sábado, 31 de janeiro de 2009

As mudanças do mundo - Jayme Copstein

Naqueles tempos de preconceito, “seu” Tajuba não levava ninguém de compadre, menos ainda homem cheio de não-me-toques. “Macho que não é macho, nem devia ter nascido”, pregava aos quatro ventos.

Quem não estava por esses conformes era a mulher, dona Sinhá. Depois que a tevê trouxe as novelas pra dentro de casa, começou a ter opinião, a discordar: “Você fica atracado com as vacas, não presta atenção no mundo. Tudo mudou.”

Andavam os dois nesses desconformes, quando um dia o Ruirinha voltou à cidade. Tinha sido escorraçado a rabo de tatu, pra deixar de frescura e de envergonhar São João dos Milagres, cidade de machos. Seu Tajuba foi quem mais bateu.

Choramingando, enxugando as lágrimas com lencinho de renda, Ruirinha jurou: “Um dia volto, todo mundo vai beijar minha mão!” Tocou-se pro Rio de Janeiro, rolou mundo, acabou costureiro famoso em Paris, onde casou com um ex-segurança da princesa de Mônaco. Quando desembarcou em São João dos Milagres, fez de propósito: cheio de ademanes e penduricalhos, trajava uma pilcha estilizada em seda brilhante rosa choque com aplicações verde malva.

Seu Tajuba ao ver aquilo, ficou possesso. Queria dar tiro: “A gente aqui faz força pra mostrar que é macho, esse cara envergonha a gente lá fora.” Dona Sinhá foi quem o conteve: “Tajuba, esse cara é famoso em todo o mundo. Ele faz vestido até pra rainha da Inglaterra!”

Seu Tajuba não queria acreditar: “Pra rainha da Inglaterra?!”, repetiu. Só quando ela lhe esfregou nas fuças a revista Caras, ele se rendeu: “Não me diga!... “

Tirou uma baforada comprida do palheiro, refletiu um pedacinho sobre as mudanças do mundo: “Quem diria... o Ruirinha, que a gente corria de rebenque pr’a deixá de se fresquear... “
Inflou o peito, botou no rosto um sorriso de orelha a orelha e soltou de puro orgulho: “Mas já é um carreiraço pr’um fresco!...

Ato contínuo, entrou na fila para pegar autógrafo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O recado - Jayme Copstein

Brasileiras e brasileiros, rejubilai-vos!... Zé Sarney Primeiro e Único decidiu nos salvar da crise mundial e candidatou-se à presidência do Senado. Comovedor o seu despreendimento, deixando de pensar “no próprio bem-estar para prestar um serviço país” (palavras textuais).

Zé Sarney tem no currículo uma inflação de “miles” por cento, o que, com toda a certeza, o credencia a tão nobre e relevante missão. Jamais houve governo como o dele na história deste país, como poderia ter dito Lula também Primeiro e Único, mas não disse porque como todos sabemos o inimigo de ontem é o aliado de hoje e incógnita de amanhã.

Nem mesmo Zé Sarney leva a sério suas próprias palavras, mas, por mais que estrile seu aliado, o também candidato Tião Vianna do PT, com toda a certeza será eleito.

Ao se tornar o terceiro na linha da sucessão á presidência da República, Sarney faz duas apostas: em que a crise ao atingir o auge possa derrubar Lula e nas dificuldades do vice-presidente José Alencar assumir o Planalto na emergência.

Além das apostas, manda recado a Lula sobre 2010 – apoio do PMDB só sob certas condições. Mesmo com luvas de pelica, o recado é duro – a candidatura de Tião Vianna deve ser retirada:

"Não queria que houvesse disputa. Muito melhor se tivéssemos uma candidatura de unidade."

Vianna reagiu com veemência: "Ele cometeu mais uma indelicadeza ao sugerir que eu renunciasse.”

