quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

De 1890 a 2010 – Jayme Copstein

De 1890 a 2010 – Jayme Copstein

Separados por 120 anos, 2010 e 1890 têm comum o recenseamento: o Brasil vai se contar de todos os jeitos para saber que país ele é. Tem gente que acha que sabe.

A primeira vez que ouvi falar a respeito foi em 1940, em plena ditadura Vargas, quando vivíamos também de euforia. Calculávamos ter em torno de 60 milhões de habitantes, para sermos a quarta ou quinta nação mais populosa do mundo. Naquele tempo, quando ainda predominava a mentalidade do bacamarte, adquirida por influência dos franceses, que já nos vendiam a sua sucata tal como voltaram a fazer agora, população grande significava mais soldados, mais potencial militar. A II Guerra Mundial mostrou que os franceses não estavam com nada. E feitas as contas do Censo de 1940, a decepção: não conseguíamos chegar a 42 milhões de habitantes, longe dos 60 milhões de grande potência. A mortalidade infantil, a tuberculose, a ignorância de todos e a patifaria dos políticos por trás da tragédia.

Mas, voltando à vaca fria, fazia 20 anos que não se contava a população. Era para ser de dez em dez anos, mas 1930 fora ano de eleições presidenciais e consequente agitação política, então só deu para fazer a Revolução de Outubro. Foi igual a 1910, também ano de eleições presidenciais, com a diferença que não se fez revolução nenhuma, mas se elegeu um terremoto chamado Hermes da Fonseca em detrimento de Ruy Barbosa. Já desde então, não era preciso saber "ingreis" para ser presidente da República.

Entre as recordações da época, a exigência de Hipólito Kunz, então professor de português no Lemos Júnior de Rio Grande, de aprendermos a diferença entre "recenseamento", a coleta de dados, e "censo", o conjunto dos dados coletados e organizados para instruir políticas públicas e a atividade privada. Onde a gatunagem institucionalizada entra, fico devendo a resposta. Não tem nada a ver com censo, mas com a falta de senso, outra diferença a ser aprendida.

Direito à Brasileira

O presidente do STF, Gilmar Mendes, concedeu liberdade a um ex-prefeito do município de Coari (Estado do Amazonas), denunciado por favorecimento à prostituição, mantendo uma casa em que as "prestadoras de serviços" (expressão politicamente correta, pois, pois) eram menores. A prisão preventiva do ex-prefeito, determinada pelo juiz de primeira instância, tinha sido confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça, mas o ministro Gilmar Mendes aceitou a argumentação de defesa, de falha da citação do réu.

O que foi considerado "falha da citação" refere-se às duas tentativas do oficial de Justiça de citar o ex-prefeito sem conseguir localizá-lo. Já tendo exercido o mandato por diversas vezes, o ex-prefeito tem "força política", fator que parece ser garantia de impunidade no Brasil, haja vista os mensalões, as cuecas, as meias e outros itens do vestuário ainda não catalogados no direito à brasileira.

O presidente do STF fundamentou sua decisão em jurisprudência da Corte que considera antecipação da pena a prisão preventiva. É o que os gregos antigos chamavam de sofisma. Fica difícil aos pobres mortais entender como a prisão preventiva só possa ser decretada depois da condenação, mas o professor |Enro Loll, PhD pela Sleevetea University of Big River e reconhecida autoridade mundial em Teoria Geral das Coisadas, esclarece com sua notável erudição: "Uma coisa é uma colisa, outra coisa é outra coisa." Coisaram?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Däniken e a simetria do Universo – Jayme Copstein

Ney Gastal, especialista em encontrar originalidades, polêmicas e excentricidades na Internet, me remete mensagem hilária sobre um suposto objeto misterioso surgido em fotografias da Groelândia, sacadas pelo satélite para o Google Earth. E vai avisando: "Mas como fim de ano é uma época propícia a mistérios e bobagens deste tipo, mando o "mistério" sem comentários. Divirtam-se. Ou preocupem-se. Cada um é livre para acreditar no que quiser".

Ney relembra o suíço Erich Von Däniken que ganhou notoriedade e fez fortuna com "Eram os deuses astronautas", sugerindo que a vida humana tivesse sido semeada na Terra por extraterrestres. É omitido na sua biografia que, originalmente, ele era garçom e foi preso e condenado por vender a clientes ações de uma cadeia de hotéis que só existia na sua imaginação.

O livro foi escrito na cadeia e estourou como best-seller mundial, traduzido em mais de 30 idiomas, com tiragem superior a 60 milhões de exemplares. Os direitos autorais permitiram a Däniken devolver o dinheiro tomado dos incautos e reconquistar a liberdade, desde então usada com muita esperteza e sempre dentro da lei: produziu ao todo 26 livros, do quais resultaram documentários, museus, parques temáticos, seminários, congresso e excursões a "sítios históricos" , claro tudo sob coordenação de suas empresas.

A origem extraterrestre da vida humana é tema fascinante que tem ocupado a mente até de cientistas autênticos, sem nada para fundamentar conclusões. A "contribuição" de Däniken – juntar frações de verdade para construir mentiras plausíveis, ilustradas com fraudes fotográficas – só conseguiu comprovar a simetria do Universo, Assim como à matéria corresponde a antimatéria, a cada otário corresponde sempre um espertalhão disposto a lhe esvaziar os bolsos.

O gigante de Cardiff

Däniken não o primeiro newm será o último habitante deste planeta a se beneficiar da credulidade alheia. Em 16 de outubro de 1869, operários cavavam um poço na fazenda de William Newell, em Cardiff, pequena vila no interior do Estado de Nova York e encontraram o "corpo mumificado de um gigante que media três metros de altura e pesava 1360 quilos".

A notícia projetou Cardiff para o noticiário dos jornais. No dia seguinte, o fazendeiro Newell já cobrava entrada aos curiosos para contemplarem a raridade durante 15 minutos. Cientistas acorreram ao local para examinar o Gigante. Podia ser um dos elos perdidos da cadeia da evolução. Quase todos opinaram que se tratava de espécime autêntico de um ser pré-histórico.

O fazendeiro Newell enriqueceu com o gigante. Então, revelou que tudo não passava de fraude. Discutira com um pregador sobre a afirmação da Bíblia, de ter havido gigantes sobre a Terra. Para desmoralizar o pregador, mandou esculpir o gigante em um enorme bloco de gesso e o enterrou na fazenda. Mais desmoralizados, porém, foram os cientistas que caíram no logro.

Newell saiu-se bem da empreitada. As pessoas riram do caso e ele não foi processado. Reproduções do Gigante de Cardiff foram exibidas em circos até os anos 20. Muita gente continuou acreditando na autenticidade da história.

Feliz Natal

Limitações de espaço tornam impossível relacionar todas as mensagens de Boas Festas recebidas pela coluna. Vai o agradecimento sincero a comovido a todos. Bem que eu gostaria de ter uma varinha de condão para realizar os sonhos de todos, incluindo os meus. Como isso não existe, limito-me à sinceridade dos votos de muitas felicidades.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

As origens do Natal – Jayme Copstein

O acontecimento mais importante do cristianismo e a Ressurreição de Jesus. Do seu nascimento ou da sua morte, sequer se sabe a data exata. Sem a Ressurreição, o Cristianismo não teria passado de mais uma entre tantas outras seitas judaicas nascidas na mesma época e que não sobreviveram.

A popularização do Natal como festa maior tomou corpo ainda no início da era atual. Orígenes, um dos primeiros santos da Igreja (viveu entre 183 e 232), repeliu a ideia de se festejar o nascimento de Jesus como se fosse o de um faraó. Orígenes buscava subtrair o Cristianismo da influência de outros cultos, principalmente do Mitraísmo, religião persa que adorava o Sol.

O Cristianismo disputava com o Mitraísmo a primazia religiosa no Império Romano. A princípio, o Mitraísmo pareceu predominar. Em 274, o imperador Aureliano marcou o dia 25 de dezembro como data do aniversário de Mitra, o sol invicto. É que, por esse tempo, no Hemisfério Norte, passado o solstício de inverno, os dias voltam a crescer em relação às noites, tal como acontece em, 23 de junho, aqui no Hemisfério Sul. Simbolicamente, é a ressurreição do Sol que mergulhara em sombras, logo após o solstício do verão.

A princípio, o culto a Mitra, o deus-sol, parecia monopolizar a devoção do povo romano. Foi só no terceiro século da era atual que o Cristianismo conseguiu impor-se pela conversão do Imperador Constantino e de sua mãe, a rainha Helena.

O Cristianismo tratou logo de eliminar o culto de Mitra, o deus-sol, substituindo-o pelo culto a Jesus, o sol da justiça. Em contraposição ao Mitraísmo, a Igreja definia em relação a Jesus dois conteúdos teológicos. O Natal era a manifestação da natureza divina no corpo do homem Jesus. E a Epifania, assinalada em 6 de janeiro, a manifestação divina de Jesus, através do anúncio do seu nascimento a todos os homens. .

Desde logo, a Igreja tratou de liquidar o culto a Mitra e pretendeu substituir a data de 25 de dezembro por outra qualquer. Segundo relato do bispo Clemente, de Alexandria, o Natal chegou a ser comemorado em 28 ou 29 de março, em 19 ou 20 de abril, e até em 20 ou 28 de maio.

Em vão. A tradição popular se impôs. Sabe-se que em 336 o Natal já era definitivamente comemorado em 25 de dezembro porque um calendário deste ano, organizado por Filocalus, assinalava: "Natus Christus in Betleem Iudaea - Nasceu Jesus em Belém da Judéia". Pouco depois, o Primeiro Concílio de Constantinopla (381) oficializava a data, após decretar o dogma da natureza divina de Jesus.

La Befana

Já Papai Noel incorporou-se às tradições do Natal bem mais tarde, no Sexto Século, quando começaram os relatos de milagres atribuídos ao bispo Nicolau de Myra. Curiosamente, nem todos os países dão curso ao mito. Na Itália, por exemplo, quem distribui presentes no Natal é La Befana, uma bruxa que chega tripulando uma vassoura e desce pela chaminé da lareira. A personagem parece ter origem em uma deusa pagã que não pode ser totalmente descartada do imaginário popular quando o Cristianismo tornou-se a religião do Império Romano.

La Befana deixa nos sapatos das crianças doces claros, para recompensar o bom comportamento, ou um pedaço de carvão para censurar as travessuras. Na verdade, ela deveria acompanhar os Reis Magos. Mas ocupada em varrer a casa e distribuir presentes, deixou para depois, na volta da Adoração ao Menino. Como os Magos regressaram por outro caminho para desviar a atenção de Herodes, La Befana se perdeu deles para sempre.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A barriga de Papai Noel – Jayme Copstein

Leio no portal Último Segundo que um gajo politicamente correto quer emagrecer Papai Noel, devolver as renas ao seu ambiente natural, onde serão devoradas pelos lobos e águias-reais, terão os olhos de seus filhotes recém-nascidos arrancados pelos corvos, e o que sobra vai alimentar os inuits (índios do Canadá, Alasca e Groelândia), que também as usam como animais de tração, mas tudo dentro do melhor figurino porque, como todos sabemos, é só o homem branco que destrói a harmonia e paz da bondosa mãe-natureza.

O gajo que deseja emagrecer Papai Noel é o médico australiano Nathan Grills. Em artigo publicado no British Medical Journal, ele argumenta que a imagem atual de Papai Noel promove a obesidade, a condução de veículos sob efeito do álcool e em alta velocidade. A bem da verdade, não atribui a Papai Noel os palavrões de Lula e Ciro Gomes nem o mensalão do Zé Dirceu ou do Zé Arruda. No caso particular de Lula, que vive gordo e comete certos abusos, não teria nenhum sentido. Como o próprio Lula conta, ele lá sabia quem era Papai Noel, quando guri pobre no Interior de Pernambuco.

