segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Soma fatídica – Jayme Copstein

O ministro do Desenvolvimento Agrário quer "atualizar" os índices de produtividade do agronegócio para tirar a terra de quem produz É isso mesmo. Quer "atualizar" como se fosse taxa de câmbio, o que denota ignorância. Pior ainda, por obsessão ideológica, como se fazia com a História na extinta União Soviética, quando se "atualizava" a biografia de personagens, cuja importância crescera mais que o permitido.

Se o ministro tivesse falado em "corrigir" índices de produtividade poderia ser levado a sério. A produtividade do agronegócio varia para cima ou para baixo – algumas vezes tem de ser programada – segundo um conjunto de fatores, variando de condições da meteorologia à demanda do mercado, supervalorizando ou derrubando a cotação dos produtos. Ao se casar a ignorância com a obsessão ideológica, não se olha para o passado, quando o agronegócio brasileiro não era o prodígio de hoje, contribuindo com mais de 45% do PIB, mas uma caravana de oligarcas tão vorazes pelo dinheiro público quanto os demagogos de hoje, sequiosos de dividendos eleitorais e as benesses que propiciam.

As consequências de tais desvarios todos conhecemos de sobra. No Brasil, sobra memória das sucessivas crises do café, do algodão e da cana de açúcar – isso para se falar apenas em três produtos da linha de frente – que endividavam o lavrador e arruinavam a economia. Foi necessário um esforço gigantesco, atualizando – aqui cabe dizer – o ensino da agronomia e a pesquisa científica, estimulando a modernização tecnológica e introduzindo uma visão da economia de mercado.

O incrível é que o ministro do Desenvolvimento Agrária queira devolver a Nação à ignorância dos antigos oligarcas, misturada às suas obsessões ideológicas. São parcelas cuja soma é sempre fatídica.

A enésima potência – Jayme Copstein

Idiotice jurídica, produto da calhordice colonizada e sempre em busca do atestado de bom mocismo, acaba de ser perpetrada no Direito brasileiro: abusos sexuais só serão processados criminalmente se a vítima apresentar queixa. Acaso a Polícia tem sido convidada de honra dos estupradores e pedófilos para assistir à violência, colher provas e remeter ao Ministério Público para denunciá-los? Ou os processos ora em curso nos tribunais contra este tipo de criminosos não começaram com queixas das vítimas ou de seus representantes à Polícia?

É que por trás da idiotice esconde-se a maroteira que se vale da ingenuidade do bom mocismo calhorda, hoje predominante no Direito brasileiro: todos os processos por crimes sexuais, ora em curso na Justiça, só terão prosseguimento se as vítimas confirmarem suas queixas, no prazo máximo de seis meses. Se for o caso que a vítima tenha morrido depois, por causas não vinculadas diretamente ao crime que sofreu, o processo é extinto. Ela não tem como ratificar a denúncia.

Não se vai considerar outro absurdo, o de revogar a proibição de sustar processo criminal, após a denúncia do promotor de Justiça, por ter a causa se tornada causa pública. Por trás de tudo, deve ter alguém com poder suficiente para mudar a lei e livrar–se da punição por seus desatinos. Como perguntar não ofende – não devia, pelo menos – para que temos um Judiciário, se a malícia de uns e a ingenuidade de outros o estão transformando em mero cartório para certificar a impunidade elevada à enésima potência?

domingo, 30 de agosto de 2009

Jim Jones e o Brasil – Jayme Copstein

Chamam atenção pessoas com inteligência acima da média se deixando levar pela "onda" de fechar o Senado, para combater a corrupção de dúzia e meia de cafajestes que elas próprias elegeram. A idéia nasce da súbita inspiração de alguém, como se fosse recado dos céus, e contamina parte da opinião pública, tornando o combate ao pecado mais virtuoso que a própria virtude que se deseja restabelecer.

O mais interessante é a perplexidade desses mesmos apóstolos da moral pública quando um Jim Jones da vida induz mais de 900 pessoas ao suicídio, como aconteceu em 1978, porque os deuses lhe disseram que era necessário fechar o mundo para restabelecer o Reino dos Céus.

Como alguém pode ser tão desatinado e ainda encontrar seguidores – é a pergunta. É o mesmo delírio por trás de soluções simplistas, como a de acabar com as instituições da democracia para combater a corrupção de poucos. Descamba-se sempre para a ditadura, o suicídio político das massas.

A propósito

O demônio agora chama-se Zé Sarney? Antes, foi Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Renan Calheiros. Os Jim Jones da política brasileira realmente crêem que mão mais existiriam os Sarneys se de cada vez tivessem fechado o Senado?

Sarney Primeiro e Único

Já é a terceira vez que Sarney preside o Senado, ao qual voltou, após deixar a presidência da República, mediante fraude de domicílio eleitoral, com aval do Judiciário. Mesmo após ter jogado literalmente no lixo as esperanças da Nação com o estelionato do Plano Cruzado, Sarney continuou manipulando os cordéis porque Fernando Henrique aceitou seu apoio duas vezes e Lula outras duas, querendo ainda uma terceira, através de Dilma, para poder voltar em 2014.

Tudo aconteceu, as reeleições de Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva com votações acachapantes, sob o silêncio, ora de uns, ora de outros, conforme as conveniências políticas. Quando a Polícia Federal levantou a ponta do tapete onde se amocambam as falcatruas da Família Sarney, expondo os dinheiros "não contabilizados" de Roseana e seu marido Jorge Murad, os petistas estavam com os braços abertos para receber uma "biografia de respeito", palavras de Lula. À qual se acrescentava, palavras de Zé Sarney, a dor de um pai de coração dilacerado pelas ofensas à sua inocente pimpolha, cujos planos de fazê-la presidente da República se frustravam.

Agora, porém, quando petistas mais sensíveis, que na ocasião festejaram a habilidade de Lula para costuras políticas, adivinham que Sarney pode tirar em vez de trazer votos, ele volta ao seu verdadeiro currículo. De onde o tiraram aqueles que, exaurida a sua utilidade, para lá o querem devolver.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O sentido das coisas – Jayme Copstein

O deputado do PSOL do Rio de Janeiro, Chico Alencar, cunhou frase lapidar sobre a projeto aprovado pela Câmara Federal, habilitando religiões às benemerências públicas, sem qualquer outra formalidade que a da ata de fundação, "É o supermercado da fé. Templo é dinheiro!". Faz sentido.

Bush e Sarney

"Bush, sem outra justificativa para o atoleiro em que se meteu no Iraque e no Afeganistão, levantou a tese de que era em nome da democracia que ele fazia a guerra. A tese das armas de destruição em massa não pegou." Zé Sarney cunhou esta frase lapidar em seu artigo de ontem, na Folha de São Paulo. Faltou lapidá-la com: "E eu acomodei a família e os amigos pelo bem do Brasil." Faria todo o sentido.

Liberdade para reprimir

A Polícia de Hugo Chavez dispersou com jatos de água e gás lacrimogêneo manifestação em Caracas contra a nova Lei de Educação que transforma o ensino na Venezuela em mero órgão doutrinador, a exemplo do que ocorreu noa regimes de Hitler e Stalin. Por tão glorioso feito, Chavez condecorou o chefe da operação, coronel Antonio Benavides, com a Ordem de Simon Bolivas. Premiar a repressão à liberdade de expressão com a medalha do Libertador faz sentido...

Francenildo e Palocci

A absolvição de Antônio Palocci pelo STF, da acusação de quebra do sigilo bancário do caseiro Fracenildo Costa, apenas consagra o vale-tudo vigente no país contra pessoas humildes. O motivo do crime – e crime foi – é dos mais pífios: garantir o sigilo sexual do ex-ministro da Fazenda. A decisão do STFa dizer: "Ora, um caseiro...". Eis um bom slogan para a campanha de Palocci ao governo do Estado de São Paulo. Faz sentido.

Ditos e achados

"O meu receio é que se formos aplicar o Direito Penal nestes casos, um terço dos brasileiros vai parar na cadeia." Ministro Cezar Peluso, do STF, ao invocar o principio de que não se deve aplicar a lei penal quando a norma civil é suficiente.

Há controvérsias. Pusessem a centésima parte na cadeia, todo o resto entraria na linha. Vigorando a impunidade, porém... faz sentido o que disse o ministro Peluzzo.

Mural

Sobre o Pontal do Estaleiro, HCN escreve: "O município de Porto Alegre está "condenado" por causa do Lago Guaíba. Como o Rio com sua baía e seu oceano, POA também está  "encurralado". Ambos não possuem "retaguarda", limites variáveis para "recuar" o que significa crescer. Ambos não sabem o que fazer da fronteira aberta (oceano, lago). Comparando, Rio perde feio para Sâo Paulo que cresce em todas as direções. Qual o comparativo com POA? Provavelmente Caxias do Sul.  Lá,  vez por outra ventilam: Caxias vai ultrapassar POA décadas adiante; Caxias tem tudo a ver com São Paulo (em espírito). O que é ventilado em POA a respeito das décadas adiante? Nada! O que se passa com POA? Cansaço prematuro; crescer vegetativo. O que causa o cansaço de POA? Falta de especialismos e falta de generalismos. Caso de cansaço sem causa: estádio Beira Rio de 1969 não teve cobertura em 2009. Caso de cansaço estúpido: transporte Coester abandonado, não evoluído."

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os Kennedy e os deuses – Jayme Copstein

Oscar Wilde em "O marido ideal" escreveu: "Os deuses quando nos querem punir, atendem nossas preces". A frase cabe à maior parte das tragédias humanas e parece feita sob medida para a família do patriarca norte-americano, Joseph P Kennedy. Ele concebeu para os filhos uma trajetória política com linha de chegada na Casa Branca. Resultou uma saga da qual o último capítulo encerrou-se anteontem com a morte do senador Edward Kennedy – Teddy -- vitima de câncer cerebral, o único dos quatro rebentos do patriarca a encerrar sua vida na velhice e por causas naturais.

John Kennedy, o único que realmente chegou à Casa Branca, testemunhou publicamente sobre a premeditação do pai: "Tal como ingressei na política porque Joe morrera, se alguma coisa me acontecesse amanhã, Bobby (Roberrt) iria para a minha cadeira no Senado. E se Bobby morresse, nosso irmão mais novo, Ted (Edward), assumiria em seu lugar."

De fato, foi assim que aconteceu até certo ponto. Joe – Joseph P Kennedy Jr –o mais velho dos quatro irmãos, pereceu muito jovem na Segunda Guerra Mundial. Ao dizer aquelas palavras, em 1959, John Kennedy ainda era senador por Massachusetts, mas já se podia antever, pelo carisma pessoal e pela pregação de mais justiça para todos, o futuro presidente dos Estados Unidos. Ainda que hoje possam soar como profecia, ele expressava a preocupação com o tributo cobrado pelos deuses para atender as preces do Joe pai. Eleito presidente, John Kennedy deveria ter sido substituído no Senado pelo irmão Robert, mas este preferiu ser o procurador geral de seu governo e declarar guerra à Máfia, que havia apoiado a campanha de John. Especulou-se muito sobre o assassinato de John, mas ainda que o enigma jamais seja decifrado, aí provavelmente está a chave do mistério. O gângster Jack Ruby, liquidando Lee Oswald, o indigitado assassino de John, dá consistência à hipótese.