Não entendeu o espírito da coisa. Lula sabe do que Sarney está falando. Na reeleição, quando percebeu que sua popularidade não se traduzia nas urnas e ele não venceu no primeiro turno, teve de sair correndo com um simbólico saco de cinzas na cabeça para conseguir transferir 10 milhões de votos da conta de Alkimin para a dele. Ou entra na cabeça de alguém que, sem nenhuma outra causa aparente, meros discursos fazem dez milhões de eleitores mudar repentinamente de opinião?

As batatas de Evo

O ministro Edison Lobão diz que Brasil não aceita alterar tratado de Itaipu. Como ele é por demais conhecido pela firmeza de suas afirmações, escrevam: o tratado vai ser alterado e o Brasil ainda acabará pagando alguma indenização, quem sabe para compensar Madame Lynch, a amante de Solano Lopes, pela perda da virgindade.

Não é maledicência: recentemente o ministro Lobão garantiu que o Brasil diminuiria a compra de gás da Bolívia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma visitinha de cortesia ao companheiro Evo Morales e elevou a quantidade comprada.

Faz sentido: com o aumento das exportações de batata doce para o país hermano, a companheirada passou a produzir mais gás.

Temos de indenizá-los, sim senhor. Nada como um estadista na chefia do governo.

O espírito da coisa - Jayme Copstein

Não sei quando a burocracia nasceu no Brasil. A mania de culpar os portugueses por tudo – mesmo 187 anos depois que foram embora – diz que a prebenda se originou na necessidade de Lisboa criar empregos para seus apaniguados.

Seja lá como for, permitam-me uma gargalhada diante da notícia, dando conta que o Ministério do Planejamento preparou pacote jurídico para abolir a exigência do reconhecimento de firmas e de documentos emitidos por órgãos públicos.

Por que rir quando devia aplaudir? É a terceira vez que leio esta mesma notícia nos últimos 40 anos, e ela sempre vem com o mesmo penachinho: a não ser nos casos previstos em lei. Como legislação no Brasil é um cipoal de repetições e contradições – há dúzias de leis dizendo a mesma coisa e outras tantas dúzias de leis dizendo o contrário, quem consegue saber das exigências ou da sua falta?

A memória me remete para uma conversa com o economista João Paulo Reis Velloso, no bar da Associação Riograndense de Imprensa em 1969, quando ele era secretário do Ministério do Planejamento. O titular, Hélio Beltrão havia baixado legislação para desburocratizar a administração pública, e Reis Velloso surpreendeu dois funcionários do próprio Ministério, trabalhando em sala de um dos andares superiores, sentados em mesas uma defronte da outra, cumprindo um ritual absurdo: um requerimento subia do Protocolo todos aqueles andares para o primeiro funcionário, que despachava: “À Seção Tal para autorizar seja processado.”

O requerimento era então devolvido ao Protocolo. Descia todos aqueles andares e subia de novo à mesma sala porque a Seção Tal era exatamente a mesa do segundo funcionário, cuja única atribuição era escrever: “De acordo. Autorizo seja processado”. E devolvia ao Protocolo para seguir a via crúcis. Como Beltrão estivesse viajando, Reis Velloso assumira o Ministério e determinou que o primeiro funcionário passasse logo o processo ao colega, o recebesse de volta no mesmo instante e remetesse logo ao Protocolo.

Os dois burocratas alegaram quer não podiam fazer isso. Perguntados por que, atrapalharam-se na resposta e finalmente disseram: “A gente sempre fez assim!”. Pois, de agora em diante, vão fazer diferente, – lhes ordenou Reis Velloso, que em seguida foi para seu gabinete.

Não se passaram três horas, e os dois burocratas lhe apresentaram um decreto do tempo do Império, esmiuçando o ritual. Particularidade: naquele tempo, as duas seções ficavam em prédios diferentes, no Rio de Janeiro. Com a mudança para Brasília, ocuparam a mesma sala, mas o decreto imperial não foi revogado. Portanto, cumpra-se a lei.

É esse o espírito da coisa.

No país da impunidade - Jayme Copstein

Leitores reclamam de uma provedora de Internet: sem mais nem menos, as redes sem fio de seus clientes deixam de funcionar. Técnicos no assunto dizem que é possível e que a operadora faz de propósito porque deseja vender manutenção aos seus usuários.