Mas o dr. Grills, que nada tem a ver com os "grills" do George Foreman, apregoados como milagrosos pelo Polishop para retirar a gordura da carne em cada intervalo da quinquilhonésima repetição do "Medical Detectives" ou do "Law and Order" na Net, cunhou uma frase antológica, cuja perpetuidade está assegurada nos anais da filosofia universal: "É um risco muito pequeno, mas que atinge uma faixa muito grande de pessoas." É uma frase para iniciados que necessita de muita hermenêutica – vá alguém pensar que é risco pequeno colocar a grande barriga de Papai Noel no grill de George Foreman, sem se dar conta de que ela com toda a certeza não cabe nele.

>No frigir dos ovos – ainda não sendo Páscoa e o Coelhinho continuando politicamente correto – quem sempre teve razão foi o Sérgio Jockyman, ao escrever que asneira não paga imposto. Se pagasse, bastaria a cobrança sobre o que foi dito em Copenhague recentemente, para financiar a redução das emissões de carbono, sobrando dinheiro até para que os nossos salvadores da pátria roubarem com toda a honestidade.

Trânsito

A unanimidade dos jornais neste fim de semana foi a trágica estatística do trânsito. Aumentando o impacto, entre as vítimas o cineasta Fabio Barreto, nome em grande evidência por ser o diretor do filme "Lula, o Filho do Brasil".

Cabe aqui acrescentar alguns comentários que não serão feito pela importância do protagonista. Contudo, outro acidente, no Rio de Janeiro mesmo, teve a mesma explicação: o motorista perdeu o controle do veículo.

Ora, só há uma possibilidade se perder o controle do veículo com resultados tão demolidores: excesso de velocidade. Se quebrou uma ponta de eixo, se estourou um pneu, enfim, se o carro apresentou algum defeito mecânico, é mera consequência.

Aqui cabe a indagação; se alguém como Fabio Barreto, artista de talento, carreira em plena realização, sem problemas pessoais conhecidos, transgride assim as leis da prudência, o que se dirá do resto da população, que sequer aos clássicos 15 minutos de glória tem acesso?

Não há indicação mais clara de um problema sério de educação do brasileiro, e aqui não se está falando de classes econômicas menos favorecidas, que estas sequer têm acesso ao automóvel, apesar do facilitário para salvar a indústria automobilística. Somos todos nós, os carentes de uma preparação para a vida. Daí, porque fazemos o que fazemos e também a violência que nos assola.

domingo, 20 de dezembro de 2009

A letra “d” – Jayme Copstein

Parece que a possibilidade de Aécio Neves compor como vice a chapa de José Serra para a presidência da República, não agrada ao PT. Alguém me fala de três grandes riscos para a carreira política de Aécio, se ele aceitar a candidatura. Fiquei surpreendido e admirado pela súbita preocupação com o futuro do atual governador de Minas, partindo de quem partiu, mas segui com atenção o raciocínio: a) Serra perde a eleição, apaga-se politicamente e leva Aécio com ele. b) Serra ganha a eleição, faz um mau governo, apaga-se politicamente, leva Aécio com ele; c) Serra ganha a eleição, faz um bom governo e se reelege, Aécio fica oito anos na "regra três", como Marco Maciel ou José Alencar, e se apaga politicamente.

Mas há uma letra "d" na equação: Serra se elege, faz bom governo, se reelege, continua a fazer bom governo, elege Aécio que também pode se reeleger e o PT fica 16 anos fora do governo. Esse é o problema de Lula. E também do preocupado cidadão – "apolítico", ele faz questão de frisar – com o destino de Aécio

Letra "e"

Contudo há uma letra e) na equação política. Na euforia que cerca os índices de crescimento no Brasil, há nítida confusão entre economia (o todo) e mercado (uma parte), Que temos um mercado de consumo nada desprezível (quase 200 milhões de habitantes) e um mercado financeiro deveras atraente, graças aos juros elevados, provam os copiosos investimentos estrangeiros que mantém a bolsa em efervescência e a moeda norte-americana lá embaixo. Basta que se inverta o binômio para o castelo de cartas desabar. Analistas dizem que crescem as probabilidades de tal acontecer em 2010 ou, no máximo em 2011. Aí, esteja Serra ou Dilma na Presidência da República, vamos todos comer o pão que o diabo amassou.

Salve o Brasil

No supermercado, dois cidadãos decidiram salvar o Brasil e começaram a patriótica tarefa obstruindo a passagem com os seus carrinhos ainda vazios. De que eles queriam salvar o país nem se precisa dizer. Estavam tocados com a mais recente grossa bandalheira, a do governador de Brasília, José Roberto Arruda et caterva, e procuravam a origem do caos. Provavelmente, a salvação da lavoura, digo, da moralidade pública, deveria começar por eles próprios, livrando o caminho que obstruíam com seus carrinhos e devolvendo às demais pessoas o usurpado direito de ir e vir pelos corredores do supermercado. Mas, como todos estamos carecas de saber, quem se propõe a salvar o Brasil tem direitos especiais, reconhecidos e generosamente gratificados pelas empreiteiras, que, por sua vez, são retribuídas com o superfaturamnento das obras. É uma atividade muito rendosa que pode começar pelo atravancamento dos corredores do supermercado quando a gente se inicia na arte de salvar o Brasil..

Mural

William Campos, sobre o Jogo do Tempo (coluna de 15/12) escreve: "Muitas perguntas surgem com a volta de Fernando Collor à vida pública, como por exemplo: será que ele vai concorrer a Presidente da República nas eleições de 2014? Será que em 2014, por coincidência ou por força do destino, teremos novamente uma eleição em que Collor e Lula se enfrentarão novamente?"

Vai acontecer

Amanhã, terça-feira, às 6 da tarde, na Rua da República, 30 (quase esquina da João Pessoa) o jornalista José Luiz Prévidi lança "Farofa com Pimentão - Histórias de Praia".

  "Revisão do Plano Diretor" é o tema do vereador Sebastião Melo, presidente da Câmara Municipal, amanhã de manhã, 8h30min, no Bom Dia da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A letra “d” – Jayme Copstein

Parece que a possibilidade de Aécio Neves compor como vice a chapa de José Serra para a presidência da República, não agrada ao PT. Alguém me fala de três grandes riscos para a carreira política de Aécio, se aceitar a candidatura: a) Serra perde a eleição, apaga-se politicamente e leva com ele Aécio. b) Serra ganha a eleição, faz um mau governo, apaga-se politicamente, leva com ele Aécio; c) Serra ganha a eleição, faz um bom governo e se reelege, Aécio fica oito anos na "regra três", como Marco Maciel ou José Alencar, e se apaga politicamente.

Mas há uma letra d) na equação: Serra se elege, faz bom governo, se reelege, continua a fazer bom governo, elege Aécio que também pode se reeleger e o PT fica 16 anos fora do governo.

O problema é esse...

As canções do Natal – Jayme Copstein

Foi estanho, em 2008, o silêncio que se fez em torno dos 190 anos da mais popular canção do Natal – Noite Feliz. Ouvida hoje em todas as esquinas do mundo, nasceu em 24 de dezembro 1818, em uma pequena aldeia dos Alpes austríacos – Obendorf, perto de Salsburgo.

O padre Joseph Mohr, pároco da aldeia, estava sem inspiração para escrever o sermão da Missa da Natividade. Chamado para ir às montanhas, batizar o filho recém-nascido de um casal de camponeses, ao regressar Mohr viu brotar em sua cabeça um poema que refletia a paz e o silêncio dos caminhos cobertos de neve por onde andara.

Entusiasmado, decidiu substituir o sermão pelo poema e o mostrou ao mestre-escola Franz Grüber, músico amador que tocava o órgão da igrejinha de Obendorf.

Inspirado pela beleza do poema do padre, Grüber compôs a melodia. E naquela noite de 24 de dezembro de 1818, os cristãos da pequena aldeia dos Alpes austríacos ouviram pela primeira vez o que se eternizaria como a canção do Natal.

Na primeira audição, Noite Feliz teve acompanhamento de violão, porque o órgão estava estragado. Os foles tinham sido roídos pelos ratos, cujo espírito natalino só encontra similar em certos homens.

Foi só em 1825, quando passou por Obendorf para consertar o órgão da igrejinha que Karl Mauracher conheceu e fascinou-se com a canção. Ele a transmitiu a uma família de cantores, os Strasser, que a popularizaram na Alemanha.

Os versos de Noite Feliz, levados por missionários europeus a todos os cantos do mundo, hoje estão traduzidos para cerca de 300 idiomas.

Natal de todos

Noite Feliz não é única canção tradicional do Natal, e aí temos uma curiosidade, porque há várias criações de compositores judeus, antecipando em mais de cem anos o espírito ecumênico hoje predominante. A primeiras dessas melodias foi criada em 1847 pelo francês Adolph Adams e tem o título de "Minuit Chrétiens" (É meia-noite, cristãos). Hoje conhecida como "Holy Night" (Noite Santa), foi também, segundo se crê, a primeira música transmitida por uma estação de rádio.

Entre as mais modernas, destacam-se "The Christmas Song (A canção de Natal), Let it Snow (Deixa nevar) e White Christmas (Natal Branco), de irving Berlim. A primeira, "A canção de Natal) é do cantor e compositor Mel Thorne, cujos versos trazem uma singela mensagem de amor: "Ofereço esta simples frase a todas as crianças de um a 92 anos: Digam bem alto, digam muitas vezes, digam de todos os jeitos – Feliz Natal para você!"

A mais popular é "Deixa nevar, dos compositores Jules Styne (Julius Kerwin Stein) e Sammy Kahn (Samuel Cohen). A melodia alegre se completa com versos brincalhões, descrevendo a neve e o frio do Hemisfério Norte nessa época do ano: "Já que o tempo lá fora é terrível, já que não se tem aonde ir, deixa nevar, deixa nevar". De todas as canções de Natal de autoria de compositores judeus, a mais bonita com toda a certeza é White Christmas (Natal Branco), criada por Irving Berlim. Além excepcional beleza da melodia, a poesia destas palavras: "Sonho com um Natal branco, como esses que eu vivo, em que a copa das árvores brilhe e as crianças ouçam os sinos dos trenós na neve.

Natal polonês

Já que estamos falando de curiosidades desta época do ano, as comemorações de Natal mais prolongadas são as da Polônia. Começam em 20 de dezembro e se prolongam até 2 de fevereiro. O ponto central é a ceia, em 24 de dezembro. A família se reúne em torno de uma mesa forrada de palha, para lembrar que Jesus nasceu em uma manjedoura. Senta-se à mesa sempre um número par de comensais, deixando-se vaga uma cadeira para um hóspede imprevisto, tradição que lembra a ceia de Rosh Shaná, o ano novo judaico, onde também uma cadeira é reservada ao profeta Elias, caso ele decida visitar aquela casa.

Antigamente, a ceia do Natal polonês, compunha-se de 12 pratos à base de peixe, para lembrar os 12 pescadores que foram discípulos de Jesus. Modernamente, os 12 pratos são substituídos doze frutas em compota. Depois da ceia, tal como os nossos antigos ternos de reis, ocorrem os Koledy. São grupos de rapazes que percorrem as ruas, cantando canções natalinas de casa em casa. E também armam-se os Jaselkas, presépios vivos que representam a história de Jesus através de peças teatrais, com até duas horas de duração.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Reforma, que reforma? – Jayme Copstein

De cada vez que estoura um escândalo no país, para desviar a atenção Governo e Oposição voltam ao tema da "reforma política". É o que está acontecendo agora, em decorrência do "mensalão do DEM", cuja única diferença com o mensalão do PT é o nariz: trocaram a aca da cuecas pelo chulé das meias.