Não tendo Robert não ocupando a cadeira de John no Senado, um amigo dos Kennedy, Benjamin Smith II, foi escalado para fazê-lo, enquanto o caçula Edward não completava os 30 anos, limite mínimo de idade para eleger-se senador. Só tinha 28 anos na época e mesmo no seio da própria família seu comportamento não era muito levado a sério. O apelido de infância – Ted (ursinho) – teve origem em traquinices que se prorrogaram pela mocidade afora.

Quando Robert foi assassinado em plena campanha para a presidência, em 1968, tocava a Ted a vez de tomar o rumo da Casa Branca, mas no ano seguinte, depois de ter participado de churrasco em Chappaquiddick, encharcado de bebida, saiu com Mary Jo Kopechne, ex-assessora do falecido Robert. Ao passar por uma ponte estreita, o carro caiu na água, Ted conseguiu salvar-se, mas a moça morreu afogada. Só dez horas depois o acidente foi comunicado à Polícia. O acidente jamais foi totalmente esclarecido e suspeitas do que pudesse ter ocorrido sempre pesaram e impediram que, mais tarde, ele conseguisse sequer disputar a indicação do Partido Democrata para candidatar-se à presidência.

Nos últimos 20 anos, as lembranças de todas estas as tragédias pesaram para que assumisse a responsabilidade, nada pequena, pelos destinos da sua família e também se devotasse ao serviço da Nação. Foi quando Edward Kennedy tornou-se exemplo de cidadão e inscreveu seu nome entre os melhores senadores da história dos Estados Unidos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sarney, Quintana e a Academia – Jayme Copstein

Zé Sarney, cujo governo de triste memória já pôs na lata do lixo decênios da História brasileira, fez uma afirmação incompleta, anteontem, ao responder a interpelação do senador Eduardo Suplicy, sobre a sua disposição de jogar fora o que nos resta de história. Sarney discursava relembrando o Euclides da Cunha, quando Suplicy apelou para que renunciasse à presidência do Senado e pusesse fim à crise que paralisa o Congresso.

Foi neste momento que Sarney disse: "Sou membro da Academia Brasileira de Letras...". Faltou acrescentar, com a mesma empáfia: "E o poeta Mário Quintana não é por que eu impedi."

Já contei a história muitas vezes. Quintana candidatara-se com o apoio de intelectuais gaúchos. Ninguém sabia, no Rio Grande do Sul, a topografia do caminho que, então, abria aquelas portas. Pensava-se, com simplória ingenuidade, em algum chavão latino, como "ars, scientia et virtus". Acabamos convencidos de que nem mesmo ao velho Machado se respeitava. Prevalecia: "Ao vencedor, as batotas!", com perdão do trocadilho.

Orientado por Vianna Moog, então o único gaúcho na Academia, o poeta cumpriu todo o ritual exigido. Foi ao Rio de Janeiros, fez visitas protocolares e voltou para o Rio Grande do Sul, certo, como todos nós, de que obtivera o número de votos necessários. Seu concorrente mais próximo era Carlos Castello Branco, grande nome do jornalismo, mas sem a sua importância literária.

Nas vésperas da eleição, Quintana recebeu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o título de professor "honoris causa". Estava feliz e eufórico como nunca. Concluída a cerimônia, um repórter lhe perguntou, sem malícia, já que agora parecia ter descoberto o caminho de ingresso à Academia. Quintana, fazendo humor, respondeu que dependia do "QI" – quem indica. O Globo publicou a piada no dia seguinte.

Ninguém viu maldade nela. A não ser José Sarney, cabo eleitoral de Castello Branco, que distribuiu cópias da reportagem para todos os acadêmicos, na hora da votação. Vianna Moog tentou aparar o golpe. Esforçou-se para sustar a votação, para que o incidente fosse explicado. Em vão.

No dia seguinte, o Jornal do Brasil publicava telefonema de Sarney a Castello Branco, dizendo: "Missão cumprida". Uma façanha, com toda a certeza, mas da qual não se pode separar a perfídia cometida.

Sarney cometeu um equívoco em relação a Castello. Não percebeu que a integridade pessoal, mais do que o reconhecido talento, é que o tornava um ícone do jornalismo. Quando quis cobrar a conta, não levou. Nada lhe tinha sido pedido, ninguém lhe devia nada. Foi criticado por Castello por suas mambiradas e ficou possesso.

Muitos anos depois, Sarney veio a Porto Alegre e fez questão de encontrar Quintana. Eu soube depois do caso passado. Perguntei ao poeta se ele não se sentira constrangido. Respondeu-me: "Não, não me senti. Ele foi muito gentil comigo!".

Foi quando tive certeza de que "Anjo Malaquias" era autobiográfico.

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do sim e do não – Jayme Copstein

Aloizio Mercadante segue rumo equivocado, para explicar a revogação da irrevogável renúncia à liderança do PT. Pede que lhe conheçam "razões mais profundas" e alega a impossibilidade de dizer "não", quando Luiz Inácio Lula da Silva argumenta que a caminhada é maior que dificuldades e divergências.

Esta, porém, é a mensagem do filme, "A onda", ora em exibição nos cinemas, ao mostrar o que acontece quando a "causa" se torna maior que o ideal e os meios se sobrepõem ao fim. Foi a alegação dos criminosos de guerra no Tribunal de Nuremberg. Como cá nos trópicos somos mais modestos, na verdade o que aconteceu em todo o episódio é que Lula não consegue dizer "não" nem a Zé Sarney.

Pontal do Estaleiro

Como bem argumentou o jornalista André Machado, em recente artigo na Zero Hora, o "sim" desta consulta sobre a permissão de se construir prédios residenciais no Pontal do Estaleiro não se diferenciava do "não" porque a empresa interessada na área já havia manifestado seu desinteresse no segundo projeto. Fica apenas com os empreendimentos comerciais, suficientes para retribuir o investimento feito.

Confesso que o debate havido não conseguiu me convencer nem dos prejuízos nem dos benefícios que haveria com o projeto residencial. Como sempre, foi mera troca de desaforos apaixonados, sugerindo que a questão talvez se resolvesse melhor em um Grenal. Desde o princípio, porém, desagradou-me a sede com que foram ao pote, no atropelo do processo legislativo, na tentativa de aprová-lo na Câmara Municipal. Era preciso dizer "não" àquilo, pela mesma razão que se exige do senador Mercadante: nenhum fim justifica o meio.

Voto nulo

A quem me perguntar se espero consertar, já não digo o mundo, mas apenas o Brasil, tarefa que me parece ainda mais difícil, só posso responder que me pareço com aquele camarada do Evangelho que tentava esvaziar o oceano com um dedal. Não o faço pela esperança, apenas pela consciência.

Vale o raciocínio quando se analisa também a campanha ressurgente em todas as eleições, da inutilização do voto para anular a eleição. Não se precisa ir muito longe para aquilatar o tamanho da sandice: dos 1.039.635 eleitores de Porto Alegre, votaram apenas 22.619. Ou seja, pouco menos de 2% decidiram em nome de mais de 98%.

Ao contrário da gripe A em que lavar as mãos é um dos rituais importantes para evitar sua propagação, quando se quer combater a corrupção suína que assola o Brasil, o essencial é não lavá-las. A não ser que se deseje fazer como Pilatos que entrou no credo justamente por se omitir. Alguém já pensou em deixar meros 22 mil votantes escolherem o prefeito e todos os vereadores de Porto Alegre? Ou apenas 150 mil (cerca de 2%) "nomearem" 55 deputados estaduais, o governador, 2 senadores e 31 deputados federais, em nome dos 7.940.249 eleitores inscritos no Rio Grande do Sul?


 

 

domingo, 23 de agosto de 2009

Duas semanas de agosto – Jayme Copstein

Esta semana e a próxima são historicamente importantes por se completarem 70 anos do início da II Guerra Mundial. Mesmo passado tanto tempo, as duas semanas permanecem no centro do debate que jamais cessou, \em torno de acontecimentos considerados chaves no desencadeamento do conflito.

Adolf Hitler tinha se jogado em uma aventura por cujas conseqüências seus próprios generais temiam. Os historiadores e comentaristas de ambos os lados concordam que qualquer reação teria acabado com Hitler, a partir de março de 1934, quando ele ordenou a remilitarização da Renânia, pondo no lixo o Tratado de Versalhes, até setembro de 1938, quando obteve da Tcheco-Eslováquia, por imposição da Inglaterra e da França, a região dos Sudetos.

Na Renânia o próprio batalhão aduaneiro francês seria suficiente para rechaçar os mal equipados e treinados soldados alemães. Ninguém se mexeu. Na anexação da Áustria, bastaria uma ação diplomática enérgica para sustar a ocupação, tanto assim que Hitler só se encorajou depois de ouvir a concordância de Mussolini, a qual agradeceu em célebre telegrama, no qual afirmava que nunca esqueceria o apoio recebido: "Nunca, nunca, nunca", escreveu. No caso dos Sudetos, os generais já se preparavam para prender o Fuehrer quando chegou outro telegrama, também célebre, do primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain, propondo a conferência em Munique e o consequente apaziguamento.

A partir deste ponto, as opiniões se dividem quanto à responsabilidade pelo curso dos acontecimentos. Acusa-se Stalin de ter dado carta branca a Hitler quando com ele entrou em conluio no Pacto Nazi-Soviético para retalhar a Polônia. Os russos se defendem com a tese de que o apaziguamento de Hitler era caso pensado das nações ocidentais, para que o confronto entre a Alemanha e a União Soviética enfraquecesse os dois países, para melhor dominar a Europa. Como prevenção contra os nazistas, era preciso avançar a linha de defesa até metade da Polônia.

Tudo pode ser afirmado e contraditado porque a elasticidade é a virtude e também o defeito das palavras. Hitler em "Minha Luta" expressou claramente que "o espaço vital" para o desenvolvimento da Alemanha estava no Leste, o que significava toda a porção européia da URSS, uma imensidão de terras de cultivo e caudais de petróleo. Contudo, Stalin não temia as ambições de Hitler e surpreendeu-se quando foi atacado por ele. Fez todos os esforços para incluir a URSS no Eixo com a Alemanha, a Itália e o Japão e quase o conseguiu, mas as negociações não chegaram a bom termo por um detalhe: o domínio dos estreitos do Mar Negro (Bósforo e Dardanellos), para assegurar a presença no Mar Mediterrâneo, uma das mais antigas aspirações russas. Os alemães e os italianos não aceitaram.

Tudo isso tem sido alegado para se afirmar que a História seria outra, se não tivesse havido o Pacto Nazi-Soviético de agosto de 1939, costurado nestas mesmas duas semanas, passados agora 70 anos. Que a História seria outra, todos podemos ter certeza. Mas que outra História seria, é impossível de se dizer. Seria mera profecia.