Se isso é verdadeiro, não será nada difícil documentar a intrujice e pôr a boca no trombone. O PROCON municipal e a própria Anatel do Rio Grande do Sul estão aí mesmo para tomar providências. De qualquer forma, como não há apenas um queixoso, mas dezenas deles, onde há fumaça, tem fogo...

O fato é...

...,que esse “se pegar, pegou” é resultado do sentimento de impunidade amplo, geral e irrestrito que encharca o país, graças ao código de porta de cadeia gestado pelo bom-mocismo calhorda. Já houve caso de ladrão preso três vezes no mesmo dia e, com tanta insistente, acabou convencendo as autoridades que realmente desejava hospedar-se atrás das grades.

Em Taquara, porém, porque não gostou de o dono de uma casa ter reclamado que sua “namorada” de 17 anos invadiu o pátio para consumir crack, um marginal simplesmente baleou-o no peito. Para um corruptor de menores, portando armas, já tem código penal de sobra para trancá-lo nas grades.

No Vale do Taquari, aqui no Rio Grande do Sul, não há vagas nas prisões. Há decênios não se constroem cadeias novas. Não houve, ao longo de todos esses anos, nenhuma reivindicação mais veemente nesse sentido. A autoridade vê-se obrigada a liberar criminosos presos em flagrante que voltarão a delinqüir porque sentem que não acontece nada.

Porém...

... sequer autoridades respeitam a lei. Um inspetor da Polícia Civil deu origem a um confronto com a Polícia Rodoviária Federal que poderia terminar em tragédia. O inspetor decidiu “furar” o pedágio de Gravataí, aproveitando a cancela aberta para o carro que o antecedia. Interceptado pela PRF, tentou fugir da ordem de prisão, transformando a freeway em pista de fórmula um, em uma corrida que só terminou na frente da 1ª DP.

O episódio, que incluiu cenas de pugilato foi relatado pelos jornais com o curioso acréscimo de que a Polícia Civil queixou-se da truculência da Polícia Rodoviária Federal.
Nada como um dia depois do outro.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os trapalhões - Jayme Copstein

Não fossem os quatro cadáveres que Cesare Battisti ostenta em seu currículo, o episódio da concessão de asilo pelo nosso ministro da Justiça não passaria de ópera bufa. Segundo noticiaram os jornais brasileiros, atribuindo a informação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi o próprio presidente da França, Nicolas Sarkozy quem intercedeu em favor do terrorista italiano.

Como vivemos em uma democracia onde cada um, afora opinião, tem direito à sua própria versão, Tarso Genro, em entrevista ao jornal Zero Hora, revelou que teria sido Carla Bruni, a reluzente mulher de Sarkozi, a autora da intercessão. Logo em seguida, com o encanto pessoal e o senso de oportunidade que lhe são peculiares, o senador Eduardo Suplicy acrescentou ponto ao conto: revelou ao jornal Corriere della Sera ter Carla Bruni se interessado pelo assunto por ser amiga da escritora francesa Fred Vargas, ardorosa defensora de Basttiti na França.

Os “gringos” montaram em um porco e desceram a lenha em Carla Bruni. Ela havia criticado o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, dizendo que seu governo fizera com que ela se orgulhasse de ter deixado de ser italiana. Levou o troco do subsecretário de Relações Exteriores da Itália: “Estamos orgulhosos de que ela não seja mais italiana e que a França tenha acolhido uma senhora como ela”.

Pois agora, Carla Bruni, em entrevista à RAI, desmentiu o presidente Lula, o ministro Tarso Genro e o senador Suplicy, dizendo que não vê “como alguém possa pensar que a mulher de um presidente possa falar dessas coisas com o presidente de outra Nação”.

Não se sabe como anda a audiência do Big Brother 9, mas se despencou, não atribuam à crise mundial. É que a concorrência anda feroz...

domingo, 25 de janeiro de 2009

O joio e o trigo - Jayme Copstein

Anda pela Internet um audiovisual, atribuído a um mexicano, com as mesmas queixas que temos do Governo, do Congresso e do Judiciário no Brasil.