Como, por exemplo, o financiamento público de campanha pode desentranhar a desonestidade que não escolhe partidos ou ideologias, se o dinheiro "não contabilizado" vem do superfaturamento de obras públicas, antes, durante e depois das eleições? Voto de lista aberta, voto de lista fechada, folha corrida limpa, internet, não-iuternet – nada disso tem o efeito de uma boa cadeia. Mas, falar em cadeia para corruptos no Brasil? Qua-qua-qua-qua-quá

Quando se examinam as propostas, vê-se que, de reforma elas nada têm. É a velha e desgastada malandragem do ladrão que grita "pega ladrão", quando apanhado com a boca na botija, para fazer a Polícia correr atrás do nada. No caso, o eleitor.

O carro e os bois – Jayme Copstein

Não tem sentido pensar-se na criação de um Conselho Federal de Jornalismo enquanto não se restabelecer a exigência do diploma universitário específico para o seu exercício profissional. O Conselho vai zelar pela legalidade do que ou pela ética de quem? Do médico, do advogado, do engenheiro, do contabilista que escrevem artigos ou colunas em jornais ou mantêm programas no rádio e na tevê? A recomendação – e nada mais é senão recomendação – aprovada anteontem na Primeira Conferência Nacional de Comunicação está pondo o carro adiante dos bois.

A criação de um órgão desta natureza deveria ser incluída no projeto que regula o exercício profissional do jornalismo, ora tramitand,o no Congresso, para torná-lo prerrogativa de quem tenha formação universitária específica. Mesmo assim, não cabe um Conselho Federal, tendo-se em vista que o exercício profissional é apenas parte mas não toda a atividade jornalística, da mesma forma que o exercício da advocacia é parte do Direito, mas não é todo o Direito.

Portanto, impõe-se é a Ordem dos Jornalistas do Brasil. A OAB, com a sua tradição secular e a sua folha de serviços à Nação, está ai para servir de modelo.

Câncer, a boa nova – Jayme Copstein

Enfim, uma boa nova, trazida ontem pelo Times de Londres: pela primeira vez o código genético de dois tumores humanos foram mapeados, o que pode representar uma revolução no tratamento do câncer. A pesquisa foi conduzida pelo professor Mike Stratton, no Wellcome Trust Sanger Institute, Inglaterra. A notícia foi recebida com entusiasmo nos meios científicos.

Especialistas a ela se referiram como o mais significativo avanço da década, feito pelos pesquisadores da área. O câncer é uma doença dos genes, consequente à ação de inúmeros agentes, alguns já identificados, como o álcool, o fumo e a radiação, outros ainda desconhecidos, que danificam o DNA e provocam a multiplicação descontrolada das células. Os dois tumores, cujo código genético foi decifrado, um era de pulmão, o outro, um melanoma, a variedade mais letal de câncer de pele.

O conhecimento das mudanças do DNA apresentadas pelos tecidos do tumor permitirá o desenvolvimento de substâncias que corrijam os danos e revertam a proliferação das células cancerosas. Contudo, é necessário registrar que este avanço recém se incorpora ao conhecimento médico e que ainda se passarão alguns anos até que seus benefícios sejam disponibilizados na prática diária. Segundo a notícia do Times, isso deverá acontecer em 2020.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O boi sem sono - Jayme Copstein

Não sei se Lazier Martins ainda se lembra do que lhe disse, durante a Rio-92 (ou Eco-92), ele chefiando a equipe de cobertura enviada pela Rádio Gaúcha, eu apresentando de lá o Brasil na Madrugada, atendendo ao desejo dos númerosos ouvintes que a emissora contava no Rio de Janeiro. Lazier realizou trabalho primoroso, orientando e movimentando com maestria repórteres que iniciavam a carreira e entrevistando com sua reconhecida competência figuras de importância do evento. Eu, já diabo velho, por isso mesmo sem maldade, mas apenas enfastiado das obsessivas e messiânicas boas intenções que garantem lotação permanente ao inferno, opinei com franqueza, valendo-me de uma velha marcha de Carnaval, 'Touradas de Madri': "Isto é conversa mole pra boi dormir. Não vai dar em nada."

Dezessete anos passados, algumas "eco" depois, o boi continua sem sono. Há uma multidão em Copenhague, fazendo um Carnaval europeu politicamente correto – o Brasil de Lula ostentando a fantasia de califa das Mil e Uma Noites, com sua luzidia caravana – países ditos pobres, que não o seriam tanto se não fossem tão corruptos, cantando o "me dá um dinheiro aí", países ditos ricos montando arapucas uns aos outros para assumirem a "proteção" do planeta.

Ninguém sabe ao certo a extensão do problema. O bom-senso está sendo atropelado por achismos de toda a ordem. Até fraudes são cometidas por cientistas tidos como respeitáveis. Omite-se que nada pode ser feito a curto prazo. Sem limitar drasticamente a natalidade, qualquer solução de longo prazo em curto prazo se tornará insuficiente diante do vertiginoso crescimento demográfico. A Terra tinha três bilhões de habitantes em 1969. Hoje tem seis bilhões, todos consumindo os recursos naturais. Como abrigar, alimentar e vestir toda essas gente sem aumentar a atividade agrícola, industrial e de serviços?

Era a indagação de Malthus, no século 19, quando advertiu que o crescimento dos meios de subsistência em razão aritmética (1+1=2+1=3+1=4+1=5+1=6) não chegaria para atender ao crescimento da população em razão geométrica (1x2=2x2=4x2=8x2=16x2=32). Isso que, no seu tempo, a expectativa de vida andava pelos 40 anos, pouco mais da metade do que é hoje.

Portanto, nenhuma proposta que não contemple o controle da população mundial vai fazer esse boi dormir e terminar com o Carnaval.

Prêmio ARI

A Associação Riograndense de Imprensa entregou anteontem os troféus do 51º Prêmio ARI de Jornalismo, certame honrosamente patrocinado pelo Banrisul. Fosse eu colunista social haveria de enfatizar a alegria da confraternização dos mais de 60 profissionais classificados como finalistas e também de suas famílias, todos chuleando a proclamação dos agraciados. Reservaria destaque especial para a lhaneza do presidente Fernando Lemos no trato com as pessoas. Foi de chamar a atenção.

Na atmosfera festiva, duas sombras: a do subterfúgio técnico do Supremo Tribunal Federal, recusando-se a julgar a proibição imposta ao jornal O Estado de São Paulo, e apenas ao jornal O Estado de São Paulo, de noticiar investigação pública instaurada pela Polícia Federal, para esclarecer negócios da Família Sarney, e apenas esta investigação envolvendo a Família Sarney; e da pesada pena pecuniária imposta ao jornal "Já", de Porto Alegre, por ter noticiado fatos do registro policial, como se a notícia em si fosse a gênese dos fatos e não os fatos a causa de desgosto de seus protagonistas. Não faltou veemência nos muitos protestos.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Uma “m” e dois narizes – Jayme Copstein

A leitora Fernanda Souza reclama: "Como diz o inteligentíssimo Mino Carta, a 'mídia nativa' vai aproveitar para criticar o que o presidente Lula disse em um momento de entusiasmo, sentindo-se à vontade entre seus pares. Eu lhe pergunto: o que é o pior, o nosso presidente, um homem do povo, que no auge do entusiasmo disse um palavrão – sendo que há bem piores – ou o senhor 'príncipe dos sociólogos' que vai aos Estados Unidos dar palestras falando mal do Brasil e do seu presidente (ó, que dor de cotovelo!). O 'cara', como o senhor diz – e porque não e com muita honra – tem sido elogiado no mundo inteiro, tem sentado ao lado de reis e sido homenageado e respeitado por estes, o que, aliás, é merecido pelo muito que tem feito pelo povo brasileiro."

Comentário: A mídia nativa, data vênia do "inteligentíssimo Mino Carta", com o Governo sem desmentir, apenas justificando que o "aumento no crédito para o consumo foi um fator importante para tirar o país da recessão da virada do ano", informa: "Em cinco anos, o número de brasileiros com dívidas acima de R$ 5.000 passou de 10 milhões para 21 milhões, segundo o Banco Central. Eles obtiveram empréstimos que, somados, chegam a R$ 430 milhões. Esse valor equivale a 70% do total de crédito concedido pelo sistema financeiro para as famílias do país. O total da dívida dos brasileiros cresceu mais do que a renda dos trabalhadores. Segundo especialistas, é um cenário de risco e deve levar a aumento nos calotes em 2010 dependendo do crescimento da economia".

Mural

Leitor H. C. interpreta: "Dá para considerar que Lula falou propositadamente 'm*rda' ou, ele planejou com assessores onde iria falar, em que ocasião e diante de qual plateia. Falou tal e qual foi pensado, além, claro, da observação onde 'recrimina a mídia' – tudo combinado.
Mas por que Lula agiria assim? Tem a ver com os dois artigos do Cézar Benjamin sobre Lula ter falado que pretendera estuprar um garoto na cela enquanto esteve num cárcere durante o Regime Militar. Agora, Lula fala palavrões para passar a ideia de que é avoadão, que fala de modo exagerado, que diz coisas que não deveria, mas se arrepende, que tem vezes que ele se exibe, mas é só coisa de suas fantasias, do momento. Daí, pretender remendar, dando a entender que a conversa diante de Cézar Benjamin deve receber a mesma interpretação, é só da boca para fora. pura falação além da conta, erro tolo, invencionice barata."

Prêmio ARI

Logo mais, às 7 da noite, no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa do Estado, a Associação Riograndense de Imprensa proclama os agraciados e lhes entrega os troféus correspondentes ao tradicional Prêmio ARI de Jornalismo, em sua 51ª realização anual. Patrocinado pelo Banrisul, o Prêmio ARI não é propriamente uma competição com vencedores e vencidos, mas festa de confraternização em que os profissionais do jornalismo impresso ou eletrônico exibem os frutos do seu labor e comissões escolhem qual trabalho representou a melhor contribuição à sociedade em determinado momento. Não é tarefa fácil, a das comissões, se considerarmos que é por demais tênue a linha divisória entre o fato e o boato e que a vida, transcorrendo hoje com estonteante velocidade, logo transforma a notícia em história.

Depois da cerimônia de entrega – Rumo aos bares! – como conclamava o Antônio Firmo Gonzalez, antigo presidente da ARI. Sábias palavras.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Na língua de Lula – Jayme Copstein

Pois Sua Excelência, Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o ínclito Presidente da República do Brasil pela graça de São José Sarney, Beato Renan Calheiros e Apóstolo Michel Temer, acolitados pelos coroinhas Jáder Barbalho e José Dirceu, e de acordo com os cânones da Sexta Constituição Republicana que esta prolífica democracia já produziu, repetiu ontem em São Luiz, inspirado provavelmente pelo aroma local, a palavra com que Cambrone, general de Napoleão, respondeu ao ultimato inglês para se render na Batalha de Waterloo: "Merda!"

O "Cara" é manchete, hoje, em todos os jornais do mundo. Seu atual amigo e aliado, Fernando Collor de Mello, quando presidente, tinha uma equipe para fabricar as frases que mantinham sua imagem de super-homem. Mais autossuficiente, Lula, ao proclamar que não se precisa falar inglês para ser presidente da República, ao ser empossado em 2003, foi honesto: só ia falar do que sabe. E ontem, em São Luiz, falou de cátedra.

A única dúvida que resta, após quase oito anos no Poder, depois de reduzir a pobreza como nunca neste país, de implantar saneamento básico como nunca neste país, de construir casas populares como nunca neste país, etc. etc. etc. o Presidente da República, diz que quer "tirar o povo na merda em que ele se encontra". Mas ele já não tinha feito este povo feliz para sempre, como nunca na história deste país? Não dá para entender.