Do que aconteceu, restou o depoimento mudo dos mais de 60 milhões de mortos que se calcula tenham sido vitimados pela II Guerra Mundial. Bem mais da metade foram civis indefesos, trucidados por bombardeios ou abatidos por doenças, fome e frio.     

sábado, 22 de agosto de 2009

As cuecas da salvação – Jayme Copstein

Pois estava eu em busca de um assunto para este domingo tão parado, quando me defrontei com umas cuecas salvadoras. A princípio – ou em um primeiro momento, como está em moda dizer-se – assaltou-me verta dúvida: encerrando-se uma semana agitada em que o senador Aloízio Mercandante foi personagem central de acidentado episódio da nossa vida política, fiquei pensando que algum maledicente pudesse me acusar de requentar o histórico capítulo das cuecas dos dólares, de que o ilustre líder também foi protagonista importante.

Longe de mim tal crueldade. As cuecas de que falo são outras e nem eram brasileira. Pertenciam ao advogado norte-americano Ben Lipscomb, que vive no Estado de Arkansas e nem se mete política. Aliás, nem politicamente correto ele é: fanático por caçadas, embrenhou-se em uma floresta inundada da Reserva Hollowell para caçar patos e acabou perdido.

Aí é que entram as cuecas. Após 12 horas tentando achar o caminho de volta, bebendo água suja e comendo peito cru de pato selvagem, Lipscomb quase se desesperou porque o helicóptero da Polícia Estadual, que já andava à sua procura, não conseguia enxergá-lo, por mais que abanasse e gritasse. Como estava vestindo roupa de caça com camuflagem, para não ser visto pelos patos, estava invisível também para a Polícia.

Foi quando Lipscomb teve a idéia salvadora. Despiu-se e pendurou as cuecas – por sorte, brancas – na ponta do rifle e, aí, sim, não tardou a ser avistado e resgatado. Ele não fez nenhum comentário especial sobre o estratagema de que se valeu para escapar da floresta, mas o professor Enro Loll, o conhecido teórico das Coisas, Coisinhas e Coisadas, filosofou: "Estas cuecas valem milhões". No que todos temos de concordar, apesar de as cuecas em questão não transportarem dólares. Como foi judiciosamente advertido aos leitores no início desta crônica, elas nada têm a ver com o senador Aloizio Mercandante. Como ele próprio diz, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Onde tudo começa - Jayme Copstein

Chegou ao Supremo Tribunal Federal ação de um funcionário da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, para manter aposentadoria conseguida em 1998, porém cassada pelo Tribunal de Contas da União por incluir "tempo de serviço em atividade rural" sem recolher a respectiva contribuição. O ministro Celso de Mello concedeu liminar para garantir ao interessado o recebimento do benefício, aceitando a alegação de que o TCU só o cassou nove anos após a concessão, o que "consolidou justas expectativas".

Aí está estampado, em retrato de corpo inteiro, o espírito com que se enxerga coisa pública no Brasil. Já não se está falando das cerca de 835 mil bolsas família postas sob suspeita pela auditoria do próprio TCU, algumas das quais o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, apesar de comprovar a ilegalidade, manteve porque "apenas" alguns imóveis de parentes mais abonados tinham sido escriturado em nome dos "coitadinhos".

Não é disso, apesar de merecer, que se está falando, repita-se. É de alguém alegando, em pleno século 21, como tempo de trabalho para mamar nas tetas generosas da mãe-pátria, o heroísmo de ter os últimos anos da infância e adolescência, vividos com a família em área de agronegócio, como se ainda estivéssemos na pré-história, sem rádio, tevê, celular, satélite, rodovias, transporte aéreo, apenas dispondo de carroças e enfrentando índios ferozes, como os pioneiros do faroeste.

O ministro Celso de Mello não considerou a legalidade ou ilegalidade da aposentadoria – deveria ser cobrada de quem a concedeu – mas manteve o respectivo pagamento, até análise posterior, sabe-se lá quando (fazia já dois anos que a questão jazia no STF), porque os nove anos decorridos, até que o TCU reconhecesse a ilegalidade do benefício, gerou "justas expectativas". A aceitar-se tal raciocínio, qualquer ilegalidade, do estelionato ao latrocínio, demandando tempo para ser resolvida após os longos anos de tramitação que a infinidade de recursos impõe nos tribunais, estaria legitimada por decurso de prazo.

O problema é a aceitação deste estado de coisas. É aí onde tudo começa. Sarney é presidente do Senado pela terceira vez e o jornalista Pimenta Neves continua liberdade, apesar de ter matado premeditadamente, há nove anos, sua colega Sandra Gomide, por motivo fútil e sem lhe deixar oportunidade de defesa ou de fuga. Em compensação, foram presas duas inglesas, vigaristas amadoras, para mostrar que este país tem lei. Estão pensando o quê?

Mercadante – Jayme Copstein

Em "O amante de Lady Chaterley", o escritor inglês D. H. Lawrence refere-se ao tributo voraz, cobrado pela Deusa Cadela de quem é devoto do sucesso. No Brasil, o sucesso chama-se poder. A política é a Deusa Cadela. Não conheço pessoalmente o senador Aloizio Mercadante. Do que tenho lido a seu respeito, ao longo dos anos, não o apontaria como exemplo de brilho intelectual ou líder competente. Comove-me, porém, a sua figura melancólica de guerreiro derrotado em uma batalha, humilhado pelos vencedores. Sair da liderança da bancada e curtir as amarguras no ostracismo era o caminho da dignidade. Forçá-lo a voltar ao comando no qual o desautorizaram, equivale ao estupro com que políticos iraquianos destroem moralmente seus adversários. Isso não se faz com um ser humano.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Aviso aos navegantes – Jayme Copstein

A absolvição de Arthur Virgílio e Zé Sarney no Senado e a condenação das duas turistas inglesas no Rio de Janeiro é aviso aos navegantes: proibida a entrada de estranhos ao serviço.

O moedeiro

A benevolência de Ricardo Berzoini, presidente do PT, relativa à desfiliação da senadora Marina Silva soa como moeda falsa: o conflito ético e ideológico é a única hipótese em que o dissidente leva o mandato consigo. Berzoini sabe que nem adianta estrilar. O mesmo vale para Flávio Arns. É jogo de cena.

A propósito

Ao subjugar a bancada à governabilidade, Berzoini moeu e esfarinhou o PT: Flávio Arns retira-se também por razões éticas, Aloizio Mercadante, desmoralizado publicamente, renunciou à liderança no Senado. Delcídio Amaral e Ideli Salvatti ficaram com cara de quem tomou purgante. Berzoini já tem façanha para esconder dos netos.

Zé Dirceu, sempre

Zé Dirceu montou num porco com o desligamento da legenda, anunciado por Flávio Arns. Chegou até a perder a memória, ontem, às 11h15 da manhã, ao publicar em seu blog "(...)[Arns] deve lembrar-se que sempre defendemos as investigações e a punição para os responsáveis (...)". O problema deste sempre é a imagem da deputada Ângela Guadagnin, interpretando a coreografia do "Balé do Mensalão", que correu mundo pelo You Tube como "Big monthly bribe dance", sob os olhares sorridentes dos petistas presentes à Câmara dos Deputados. Serás que o coleguinha de Zé Sarney, Collor de Mello e Renan Calheiros anda comendo muito queijo? Dizem que deixa a gente esquecida...

Coisas & Loisas

O professor Enro Loll, catedrático da Sleevetea University of Big River e genial formulador da Teoria das Coisas, Coisinhas e Coisadas, ficou deveras impressionado com a explicação do "Gaúcho da Copa", sobre os 15 mil reais do Tesouro do Estado, verba da Casa Civil da governadora Yeda Crusius: "Conscientizar os africanos da importância da Copa de 2014". O professor acha que a notável missão evangelizadora do "Gaúcho" deve prosseguir agora com os esquimós, no Pólo Norte, e os patagões, no Sul da Argentina, incluindo na explicação a importância da bolinha de gude. "Bola, bolinha, bolita -- tudo que rola, enrola e desenrola é vital para a sobrevivência da espécie", Enro Loll explica com sua peculiar transparência.

Folclore

Por falar em bola, beleza aquela musiquinha do tatu-bola: "Era uma vez um tatu bola,/ pra bola se enrola,/pra tatu, se desenrola!". Está no blog da Elizinha Rocha. Ou então, "O Tatu me foi à roça,/ Toda a roça me comeu; / Plante roça quem quiser, / Que o tatu quero ser eu". Só que, depois da transparência, vai ficar difícil para o Tatu.

Mural

Luís Lander escreve a propósito de "Polvilho no ventilador" (19.08):: "Todas estas 'notícias' sobre os enganos de Dilma Roussef alcançarão o propósito perfeito, muito bem arquitetado, de nos oferecer entre os presidenciáveis do Partido Absoluto Perfeito Honesto Trabalhador, o sr Palocci, desde que inocentado naquele pequeno deslize de mandar devassar uma conta corrente de um caseiro, que mesmo sendo triturado em particular até hoje, permanece firme no seu propósito, aliás o único honesto que tenho notícia há tempos."

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Teorias e práticas da Anvisa - Jayme Copstein

Não há o que se criticar, em tese, na recente portaria da Anvisa, proibindo a exposição de medicamentos, sejam eles quais forem, ao alcance dos consumidores em farmácias e drogarias. A intenção é dificultar a automedicação, esporte cultivado com gosto pela nossa população, tanto assim que os jornais dedicam generosos espaços a regimes alimentares, tratamentos mirabolantes, poderosas vitaminas e drogas milagrosas, tudo redigido por quem sequer sabe do que está falando.

Na prática, a teoria é outra. A saúde é apenas mais uma área onde os problemas refletem as deficiências da educação no Brasil, das quais já falava Caxias na primeira metade do século 19, sem que providências mais efetivas tenham sido tomadas em 150 anos. É duvidoso que maior rigor na exigência de normas, já existentes, mas descumpridas, possa sustar comportamento arraigado em um país viciado em jeitinhos e desapertos e agravado pela fiscalização precária.

Não faz muito, abordou-se nesta coluna o risco da ingestão de ervas medicinais sem supervisão médica. O e-mail ficou saturado de mensagens indignadas, com argumentos que iam da sabedoria milenar dos habitantes de Atlântida, o continente desaparecido, à acusação de suborno às multinacionais, fabricantes de medicamentos. Pretendeu-se dizer apenas, em relação às ervas medicinais, o que agora a própria Anvisa está falando em relação à inofensiva aspirina, capaz de desencadear hemorragias em pacientes com doenças gástricas

Superar os problemas da vida brasileira com proibições, sem tocar nas deficiências da educação, a origem comum das dificuldades, pode funcionar na teoria. Na prática, porém, como evitar que dona Joana recorra à automedicação, que peça remédio ao atendente da farmácia, ao vendedor de ervas ou à benzedeira da esquina? Ela foi ao SUS, prescreveram–lhe exame xxxx, marcado para daqui a dois anos, após o que lhe será receitada a medicação adequada. Por trás, gente que foi instruída com o ABC e as quatro operações no primário, gente que foi instruída com dicas para passar no vestibular, gente que foi instruída na arte de curar doenças, administrar serviços públicos, cativar eleitores, mas não foi educada para ser solidária com seus semelhantes.
A culpa não é da Anvisa. Não é de ninguém. Com toda a certeza é daquela senhora, de costa largas, a mãe do Badanha.