O meu espanhol, mal aprendido em um ano de colegial e engordado de ouvido com o “castejano” de turistas e fronteiriços, não é dos melhores. Não consegue distinguir se o texto foi gravado por um mexicano de verdade ou se tem parentesco com o inglês macarrônico, inventado em besteirol de anexação da Amazônia aos mapas dos colegiais norte-americanos, como já circulou há algum tempo na Internet.

Se o texto é autêntico ou não, se coletou ou não as nossas frustrações com intenções obscuras, vale, porém, para demonstrar como a América Latina é vítima do seu próprio atraso e vulnerável a qualquer experimento político bolado pela intelectualha para demonstrar gênio e assegurar a posse da verdade.

Menos atenção, com toda certeza, chamou o texto do professor Naércio Menezes Filho, diretor de pesquisas do Instituto Futuro Brasil, “Como ensinar nossas crianças a ler”, publicado por Valor Econômico em 31 de janeiro e disponível também na Internet, sem que alguém se digne a incluí-lo nas suas listas.

Em países como os da América Latina, se generalizarmos as mazelas apontadas pelos audiovisual supostamente mexicano – a nós, com toda a certeza se aplicam – não se pode esperar coisa melhor pelas deficiências da educação. Basta dizer que, no Brasil, acabaram soando como um traque as sonoridades das estatísticas que mostravam quase a erradicação do analfabetismo: mais de 60% dos supostos alfabetizados não conseguem entender o que lêem – apenas decifram o som das sílabas.

O artigo do professor Naércio relata as primeiras conclusões do projeto Geres (http://www.geres.ufmg.br), que observa cerca de 27 mil crianças de mais de 300 escolas desde 2005 em cinco cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Campo Grande e Campinas): passar e corrigir lições de casa funciona, o aumento dos recursos gastos não melhora o ensino e não há diferença de aprendizado entre alunos de classes com mais de 33 alunos ou com menos de 16. A diferença entre professores bons e ruins não depende de terem curso universitário (público ou privado), ou apenas ensino médio: os melhores são os que têm entre 5 e 15 anos de magistério. O que faz sentir saudades dos velhos cursos normais, onde se formaram legiões de excelentes mestres.

Entre as constatações importantes está a de “alunos que estudam com filhos de pais mais escolarizados e ricos aprendem a ler mais rapidamente. Vale notar que isto é mais importante do que o nível socioeconômico do próprio aluno. Isto acontece porque os pais mais ricos pressionam mais as escolas quando os professores não estão ensinando como deveriam e porque fica mais fácil aprender a ler quando seus colegas de classe têm mais facilidade”, escreve o professor Naércio.

O que desmascara o crime contra a nacionalidade cometido nas salas de aula, por quem politiza a educação, jogando brasileiros contra brasileiros, impedindo a sua integração cívica e reduzindo-os à mera de condição de militantes, em lugar de formar cidadãos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A culpa de quem... - Jayme Copstein

Mensagem do leitor Bento Luiz Serraglio, de Passo Fundo, RS, sobre “Brincado com a inflação”, :

“Lamenta-se a perda de salários, arrecadação e lucros quando compramos produtos pirateados ou de muambeiros. O principal culpado de tudo é o próprio governo por nada fazer para reduzir as altas taxas de impostos cobrados sobre os produtos aqui produzidos. O exemplo mais recente é a desoneração nos preços dos automóveis, o que levou nossos consumidores a saírem às compras.

O governo arrecada excessivamente e pouco devolve à sociedade em forma de segurança pública, saúde e educação. A maior parte da arrecadação do governo se perde quando são feitos os conchavos nas esferas dos três poderes para dar empregos às pessoas vinculadas aos partidos políticos; quando a reforma tributária não é votada por que há necessidade de irrigar os cofres dos atravessadores para liberação de verbas; enfim quando a justiça julga com lerdeza os colarinhos brancos, quando o presidente diz nada ter visto...