Moralidade à brasileira – Neide La Savia

Nestes tristes episódios de corrupção o que mais causa indignação é que tudo corre camufladamente como se fosse normal, e só aparece quando delatado pelos próprios corruptos ou corruptores quando se sentem prejudicados na partilha do butim. Assim tem sido sempre desde o episódio Fernando x Pedro Collor e sucessivamente nos demais, até hoje quando o secretário Durval Barbosa filmou o governador José Roberto Arruda.
É triste ver que, se não é por ação de delação ou da imprensa investigativa, nada se descobriria, apesar de termos vários órgãos oficiais de controle, e muito bem pagos por sinal, e de termos todo tipo de polícia, civil ou militar, municipal, estadual e federal. Mas nenhuma sabe de nada. Exceção eventual à Polícia Federal, mas quase sempre com mandados e implicações políticas para denegrir ou prejudicar algum grupo ou partido contrário ao governo.
Assim parece que o dito Estado Brasileiro é uma entidade de associados que visa o bem-estar e o poder de mando somente para os seus, e a nação propriamente dita não passa de coadjuvante a serviço do grupo de beneficiários. Seria como uma máfia estatal.
É triste, vergonhoso, cruel, e um prato cheio para instalação de regimes de exceção, seja da extrema direita ou da extrema esquerda. Aliás nossos comunistinhas estão à espreita e de unhas de fora, esperando o momento para se adonarem do poder, nem que seja usando os métodos ditos democráticos, por via do voto. Tenho para mim que sonham com uma grande Cuba para o Brasil. Já temos até um simulacro de Lênin e sua filha, nossa Rosa de Luxemburgo.

Vendo assim parece que Democracia Republicana Presidencialista não se aplica bem ao Brasil, e nem a vivemos de fato. Talvez fosse melhor se D. Pedro II não tivesse sido expulso, e tivéssemos uma monarquia parlamentarista, que vai muitíssimo bem na Europa. Parece que Presidencialismo só deu certo nos Estados Unidos da América.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Do “bundum” ao chulé – Jayme Copstein

A senhora Dona Dilma Roussef, por ser dama de respeito, não pode ou não deve contar piadas apimentadas – sem nenhuma alusão, é claro, àquela tentativa do deputado Paulo Pimenta de fabricar uma lista fajuta do mensalão com os advogados do Marcos Valério.

Por isso, Dona Dilma entrou na onda do profeta Delúbio Soares: "Mensalão vai virar piada de salão". Ao discursar para os mais de mil convidados no salão, na festa dos 30 anos do PT, ela se confessou estarrecida com as "inequívocas provas" de corrupção da quadrilha de José Roberto Arruda, mas negou haver "provas contundentes" do mensalão de Zé Dirceu & Bob Jeferson e Cia.

Enfim, é a tese do grande teórico otomano al Tchxim Dar'Ará Paxá, de que a corrupção baixou como nunca na história deste país: escorreu das cuecas da família Genoíno para as meias do Leonardo Prudente.

Eles "faiz", "nóis" paga

A ausência ou omissão da Procuradoria Geral da União (PGU), em processo movido pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Rondônia, vai custar aos cofres públicos quantia superior a R$ 100 milhões. A indenização refere-se a reivindicações que o próprio Tribunal Superior do Trabalho considerava incondicionais e contrárias à jurisprudência do próprio TST.

Um dos ministros da 2ª Turma do TST, à qual estava afeto o julgamento, manifestou surpresa com o que chamou de "posicionamento ambíguo" da União. Na sessão anterior do julgamento, o Sindicato dos Servidores de Rondônia alegara acordo prévio, o que faria a ação perder o objeto. Intimada União para se manifestar a respeito, a PGU não apareceu. Resultado: mais 100 milhões de reais, a serem pagos com os impostos extorquidos de todos nós.

E daí? Daí, nada. Não vai acontecer nada. Desde quando alguma coisa acontece neste país? Repete-se o de sempre: eles "faiz", "nóis" paga.

Democracia versus formnalismo

Em qualquer país civilizado, ou até nem tanto, mas com pretensões à condição de civilizado, não haveria como uma família, mesmo conhecida de sobejo, como a de José Sarney, impor através do Poder Judiciário censura a um único jornal, O Estado de São Paulo, em relação a uma investigação policial, a Operação Boi Barrica que procura esclarecer milagres de multiplicação de pães, bolachinhas e conexos.

Não se trata de uma reportagem investigativa do jornal em que a afoiteza de um repórter pode invadir a privacidade alguém. É investigação da Polícia Federal, instituição pública, cujos registros, por consequência, públicos também são e portanto de livre acesso a qualquer cidadão.

O Supremo Tribunal Federal, entretanto, deixou de analisar ontem tão gritante absurdo porque não conseguiu, pelo voto da maioria de seis de seus ministros, descartar-se da liturgia que às vezes transforma a Justiça em um simulacro do velho Baal-Moloch babilônico, ao qual se aplaca com a estrita obediência ao formalismo, sacrificando a ordem democrática e o direito fundamental e universal da liberdade de expressão e de informação e mantendo a ilegalidade flagrante da censura imposta ao jornal O Estado de São Paulo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Manuel na Terra de Dona Beija – Jayme Copstein

Após de longo tempo, encontro o filósofo português, o Manoel, que não inventa anedota de brasileiro porque acha que "não precisa". Está alvoroçado com a proposta tipo "liberou-geral-tudo-é-carnaval" da Comissão de Legislação Participativa, em tramitação pela Câmara Federal, para revogar o artigo 176 do Código Penal e não considerar mais fraude comer em restaurantes, hospedar-se em hotéis e usar transporte sem dinheiro para pagar.

Hoje são delitos punidos – teoricamente, pois este é o país da impunidade – com detenção de 15 dias a 2 meses. A brilhante ideia nasceu dos cultores do coitadismo jurídico de Estrela do Sul, cidade de Minas Gerais cujo habitante mais notável foi Dona Beija ainda no tempo em que a povoação se chamava Cidade da Bagagem e incluía distritos como
Espírito Santo do Cemitério, Água Suja e Brejo Alegre. A região toda era conhecida como Sertão da Farinha Podre (hoje Triângulo Mineiro). A denominação "Estrela do Sul" veio da descoberta, em 1853 de um grande diamante, batizado com este nome e que tem a rara propriedade de mudar de cor, do branco ao rosa com tons de marrom, dependendo do ângulo de incidência da luz.

Os notáveis jurisconsultos de Estrela do Sul fundamentam a sua proposta com o argumento de que, "Às vezes, a pessoa vai almoçar, percebe que não tem o dinheiro e é presa por causa disso. Há uma presunção de dolo e má-fé, sendo que é o contrário. Se ficar provada a má-fé, existe o artigo 171, que é o do estelionato. O comerciante não estará desprotegido".

Manoel me conta todas essas coisas e pergunta: "Vocês cá no Brasil estão a instituir o Dia do Pindura, 365 vezes por ano, entre os direitos constitucionais?" Como eu lhe perguntasse onde estava a piada, soltou sua risadinha safada e concluiu: "Piada??!? Precisa? Hum, que país gracioso!".

Por que agora?

Cézar Benjamin escreveu "Por que agora?" (Folha de São Paulo, 02/12) para justificar "Os filhos do Brasil" (Folha de São Paulo, 27/11), que despertou grande celeuma por relatar gabolices sexuais do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha eleitoral de 2002. Neste segundo artigo, Benjamin faz acusações bem mais graves, conforme os leitores podem deduzir, por conta própria, nos trechos adiante:.

"Há meses a Presidência da República acompanha e participa da produção desse filme, financiado por grandes empresas que mantêm contratos com o governo federal. Antes de finalizado, ele foi analisado por especialistas em marketing, que propuseram ajustes para torná-lo mais emotivo. O timing do lançamento foi calculado para que ele gire pelo Brasil durante o ano eleitoral. Recursos oriundos do imposto sindical - ou seja, recolhidos por imposição do Estado - estão sendo mobilizados para comprar e distribuir gratuitamente milhares de ingressos. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres. (...) Em quase oito anos de governo, o loteamento de cargos enfraqueceu o Estado. A generalização do fisiologismo demoliu o Congresso Nacional. Não existem mais partidos. A política ficou diminuída, alienada dos grandes temas nacionais. Nesse ambiente, o presidente determinou sozinho a candidata que deverá sucedê-lo, escolhendo uma pessoa que, se eleita, será porque ele quis. Intervém na sucessão em cada Estado, indicando, abençoando e vetando. Tudo isso porque é popular. Precisa, agora, do filme".

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Dia da Infâmia – Jayme Copstein

O aniversário, ontem, do ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbour, no Pacífico, passou praticamente despercebido. Depois de algum tempo, mesmo fatos históricos relevantes só têm relembrança nos chamados aniversários redondos. Pearl Habour deverá voltar à pauta dos jornais em 2011, quando se completarem os 70 anos do episódio que marcou o 7 de dezembro de 1941 como o Dia da Infâmia, por não ter precedência na história de qualquer guerra, agressão marcada por tanta deslealdade. Os dois governos ainda conversavam sobre seus problemas, não estava à vista nenhuma ruptura imediata, quando os japoneses atacaram sem aviso prévio, praticamente destruíram o poderio naval americano no Pacífico e mataram civis e militares que viviam naquela base.

Isso é fato, de fácil comprovação nos documentos da época. Os japoneses nunca pretenderam justificar Pearl Harbour, apenas o explicam, tal como os alemães em relação ao nazismo, com a facção militarista, liderada pelo almirante Tojo, que pretendeu conquistar para o Japão a hegemonia da Ásia. Contudo, alguém andou escrevendo, ontem, uma dessas asneiras revisionistas, tal como a negação do Holocausto, "denunciando" que a espionagem norte-americana descobrira os planos japoneses a tempo, mas o Governo de Washington não tomou as providências defensivas, para sensibilizar a opinião pública e justificar sua intervenção na Segunda Guerra Mundial.

Passou-se exatamente o contrário, e esta é uma história pouco difundida: foram as deficiências da espionagem norte-americana que possibilitaram Pearl Harbour. Dean Acheson, então subsecretário do Departamento de Estado, reconheceu depois que a organização do serviço secreto não se atualizara significativamente desde a Guerra da Secessão. Havia muita burocracia, várias repartições se encarregavam de colher informações, mas cada uma agia por conta própria, sem coordenação, como se ninguém mais o fizesse e sem trocar informações entre si.

Que a situação com o Japão poderia deteriorar-se e descambar para a guerra era uma possibilidade concreta. O mais lógico e também o mais fácil seria registrar a movimentação da esquadra japonesa para detectar um possível ataque. Uma comissão, integrada por membros dos vários serviços secretos, foi criada três meses antes de Pearl Harbour, especialmente com tal objetivo, mas só conseguiu reunir-se, assim mesmo premida pela urgência, três dias depois do ataque.

O desastre de Pearl Harbour foi responsável pela reorganização da Inteligência do Estados Unidos, a cujas façanhas, incluindo-se aí a decifração dos códigos secretos dos japoneses, a marinha norte-americana conseguiu vencer e destruir o forte da esquadra inimiga na Batalha de Midway e tomar a iniciativa da guerra.