Polvilho no ventilador - Jayme Copsteun

Nem Sherlock Holmes, ou Hercule Poirot, ou o Comissário Maigret ou o Padre Brown, por mais geniais que os tenham criado Conan Doyle, Agatha Christie, Simenon ou Chesterton, são capazes de tirar do nada a informação concreta. Se os repórteres da Folha de São Paulo procuraram a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para lhe pedir confirmação sobre certo encontro com a ministra Dilma Roussef, acertado por Erenice Guerra para falar do filho de Zé Sarney, é porque alguém lhes passou a ficha.

Quem o terá feito? A oposição, não, com toda a certeza. Não haveria de esperar um segundo que fosse para jogar o polvilho no ventilador e fustigar as ventas do Governo. Se considerarmos o bombardeio contínuo a que Dilma é submetida desde o lançamento de sua candidatura à Presidência da República, a resposta é conhecida dos artilheiros do "fogo amigo": gente com acesso à intimidade do Palácio do Planalto para saber de algo tão privado que sequer constou das agendas dos personagens.

A questão até poderia morrer aí porque a própria Lina Vieira não entendeu a solicitação de Dilma como sugestão para amorcegar os procedimentos fiscais contra o filho de Sarney. A Justiça já tinha solicitado antes maior presteza. O máximo admissível é que a Ministra pretendesse tirar o caso de foco no momento em que Zé Sarney candidatava-se à Presidência do Senado, com o apoio de Lula. Nada de excepcional dentro ética bastante elástica vigente na política de qualquer país, notadamente a brasileira

Contudo, as coisas não são tão simples. Resta uma incógnita deveras intrigante: por que os holofotes se fixaram na audiência com Dilma Roussef só depois que Lina Vieira discordou da comprovada artimanha fiscal da Petrobrás, da qual resultou arrecadação a menos para o Erário de alguns bilhões de reais. O grande problema que se coloca não é quem está dizendo a verdade sobre uma desimportância, se Lina ou Dilma, mas o destino que a Petrobrás pretende dar à montanha de dinheiro espertamente sonegada, às vésperas da eleição presidencial.

Esta informação, os repórteres da Folha não têm como saber. Nem Sherlock Holmes, ou Hercule Poirot, ou o Comissário Maigret ou o Padre Brown. Porque todo o fuzuê em torno da audiência a Lina, com Dilma envergando um xale muito bonitinho – vocês sabiam? – foi aceso pelo Planalto, apesar do teatro protagonizado por Lula. Com o propósito de esconder a verdade.

Ditos e Achados

"Dilma já escorregou algumas vezes. No caso VarigLog, negou ter conversado com Roberto Teixeira, o primeiro-compadre do presidente Lula, e acabou sendo forçada a desmentir-se. Precisou renegar seu próprio currículo, que a titulava de Mestra e Doutoranda (na verdade, não era mestra nem doutoranda), e garantiu que nunca o tinha lido. Negou ter mandado fazer um dossiê sobre a falecida primeira-dama Ruth Cardoso, e depois se desmentiu, mas mudando o nome do dossiê para "banco de dados". Que nome será dado ao encontro com Lina Vieira?" – Carlos Brickmann, em "Uma questão de pernas curtas" (www.brickmann.com.br)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Os alpinistas - Jayme Copostein

Junto coisas pelos jornais em busca de algo novo para comentar. Alguém inventou um abajur novo que desliga logo que a gente adormece, outro alguém um par de óculos escuros cujas lentes captam energia solar e carregam a bateria do celular. Mais modesto que sou, fico à espera de quem invente um jeito de pagar as contas no fim do mês sem ter dinheiro. Mas é esperança vã porque, aqui no Brasil, nós só conseguimos inventar o Zé Sarney, o Lula da Silva e seus derivados. Todos inventores de métodos mágicos de ganhar dinheiro sem trabalhar, dando para pagar as contas do fim do mês e ainda sobrando muitas vezes mais.

Digo que a esperança é vã porque todos eles surgiram como autênticos revolucionários, o Zé Sarney na antiga UDN para varrer a corrupção, pasmem vocês, o Lula, no antigo PT, cuja versão mais branda da sacrossanta indignação apontava 300 picaretas no Congresso. Ao vê-los de mãos dadas, dançando o ciranda-cirandinha, vou correndo à minha estante, buscar socorro em George Orwell: nove em dez vezes, um revolucionário é um alpinista com uma bomba no bolso.

George Orwell, porém, é malvisto pelas esquerdas, seja lá o que isso signifique, principalmente no Brasil, porque, logo no início da Guerra Fria, apontou quem poderia transformar a BBC em mera retransmissora da Rádio Moscou. Já naquele tempo, escrevia que todos os partidos de esquerda compartilhavam de uma mistificação ao pregarem uma luta contra algo que não desejavam verdadeiramente destruir.

Deixo Orwell de lado e vou até Leo Huberman, politicamente correto até hoje, advertindo, em sua "História da Riqueza do Homem": as revoluções vitoriosas sempre se adonam dos privilégios contra os quais tiveram razão de ser e combateram com tanta veemência.

Neste momento, toca o telefone. Sou eu falando para mim mesmo: "Não complica com Orwell, Huberman. Apenas escreve que o Zé Sarney e o Lula da Silva queriam chegar lá, e chegaram. Ponto final."

Apenas repito: Ponto final!

Aníbal Bendatti

Foi Jurema Josefa, chefe de reportagem do Correio do Povo, quem me passou a notícia triste: "O Bendatti partiu." O verbo é terrível e pertence a uma categoria que os gramáticos não definem: a das palavras sem volta. Muita gente morre, é da vida, diz o Conselheiro Acácio, mas quando elas deixam um vazio na gente, elas partem. A mensagem me chegou atrasada, não tive como comparecer aos atos de sua cremação para me despedir.

Faço-o agora, relembrando sua figura suave, mestre de muitos profissionais da área e também de sucessivas gerações de bacharéis em jornalismo. E a todos ensinou tudo o que sabia, com amor. De todos foi amigo.

Jurema Josefa foi perfeita para transmitir a tristeza da notícia: "O Bendatti partiu."

Fica o vazio.

domingo, 16 de agosto de 2009

O orgulho de Collor – Jayme Copstein

Ninguém rouba de Fernando Collor de Mello o título de primeiro – até agora, o único -- presidente da República cassado por indignidade na História do Brasil. Ele gabou-se, às vésperas de ser afugentado do Palácio do Planalto, que ao nascer o pai, Arnon de Mello, lhe traçou a vocação para a violência, referindo-se a suposta cor roxa de certa parte da sua anatomia.
Arnon de Mello era homem violento, no que não se diferenciava dos rivais da família Góes Monteiro, com a qual disputava a hegemonia política das Alagoas. Quando se fala no tiroteio entre Arnon de Mello e Silvestre Péricles, em pleno Senado, mal e mal se menciona o nome da vítima, o suplente de senador pelo Acre, José Kairala, morto com um balaço no peito desfechado pelo revólver de Arnon.
Kairala tinha assumido o mandato por alguns dias e aquela era a última sessão de que participava como suplente. Comerciante de profissão, era pessoa simples. Fizera vir a mulher e as filhas, e com elas tirara uma foto no Plenário, antes de começar a sessão, para lembrança daqueles dias gloriosos para a família. Seu assassinato comoveu a opinião pública na época, tanto quanto o das vítimas das balas perdidas de hoje.
É disso que Fernando Collor de Mello tem orgulho, quando fala nas cores de sua anatomia. Ou quando posa com aquele olhar de vampiro que trocou o sangue pelo rapé.
Semente da depravação
Se perguntarem o que aconteceu aos dois senadores das Alagoas, Arnon de Mello e Silvestre Péricles de Góes Monteiro, a resposta é: - nada. Imunidade parlamentar, ou seja a liberdade de veemência para abordar qualquer assunto no exercício do mandato, foi transformada em impunidade para qualquer crime. Foi esta a origem da depravação que assola o Congresso brasileiro e o transforma em refúgio para toda a espécie de bandoleiros, que compram mandatos corrompendo eleitores.
O bigode do Zé
Segundo o portal Contas Abertas (http://contasabertas.uol.com.br/noticias /detalhes_noticias.asp?auto=2782), o Senado empenhou 24.700 reais para comprar oito cadeiras de barbeiro. Só por isso já se vê o tamanho do "bigode" de Zé Sarney...
Ditos e achados
"O meu receio é que se formos aplicar o Direito Penal nestes casos, um terço dos brasileiros vai parar na cadeia." Ministro Cezar Peluso, do STF, ao invocar o principio de que não se deve aplicar a lei penal quando a norma civil é suficiente.
Há controvérsias. Pusessem a meia dúzia na cadeia, todo o resto entraria na linha. Vigorando a impunidade, porém...

sábado, 15 de agosto de 2009

Onde começa a impunidade

O ministro Cezar Peluso, recentemente, fez uma observação interessante sobre o espírito delinquente do brasileiro médio. Disse o ministro: "O meu receio é que se formos aplicar o Direito Pena (...), um terço dos brasileiros vai parar na cadeia."

Sempre se poderá contra-argumentar que bastava pôr na cadeia meia dúzia que o resto entrava na linha. É este sentimento de impunidade, de falta de consequências pára arcar, quando "falha o golpe" que estimula a malandragem. Veja, por exemplo, o caso de um cidadão
que pretendeu arrancar, em 2006, uma indenização de dois trilhões de reais da C&A. O cidadão tinha contratado um cartão de crédito da empresa e, ao mesmo tempo, adquirido um título de capitalização, pelo qual pagaria 30 reais por mês, durante cinco anos, com participação em sorteios, recebendo o dinheiro com juros e corrigido, decorrido aquele prazo.

No terceiro mês, o cidadão decidiu cancelar o título, como era de seu direito. Ao confirmar o cancelamento, recebeu carta da C&A, dizendo que, em poucos dias, poderia resgatar o valor proporcional de mais de dois trilhões de reais. Estava mais do que claro
que a conta estava errada. Logo em seguida, a C&A lhe enviou mais duas cartas, retificando o valor para oito reais, conforme o estipulado no contrato. O cidadão recusou-se a receber a pequena quantia e entrou na Justiça, pedindo, além dos trilhões, mais
10 por cento de indenização por danos morais.

A ação, por incrível que pareça, foi até o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para confirmar a sentença do juiz de primeira instância, negando o pedido, de evidente má-fé, fixando o valor a ser recebido em oito reais e 18 centavos.