Parabéns pelas suas colunas diárias. São seu fã assíduo desde os tempos do Gaúcha na Madrugada, quando morava no Mato Grosso.”

O leitor Bento Luiz Serraglio tem razão no diagnóstico. De fato, vivemos no país um circulo vicioso. Há uma cleptocracia grudada no poder, que lá se mantém, presidente após presidente, partido após partido, sugando a riqueza da Nação e – pior – incitando o povo à corrupção com a impunidade do seu exemplo.

Não há do que discordar. Os impostos são extorsivos, a orgia com os dinheiros públicos faz os piores antros do submundo parecerem jardins-de-infância, enfim, o que se chama de política e administração pública no Brasil é pura insanidade.

Discordamos, entretanto, no tratamento da doença. O governo é culpado com toda a certeza. Mas aceitar passivamente esta situação, sem a veemência do protesto, e até tolerar que a corrupção desça para o dia-a-dia do homem comum nos torna tão responsáveis como aqueles a quem acusamos.

Grato ao Bento Luiz Serraglio pela mensagem e pela generosidade das suas palavras.

O “Fino” da mídia

O mexicano Carlos Slim, magnata da mídia mundial – dono da nossa Embratel, Net, Virtua & Cia – emprestou 250 milhões de dólares ao jornal The New York Times. É uma tentativa de salvar da falência o ícone da imprensa norte-americana, cujas dificuldades agravaram-se com crise do mercado financeiro.

Slim (= magro, delgado, fino, em inglês) tem faro para negócios. Contratou a assessoria de José Dirceu, quando a efervescência do mensalão ameaçava reduzir a pó-de-traque o prestígio do ex-deputado e líder partidário. Dirceu agora é próspero homem de negócios e prepara seu retorno à cena política.

O mexicano já detinha 6,9% das ações da New York Times Company, a empresa editora de The New York Times e também de The Boston Globe. O prazo do empréstimo é de seis anos, findos os quais a dívida pode ser convertida em mais ações.

Nesta hipótese a participação acionária de Slim engordaria para 17%, mais da metade do necessário para assumir o controle da empresa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Brincando com a inflação

O Banco Central, por estreita maioria do Conselho Monetário Nacional (5 a 3) , cedeu às pressões políticas e baixou em um por cento a Taxa Selic. Os bancos diminuíram 0,25% a taxa de mais de 7 por cento ao mês no cheque especial, o que pouca diferença faz no bolso de quem já está encalacrado.

Líderes sindicais aplaudiram a decisão por acreditarem em varinhas de condão, capazes de fazer dinheiro crescer em árvores. Ninguém lhes disse que não há vinculação entre a Taxa Selic e o desemprego. Ela é instrumento de política financeira para controlar a inflação e pouco tem a ver com os juros

Líderes empresariais festejaram a redução por amarem uma “inflaçãozinha maneira” que corrói seus débitos, mas aumenta substancialmente seus haveres em aplicações no mercado financeiro. Antes, odiavam o câmbio flutuante que mantinha baixo o valor do dólar. A crise quase dobrou o valor da moeda norte-americana, mas não surtiu efeito porque a Selic segurou inflação.

Ora, a Selic não tem muito a ver com o chamado “spread”, a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram para emprestar o dinheiro. O “spread” não baixa porque o maior tomador desses papagaios é o próprio governo, sobrando pouco para a iniciativa privada.

É a velha lei da oferta e procura. Para não cair em situação idêntica – ou para sair dela – Barak Obama anunciou em seu primeiro dia de Casa Branca, corte dos gastos públicos, admitindo até a redução dos salários dos funcionários públicos. Ele não tem como diminuir mais a taxa de juro, bem próxima de zero nos Estados Unidos.

Foi exatamente a oferta abundante de dinheiro para adiar a recessão que criou as condições do subprime e da crise mundial conseqüente, conforme reconheceu agora Alan Greenspan, o antigo presidente do Banco Central norte-americano. Quando já não há mais produção de bens para financiar, com facilidade desemboca-se na aventura e na trampolinagem. Algo, aliás, encontrável com facilidade na história brasileira, desde o “encilhamento”, o primeiro escândalo da República até os modernos incentivos à área cultural.