Há outra lenda, de que os japoneses só passaram a utilizar os kamikases (pilotos suicidas) no fim da guerra, assim mesmo por desespero. Também não é verdade. Os "kamikases" já tinham atuado em Pearl Harbour, O serviço secreto norte-americano os identificou depois, através de reconhecimento aéreo, ao fotografar um porta-aviões que, estranhamente, só permitia seus aviões levantarem voo. A suposta pista de aterrissagem, na popa, estava atulhada de canhões antiaéreos. Não havia como os aviões voltarem.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Democracia brasileira – Jayme Copstein

Os jornais estão derramando extensos discursos para festejar os 20 anos de "redemocratização" da República Brasileira. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia encher a boca e dizer que "nunca antes na história deste país, passou-se tanto tempo sem ao menos uma tentativa de golpe de estado".

Fora isso, porém, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, inclusive o velho vício de achar que dando sonoridade ao nome dos pecados, eles se transformam em virtudes. Como falar em democracia em um país onde um grande jornal, "O Estado de São Paulo", está sob a censura mais ridícula da história humana: foi proibido de pronunciar o sacrossanto nome da Família Sarney, com toda a certeza uma nova dinastia reinante, poderosa a ponto de impor tal privilégio. Como falar em democracia, quando um pequeno jornal, o "JÁ" de Porto Alegre, é condenado à morte, através de vultosa indenização, apenas por reproduzir e interpretar noticiário policial que envolveu o nome de um familiar do ex-governador Germano Rigotto.

E por aí afora. A quantidade de jornais e jornalistas processados atualmente no Brasil também poderia fazer o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva inflar as bochechas em mais um sonoro "como nunca, na história deste país", se ele não achasse que todos nós deveríamos ser Franklin Martins, para entronizá-lo na Trindade Santa, transformando-a em reles quadrilha.

Vá lá, nada é perfeito como diria o comediante Joe E. Brown se, em vez de protagonizar um milionário apaixonado pelo personagem de Jack Lemmon travestido de Daphne, estivesse observando a "democracia" brasileira, onde de Zé (Dirceu) a Zé (Arruda), com exceção de Zé Ninguém, assim mesmo por falta de dentes, vampiriza-se adoidamente o Tesouro Nacional.

Alegria, alegria

Prepare seu coração para as coisas que vou contar. E o bolso também, como bom contribuinte da Receita Federal, porque não é da "Disparada" do Geraldo Vandré de que se está falando: o Brasil vai levar uma comitiva oficial de quase 700 pessoas à Conferência do Clima de Copenhague. Este é o número oficial de convidados do Governo Federal para fazer a Europa de novo curvar-se ante o Brasil, desta vez sob o comando da ministra-chefe Dilma Roussef,

A notícia não diz se dona Dilma vai entrar em Copenhague montando um camelo, ao som de fanfarras, atabaques, zabumbas e taramelas, no melhor estilo Mil e Uma Noites, mas dá conta da presença certas 80 representantes do Governo Federal, 100 dos governos estaduais e 40 do Congresso Nacional. Calculando-se, com base no que o Governo do Rio de Janeiro vai pagar a cada um de seus representantes – R$ 906,71 – só estes 220 "delegados" consumirão R$ 199.476,20 por dia de Conferência, sem contar os R$ 660.000,00 das passagens aéreas de ida-e-volta (R$ 2.400,00 por cabeça).

Os demais – os que aceitarem o convite – deverão pagar suas próprias despesas – ao menos teoricamente. Mas já receberam o aviso: fazem parte da comitiva, mas bico calado – não poderão expor suas ideias porque o que disserem contará como palavras da delegação do país, Se quiserem falar, terão de combinar de antemão . Em resumo, vão para mostrar a magnificência de dona Dilma Roussef, a princesa herdeira.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quem te viu e quem te vê – Jayme Copstein

Com a observação – "Quem te viu, quem te vê" – Ney Gastal me manda pela Internet entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva a Silvio Santos, em 1989, quando concorreu pela primeira vez à Presidência da República, contra Fernando Collor de Mello. Perguntado por uma senhora do auditório, de nome Marlene, o que pretendia fazer pelos aposentados e pelos pensionistas, Lula respondeu textualmente:

"Minha querida, em primeiro lugar quero te agradecer pela oportunidade de te dar esta resposta porque esta pergunta é muito interessante. Primeiro, quero agradecer pela oportunidade de dar esta resposta porque a pergunta é muito interessante. Temos no Brasil, aproximadamente, 12 milhões de aposentados e pensionistas. Normalmente, toda pessoa que vira pensionista ou aposentado, depois de tantos e tantos anos de trabalhar, na verdade são quase jogados na lata do lixo. Nós entramos com um projeto, companheira Vera, e vamos ver se batalhamos para este projeto ser aprovado ainda este ano, para que o aposentado possa viver no Brasil como vive na Europa."

As pessoas que lotavam o auditório do SBT interromperam Lula com uma salva de palmas. Ele continuou: "Não tem coisa mais bonita, Sílvio. Você conhece bem. Na Europa você encontra aquela caravana, você encontra ônibus cheio de aposentados, companheiros e companheiras de 70 anos, de 80 anos, da Suécia indo para a França, da França indo para a Itália, da Itália indo para a Alemanha. Aqui no Brasil, coitado do aposentado, quando se aposenta, ao invés de ir viajar para o Interior, ele não consegue nem pegar o ônibus porque o dinheiro não dá. Por isso nós precisamos recuperar a dignidade que o aposentado brasileiro precisa ter e já teve um dia neste país."

Ney Gastal conclui sua mensagem, com outra observação, evocando anúncio de amansador de cabelos que ficou célebre na televisão: "A voz continua a mesma. Mas suas ideias... quanta diferença!"

A Família Silva

O dr. Ademir Monteiro, professor de português, advogado, com que dá gosto de conversar sobre todas as coisas, me passa o trecho de carta que enviou a Flávio Del Mese. Faz referência a uma crônica de Rubem Braga – "Luto da Família Silva" – publicada em 1936, com o vaticínio: "Nossa família um dia há de subir na política".

O dr., Ademir comenta: "Decorridos quase 76 anos, acho que, se o autor reescrevesse a crônica, constataria a 'Vingança da Família Silva' Isto porque subiu na política, aculturou-se, vingou os índios; botou goela-abaixo a cota para negros (sem ouvi-los); esnoba a Embraer e compra Airbus; não quer diplomata falando inglês, encheu de dinheiro (público) os guerrilheiros e adesistas, goza das benesses da morada palaciana e viaja mundo afora como se fosse um globe-trotter."

Ditos e achados

Carlos Reverbel, escritor e jornalista, em 1978: "A ecologia chegou com atraso entre nós, mas quando deslanchou o fez com ímpeto avassalador, se não na prática, pelo menos na através dos chamados meios de comunicação, Tenho fundadas esperanças de que criaremos um novo ramo da nova ciência: a ecologias do papo-furado." sobre os problemas do trânsito e Porto Alegre: "

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Será o Fatalício? – Jayme Copstein

Nunca me esqueço do Fatalício, caricatura que a Folha da Tarde de Porto Alegre foi buscar em Buenos Aires, onde era publicada no Clarin com o nome de Fulmine. Era um homenzinho sombrio. Tinha sobre a cabeça uma nuvenzinha preta da qual saltavam raios. Aonde Fatalício ia, a nuvenzinha ia atrás e as coisas aconteciam... Não que ele as fizesse. Bastava sua presença para que acontecessem. Puro azar.

Pois me lembrei do Fatalício ontem de manhã, ao ler nos jornais destemperos da deputada Stela Farias, cujo passatempo predileto parece ser o de falar sozinha em uma CPI da Assembléia Legislativa. Era notável a contradição entre acusações sugeridas pela deputada Farias contra o prefeito José Fogaça e o desmentido do delegado Ildo Gasparetto, esclarecendo que as irregularidades levantadas pela Operação Solidária da Polícia Federal ocorreram em prefeituras da Região Metropolitana, nada a ver com a Prefeitura de Porto Alegre.

Aí entrou o Fatalício. Quando o ministro Tarso Genro pretendeu concorrer à Presidência da República, desabaram sobre sua rival, a ministra Dilma Roussef, algumas tempestades, amainadas depois, quando ele se retirou da disputa. Então, Tarso decidiu concorrer ao Governo do Estado. Começaram os canhonaços contra a governadora Yeda Crusius, sem nenhum prova concreta, até enfraquecer sua provável candidatura à reeleição. Agora, com a recusa terminante de Germano Rigotto, de concorrer ao Governo do Estado, cresceu ainda mais a candidatura do prefeito José Fogaça. Pois não é que já começou a chuviscar, mesmo ele ainda não tenha dito que a aceita?

Diante de tantas coincidências, como não lembrar o Fatalício, com a deputada Stela Farias falando sozinha e ainda ouvindo vozes de gravações que o delegado Ildo Gasparetto nega existirem? Não que o ministro Tarso Genro tenha alguma coisa ver com isso. Mas parece bastar a presença de sua candidatura para que as coisas aconteçam. Deve ser por azar.

Estrelas Anônimas

Belo título da escritora Mirême Pessôa em seu livro de estreia. São 22 contos, segundo o crítico literário Paulo Betancur, sobre "mulheres em busca de um espaço onde uma intimidade desassossegada pede diálogo, companhia, um sentido de vida. Mirème autografa "Estrelas Anônimas" amanhã, sexta-feira, às da 7 da noite, na Livraria Nobel, Shopping Total.

Mural

Sobre a coluna "A águia e a mosca", de segunda-feira, o leitor H.C. escreve: "Cesar Benjamin respondeu à indagação formulada pelo professor Romano. O motivo da revelação foi o filme-mentira, a apropriação da imagem de Jesus por 'aproximação'. Palavras do Cesar Benjamin (transcritas do blog de Reinaldo Azevedo): "o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante." Precisa mais? Quando o cara começou a se colocar como um Jesus redivivo, o momento se ofereceu."

Cronicando

A cronista Ivete Brandalise, leitura obrigatória nos tempos da Folha da Manhã e |Folha da Tarde, seleciona talento novos e lhes transmite os segredos da arte. Agora, reuniu os trabalhos dos alunos em "Cronicando", antologia a ser autografada pelos 14 autores no dia 8, terça-feira que vem, na Livraria Cultura, Bourbon Country.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Aids em idosos – Jayme Copstein

Já pensou ter de contar para o netinho querido ou a netinha amada que o vovô ou a vovó contraiu AIDS? Pois este é problema a enfrentar se as campanhas de prevenção não conseguirem sustar a incidência da moléstia que vem crescendo nos últimos anos. O alerta é das autoridades sanitárias do mundo inteiro e também afeta o Brasil: números do Ministério da Saúde revelam que, de 1993 a 2003, aumentou em 130% entre os homens e 396% entre as mulheres, o número de aidéticos com mais de 50 anos de idade.

A principal causa de contaminação é o do sexo sem proteção. Estimulantes como Viagra, Cialis e Levitra
devolveram aos idosos atividade sexual, mas como em torno deles há mitos de recato, de conduta quase angelical – nos quais eles próprios acreditam ou se refugiam – as campanhas de prevenção não os focaram como deviam, para lhes incutir a noção de sexo seguro.

Todavia, evite-se, também, o extremo oposto, iniciando-se caça às bruxas. Trata-se apenas de educar uma geração que foi salva do espectro da sífilis e não contava com outro flagelo igual ou pior.

Nos dedos

Ora, enfim, o diplomata amador e assessor de Relações Internacionais do Presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, está aprendendo algumas lições do metier: após algumas valentias, está "telegrafando" recuo na questão de Honduras. Garcia, que após o seu famoso "top,top,top" consagrou-se mundialmente como mestre em regras de etiquetas e civilidade, aderiu à revogabilidade do irrevogável preconizada por mestre Mercadante, após um reguaço no dedos desferido pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias.

""O governo brasileiro não poderia ficar indiferente se houver dados que comprovem uma fortíssima participação popular", disse Garcia. "Uma coisa é nós considerarmos a eleição ilegítima como procedimento, outra coisa é desconsiderarmos como fato político."