O grande problema que se coloca aí, como os julgadores expressaram na sentença, é que a qualquer cidadão de inteligência mediana não poderia lhe passar pela cabeça que uma contribuição de 30 reais mensais, pelo tempo que fosse, gerasse indenização de dois trilhões. É patente a malandragem. Mas nada aconteceu, nem ao cidadão – bem capaz de ficar com o troco que a caixa da padaria lhe der a mais -- nem ao advogado que o defendeu, este com a obrigação ética de não litigar de má-fé.

Tivesse acontecido, como se disse antes, muita gente entraria na linha. Nada acontecendo, apenas se encorajou o SPP – se pegar, pegou.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A copa dos deuses - Jayme Copstein


 

Não consigo esquecer -- e também deixar de rir – de uma sugestão do cardeal Tarcísio Bertone, secretário do Vaticano, há coisa de três anos, propondo que a Santa Sé tivesse sua própria equipe de futebol, à altura do Roma ou da Inter de Milão. Como não acrescentar aí o Inter de Porto Alegre, que ao contrário do xará italiano, é macho, sim senhor, e ainda por cima campeão do mundo?

Fica-se imaginando que, para equilibrar a disputa, a Fifa teria de modificar suas regras, tal como a Federação de Automobilismo faz quando alguém inventa um carro milagroso. Já pensaram vocês em uma seleção que tivesse no goal São Judas Tadeu, o santo das defesas impossíveis, e ainda São Pedro e São Paulo na zaga, Cosme e Damião no meio-de-campo, isso se o técnico São Baladão decidisse pelo velho dois-dois-quatro-dois? Uma torcida organizada com as 11 mil virgens, de biquíni amarelo e branco, não. Já seria demais.

O problema estaria colocado quando essa seleção do Vaticano enfrentasse a seleção da Bahia com Xangô, Exu, Oxalá e Ogum no meio-de-campo, se o técnico Caboclo Ventania optasse pelo antigo dois-quatro-dois-dois. Quem venceria este encarniçado encontro das esquadras celestiais?

Nunca ficaremos sabendo. Tão logo o cardeal Bertone anunciou a boa nova, o Vaticano divulgou desmentido formal, com a clássica desculpa de que ele tinha sido mal interpretado. Jamais veremos São Genaro dar seus chapéus em Oxossi nem Oxumaré marcar seu gol de placa em São Brederodes.

Que pena!

O nariz da Esfiuge

Não sei se vocês prestaram boa atenção à Esfinge, aquele monumento do Egito. Repararam como ela tem o nariz quebrado?

A Esfinge representa o personagem lendário que devorava quem não decifrasse o enigma – Que animal caminha com quatro pés de manhã, duas à tarde e trêws ao anoitecer?

Enquanto a Esfinge ficava armando essas perguntinhas bobas, ela se deu bem. Até que um dia, se meteu a besta e decidiu ela própria decifrar os mistérios da política brasileira. Porque gatuno não vai para a cadeia, preside o Senado, ameaça os outros congressistas e ainda processa jornalista.,

Como Esfinge é de pedra e não tem neurônios para fundir, quebrou o focinho.. Foi isso.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fator previdenciário, o alvo errado - Jayme Copstein

Em latim existe uma expressão – "aberratio rei" – que se aplica ao debate atual sobre o problema de aposentados e pensionistas da Previdência no tocante ao reajuste do valor de seus benefícios. Não se assustem com a sonoridade das palavras. O "aberratio" significa apenas desvio, e a expressão significa "erro da coisa", "coisa errada".

Não há de faltar latinista ou jurista que corrija e aponte como mais adequado a expressão "aberratio ictus", o alvo errado, com a qual concordo, apesar de me faltar latim. Toda esta exibição de preciosismo lingüístico devo ao extraordinário "Dicionário de Expressões e Frases Latinas", do professor Henerik Kocher, obra que permanece inédita, isso, sim, aberração real, quando se consideram as inutilidades e porcarias publicadas às toneladas no Brasil.

Mas, retornemos ao tema: a pontaria que se faz no "fator previdenciário" é "aberratio ictus", é alvo errado, porque nada tem a ver com o achatamnento do valor dos benefícios. Há muita gente achando que, eliminado o "fator", todas os benefícios serão corrigidos pelo percentual em que ele os reduziu e ainda haverá "atrasados" a receber.

Isso poderia ser verdade apenas para benefícios concedidos após 1999, data em que o fato previdenciário entrou em vigor. Mas, sem a sua inconstitucionalidade ter sido aceita pelos tribunais, não haveria o que corrigir no passado, salvo erro detectado no cálculo. Só os benefícios concedidos a partir da sua extinção é que não sofreriam descontos.

Na teoria, é assim. Como na prática, quando se trata dos bocados suculentos do Tesouro Nacional, o Judiciário transforma a toga preta em burel de freira de caridade e sai espargindo ao deus-dará o dinheiro dos impostos que nos são extorquidos cada vez mais, tudo pode acontecer, inclusive o pagamento de "atrasados", já na mira dos advogados do setor.

O problema

O fator previdenciário passou a vigorar a partir de 1999, para compensar a falta do limite mínimo de idade para concessão de aposentadoria. A definição de um limite era necessária para atualizar o cálculo atuarial. Quando o sistema foi criado em 1930, a expectativa de vida no Brasil não ultrapassava os 43 anos de idade. Hoje anda acima dos 70 anos, criando-se um problema que o engenheiro James Mais assinalou em mensagem ao colunista (íntegra em www.jaymecopstein.com.br): não prevendo sistema a capitalização das contribuições, os 35 anos de contribuições pagam apenas 11 dos 17 anos de gozo dos benefícios.

É para tapar o rombo desses seis anos excedentes que o governo tem achatado o valor dos benefícios. Manter ou não o fator previdenciário, portanto, não é a solução nem vai trazer ganhos aos aposentados. O que pode melhorar o seu fim-de-mês é a imediata fixação de um limite mínimo de idade para a concessão dos novos benefícios, bem o contrário do que pretendem alguns projetos no Congresso,

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O rio da ética

O ministro Tarso Genro desenvolveu teoria interessante sobre a influência do Rio Mampituba na ética política, porque o senador Pedro Simon defende em Brasília a CPI da Petrobrás, mas nega apoio no Rio Grande do Sul à CPI da Yeda. O professor Enro Loll, conhecido erudito da Sleevetea University of Big River e autoridade mundial na Teoria das Coisas, debruçou-se sobre a tese do ministro e chegou à conclusão que ele tem toda a razão. O próprio ministro sofre da mampitubana influência: no Rio Grande do Sul defende a CPI da Yeda, em Brasília nega apoio à CPI da Petrobrás. Como diz o professor Loll, em suas conclusões, tudo se explica pela Teoria Geral das Coisas: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Coisaram?

O aumento das aposentadorias - Jayme Copstein

Pois anuncia-se aumento de 7% nos ganhos dos aposentados da Previdência Social, frisando ser o maior já concedido desde 1995. É esquecido, porém, que desde então o valor desses proventos acusa defasagem de 44 por cento. É muito barulho por quase nada, é desfaçatez e hipocriaia cobrar a conta dos "velhinhos" a conta feita pela orgia que os políticos protagonizam no Brasil, também desde aquela época..

O Governo, ao fechar tanto a mão, desconsidera o que o próprio IBGE está dizendo há muito tempo, ser grande a proporção de idosos que sustentam suas famílias, abrigando filhos, netos e até bisnetos. Pode-se comparar a situação com a da gorjeta, verdadeira instituição nos Estados Unidos. É quase uma obrigação, quando se toma um táxi ou se entra em um restaurante. Alguém analisando este fenômeno, chegou ao extremo de dizer que, faltasse a propina, a economia norte-americana sofreria forte abalo pela diminuição do poder aquisitivo da classe média baixa.

Mudando o que deve ser mudado, o aumento da expectativa de vida no Brasil, hoje já ultrapassando já os 72 anos. A população com 65 anos e mais aumentou em 60,8%. Não é difícl concluir-se que a aposentadoria desses idosos, única fonte de renda que eles têm em sua maior parte, representa parcela importante no mercado de consumo e, portanto, na movimentação da economia.

Concordamos todos que as regras frouxas para concessão de benefícios têm causado dificuldades à previdência social. O fato é que, concedido o benefício, por este papel na vida econômica do país, não pode ser achatado. A solução do problema é outra. Prazos maiores para aposentadoria e maior rigor para evitar fraudes.


 

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A lua dos hepáticos - Jayme Copstein

Pois é. Quem avisa, amigo é. Cuidado com as aparências porque são enganadoras de nascença. Quando alguém fala no telefone – "não pode deixar livre, senão já viu, não é?" -- tanto pode estar se referindo aos discursos do Lula como à gata que enche a casa de gatinhos. Tudo depende de contexto.

A propósito de aparências, e também da alaúza adolescente dos últimos dias, tem o caso ocorrido no Interior do Rio Grande do Sul, de um viajante que chegou à noitinha no hotel, mas o dono relutava em hospedá-lo.

-- Não vê -- explicou -- o quarto do lado está reservado para um casal em lua de mel. Você não vai conseguir dormir com o barulho.

E completou com a risadinha safada: -- Casadinhos de fresco, sabe como é, não é?!

Foi o que bastou para espevitar o viajante. Ou assanhá-lo como diriam as vovós de antigamente.

"Não tem importância", argumentou o viajante, fingindo-se de morto."Tenho sono de pedra. Caio na cama, durmo. Não há quem me acorde."

Tanto insistiu, o hoteleiro concordou, O viajante mais que depressa enfurnou-se no quarto, apagou a luz e ficou quieto, quase imóvel, mas atento aos ruídos. Quedou-se assim um tempão. De vez em quando, sentia dormência em uma perna, cãibras na outra, mas ele firme, para ninguém desconfiar que havia gente naquele quarto. Acabou cochilando, um cochilo comprido, quando acordou, os gemidos já tinham começado no lado.

Fez de tudo para não perder nada do "espetáculo". Pôs copo na parede para amplificar o som, enlouquecido tentou subir em cima do guarda-roupa por que o hotel era uma casa velha adaptada, com o guarda-roupas tapando a porta entre um aposento e outro, mas sempre havia porta depois que o guarda-roupas terminava, podia haver uma fresta...

Em vão. Mal o dia rompeu, logo após os "derradeiros" gemidos, o casal foi embora. Quando o viajante desceu para o café, passando pela portaria, o dono do hotel o abordou:

-- Como passou a noite? perguntou. "Conseguiu dormir?"

"Consegui, sim. Mal me acordei algumas vezes", mentiu o viajante. E completou com a mesma risadinha safada do hoteleiro: "Casadinhos de fresco, sabe como é, não é?!"

-- Não, não – apressou-se o hoteleiro a esclarecer. – O casalzinho não veio, cancelou a reserva. Bem tarde chegou uma velha com um baita ataque de fígado e aquele era o único quarto vazio. Como você me disse que tinha sono de pedra, botei a velha lá....

Pois é. Por isso é que não confio nas aparências. Para não confundir lua de mel com cólica hepática.