Enquanto isso...

...levantamento feito pela Fecomercio do Rio de Janeiro, revela o aumento do consumo de produtos piratas no Brasil. Em 2008, aumento em 8 milhões o número de brasileiros que preferiram a “muamba”, por ser mais barata apesar de não pagar impostos, criar empregos, ser de pior qualidade e não estar protegida pelas garantias do Código de Proteção ao Consumidor.

Se calcularem em 500 reais a média do gasto anual com artigos pirateados, só considerando esses 8 milhões de novos consumidores de “muambas”, representou sangria de 4 bilhões de reais.
É fácil calcular quanto se perdeu de impostos, de salários e de lucros que seriam reinvestidos na atividade econômica, sem necessidade de o governo inflacionar a moeda para manter o crescimento.

Claro que o governo tem sua parcela de culpa. Se há algo inexistente neste país é fiscalização. Mas é só parte do problema. O resto corre mesmo por nossa conta – quase metade da população transgride a lei por ninharia.

Não há governo que consiga levar um país adiante com um povo assim.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Obama - Jayme Copstein

Barak Obama assumiu a presidência do mundo ou apenas a dos Estados Unidos? É bom esclarecer este ponto. Certos setores da mídia exageraram tanto na cobertura de sua posse, que tem gente crendo na chegada do novo Messias, inaugurando os tempos de lobo e cordeiro sentados na mesma mesa, no festim dos ungidos.

Tenha-se em mente que Barak Obama foi eleito apenas presidente dos Estados Unidos. Como tal vai cuidar dos interesses do seu país, com áreas de convergência e áreas de divergência com as demais nações. Identificar corretamente essas áreas, aprofundando os laços de interesses comuns e buscando limitar ao máximo as discordâncias, e condição essencial da convivência pacífica.

Fora disso, o que Obama deveria fazer para corresponder a certas expectativas? Empobrecer seu povo para que Lula continue distribuindo o bolsa-família? Dissolver o U.S Army para Hugo Chaves consagrar-se como o Napoleão do trópicos? Ou soterrar as mulheres americanas em burkas para aplacar a paranóia de Mahmoud Ahmadinejad?

O lobo e o cordeiro na mesma mesa, no festim dos ungidos é uma bela utopia. Na prática, porém, o lobo está sempre com o guardanapo no pescoço, fitando amorosamente cordeiro no centro da mesa, esparramado em uma bandeja.

Renovação

Barak Obama na presidência dos Estados Unidos, Zé Sarney na presidência do Senado brasileiro.

Em termos de renovação, é a diferença entre os dois países.

Ou não?

A marolinha de Lula

Desde que a “marolinha” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a rolar, houve severas advertências sobre a necessidade de medidas preventivas, incluindo a contenção dos gastos públicos pela previsível redução das receitas dos impostos. Foram recebidas como praga de quem não se conformava com um operário no poder e não desejava ver o Brasil crescer.

Agora, o Governo está alarmado com a aceleração do desemprego e os sindicalistas fazem manifestações de protesto na ruas. Mais de 700 mil postos de trabalho escorreram pelo ralo e o dinheiro em caixa está ficando pequeno.

O ministro da Fazenda briga com o presidente do Banco Central. Deseja baixar a Taxa Selic, pois acha que aumentando a oferta de crédito, acelera a economia. É algo como apostar na abertura de novos açougues para resolver o problema da falta de carne.

É espantoso que um ministro da Fazenda – professor universitário na área de economia e finanças – não conheça a lição básica de que o crédito resulta da expansão a economia, não o contrário. Dinheiro não nasce em árvores, fora da história de Pinóquio. Aliás, sem nenhuma alusão...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Conspirações judaicas - Jayme Copstein

No fim do século 19, quando a França construía o metrô de Paris em meio a acesas discussões políticas, o antissemitismo que já havia produzido o Caso Dreyfus levantou a acusação de que os judeus queriam construir o sistema subterrâneo de trens para explodir as cidades dos cristãos.
Quando alguém alegou que os judeus também morreriam na explosão, a resposta foi: seriam avisados a tempo para se porem a salvo.