O recuo de Garcia veio depois de o Presidente ter dito que a posição do Brasil era "imutável", ensejando o reguaço de Arias:

"A história das últimas eleições – foram as suas palavras textuais– mostra que em Honduras havia cada vez maior abstenção nas eleições presidenciais. Estas [as de domingo] tiveram maior participação e até agora não houve queixas significativas de fraudes. É dupla moral reconhecer as eleições iranianas, que não foram limpas e onde houve uma série de casos, e até um candidato resolveu desistir do segundo turno, e não reconhecer as hondurenhas".

A propósito: o Irã acaba de prender cinco ingleses que iam de Bahrein a Dubai em um iate. Por engano, entraram em águas territoriais iranianas e foram capturados pela Marinha de Guerra de Ahmadinejad.

Sem acréscimos

O leitor A Barbosa reclama da falta de alusão à roubalheira de Brasília, cuja estrela de primeira grandeza, no escândalo da vez, é o próprio governador Arruda, especialista em violação de painéis, versões lacrimosas, ameaças de radicalização ("Olha que eu conto, heim !?!") e distribuição de panetones. O leitor, que com isso mostra não ser tão leitor assim, não prestou atenção ao "Galho do Arruda", na coluna de anteontem, no dia em que o novo mensalão estourou. O que mais acrescentar ao caso se é mera repetição do que há decênios todos assistimos impotentes: ninguém na cadeia, todos os gatunos de bolsos cheios, felizes para sempre. Alguma novidade, por acaso?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A águia e as moscas – Jayme Copstein

Não tem nenhum sentido a polêmica provocada por artigo de César Benjamin, relatando confidência de Luiz Inácio Lula da Silva de suposta investida sexual sobre um jovem militante e companheiro de cela, quando esteve preso em 1980. A confidência, melhor dito, a gabolice – Lula falava não poder passar sem sexo – aconteceu na campanha presidencial de 1994 e foi testemunhada também pelo cineasta Sílvio Tendler que registrou como "piada" entre as muitas que o candidato contava todos os dias para provocar o riso dos seus acompanhantes.

Ora, já era tempo de o Brasil habituar-se à generosa dose de tolices que o seu presidente lhe serve diariamente. Se em público Lula diz o que diz, imagine-se quando se sente resguardado pela intimidade. Talvez a suposta "vítima" – se é que existiu fora da sua imaginação e sobreviveu ao cárcere – pudesse esclarecer a verdade, Contudo, quem tem a mínima informação sobre a vida de militantes encarceirados, sabe que entre eles se estabelece um código de honra, cuja ruptura traz consequências desagradáveis para o infrator. Não fosse "piada" o relato de Lula, ele não sairia inteiro da aventura. A represália não se limitaria aos cotovelaços do "menino" e ele não teria como se queixar dos "torturadores do regime".

Helena de Almeida Prado Bastos, em carta à Folha de São Paulo pôs as coisas em seus devidos lugares: "Eu nem acredito nem desacredito, até porque Lula é mesmo um debochado e escrachado. Mas tenho duas dúvidas. Uma delas é saber por que Benjamin ainda trabalhou com alguém capaz de cometer torpeza tão grande. Outra é saber por que só agora fez essa revelação. Parece-me que seu artigo adianta a baixaria que será a campanha de 2010. (...) Que fique claro: a Folha publicou a opinião de um de seus vários colunistas. Não tem nada a ver com isso. Por dever de ofício deve apurar os fatos. Ponto. Que triste mania que os lulistas têm de querer cercear a liberdade de expressão, insuflada por Lula e seus asseclas, aliás."

Isto posto, e já que nosso ilustre Presidente anda chegado a um latim nos últimos tempos, eis um aforismo que lhe cabe como uma luva: "Aquila non caput muscas". A tradução correta é: A águia não caça moscas. Mas, em bom português, claro e sonante é: "Em boca fechada não entra mosca."

O silêncio de Chavez

Um velho samba de 1919 perguntava: "Papagaio louro do bico dourado./ Tu falavas tanto, / qual a razão que vives calado?" Era gozação de J.B. da Silva, o Sinhô, registrando a derrota de Ruy Barbosa para Epitácio Pessoa, na eleição presidencial daquele ano. Noventa anos depois, a mesma pergunta pode ser feita a Hugo Chávez, de bico enfiado nestes últimos dias, não por ter, afinal, conhecido a virtude de reflexão, mas por cair-lhe nas mãos um imenso pepino: o desempenho da economia "bolivariana".

A inflação na Venezuela já está atingindo a marca dos 30%, o dobro dos 15% previstos no orçamento do corrente ano. O PIB também despencou: queda de 4,5%. entre julho e setembro. Os lucros da Petróleos de Venezuela (PDVSA) encolheram 66,8 % neste primeiro semestre..

A esta altura dos acontecimentos, com a popularidade em queda, Chávez poderia recorrer aos investimentos privados para hidratar a economia da Venezuela. Mas como atraí-los se ele os escorraçou, ainda no início de seu governo? Não será fácil

domingo, 29 de novembro de 2009

La "famiglia"

Há poucos dias, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez referência a equívocos da Polícia Federal na caça a corruptos da vida pública, a primeira suposição era a de que Sua Excelência reconhecia os excessos cometidos, principalmente contra políticos de oposição.

Doce, precoce e fugaz ilusão. A revista "Veja" desta semana transcreve gravações da Polícia Federal, mostrando o tráfico de influência praticado pela filha e pelo genro do Presidente, o que, aliás, não é nenhuma novidade, eis que a atividade foi inaugurada seu irmão mais velho, o Genival Inácio da Silva, o Vavá, que cobrava a módica taxa de dois "pau".

Lurian da Silva e Marcelo Sato aumentaram consideravelmente as avenças, mas não sejamos maldosos – é mero reajuste à inflação que no andar "lá de cima" é notavelmente maior que a do andar debaixo. É só comparar o reajuste das aposentadorias da plebe com o dos proventos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados e senadores, para concluir-se que não é só a Índia que tem párias.

As façanhas da "famiglia" não pararam aí. Há poucos dias o Fabinho (conhecido também como Lulinha) e mais 15 amigos pegaram carona no "Sucatão", que levava o presidente do Banco Central de São Paulo a Brasília. A carona foi considera "normal" pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Lulinha tornou-se conhecido por ter nascido em decúbito dorsal para a lua – vendeu sua "empresa" de joguinhos eletrônicos por 5 milhões de reais e hoje, segundo noticiam os jornais, instalado no mundo empresarial, goza de confortável prosperidade.

O galho do Arruda

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, um velho conhecido das colunas de jornal, José Roberto Arruda, atual governador de Brasília, era flagrado por crime que – supõe-se de imodéstia: em vez dos dois ou dos dez "paus" de Vavá, Lurian e Sato, inflacionou para 600 mil reais a contribuição "voluntária" arrecadada de fornecedores do governo. Faça-se justiça, porém – em vez de ficar com tudo, Arruda mandou distribuir 400 mil aos deputados da sua "base aliada" e guardou os 200 mil sobrantes, para "despesas" futuras, em "lugar ignorado e não sabido" como diziam os velhos policiais, no tempo em que prendiam e os gatunos ficavam na cadeia. Isso, porém, foi no tempo em que o Ariri Cachaça não bebia, amarrava-se cachorro com linguiça, a onça bebia água na hora certa, a porca torcia o rabo e o Brasil não era o país da impunidade ampla, geral e irrestrita de hoje.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A respiga da semana – Jayme Copstein

Faz muito tempo que não ouço jornalistas falarem em respiga (ato de recolher as espigas de um milharal, sobradas na lavoura, após a colheita). Nas velhas redações, significava ler todos os jornais e fazer síntese de matérias importantes ou interessantes que aquele jornal não tivesse publicado. Se a palavra desapareceu do jargão profissional, a respiga ressuscitou com toda a força e utilidade na Internet. Há inúmeros blogs desempenhando o papel com muita competência.
Fosse eu fazer a respiga das coisas publicadas na semana que passou, em Porto Alegre escolheria artigo da socióloga e acadêmica de Direito Rose Moraes, sobre a diminuição das vendas na última Feira do Livro. Foi publicada no portal do jornalista José Luiz Prévidi (www.previdi.com.br) e ainda pode ser lida na seção "Ainda há tempo".
É a melhor análise do que ocorre com a Feira do Livro de Porto Alegre: "É o Centro que está matando a Feira do Livro". Leiam: "Fui uma das muitas pessoas abaixo dos 55 anos que não apareceu na Feira do Livro deste ano", ela argumenta. "O motivo é que não gosto do local onde ela acontece. Acho sujo, confuso, apertado. Não é um ambiente agradável para se fazer compras. É claro que a Feira ocupou a Praça da Alfândega nos anos 50 para ficar à feição de quem tinha de passar por ali. Hoje, porém, acho que ela é apenas uma pedra no meio do caminho dos que têm assuntos para resolver no Centro e estão com pressa de voltar para casa".
E conclui: "A Feira do Livro na Praça da Alfândega é um anacronismo de uma cidade que desapareceu. Ela vem de um tempo no qual a vida social de Porto Alegre acontecia no Centro, e minha mãe vestia suas melhores roupas e calçava sapato alto de bico fino para ir aos bailes do Clube do Comércio. Uma época onde não havia shoppings com ar-condicionado e estacionamento para os carros da classe média, já que a todos andavam de bonde".
Oriente Médio
Fora de Porto Alegre eu escolheria o artigo de Franklin Goldgrub, professor da PUC de São Paulo, "O conflito do Oriente Médio não cabe na camisa de força ideológica", publicado originalmente na Revista PUC Viva, da Associação dos Professores da PUC-SP http://www.apropucsp.org.br e reproduzido também em www.jaymecvopstein.com.br). Goldgrub mostra o que tem sido escamoteado nos rios de tinta e saliva derramados sobre o Oriente Médios:
Não é segredo que a esquerda passa por uma profunda crise, desencadeada pelo colapso da União Soviética e dos regimes comunistas da Europa Oriental", ele disseca. "São bastante conhecidos os problemas econômicos e os percalços éticos da Revolução Cubana, o caricatural regime norte-coreano, o autoritarismo de Chavez, o genocídio cambojano, o expansionismo chinês (Tibete). A ideologização do conflito do Oriente Médio, visando transformá-lo em algo análogo à luta de classes, com Israel no papel do país colonialista enquanto os palestinos são chamados a representar a população nativa oprimida doublé de proletariado explorado, tenta reafirmar a autoimagem idealizada do militante e recuperar a dimensão ética da esquerda".
E conclui: "O quadro é convenientemente amputado do seu entorno, ou seja, o interesse das ditaduras do Oriente Médio em manter suas sociedades em estado semifeudal, razão principal (mas nunca mencionada) de sua profunda hostilidade a um país cuja estrutura econômica e social é percebida como ameaçadora pelos sheiks, reis, emires, aiatolás, imans e generais".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os carros que Hitler e Getúlio não tiveram – Jayme Copstein

Falsas antiguidades são boa isca para fisgar otários endinheirados. O Sul de ontem noticia a compra, por um bilionário russo, do Mercedes 770K que teria pertencido a Adolf Hitler. A própria Daimler, desmentiu a versão do vendedor, Michael Frölich, negociante de carros usados, que alegava ter garantia da fábrica, quanto à autenticidade da peça.

Quem leu sobre Hitler deduz que ele jamais possuiu qualquer automóvel. Não tinha vida fora do delírio ideológico, não praticava nenhum esporte, não cultivava nenhum passatempo. Antes de se tornar ditador, não tinha dinheiro para nada. Depois, dispunha de carros, aviões e até navios, como qualquer governante.