Studio Clio

Para quem gosta das coisas da cultura, conversa sem afetação no café do Stúdio Clio, todos os dias, 5 e meia da tarde em diante. Mini pizza para acompanhar a cerveja, de dar água na boca. José do Patrocínio, 693.Bem na esquina da Alberto Torres.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Enfim - Jayme Copstein

Cláudio Brito, que o jornalismo emprestou durante muitos anos ao Ministério Público, com proveito para ambos, em artigo publicado ontem na Zero Hora, esclareceu os aspectos jurídicos da polêmica acesa pelas paixões políticas em nosso Estado. De minha parte, sou duplamente grato. ao Cláudio Brito por esclarecer aos "juízes", tanto os que já sabem como a governadora será enxotada do Piratini, como aos que a livrarão de todas as acusações, tudo sem julgamento, que as coisas não tão simples assim e não podem ser resolvidas nas arquibancadas dos estádios, com se fosse mero Grenal..

Seja qual for o resultado da pendenga, em algo devemos concordar, do Rio Pelotas ao Arroio Chuí, de Uruguaiana a Tramandaí: fosse "antigamente", os salvadores da Pátria já estariam se degolando mutuamente, em nome da moral e do bem do povo. Enfim!

Por trás da crise - Jayme Copstein

Há uma preocupação no ar em relação à crise do Senado: o que se esconde por trás dela. Todos os fatos que até agora vieram à tona, já eram conhecidos há tempo. Ficaram guardados no "freezer", como tempero de alguma oportunidade – surgida agora, na antevéspera das eleições de 2010.

A tática parece estar fazendo efeito. Já pipocam opiniões e "campanhas" para a extinção do Senado, como se corrupção não pudesse ser detectada na Câmara dos Deputados, evoluindo para o mesmo objetivo.

De chamar a atenção, a carta de um médico, publicada em jornal de Porto Alegre, concitando ao voto nulo, como primeiro passo para repreender os políticos e forçá-los a ter boa conduta. o fechamento do Senado. Depois disso, naturalmente, todo se converteriam ao Templo da Boa Conduta e nós poderíamos escolher os melhores. A oposição da Venezuela fez exatamente isso – absteve-se votar e deu a Hugo Chaves um Congresso em que ele tinha 100 por cento dos deputados. Foi como mudou a Constituição e tornou vitalícia a sua reeleição.

Paranóia ideológica? Palavrinhas incomuns estão na moda para dissimular esperteza políticas. Itamar Franco, ex-presidente da República, com a vivência de bastidores, chamou a atenção para a intervenção do presidente Lula nas questões internas do Senado, tanto apoiando a eleição de Sarney à respectiva presidência como pela engenharia para mantê-lo no cargo, tudo sob discordância da bancada do PT, mas com o objetivo deliberado de obter dividendos políticos com a desmoralização das instituições. Referências neste sentido estão sendo feitas por outras pessoas, incluindo colunistas de jornais do centro do país, todos concordando que há alguma coisa por trás da crise.

domingo, 9 de agosto de 2009

Idéias e metais - Jayme Copstein

Silveira Martins dizia que idéias não são metais que se fundem. Érico Veríssimo contrapunha que era bobagem porque a única utilidade dos metais é se fundirem. Não fosse assim, não serviriam para nada.

O desembargador Décio Vieira, do STJ, proibiu o jornal O Estado de São Paulo de divulgar informações referentes à Operação Boi Barrica que tem entre seus indiciados o filho de Zé Sarney, presidente do Senado.

Vieira é amigo da família Sarney. Devia ou não ter levantado suspeição para julgar a liminar e evitar a polêmica dos metais e a fusão? Segundo a Família Sarney e seus agregados e simpatizantes, a utilidade dos amigos é assegurar imparcialidade aos seus interesses. É uma opinião. Para que serve a amizade sem a confusão de sentimentos?

O problema é a segunda questão que se coloca a partir da liminar: a proibição não significa censura prévia, expressamente vedada pela Constituição? A juíza de direito de São Paulo, Kenarik Boujikian Felippe acha necessária "(...) uma reflexão sobre o papel do Poder Judiciário, especialmente no que diz respeito a direitos que sustentam a democracia, como a liberdade de expressão, de informação e de imprensa (...) O papel do Judiciário é o de fortalecer e enriquecer a democracia, e não ceifá-la. Inaceitável pensar em voltar ao tempo de abrir jornais e ler receitas ou versos de Camões." Já o presidente do Supremo Tribunal Fedceral, Gilmar Mendes, diz que não, que é só uma decisão judicial que "precisa ser examinada".

É a democracia onde todas as opiniões convivem e se fundem. Daí a sua utilidade. E já que é democracia e tem serventia, permitam reaver e adaptar o trocadilho antigo criado pelo jornalista Rivadávia de Souza, no velho Correio do Povo. Com toda essa conversa mole para o boi dormir na barrica, nós, os "aqui de baixo", é que terminamos fundidos e mal pagos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

De Sarney a Noel - Jayme Copstein

Zé Sarney, governo de triste memória que pôs na lata do lixo vários decênios da História do Brasil, publica artigo na Folha de São Paulo. Vale-se de Marx para explicar a crise política desencadeada por sua conduta de homem público.
Assistir ao progressista ex-quase-futuro vovô do namorado de Bia apelar ao Manifesto Comunista, fica-se convencido que, em matéria de luta, falta-lhe classe.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sem moleza - Jayme Copstein

Apesar do precedente aberto por Luiz Francisco de Souza, cuja sede de moralização era seletiva contra adversários do PT, a ninguém ocorre que procuradores da República seriam irresponsáveis a ponto de formular denúncias sem substância ou engavetar provas de crimes, segundo suas idiossincrasias ou simpatias ideológicas. Contudo, é criticável o espetáculo adolescente protagonizado por seis membros do Ministério Público Federal, anteontem, para comunicar à sociedade que haviam ingressado no Foro de Santa Maria com ação civil de improbidade administrativa contra Yeda Crusius e outros políticos da aliança que governa o Rio Grande do Sul.

Um dos promotores, salvo melhor juízo e melhor interpretação, como diria o Conselheiro Acácio, excedeu-se em seu entusiasmo juvenil e emitiu uma dura advertência: "Não haverá moleza para esses réus". Afora a impropriedade técnica, pois antes de ser admitida a ação são todos indiciados, não há nenhum réu, o recado é difícil de ser entendido. Não cabendo a ele nem a seus colegas julgar o feito, ninguém há de insinuar que tenha desejado fazer alguma advertência à juíza titular da 3ª Vara Federal onde o processo correrá.

O problema que se coloca a partir da maneira como os promotores federais anunciaram a ação, é o tempo que a respectiva tramitação consumirá ainda na primeira instância. Segundo eles próprios informaram, são 1238 páginas, contendo depoimentos e análises de cerca de 20 mil telefonemas, que deverão ser novamente ouvidos, os primeiros, e dissecadas as gravações dos segundos, para permitir a defesa dos acusados e a convicção da juíza. A não ser que se paralisem todos os processos em andamento, para que a 3ª Vara Federal de Santa Maria volte-se em regime de tempo integral a julgar os nove indiciados, não há possibilidade de uma sentença antes dos 17 meses de mandato que ainda restam a Yeda Crusius.

Assim sendo, mesmo não tendo sido a intenção dos promotores federais, sem revelar do que estão acusando a governadora e seus aliados, os efeitos da denúncia são meramente políticos. Correligionários do vice-governador mostravam-se entusiasmados com a perspectiva de assumir o poder, o que, de outra forma, disputando o cargo diretamente nas urnas, parece ser um desafio e tanto ao Sr. Paulo Feijó.

Incitatus e o Brasil - Jayme Copstein

Vocês sabem quem é Francisco de Assis de Moraes Souza, assim mesmo, quilométrico, com as duas preposições "de" que antigamente indicavam origem nobre do portador? É um senhor muito culto, formado em Medicina, que atende pela alcunha de Mão Santa e eventualmente, como 3º secretário da Mesa Diretora, preside sessões do Senado.

Pois Mão Santa, fazendo apelo para a pacificação dos ânimos, há poucos dias afirmou: "Este é o melhor Senado que o Brasil já teve. Roma elegeu para o Senado um cavalo, Incitatus. E nos estamos aqui para trabalhar".

Isso foi antes de Fernando Collor de Mello desferir coices no senador Pedro Simon. Mão Santa estava equivocado. Incitatus não foi eleito senador romano, foi nomeado por Calígula. Um pouco diferente: no Brasil, Incitatus foi eleito presidente da República e depois cassado. Agora, foi eleito senador, mas apenas por Alagoas. O Brasil, desta vez, nada tem a ver com o assunto.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sarney, sempre - Jayme Copstein

Enquanto José Sarney discursava ontem, aparentemente sem nada dizer, Renan Calheiros como rafeiro vigiava os demais senadores e Fernando Collor de Mello exibia sorriso alvar, sacudindo a cabeça em aprovação, como mamulengo dessincronizado das falas do mestre. Aparentemente, nada havia para aprovar ou desaprovar nos sons que Sarney emitia, mas no meio da arenga, ele exibiu um um DVD, acusando um jornalista, que não identificou, de lhe roubar documentos pessoais, que não disse quais eram, no escritório de seu advogado, que também não nominou.

Foi repetição da tentativa de chantagem feita por Calheiros e Collor contra Simon – daí a ostensiva cumplicidade -- apenas com Sarney fazendo-se de vítima para dissimular a violência contra seus colegas. Ernesto Geisel e João Figueiredo recomendavam cuidado com ele porque "este só ataca pelas costas". Sarney nunca os desmentiu. Pelo contrário só os encheu de razão quando também desferiu um golpe desleal em Mário Quintana, torpedeando sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, episódio já narrado nesta coluna.

Por trás dos melífluos apelos de pacificação, Sarney apontava um punhal às .costas dos seus colegas. Insinuou que tudo pode ter sido documentado e pode ser exibido na hora que melhor lhe convier. Pois bem. Pedro Simon já interpelou Collor de Mello, para que esclareça suas insinuações. O que os demais senadores farão em relação a Sarney só lhes diz respeito. Quando a nós, jornalistas – faço apelo a todas as nossas associações de classe e a todos os veículos de comunicação – que exijam de Sarney a identidade do suposto jornalista. Se ele realmente existe, seja punido, comprovada a sua culpa. Se não existe, não há nada a fazer. José Sarney, o homem cujo governo pôs na lata do lixo decênios da História do Brasil, apenas confirmou a conceito que sobre ele fazia a ditadura da qual se serviu, fingindo tanta devoção.

As chaves do reino – Hilton Almeida

A Câmara Federal empenhou 26 mil reais para comprar 4l.800 chaves virgens, e mais 7.800 reais para comprar 20 metros cúbicos de argila expandida em bolinhas.

Sherlock provavelmente telefonaria (existia telefone em sua época?) para uma floricultura, indagando se "argila expandida em esferas" não seriam aquelas bolinhas que se usam nos vasos de plantas, não só para reter o excesso de umidade como também para melhorar o aspecto, encobrindo a terra. Se assim for, aqui vão alguns cálculos: 20 metros cúbicos seriam nada menos do que 1.440.000 bolinhas. Daria para cobrir uma passarela de 1m. de largura por 36 quilômetros de extensão ( média de 2,5 cm. de diâmetro cada esfera).