A idiotice, incluída nos Protocolos dos Sábios do Sião, fraude racista arquitetada pelos serviços secretos russo e francês, era repetida com ares de esperteza pelo integralista Gustavo Barroso, o sumo sacerdote do nazismo no Brasil. Era a prova acabada do complô judeu para dominar o mundo.

Pois agora, difundida pela agência Folha Press, outra idiotice semelhante ganhou manchetes de jornais, noticiando um software israelense – programa de computador – que agiria “nos bastidores da internet, modificando resultados de enquetes on line, entupindo caixas de e-mails de autoridades e ajudando a protestar contra notícias desfavoráveis à comunidade israelense”. Mais: “com poucos cliques, (e sem dominar o idioma da página em questão), é possível influenciar uma pesquisa no site do Yahoo ou mandar um notícia sobre mísseis palestinos para a ONU”.

Afora a baboseira de a ONU e demais instituições internacionais e governamentais elegerem o Yahoo ou a Wikipedia como fonte de informações para decidirem suas posições, a notícia consegue o milagre da onisciência: mesmo não conhecendo idiomas, o militante sionista é capaz de detectar e modificar qualquer coisa escrita, do tulugu ao bretão.

Quem já tentou traduzir textos para o português, usando programas de computador, sabe das risadas que deu com o resultado. Já houve quem tivesse obtido a informação de que The Gay-Lussac’s Law é uma lei do “homossexual Lussac regulando relacionamentos matemáticos”.

A dificuldade – até impossibilidade – da informática para “humanizar” o computador é não conseguir programar máquinas para sentir emoções. Daí porque se alguém puser no Google “textos a favor de Israel”, vai encontrar também textos desfavoráveis, como na página “Desabafo Brasil” (http://desabafopais.blogspot.com/2009/01/ir-fecha-jornal-por-publicar-artigo.html), de militantes petistas, engajados na candidatura presidencial da ministra Dilma Roussef:
“Irã fecha jornal por publicar artigo a favor de Israel” – uma contribuição atribuída a um gerente da Caixa Econômica Federal que parece ter acrescentado aos encargos de seus executivos o de tomar oficialmente partido em conflitos internacionais.

O computador encontrou a expressão “a favor de Israel”, sem distinguir o que significava no contexto da frase. A máquina é incapaz de identificar emoções, se a notícia era a favor ou contra Israel. O espantoso é essas patetices encontrarem guarida nos jornais, fora da edição de 1º de abril. Não faz muito, acusava-se Israel de ter desenvolvido um vírus que atacava apenas pessoas com DNA árabe. Os geneticistas sabiam que era absurdo, mas não se ouviu uma voz desmascarando a difamação. Tal como aconteceu na Alemanha, durante o Holocausto.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A cor do debate

Em um ponto, o ministro Tarso Genro tem razão: as discordâncias no debate sobre o asilo concedido ao italiano condenado por quatro assassinatos em seu país são ideológicas.

Não podia ser de outra maneira. A decisão do governo brasileiro, de assegurar impunidade a um criminoso “por motivos políticos”, é meramente ideológica. Não fosse assim, por similitude e equidade – dois princípios gerais do Direito – não haveria por que o próprio ministro exigir a punição de torturadores e assassinos de regimes totalitários porque todos eles tiveram motivação política.

Nem cabe, no caso, a analogia que Tarso Genro pretendeu fazer, em entrevista à Folha de São Paulo, com o episódio envolvendo Salvatore Cacciola, cidadão italiano protegido da extradição em seu país, como, de resto o são cidadãos brasileiros autores de crimes no exterior. É também por todos conhecida a novela da extradição de Cacciola, de Mônaco para o Brasil, esticada pelo desleixo da documentação apresentada de início para fundamentar o pedido.