Hitler era pobre quando se alistou no exército, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ferido em combate e condecorado por bravura , permaneceu nas fileiras depois de 1918, engajado no serviço de informações. Tinha por missão espionar grupos políticos oara detectar e abortar subversões.

Foi assim que conheceu e apaixonou-se pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Ao nele ingressar, tornou-se militante profissional, sustentado pelos correligionários e também pelos direitos autorais de "Minha Luta (Mein Kampf)", que o fizeram milionário ao assumiu o poder porque a compra do livro passou a ser obrigatória , graças aos "argumentos convincentes" da Gestapo.

Chama a atenção na notícia a versão do vendedor, alegando ter encontrado o carro, após "procurar em toda a parte como um louco", em uma garage a apenas uma hora de distância de Düsseldorf, a cidade onde vive e tem o negócio. A "cascata" faz lembrar episódio semelhante, em Porto Alegre, de alguém tentando vender ao Governo do Estado um automóvel que supostamente pertencera a Getúlio Vargas. Contei o episódio em "Opera dos Vivos" livro de reminiscências dos jornais por onde passei.

Eu era repórter do Diário de Notícias e fui apurar a história. O vendedor se dizia oficial reformado da Brigada Militar e alegava estar se desfazendo do "tesouro" para salvar a única filha, da tuberculose, angariando recursos para tratá-la em sanatório de Minas Gerais". O carro, fabricado em 1947, era uma limusine, das que se alugam a 30 dólares por hora em Nova York, com geladeira e mesa para o lanche. O suposto oficial reformado não explicava como viera parar em suas mãos. Sempre que se insistia na pergunta, contava que fora presente da ONU a Getúlio e repetia, de cara compungida, a história da filha tuberculosa, acrescentando críticas ardentes à falta de memória do brasileiro e apelos para "preservar relíquia histórica de inestimável valor".

A história não fechava em nenhum ponto. A ONU jamais deu presentes a alguém. Se o fizesse, não seria ao sr Getúlio Vargas em 1947, porque ele estava no ostracismo, fora do governo do qual fora deposto dois anos antes. Só voltaria em 1951. Àquela altura, 1966, já ninguém ia às serras de Minas Gerais ou de São Paulo para curar tuberculose. Os sanatórios tinham fechado ou mudado de especialidade e o tratamento fora reduzido a antibióticos.

Um telefonema a Alzira Vargas liquidou o assunto e revelou a curiosidade: Getúlio jamais tivera um automóvel de sua propriedade. Dona Alzira explicou que "papai não se entusiasmava por essas coisas". Um integrante da guarda pessoal, que àquela altura vivia em Porto Alegre e fazia segurança nos Associados do Rio Grande do Sul, tinha outra versão: "Getúlio era 'mão de vaca' (palavras textuais). Não gostava de gastar dinheiro".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Delírio de um otário – Jayme Copstein

Ninguém sabe se o presidente Luiz Inácio Silva ouviu falar de Neville Chamberlain, antigo primeiro-ministro inglês que também desejou perpetuar seu nome na História da Humanidade, celebrando a paz no mundo com Adolf Hitler, psicopata austríaco, ignorante, mas inegavelmente dotado de carisma e que sabia para falar para as massas e por isso mesmo alcançou altos índices de popularidade da Alemanha nos anos 30 do século passado.

Àquela altura, ninguém mais confiava em Hitler. Os próprios generais alemães tinham decidido prendê-lo por que suas maluquices estavam conduzindo o país à guerra. Pois Neville Chamberlain no último momento, para apaziguar Hitler, decidiu oferecer-lhe mais do que ele pedia em relação à Tcheco-Eslováquia. Em troca, recebeu um papel assinado, que sacudia vaidoso, enquanto posava para os fotógrafos e proclamava:> "Trouxe a paz para o nosso tempo!".

Mais de 50 milhões de mortos depois, mesmo tendo recebido a visita do presidente de Israel e do presidente da Autoridade Palestino, para alertá-lo das intenções de Mahmoud Ahmadinejad que financia o Hamas para manter aceso o conflito do Oriente Médio, Luiz Inácio Lula da Silva fecha aos olhos aos crimes da ditadura iraniana, porque deseja perpetuar seu nome na História da Humanidade, celebrando a paz no mundo.

Neville Chamberlain, de fato, conseguiu perpetuar seu nome na História, por ter mergulhado o mundo na catástrofe. Mas Luiz Inácio Lula da Silva nem isso conseguirá porque sequer é protagonista do quadro. O papel que está assumindo é o de um otário atacado de delírio, ao apostar suas fichas na banca de um bicheiro larápio.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ideologia e educação – Jayme Copstein

O brasileiro come mal, faz pouco exercício e engorda acima dos limites aceitáveis. A constatação é de recente levantamento do Ministério da Saúde, confirmando a tendência à obesidade já identificada na população pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2004. O próprio Ministério da Saúde assinala que, com mais dinheiro no bolso, preço da comida mais baixo, mas sem informação adequada, o brasileiro alimenta-se mal. Se os números relativos à desnutrição baixaram significativamente, do lado oposto a obesidade crescente vai se refletir no aumento da diabete e das doenças cardiovasculares.

O quadro mostra com sobras que o problema básico a emperrar permanentemente a vida do país é o da educação. Ela não pode se limitar à instrução dos bancos escolares, mas deva ser incluir ampla e adequada informação a toda população, o que naturalmente não se faz através de muezins proclamando que Lula é Lula e Dilma, sua maior profetisa. Menos ainda com um ensino que apenas pretende formar militantes, como fica patente em teste do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), divulgado pela revista Veja desta semana, A questão propunha:

"Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise financeira mundial era um tsunami no exterior, mas, no Brasil, seria uma marolinha, vários 'veículos da mídia' (sic) criticaram a fala presidencial. Agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula. Considerando a realidade atual da economia no exterior e no Brasil, é correto afirmar quer houve, por parte dos críticos – a) atittude preconceituosa; b) irresponsabilidade; c) livre exercício da crítica; d) manipulação política da mídia; e) prejulgamento."

O uso do Enade como instrumento de culto da personalidade está muito claro na questão formulada e também na intenção de substituir a informação pela ideologia. O que, aliás, vem acontecendo no Brasil há longo tempo e é responsável direto pelos elevados índices da violência, com origem na educação básica, quando passou, a pretexto de erradicar a submissão política, a formar jovens raivosos, sem lhes incutir as normas mais comezinhas de convivência social.

Não é, portanto, a obesidade o que de pior pode acontecer a uma sociedade submetida a tais deformações. Mas serve como um exemplos acessível de que, quando falta a informação adequada, apenas se substitui um mal por outro. Mais dinheiro sem informação apenas está substituindo a subnutrição por diabete ou as doenças cardiovasculares. A educação genuína (informação correta + normais de convivência social) nos livraria disso.

Empate.

Agnaldo Fernandes escreve: "Que este é o país do futebol – além do carnaval, é claro – prova a contabilidade da desgraça, calculada pelos marqueteiros políticos. Com o apagão de Dilma, a oposição marcou um a zero. Com o desabamento de uma viga do Rodoanel em São Paulo (obra do governo Serra), o jogo empatou em um a um. E agora? – quem marca o próximo gol, contra ou a favor? O governo ou a oposição"

domingo, 22 de novembro de 2009

Lula e Battisti – Jayme Copstein

Sexta-feira, conversávamos, os advogados Flor Edison da Silva Filho e Adir Ney Generosi e eu sobre as sinucas de bico em que o diplomata diletante Marco Aurélio Garcia têm colocado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao prestar suposta assessoria de Relações Internacionais.

Garcia, com passagem fugaz pelo jornalismo (editoria internacional) não consegue descolar sua retina das visões ideológicas anacrônicas adquiridas nos bancos universitários, ao tempo em que o regime militar pretendeu substituir o bíblico livre arbítrio pelo Regulamento Geral do Exército. Além da experiência falta-lhe pé na realidade para admitir que figuras como Hitler, Stalin, Mao, Pol Pot, Castro, Milosevic ou Ahmadinejad perseguem não os que supostamente se opõe à grande humanidade feliz de Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e da Cegonha, mas apenas quem representa perigo para o seu poder absoluto.

As nações agem também da mesma maneira quando se trata de seus interesses. Garcia já podia tê-lo comprovado na risadinha de Putin, quando lhe foi proposto o eixo Brasília-Moscou ou quando os "companheiros" africanos cortesmente recusaram a proposta de uma "frente" por que têm as melhores relações comerciais com a União Europeia e não teriam a quem vender seus produtos em caso de ruptura. Ou então quando a então ministra do Comércio da França, Christine Lagarde, acusou o Brasil de pretender deixar a Europa sem roupa quando foi pedido ao "companheiro" Sarkozy o mesmo tratamento fiscal, sem limitação de cotas, concedido à produção agrícola das nações africanas.

Madame Lagarde deu-se ao luxo até de ser vulgar na recusa: "Já estamos de calcinhas e sutiã e vocês [do Brasil] querem que continuemos a tirar a roupa. Por isso a nossa resposta é não!" Com toda a certeza, assim como Garcia não consegue sair do centro acadêmico ao formular suas políticas internacionais, sobra em Madame Lagarde a lembrança do tempo em que a Legião Estrangeira, onde os Battisti de todo o mundo escondiam seus crimes, cortava a mão dos negrinhos da África para lhes mostrar quem mandava no pedaço. E continua mandado: a produção agrícola desses "negrinhos" – café, cacau, algodão, açúcar – está nas mãos das grandes empresas europeias que a negociam como se cultivada na própria Europa. Quando se reclama da maroteira, leva-se um coice pela cara.

É neste contexto em que, sob as mais ardentes juras de amor, cada um só enrola a linha do carretel na sua própria direção e quem não protege seu traseiro com uma tampa de ferro, faz papel de bêbado e de bobo da corte, que Lula terá de decidir sobre a extradição de Battisti. O dr. Adir Generosi, na conversa que tivemos, formulou hipótese interessante: se Lula pretende desempenhar algum papel de relevo no cenário internacional, para preencher o vácuo de poder dos quatro anos que o separam do próximo mandato de 2014, não pode recusar a extradição de Battisti. Mandar um tratado diplomático às favas e desafiar a ordem pública mundial em nada contribui para preservá-lo como o "Cara". Se há alguém perito em enrolar o carretel para dentro e já nasceu com uma tampa de ferro revestida de teflon no traseiro, com toda a certeza esse alguém é Lula.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O tribunal das urnas – Jayme Copstein

Segundo fonte do Palácio do Planalto, "que pediu para permanecer anônima", conform O Sul publicou ontem, Lula 'não deve desautorizar o ministro Tarso Genro [Justiça] candidato ao governo do Rio Grande do Sul". Por esta razão libertará Cesare Battisti, apesar do reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal de que seus crimes não foram políticos e, portanto, ele deve ser extraditado.

O presidente Lula não vai conseguir o intento, se a fonte anônima refletiu com precisão o seu pensamento. No momento em que Tarso Genro se desqualificou como ministro da Justiça, ao conceder por arbítrio pessoal, refúgio político a um criminoso comum, com a clara intenção de sustar procedimentos legais, pediu para si próprio julgamento bem mais amplo, o tribunal da opinião pública, a se manifestar, aqui no Rio Grande do Sul, através do voto dos eleitores, quando se travar a disputa pelo Governo do Estado.

Necessariamente Battisti será tema de debate na campanha eleitoral, dentro do item da segurança pública. O eleitor gaúcho vai dizer nas urnas se o que importa é o crime em si ou quem o cometeu – impunidade garantida de antemão a amigos e correligionários.