Num cálculo grosseiro, dariam para 20.000 vasos. Há tantos vasos assim nas dependências do Senado? Por acaso os vasos do Senado, sejam quantos forem, não estão sob os cuidados de uma floricultura contratada? Vai ver, a tal argila expandida é outra coisa, ainda mais misteriosa.

Sobre chaves, vamos seguir o raciocínio de Sherlock. Chaves virgens são para fazer chaves úteis. Para fazer chaves, é necessário um chaveiro (fazedor de chaves), além daquela maquineta que todos conhecem. Se há na Câmara Federal um chaveiro, uma engenhoca de fazer chaves e chaves virgens à vontade, a conclusão é que não há mais gabinetes indevassáveis. Elementar.

Da teoria à prática - Jayme Copstein

Discute-se no Planalto a divisão dos ganhos com o pré-sal. O presidente Lula está certo em reter 80% do pré-sal para a União. Na teoria, é uma montanha incalculável de dinheiro da qual 20%, como ele defende, é mais que suficiente para remunerar a Petrobrás e as empresas privadas que extraírem o petróleo.

O problema não está com quem fica o dinheiro nem com quem o gasta. O que se critica sempre é por que e como o dinheiro é gasto sem trazer benefício ao povo brasileiro, dono de tudo, e de quem os governantes são apenas delegados para administrar o patrimônio nacional. Na prática, tanto no caso do pré-sal como de qualquer outro, acrescenta-se mais um risco, típico da política brasileira: contar com o ovo no oviduto da galinha e sair gastando por conta.

Quem é quem - Jayme Copstein

Quem é José Sarney, todos sabemos: o político que, com o toma-lá-dá-cá e o estelionato do Plano Cruzado, inaugurou a fase mais corrupta da política brasileira e emporcalhou a atribulada redemocratização do país. O espetáculo deprimente a que a Nação testemunhou anteontem no Senado, apenas ratifica o conceito: seus mais competentes defensores são um presidente da República cassado por corrupção, um presidente do Senado que renunciou ao cargo para não ser cassado pelo mesmo motivo e, nos bastidores, José Dirceu, presuntivo candidato à Presidência da República, também cassado por iguais razões.

Dito isto, diz-se tudo sobre José Sarney, sobre quem apenas as mais recentes acusações, também de corrupção, somam onze. Nada disso, porém, é tão vexatório e humilhante a um país como assistir a Renan Calheiros, com ares de comadre mexeriqueira e Fernando Collor de Mello, possesso, de olhos esbugalhados, a boca entortada em um esgar histérico, ambos eleitos com votos acaudilhados nas grotas de Alagoas, a ameaçar com maledicências de quenga de beco, um político de vida limpa, como Pedro Simon.

Collor, de quem já foi dito que não passava de um videoclipe bem editado, quando se candidatou à Presidências da República, ao chegar ao Senado criou um bordão infantil para substituir a vulgaridade do "aquilo" roxo dos seus tempos de Planalto: "Engula suas palavras e as digira como puder". Tal como ele fez com as ofensas que preferiu contra a Família Sarney e as ofensas que lhe fizeram José Sarney e Renan Calheiros no fim dos anos 1980 e 1990. Sua única frase sensata -- Collor de Mello – "Não pronuncie mais o meu nome" – deve ser acatada como conselho por Pedro Simon. Para não vomitar...

Tiro pela culatra

José Sarney havia prometido discurso bomba para se defender na tribuna do Senado, ontem. Mandou seus leais discípulos e apaniguados na vanguarda, para o deprimente espetáculo de anteontem. Alguma coisa que ainda não transpirou, está indicar que o tiro saiu pela culatra. A violência de Calheiros e Collor, ao melhor estilo da velha Chicago, amedrontou os próprios aliados de Sarney. Este deve ser o motivo pelo qual, dotado de extremo instinto de sobrevivência, ele adiou o pronunciamento.

As coisas devem estar fervendo nos bastidores. A esta altura dos acontecimentos, entretanto, Sarney não tem como retirar sua assinatura do comportamento de Calheiros e Collor de Mello. Só lhe resta, mesmo renunciar à presidência do Senado e ao seu próprio mandato, se ainda quiser preservar um pouco de sua dignidade pessoal.

 

Um gesto de vida - Jayme Copstein

A Prefeitura de Porto Alegre está lançando a primeira etapa de uma campanha para civilizar o trânsito na cidade. O projeto, detalhado nos jornais, emissoras de rádio e de tevê nos próximos dias, começa pelo alicerce: respeito ao próximo, único sentimento para fazer motoristas e pedestres acatarem normas, leis ou códigos que pretendem disciplinar a vida na coletividade.

A primeira etapa é incutir a hierarquia das faixas de segurança. Um gesto com a mão espalmada vai, a princípio, alertar motoristas que há pedestres iniciando a travessia das "zebradas". Com o tempo, espera-se que os motoristas habituem-se a prestar atenção, parando seus carros tão logo o pedestre ponha o pé na faixa, tal como ocorre em cidades civilizadas, entre as quais se agora inclui Brasília, onde campanha idêntica reduziu drasticamente as estatísticas de morte por atropelamento nos últimos dez anos.

A Prefeitura anuncia ação intensiva para, nos próximos dias, regularizar todas as faixas de segurança da cidade – em torno de3 6 mil. Muitas delas estão com a pintura desgastada, quando não desaparecida. Inicialmente, será imprescindível a ação dos fiscais da EPTC para mostrar tanto a motoristas que não respeitam sequer os sinais com a pedestres que teimam em atravessar as ruas de qualquer jneito.

Em nome da decência

Digna de aplausos a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, regularizando a situação dos estrangeiros clandestinos no país. Ao conceder dois anos de permanência provisória, o governo livrou contingente calculado em 20 mil pessoas de um regime de escravidão, imposto principalmente por outros estrangeiros com visto legal, exigindo trabalho de 12 a 14 horas por dia, sem nenhuma das mínimas garantias asseguradas por decência e direito de nascimento aos seres humanos do século 21: remuneração digna, salubridade ambiental, assistência médica, seguro contra acidentes e previdência social.

Idade das coisas

Estudos do geólogo da Petrobrás, Jorge Figueiredo, atualmente cursando doutorado na Universidade de Liverpool, Inglaterra, descobriu a idade do Rio Amazonas: 11 milhões e 800 mil anos. Estudos anteriores davam apenas 5 milhões de anos para o nosso "rio-mar". Já a idade do "sarneysmo", doença endêmica no Norte-Nordeste, não foi objeto de estudos de nenhuma pesquisa. Tem-se como certo que a corrupção começou no país há 500 anos. Mas, já não interessa mais o que aconteceu no passado. O importante é saber-se como serão as coisas no futuro.

O homem das suas frases - Jayme Copstein

Feliz é o presidente Lula. Especialista em frases pitorescas, não o tem o menor constrangimento em pedir a ditadores africanos, em nome da democracia, ação contra a ditadura de Honduras.
O líbio Kadafi, no poder há 40 anos, é "amigo, irmão e líder". O sudanês Omar Al Bashur, indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e contra a humanidade – bem, como todos sabemos, "Não se constrói um continente em harmonia do dia para a noite".
Em relação à ausência de Mahmoud Ahmadinejad, disse aliviado aos repórteres que na véspera lhe perguntaram sobre o desconforto de ter de conversar o ditador iraniano: "Vocês viram como é duro fazer preconceito premeditado?" A frase é tão profunda que até agora não se consegue saber o que isso quer dizer.

Patética de deputado

Quando se pensa que a política brasileira já esgotou todo seu estoque de absurdos, ela surpreende o país: a Comissão de Ética da Câmara Federal, por 9 votos a 4 mais uma abstenção, rejeitou o voto do relator pedindo a cassação do deputado mineiro Edmar Moreira, mas não o absolveu da quebra de decoro parlamentar, por desvio de dinheiro público (financiou sua empresa particular com a verba indenizatória do mandato). Como se uma mulher pudesse estar apenas meio grávida, os "patéticos" da Comissão, temendo a opinião pública, querem uma puniçãozinha simbólica. Encomendaram "penas alternativas" ao novo relator – proibir Edemar, durante seis meses, de falar no plenário ou de integrar comissões, preservado, entretanto, os proventos (16.500 reais) do mandato. Edmar é réu confesso – não nega o uso do dinheiro público para fins privados. Alegou, porém, que não havia regra que o impedisse de fazê-los. Nove "patéticos" aceitaram a tese.

A máfia no futebol

Reportagem da BBC Brasil, desde ontem no site (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090701_futebollavagemebc.shtml'>http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090701_futebollavagemebc.shtml) denuncia que o "futebol é usado para lavagem de dinheiro e tráfico humano", segundo estudo de uma agência intergovernamental, Força-Tarefa Financeira, cuja missão é investigar "recursos provenientes do crime". Segundo a agência, uma investigação em mais de 20 países divulgada concluiu que a indústria do futebol está sedo usada por quadrilhas criminosas para lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas.
O relatório da Força-Tarefa Financeira afirma que, apesar dos efeitos positivos, "há um risco mais alto de fraude e corrupção, dada a quantidade de recursos em jogo." O documento é explícito ao apontar a compra de clubes, os grandes negócios com a transferência de jogadores e as apostas pela Internet como canal para a lavagem do dinheiro das drogas ou da sonegação fiscal. Por fim, recomenda maior colaboração entre governos e regulamentações dificultar a ação dos criminosos.

Dos andares na Justiça

Para quem é leigo nas sutilezas do Direito, a nova liminar da 3ª Vara da Fazenda Pública, mandando outra vez reintegrar Ubirajara Macalão na Diretoria Administrativa da Assembléia Legislativa do Estado, soa como enigma. Macalão obteve neste tribunal de primeira instância anulação do processo que o demitiu por problemas com dinheiros públicos e ordem para reintegrá-lo no cargo. Atendendo a recurso da Assembléia, a decisão foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Estado, onde aguarda o julgamento final do mérito.

O difícil de entender, primeiro, é como um processo ainda sem conclusão sem possa ter duas decisões, mesmo iguais, na mesma instância – não é o que os bacharéis chamam de "bis in idem"? Em segundo lugar, como uma decisão de primeira instância pode pretender revogar decisão de segunda instância, ou seja, de um tribunal superior? Se a decisão cá embaixo favoreceu o réu, mas não o satisfez no degrau mais acima, é lá ou até mais em cima ainda que ele deve pedir a reconsideração, jamais em tribunal inferior.

Há curiosidade pelo desfecho desta questão. Se a nova decisão da primeira instância se mantiver, a Justiça brasileira terá criado algo semelhante ao motocontínuo – processos que se alimentam de si mesmos.