Cabe menos ainda buscar o exemplo do padre Medina, participante das Farc e refugiado no Brasil. A militância política nunca foi prova de autoria de crimes comuns, ainda que muita gente por isso tenha ido parar no “paredón”, como o ministro bem sabe e do que, notoriamente, discorda com veemência.

A analogia cabe, sim, com o caso dos dois boxeadores cubanos, devolvidos a Cuba porque “não pediram para ficar” – palavras textuais do ministro. Com toda a certeza, não apresentaram requerimento com firma reconhecida, tradutor juramentado e duas testemunhas, na forma da lei.
Por isso, e só por isso foram entregues a Cuba.

Calamidade pública

A situação calamitosa do ensino superior no Brasil está retratada em artigo de Rogério Gentile, publicado ontem na Folha de São Paulo. Menos de dois por cento (76) dos 5459 bacharéis que se candidataram em concurso para preencher as 183 vagas de juiz de Direito no Estado de São Paulo, foram aprovados.

No Rio de Janeiro, o quadro é mais estarrecedor: só três aprovados de 2019 candidatos a 50 vagas.

No Rio Grande do Sul, no último concurso em 2003, dos 4472 candidatos inscritos, apenas 52 foram aprovados. A situação também não é nada animadora.

Estes números apenas escancaram o caos da educação superior no Brasil, onde a qualidade do ensino foi substituída pela quantidade de diplomas. De 1995 para cá, só os cursos de Direito mais que quadruplicaram.

Explica-se, pois, porque faltam juízes e sobram litigantes, delinqüentes e impunidade.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Hora do Isac

Pelo visto, com as claras apreensões do governo sobre a falta de dinheiro para fechar as contas, chegou a hora de se criar no país o Imposto Sobre Asneiras e Conexos. Não se tem ideia de qual alíquota seria razoável. Por mínima que fosse já aliviaria o caixa a notícia de que a Receita Federal, por distração, há dez anos não cobrava a contribuição previdenciária sobre o aviso prévio indenizado.

O governo não falou em “distração” nem em bagunça, a palavra mais apropriada. Apenas justificou com “harmonização técnica da legislação” o decreto repentino, restabelecendo a cobrança, no mesmo dia em que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ameaçou punir as empresas que demitirem trabalhadores e se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para estudar medidas contra o desemprego.

É reconhecido o talento do ministro Carlos Lupi para criar empregos, apesar de não ter sido bem sucedido na sua tentativa de acumular a presidência do PDT com o Ministério do Trabalho. Por mais duvidoso que decretos possam conter a crise mundial e suas consequências, o talentoso ministro conseguiu convencer o Presidente a cobrar a contribuição em todas as demissões havidas nos últimos cinco anos.
Como vai se apurar e exigir pagamento de contribuição sumida da lei em virtude de “desarmonias” e também como tudo isso conseguirá passar pelos tribunais é façanha que a varinha de condão do criativo ministro ainda não conseguiu produzir.

Questão de coerência - Jayme Copstein

O ministro Tarso Genro andou fim de semana pela terra. Na agenda, o puxão de orelhas no prefeito de Canoas, Jairo Jorge, por ter acolhido Cesar Busatto no secretariado municipal. O que foi dito, a imprensa não deu conta, mas a nomeação deve ter desagradado o ministro e o PT gaúcho pela repercussão do trucidamento de Busatto no canhonaço desferido pelo governador Paulo Feijó, cujos 15 minutos de fama já se esgotaram.

Por outra coisa não foi. O ministro já está curtido de conviver, no plano federal, com figuras que fazem de Busatto um coroinha apanhado em pecados veniais. No balanço das contas, “dinheiro não contabilizado” é pura questão de nomenclatura.

Justiça seja feita, o PT gaucho sempre se recusou a essas proximidades, daí a pecha de radicalismo aos seus dirigentes e militantes. Não obstante, faltou coerência antes da eleição de Jairo Jorge, quando foi aceita participação do PPS, o partido de Busatto, na coligação que elegeria o prefeito de Canoas. Hora de dividir cargos, era também a de vetar nomes. Não agora.