corredor, à vista de todos, à espera de transporte para o arquivo público.
Se tal exposição viola a privacidade das pessoas, uma garantia constitucional, ela não foi levada em conta – pasmem-se todos – em área do Poder Judiciário, a quem cabe zelar pela sua preservação.
Alguém será punido? Provavelmente, não. É a tolerância com todo o tipo de transgressão que está na raiz do próprio sumiço dos processos. Alguém viu aquela papelada atirada no corredor, que lá estaria até hoje, servindo de ninho para ratos ou alimentos às baratas, se o malandro não vislumbrasse a oportunidade de ganhar alguns trocados, vendendo o bagulho para reciclagem.
Se descobrirem quem foi o malandro, com toda a certeza ele terá ficha corrida de fazer inveja aos véus de noiva das casadoiras princesas européias. Como não foi condenado pelo primeiro delito, se foi, cumpria a sentença em liberdade, ele continua com a sua indústria informal, encorajado pela leniência da Justiça.
Na outra ponta, está o receptador que jamais pode ser condenado porque, pouco afeito a cortesias, não manda convite ao meritíssimo magistrado que o julgará, quando comprar os seus cabritos. E sendo verdade para ele, é verdade também para toda a máfia do furto de fios elétricos, cabos telefônicos, trilhos ferroviários, lápides de cemitérios, monumentos públicos e desmanches de automóveis.
O Judiciário lava as mãos como Pilatos. Alega que a tolerância com o delito resulta das leis, sabidamente mal feitas por rábulas de porta de cadeia, para vender impunidade a quem possa pagar por elas. Mas não se rebela com a mesma veemência com que, em determinadas ocasiões, alguns de seus representantes reivindicam aumentos privilegiados de salários. Ou processam jornalistas para que disso não falem.
Um pingo desta indignação bastaria para forçar a revogação do código de porta de cadeia e libertar a população decente, hoje aprisionada em suas casas, boa parte dela chorando por pais, mães, esposas, filhos e filhas assassinados pelos criminosos a quem lei viciosa favorece.
O que será que vai acontecer, agora, que chegou a vez do Judiciário sofrer as conseqüências da sua própria omissão e tolerância?

Limites da história - Jayme Copstein

Que a Bolívia é um país soberano, pode dispor a qualquer momento e da forma que desejar de suas riquezas, não entra em discussão. O que não se pode debater, também, é a sua obrigação de cumprir compromissos internacionais, assumidos legalmente, sem coação, com prazos definidos, como é o caso do acordo com o Brasil para fornecimento de gás.
Restringir a vigência de compromissos internacionais, seja a Bolívia ou qualquer outro país, ao período em que determinada facção partidária detém o poder político, seria fazer a história começa com cada governante em cada nação.
Até pode ser verdade, em parte. Cada povo tem o direito de mudar a própria história quando bem lhe aprouver. É para isso que existem as eleições e a alternância no poder. Descumprir, porém, compromissos internacionais, significaria pretender mudar, direta ou indiretamente, a história dos parceiros. É manifestamente ilegal.
A Bolívia assinou contrato com o Brasil, obrigando-se a entregar 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia, até 2019, preço fixado por uma fórmula definida pelas duas partes, com reajustes previstos a cada cinco anos.
Que cumpra a parte que lhe toca. Se quiser, mude a sua história a seu bel-prazer. Mas não a nossa.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Sempre a mídia - Jayme Copstein

Mesmo com presidente Evo Morales anunciando, desde dezembro, a intenção de nacionalizar a exploração de gás e petróleo na Bolívia, não é estranhar que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido apanhado de surpresa. Parece fora dos hábitos de seus integrantes, principalmente da equipe do Ministério de Relações Exteriores ler jornais, escutar rádio ou assistir à televisão.
A pior atitude diante da crise é a do assessor de Relações Internacionais da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, jornalista de origem e aficionado da área diplomática. Carrancudo como sempre, não se consegue saber se foi piada fora de tom ou se falou sério, quando disse que os acordos para exploração do gás boliviano pela Petrobrás eram herança maldita dos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Talvez tenha sido por isso que governo do qual faz parte, decidiu dilapidá-la quando começava a render os melhores frutos.
Com assessores desta qualidade, não é de se estranhar, também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negue que haja uma crise. Como sempre irritou-se com a imprensa. É a mídia que está inventando.
Ora, a mídia chama de crise porque está tão perplexa no Brasil como no resto mundo, onde, aliás, tem a boa companhia de governantes europeus, inconformados com o rompimento unilateral de contratos, à moda Miguelão.
E mais perplexa ainda ficou, ao saber que o governo brasileiro fez ontem reunião de emergência. Não havendo crise com a Bolívia, com toda a certeza era para tratar daquela batalha decisiva, a Copa da Alemanha, em que o destino e as tradições da nossa pátria estarão em jogo.
Nada a ver com Evo Morales, companheiro bom e batuta.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Totalitarismo - Jayme Copstein