Yeda e o Real

O Plano Real completou 15 anos, a governadora Yeda Crusius somou 30 meses de mandato. O Plano Real estabilizou a moeda e fortaleceu a economia brasileira. A governadora Yeda Crusius equilibrou as contas do Rio Grande do Sul. O Plano Real é chamado de "herança maldita" pelos opositores, a governadora Yeda Crusius é por eles chamada de arrogante, o que também é um adjetivo desqualificativo. Quem chama o Plano Real de "herança maldita", defende José Sarney, cuja história maior é inflação de "miles" por cento. Quem chama equilíbrio de contas públicas de "arrogância", defende não se sabe o quê. Calote nas viúvas do IPE? Manter o pagamento do funcionalismo em dia? Empréstimos bancários para pagar 13º salário? É difícil descobrir – fora dos adjetivos, nada é acrescentado. A propósito de arrogância, tem gente receitando para a "paulista" Yeda Crusius a "humildade dos gaúchos". Será sugestão para mudar a letra do Hino Riograndense ("Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra")?

Ditos e achados

"A desigualdade ainda é um traço forte, mas a combinação de crescimento com estabilidade e programas sociais melhora muito a parte 'Índia' do Brasil. Sob esse ponto de vista, não é mais correto falar em Belíndia. Talvez o termo composto proposto por Delfim Netto seja hoje mais apropriado: Ingana –impostos da Inglaterra e serviços públicos de Gana. De qualquer modo, pelo menos conseguimos evitar a Banglabânia –Bangladesh com Albânia – que Mário Henrique Simonsen tanto temia". Edmar Bacha, economista e um dos principais formuladores do Real, criador da expressão "Belíndia", em entrevista à Folha de São Paulo, assinalando o 15º aniversário do Plano que estabilizou o sistema monetário brasileiro.

A culpa da imprensa - Jayme Copstein

A culpa da imprensa

José Sarney, que tem acusado os jornais de inventarem os escândalos dos quais é protagonista no Senado, escreveu ontem ao Folha de São Paulo (02 de julho de 2009) para esclarecer 11 "originalidades" listadas no quadro "Sarney na mira" (edição de anteontem), envolvendo a vasta coorte de familiares e amigos em negócios públicos de há muito sabidos, mas só agora publicados. Das travessuras do mano Ivan às traquinagens do netinho Zé Adriano, para todas Zé Sarney tem álibi, como teve também, há muitos anos, na Academia Brasileira de Letras, quando torpedeou pelas costas a candidatura de Mário Quintana. Não pediu que não votassem no poeta, apenas distribuiu aos acadêmicos, na hora da votação, reprodução de uma piada inocente do poeta sobre QI (quem indica), sem tempo para alguém esclarecesse do que se tratava.

Santo homem!... Onze milagres e os incréus não reconhecem tantas beatitudes, todas dentro da mais estrita devoção bíblica: Mateus, primeiro os meus! De fato, a culpa é dos jornais que lhe trocaram o nome de São Ney para Sar...ney. Talvez para sugerir maldosamente aquela comichão infernal da qual a gente custa a se livrar.

Raul Quevedo

De cada vez que me cabe registrar a partida de um antigo companheiro me vem à mente a derrubada de uma árvore na floresta, como se fosse cena de cinema mudo: vazio e silêncio. O jornalista Raul Quevedo, veterano da imprensa gaúcha, deixou o mundo no domingo à noite. Fico me perguntando quantos saberão, fora do circulo de amigos e colegas da Associação Riograndense de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, de suas contribuições efetivas e participação permanente na luta pelo aprimoramento moral e intelectual da profissão. A iniciativa bem sucedida para mudar o Dia da Imprensa, de 10 de setembro, início da imprensa áulica, para 1º de junho, início da circulação do primeiro jornal efetivamente brasileiro, basta para dar idéia da coragem e da perseverança com que defendia idéias e também ideais. Como nem todas as batalhas são vencidas – a exigência de formação universitária específica para jornalistas foi um de seus revezes – o que sempre fica são as sementes que as árvores abatidas deixam na floresta para que outras árvores ocupem seu lugar. No caso dos seres humanos, são exemplos. É o legado de Raul Quevedo.

Os MJ do Brasil

Maurício Cardoso, editor da revista eletrônica Consultor Jurídico é autor de um "achado" interessante, publicado na edição de segunda-feira: a quantidade de bebês que receberam nome em homenagem ao cantor, quando ele esteve no Brasil. Até para o satisfazer os pruridos nacionalistas do deputado Aldo Rebelo, o nome Maicon, que portam vários jogadores de futebol resultou do abrasileiramento de Michael que parece ter um "n" no fim quando pronunciado com o sobrenome Jackson. Tanto é assim que Cardoso encontrou no Google dúzias de "Maicon Jequisson", afora os milhares de Michael Jackson puros acrescentados de um Silva, Cardoso, Santos e outros sobrenomes nativos. Vale a pena ler a matéria de Maurício Cardoso, em http://www.conjur.com.br/2009-jun-26/processos-michael-jackson-homonimos-brasil

O “outro” - Jayme Copstein

Jarbas Vasconcellos e Pedro Simon não têm razão sobre a corrupção que assola o país ser apanágio do "outro" PMDB. Ou o "PMBD" simplesmente, porque já é o "outro" para o PT, calado porque dele precisa para sustentar-se no poder e garantir sua própria impunidade, ou o PMDB "lá de cima", como dizemos no Sul, para esconder nossas próprias mazelas.

Pois é o PSBD "cá de baixo", mais precisamente o de Canoas, que inutiliza o "eu e o outro" dos dois senadores. Em 2005, para beneficiar o então prefeito Marcos Ronchetti, os tucanos aprovaram na Câmara Municipal a incorporação de metade da remuneração de prefeito ou de vice-prefeito ao salário do servidor municipal que se elegesse para um desses cargos.

Ronchetti, médico da Prefeitura de Canoas, apesar do rastro de controvérsias que deixou atrás de si, ao terminar o mandato, vai abiscoitar pensão vitalícia de 8.900 reais, se a Justiça não acatar a ação direta de inconstitucionalidade levantada pelo atual prefeito Jairo Jorge. Que, aliás, há poucos dias queria em sua administração César Busatto, consumado mestre da arte de fazer política, como diz o vice-governador do Estado, Paulo Feijó.

Poupemos os adjetivos. Quando a imoralidade foi aprovada em Canoas, atentando contra a Constituição, Ronchetti não era o "outro". Agora, ele é.

Profissões originais

Eis uma profissão assaz original: organizador de camarote de cervejaria no sambódromo do Rio de Janeiro. Bebendo e aprendendo: é o encarregado de povoar aqueles recintos com celebridades convidadas a peso de ouro.

Este ano as verbas encolheram e o sambódromo só se povoou de boatos: Fulano tinha recebido tanto, veio, mas não apareceu, beltrano não recebeu o "outro tanto", não veio e, lógico, não tinha como aparecer.

Na confusão, estrelas caboclas brigando com repórteres abelhudos, criançada acordada fora de hora e boiando em um oceano publicitário de bebidas alcoólicas, o desabafo do organizador de camarote: "Se o Carnaval do Rio não for suficiente para atrair alguém, eu paro tudo e vou fazer futebol".

Faz sentido...

O guru da fronteira

O Ivo tornou-se mito na fronteira do Rio Grande do Sul, mais precisamente em Uruguaiana, pela fama do seu cabaré e também pela sua sabedoria pitoresca. Não o conheci pessoalmente, só através de racontos dos meus queridos irmãos, jornalistas Danilo Ucha e Kenny Braga, nascidos, criados e vividos nas vizinhanças, mais precisamente Santana do Livramento. Pois se diz que Ivo, diante de uma dessas profecias apocalípticas frequentes nos jornais, respondeu ao lhe perguntarem o que faria se o mundo terminasse: "Pegava as minhas 'gurias' e ia para Libres".

Para quem não sabe, Libres é do outro lado da fronteira com a Argentina, basta atravessar a rua para chegar se até lá. Tudo isso me veio à cabeça diante da advertência de uma devota de horóscopos, no sambódromo do Rio de Janeiro, já sentindo as primeiras penúrias da crise financeira, alertando a cidade e o mundo de que estamos na Era do Aquário, um momento decisivo para a humanidade. "Ou transformamos nosso 'modus vivendis', ou tudo será exterminado", profetizou.

Ou então vamos para Libres, queridinha – como diria o Ivo, se vivo ainda fosse.

domingo, 2 de agosto de 2009

Em busca de um coletivo - Jayme Copstein

Pois me lembrei desta suposta campanha, sugerida com ar de inteligência, de fechar o Senado para combater a corrupção. E me lembrei ao ler nas página eletrônica de “Contas Abertas” (http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=2763) a notícia do empenho de 26 mil reais, feito pela Câmara Federal para comprar 4l.800 chaves virgens – aliás, a única coisa virgem imaginável na política brasileira, assim mesmo por curto prazo. O redator da nota, jornalista Leandro Kleber, perplexo pela dificuldade de descobrir para que tanta chave, pergunta qual o respectivo coletivo: molho? Se tivesse experiência na crônica policial, ligaria este emprenho das chaves com outro que também lhe chamou atenção: 7.800 reais para comprar 20 metros cúbicos de “argila expandida em bolinhas: servem pasra modelar gazuas, instrumento de grande valia para nossos amados congressistas exercerem seu maior talento: abrir cofres públicos.

Não há outra explicação. Segundo o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamentar da Saúde (aaaatchim!...), tanta chave (tanta alegria, mais de 180 milhões de palhaços no Brasil, como diria o também mineiro Ataulfo Alves) se justifica porque há, na Câmara Federal, 460 apartamentos funcionais e 513 gabinetes. Fazendo as contas, dá 43 chaves por fechadura.

Para colaborar com o colega Leandro Kleber, procurei no dicionário o coletivo de chaves. Encontrei chavaria, molho e penca. Todos pecando pela modéstia. Por associação de idéias, tanta gazua assim, sugiro que se adote – quadrilha. Parece-me muito adequado.

Klavo, a chave do bem

Por falar em chave, vocês que estão cansados de tanta gazua, encontrem algo positivo no endereço http://klavo.com.br. Klavo quer dizer chave em esperanto, a língua universal. Já que é moda a classificação, digo a vocês que esta é um chave do bem. Muita gente, querendo uma página ou até um blog na Internet me pergunta por artistas da informática com talento e competência. A resposta está neste endereço. Conheço dois dos profissionais que dirigem a equipe de programadores e designer, eles próprios profissionais de exceção – Karin Keller e Jadson Costa. Amostra do trabalho que fazem está na página. Como estão focados com planejamento de marketing, trabalham também com planejamento de marcas e identidade visual, o que deve interessar a agências de propaganda.

No “freezer”

Curioso o empenho de 24.500 reais, feito pelo Superior Tribunal de Justiça, para aquisição de um ultracongelador, com “capacidade de processar, no mínimo, 30 quilos de congelados e 50 de refrigerados por ciclo”. O que isso quer dizer, a gente fica devendo. Sempre é bom que as coisas se esclareçam. Com processos que às vezes levam décadas até serem deslindados, os maledicentes até podia sugerir maldades. O STJ especifica que a máquina destina-se ao restaurante. Que bom.Ela já é cega, imagine-se um resfriado que também a torne surda.