A propósito

Curioso o açodamento do defensor de Battisti, o causídico Luís Roberto Barroso, sugerindo a libertação imediata de seu cliente, mesmo antes da publicação do acórdão do STF: "Se houver demora, como está inequivocamente declarada sua competência, penso que o presidente pode exercê-la [mesmo sem a publicação]".

Em resumo, Sua Senhoria quer proclamar o "liberou geral, tudo é Carnaval" com alguns meses de antecedência.

Aldori, o perplexo

Aldori, aquele gaúcho que só fala com Camões, o cavalo caolho que só vê metade das coisas, mais uma vez ficou perplexo. Não sejam maldosos. Aldori não é maluco, apenas crê que político honesto9, só no Rio Grande do Sul. Também não sejam brocoiós, achando que o cavalo fala. Cavalo não fala. Só relincha.

O "causo" é que o Aldori é teimoso. Ontem de manhã lá estava o Aldori querendo saber do Camões o que o ministro Tarso Genro quis dizer, quando afirmou que o presidente Lula só decidirá sobre a extradição de Battisti, "com responsabilidade e seguramente dentro da visão constitucional, humanista e altamente politizada e qualificada com que sempre tomou suas decisões".

- Fala, Camões! – bradou, impositivo.

O Camões, com sua proverbial sabedoria cavalar, só relinchou. O que enfureceu o Aldori:

"Fala, cavalo. Tu só relincha!"

Ditos e achados

Escrevendo em seu "Dicionário do Diabo", o jornalista norte-americano Ambrose Pierce disse: "No famoso dicionário do dr. Johnson, patriotismo é definido como o último refúgio de um canalha. Com todo o respeito devido a um dicionarista bem-informado, mas inferior, permito-me que é o primeiro."

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Peculiaridades do Caso Battisti – Jayme Copstein

A Constituição e a legislação atinente conferem ao chefe do Estado Brasileiro o poder de negar, a seu inteiro arbítrio, extradição de estrangeiro solicitada por Nação que conosco mantenha acordos específicos, Não resta nenhuma dúvida a respeito, conforme provaram por 9 a 0 os ministros do Supremo Tribunal Federal, anteontem, ao julgarem Cesare Battisti, delinquente condenado por quatro assassinatos na Itália. Mas, convenhamos, se é assim, há algumas peculiaridades neste processo que nos induzem a exercícios de lógica, usando da liberdade de pensamento e de expressão que a mesma Constituição nos confere – ao menos enquanto os correligionários e simpatizantes mais entusiasmados de Battisti não a revogam

A primeira peculiaridade foi levantada pelos próprios ministros do STF, na constatação de que nas centenas de casos de extradição julgados antes, nunca esteve em xeque se o eventual ocupante da presidência da República poderia ou não acatar a decisão da Corte. Desde que tem o poder de recusar a extradição sem consulta ao STF, é forçoso admitir que o presidente da República atendeu ao pedido de extraditação, pois é a única hipótese em que necessita saber se não há impedimento legal para que o faça.

Ora, se negarmos que é, cairíamos na demasia de supor que o Presidente da República é um demagogo barato, sem coragem para assumir suas decisões, jogando a responsabilidade no colo do Supremo. E dentro da mesma linha, com os ministros do Supremo devolvendo a prebenda ao Presidente, ao som do samba – toma que o filho é teu.

"Honni soi qui mal y pense" – maldito seja quem mal isto julgar, já dizia Eduardo III no tempo das Cruzadas, quando punha de volta na perna de sua amante, a Condessa de Salisbury, a liga azul que ela deixara cair enquanto saracoteava no baile. Afinal, estamos tratando do Presidente da República Federativa do Brasil e de ministros do Supremo Tribunal Federal, pessoas ilibadas, de cuja contração a dignidade dos seus papéis devem nos dar prova a todo o momento.

Enfim, são conjecturas, fala-se muito, muito pouco é dito, correm rumores de que o presidente Lula busca justificativa humanitárias para tomar sua melhor decisão. Com toda a certeza ele levará em consideração, por solidariedade, o sofrimento das famílias dos assassinados, todos mortos pelas costas, todos por vingança, ou por terem colaborado na prisão de Battisti ou por terem reagido a assaltos que ele liderou anteriormente. A princípio, ele era um delinquente comum. Convertido na cadeia por outros terroristas, apenas acrescentou uma utopia como pretexto para seguir em sua carreira de crimes.

Mural

Sobre as considerações relativa ao Caso Battisti, na coluna de ontem, Luís Lander escreve: "A lógica exposta é brutalmente simples, mas ... em se tratando de PT, Tarso Genro como Ministro da "Justiça", Luiz Inácio como Presidente da República, STF ideologicamente montado, Senado aos frangalhos, Câmara Federal, depois de 2005, nunca mais recuperará um mínimo de sanidade e credibilidade, aposto que o terrorista fica. O que me intriga é: porque os "refugiados" cubanos foram tratados, de forma tão diferente pelo Ministro?"


 


 


 



 

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Por que a marolinha não afogou o Brasil – Jayme Copstein

Até pode não ter chamado a atenção por ter sido publicada na véspera do feriadão – 14 de novembro – a entrevista do diretor de Política Monetária do Banco Central, Mario Torós, ao jornal Valor Econômico, reproduzida pelo portal www.globo.com, Mesmo assim é de causar espanto que logo tenha sido sepultada em silêncio: revela que o presidente da República e, particularmente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, portaram-se como macacos em loja de cristais no auge da crise financeira. Não fosse a competência, destreza e fibra da equipe do Banco Central e a liderança de Henrique Meirelles, que chegou a pensar em demissão, o Brasil teria se afogado na "marolinha" de Lula.

Em outra ocasião, em maio de 2008, quando o Copom elevou a taxa Selic para prevenir inflação resultante do crescimento acelerado do primeiro trimestre, a boataria de que Lula iria mudar o presidente do Banco Central, nomeando para o posto o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, fez Meirelles entregar a carta de demissão. As coisa felizmente se acomodaram e Luiz Gonzaga Beluzzo, como todos sabemos, se houve com grande sucesso na presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras, com direito a destemperos na xingação ao juiz de futebol Carlos Simon.

Há uma discussão jamais decidida e por isso mesmo interminável, para se saber se Deus é ou não é brasileiro. Há certos fatos, porém que nos levam à firme convicção de que, no mínimo, Ele tem especial desvelo por este país.

Caso Battisti

O Supremo Tribunal Federal admitiu por cinco votos a quatro a procedência do pedido de extradição do terrorista italiano Césare Battisti, formulado pelo governo da Itália, mas – também por cinco votos a quatro – que a decisão é pessoal do presidente da República. Como Lula havia se comprometido com líderes europeus, em encontros internacionais, que acataria a decisão do STF, reina agora a expectativa do que ele vai fazer, diante da militância mais extremada, capitaneados por Tarso.Genro.

Os ministros do Supremo debateram com ardor uma segunda questão, se Lula está ou não obrigado a cumprir sua decisão neste tema específico. Ora se lei possibilita ao chefe de estado recusar a extradição por decisão pessoal – poder discricionário atribuído pela Constituição e por legislação específica – e apenas o obriga a ouvir o STF quando decide extraditar, fica muito claro que a simples remessa da questão à Corte significa a afirmação tácita de que a extradição está sendo solicitada. Portanto, cabe ao STF a decisão final, tanto afirmativa como negativa.

O resto, data vênia, data máxima vênia, é sexo dos anjos.

Ditos e achados

"Dai-nos urna cena e com ela marcaremos o tempo de forma a tirá-lo da uniformidade sem graça e sem sentido de seu fluxo contínuo. No campo das miudezas cotidianas, o momento do "parabéns a você" é o teatro que assinala a passagem de mais um ano devida. No campo das grandiosidades históricas, o muro forneceu o cenário, e as pessoas que trepavam em cima dele, dançavam e lhe arrancavam pedaços. num misto de levante e festa popular, com¬puseram a dramaturgia de que carecia um evento do porte da queda da fortaleza comunista." Roberto Pompeu de Toledo, na revista Veja desta semana, sobre os 20 anos da Queda do Muro de Berlim.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

À margem de uma palestra – Jayme Copstein

Quem foi buscar transfusão de talento ou, mais modestamente, aval para seus narizes-de-cera (*), anteontem, na palestra do escritor e jornalista Tom Wolfe, saiu tosquiado. Encerrando o "Fronteiras do Pensamento" deste ano, Wolfe apenas se propôs a traçar uma charge dos modismos intelectuais da nossa época, subjugada ao catecismo do politicamente correto e gerida por uma "aristocracia do gosto" cujo espírito de tolerância bota talibãs e aiatolás no chinelo.

Foi disso que Wolfe falou todo o tempo, com nuanças impossíveis de serem transmitidas pela tradução simultânea, a não ser que os intérpretes sejam atores consumados. É mais do que evidente que não negou a genialidade de Picasso ou de James Joyce – ninguém tem como revogá-la – mas fez gozação dos subprodutos, vendidos pelos camelôs da "aristocracia do gosto" a quem deseja comprar atestados de bom-mocismo, inteligência e erudição. Como otários sempre encontram vigaristas prontos a depená-los, este mercado mostra-se mais promissor que a pirâmide financeira criada por Carlo Ponzi e aperfeiçoada recentemente por Bernard Madoff.

Wolfe exemplificou o beco sem saída do politicamente correto com a carnavalização da liberdade sexual, ao comparar as fêmeas dos chimpanzés, que sinalizam seu desejo erguendo a cauda e expondo os genitais, com o quadro que testemunhou em uma universidade americana, onde cerca de 20 garotas ajoelhadas diante de outros tantos rapazes – todo mundo nu – praticavam sexo oral como se estivessem em uma linha de montagem. O que civiliza o animal humano, o "bípede implume" de Platão, são os códigos de convivência social, purificados de seus excessos na medida em que o conhecimento se alarga e se aprofunda. Nada, porém, a ver com fantasias de "seres-robôs" recentemente criados por uma cruza de neurociência e genética, segundo a qual todos os comportamentos já estão programados no DNA.

Nada disso é novidade nem se distingue um til das exasperações do século 19 quando os destroços do feudalismo recalcitrante manipularam a genética para se preservar como "elite pensante" e desencadearam a tragédia étnica do Século 20. Sequer o novo jornalismo de que Wolfe, com Norman Mailer, Truman Capote e Gay Talese são apontados como luminares, é algo verdadeiramente novo. Quem presta atenção no britânico Winston Churchill, no americano Ernest Hemingway e no brasileiro Euclides da Cunha, apenas para citar alguns exemplos de bom jornalistas e bons escritores, sai convencido que escrever se faz com mais ou menos talento, mais ou menos cultura, e que a diferença básica entre o jornalismo e literatura é que jornalistas criam textos para os fatos que testemunharam, enquanto ficcionistas criam fatos para textos que assomam em suas mentes.

Fora disso, é mera papagaiada, para a qual certa "aristocracia" devota seu gosto. Neste caso já não está mais aqui quem falou.

(*) Nariz-de-cera, em jargão jornalístico, é uma futilidade que nada acrescenta a uma notícia ou reportagem, escrita ao mais das vezes para preencher espaço. Banida durante decênios, tem retornado aos jornais como "originalidade". Nada há nada que seja novo debaixo do sol, como já dizia o Eclesiastes, há milênios,

Vai acontecer

O seminário "Debates Contemporâneos" vai examinar a literatura de hoje no Brasil, na Alemanha e na França, no fim deste mês (dias 24,25 e 26). Participam das palestras, mesas e oficinas críticos literários, escritores e editores. Promoção conjunta do Instituto Goethe, o Instituto de Letras da UFRGS e a Secretaria Municipal da Cultura. Na pauta, as mudanças no hábitos de leitura, trazidas pela leitura digital.