O deputado Raul Pont, secretário-geral do Diretório Nacional do PT, abordou de maneira instrutiva o escândalo envolvendo Anthony Garotinho, como noticia Dione Kuhn na Página 10 da Zero Hora de hoje.
O ensinamento não está na primeira parte, quando Pont assinala que as denúncias contra Garotinho envolvem o dobro do dinheiro que circulou no valerioduto, comandado por Delúbio Soares, sob a supervisão de José Dirceu. “Fomos vítimas do maior massacre feito pela mídia nos últimos anos”, ele se queixou.
A posição “somos, mas quem não é”, com a variante do “não inventamos o pecado, só o aperfeiçoamos”, é tão conhecida que soa como cantochão. Inclui a original concepção ética que confunde o fato com o conhecimento do fato. Se a imprensa não tivesse publicado, continuaríamos gerindo o monopólio da virtude.
A didática está na segunda parte, quando Pont esquiva-se de pensar sobre o mensalão. “Em respeito ao eleitor”, ele diz, “faremos a nossa avaliação interna e diremos, sob nosso critério, qual é a nossa opinião.” Ou seja, Pont ainda não tem opinião porque as chamadas instâncias partidárias ainda não decidiram qual ela deva ser.
O que há de mais criticável e condenável no PT é esta filosofia de pôr a sociedade sob o controle do partido. Não é a realidade que importa. Vale o que, internamente, o Partido decide ser verdade ou mentira.
Sem necessitar outras avaliações, todos sabemos como isso se chama - totalitarismo.

Atrás da crise - Jayme Copstein

Sobre a crise que agora começa a se desenhar na América do Sul, com a decisão unilateral do presidente da Bolívia, de nacionalizar o a exploração do gás e do petróleo, cabe uma pergunta: quem e o que está por trás disso?
Há estreita semelhança com os conflitos que periodicamente são ateados na África e mantém aquele continente em situação de exaustão e miséria.
De repente, dentro de processo espontâneo na aparência, mas nitidamente fruto de propaganda muito profissional, surge um psicopata travestido de líder político, brincando de cuspir fogo. O resultado é a explosão do paiol, com todas as trágicas conseqüências que bem conhecemos.
Nigéria, Congo, Guiné, Gabão, Angola são nomes de país que estiveram longo tempo no noticiário. Em comum, as grande jazidas que produzem mais petróleo que Irã, Arábia Saudita e Venezuela.
Até há bem pouco, mera fornecedora de matérias-primas, com pífia utilização de combustíveis, a América do Sul se mantivera ao largo da tempestade. De um tempo a esta parte, entretanto, o irrefreável desenvolvimento econômico, resultante da globalização, coagiu os países do continente a mobilizar suas fontes nativas de energia para atender às crescentes necessidades de consumo.
Terá chegado a nossa africanização? Vai depender do bom senso e da competência com que encararmos aventureiros do tipo Chavez e Morales, cuja loucura é claramente mobilizada por terceiros.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Casa da sogra - Jayme Copstein

Em entrevista publicada ontem no jornal O Estado de São Paulo, o jornalista Marco Aurélio Garcia, conhecido aficionado das artes diplomáticas e assessor de Relações Internacionais do presidente Lula, disse que as críticas à política externa brasileira “partem de gente aqui de dentro, querendo tirar casquinha nas conquistas obtidas.”
São compreensíveis as frustrações de Garcia com este mundo mau que não entende nem permite o reino do “foram felizes para sempre”, sob a égide de Lula I e Único. Como todos sabemos, ele seria o autor de façanhas jamais praticadas, neste planeta, desde Adão e Eva.
Difícil de entender são as alegadas conquistas da diplomacia brasileira nos últimos três anos, a começar pelo assento no Conselho de Segurança da ONU, maluquice herdada dos tempos excêntricos de Itamar Franco. Em matéria de concessões, chegou-se ao extremo do servilismo, culminando com o status de economia de mercado concedido à China, sem obter sequer uma declaração de simpatia.
No que diz respeito às relações com os países africanos, o resultado tanta viagem, de tanta reunião e de tanto perdão de dívida foi comprovar o que o velho Itamaraty já sabia há muito tempo: aquelas nações tem um firme comércio com a União Européia e não estão nem aí para as utopias de diplomatas amadores.
Restava, na América Latina, o projeto dileto de Lula, a Casa, a Comunidade Sul-Americana de Nações. Mas com Evo Morales dando uma solene banana às empresas brasileiras e Hugo Chavez entrando e saindo do Brasil quando bem entende, sem pedir licença a ninguém, como se fosse a casa da sogra, de que conquistas Marco Aurélio Garcia está falando?