segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A águia e as moscas – Jayme Copstein

Não tem nenhum sentido a polêmica provocada por artigo de César Benjamin, relatando confidência de Luiz Inácio Lula da Silva de suposta investida sexual sobre um jovem militante e companheiro de cela, quando esteve preso em 1980. A confidência, melhor dito, a gabolice – Lula falava não poder passar sem sexo – aconteceu na campanha presidencial de 1994 e foi testemunhada também pelo cineasta Sílvio Tendler que registrou como "piada" entre as muitas que o candidato contava todos os dias para provocar o riso dos seus acompanhantes.

Ora, já era tempo de o Brasil habituar-se à generosa dose de tolices que o seu presidente lhe serve diariamente. Se em público Lula diz o que diz, imagine-se quando se sente resguardado pela intimidade. Talvez a suposta "vítima" – se é que existiu fora da sua imaginação e sobreviveu ao cárcere – pudesse esclarecer a verdade, Contudo, quem tem a mínima informação sobre a vida de militantes encarceirados, sabe que entre eles se estabelece um código de honra, cuja ruptura traz consequências desagradáveis para o infrator. Não fosse "piada" o relato de Lula, ele não sairia inteiro da aventura. A represália não se limitaria aos cotovelaços do "menino" e ele não teria como se queixar dos "torturadores do regime".

Helena de Almeida Prado Bastos, em carta à Folha de São Paulo pôs as coisas em seus devidos lugares: "Eu nem acredito nem desacredito, até porque Lula é mesmo um debochado e escrachado. Mas tenho duas dúvidas. Uma delas é saber por que Benjamin ainda trabalhou com alguém capaz de cometer torpeza tão grande. Outra é saber por que só agora fez essa revelação. Parece-me que seu artigo adianta a baixaria que será a campanha de 2010. (...) Que fique claro: a Folha publicou a opinião de um de seus vários colunistas. Não tem nada a ver com isso. Por dever de ofício deve apurar os fatos. Ponto. Que triste mania que os lulistas têm de querer cercear a liberdade de expressão, insuflada por Lula e seus asseclas, aliás."

Isto posto, e já que nosso ilustre Presidente anda chegado a um latim nos últimos tempos, eis um aforismo que lhe cabe como uma luva: "Aquila non caput muscas". A tradução correta é: A águia não caça moscas. Mas, em bom português, claro e sonante é: "Em boca fechada não entra mosca."

O silêncio de Chavez

Um velho samba de 1919 perguntava: "Papagaio louro do bico dourado./ Tu falavas tanto, / qual a razão que vives calado?" Era gozação de J.B. da Silva, o Sinhô, registrando a derrota de Ruy Barbosa para Epitácio Pessoa, na eleição presidencial daquele ano. Noventa anos depois, a mesma pergunta pode ser feita a Hugo Chávez, de bico enfiado nestes últimos dias, não por ter, afinal, conhecido a virtude de reflexão, mas por cair-lhe nas mãos um imenso pepino: o desempenho da economia "bolivariana".

A inflação na Venezuela já está atingindo a marca dos 30%, o dobro dos 15% previstos no orçamento do corrente ano. O PIB também despencou: queda de 4,5%. entre julho e setembro. Os lucros da Petróleos de Venezuela (PDVSA) encolheram 66,8 % neste primeiro semestre..

A esta altura dos acontecimentos, com a popularidade em queda, Chávez poderia recorrer aos investimentos privados para hidratar a economia da Venezuela. Mas como atraí-los se ele os escorraçou, ainda no início de seu governo? Não será fácil

domingo, 29 de novembro de 2009

La "famiglia"

Há poucos dias, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez referência a equívocos da Polícia Federal na caça a corruptos da vida pública, a primeira suposição era a de que Sua Excelência reconhecia os excessos cometidos, principalmente contra políticos de oposição.

Doce, precoce e fugaz ilusão. A revista "Veja" desta semana transcreve gravações da Polícia Federal, mostrando o tráfico de influência praticado pela filha e pelo genro do Presidente, o que, aliás, não é nenhuma novidade, eis que a atividade foi inaugurada seu irmão mais velho, o Genival Inácio da Silva, o Vavá, que cobrava a módica taxa de dois "pau".

Lurian da Silva e Marcelo Sato aumentaram consideravelmente as avenças, mas não sejamos maldosos – é mero reajuste à inflação que no andar "lá de cima" é notavelmente maior que a do andar debaixo. É só comparar o reajuste das aposentadorias da plebe com o dos proventos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados e senadores, para concluir-se que não é só a Índia que tem párias.

As façanhas da "famiglia" não pararam aí. Há poucos dias o Fabinho (conhecido também como Lulinha) e mais 15 amigos pegaram carona no "Sucatão", que levava o presidente do Banco Central de São Paulo a Brasília. A carona foi considera "normal" pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Lulinha tornou-se conhecido por ter nascido em decúbito dorsal para a lua – vendeu sua "empresa" de joguinhos eletrônicos por 5 milhões de reais e hoje, segundo noticiam os jornais, instalado no mundo empresarial, goza de confortável prosperidade.

O galho do Arruda

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, um velho conhecido das colunas de jornal, José Roberto Arruda, atual governador de Brasília, era flagrado por crime que – supõe-se de imodéstia: em vez dos dois ou dos dez "paus" de Vavá, Lurian e Sato, inflacionou para 600 mil reais a contribuição "voluntária" arrecadada de fornecedores do governo. Faça-se justiça, porém – em vez de ficar com tudo, Arruda mandou distribuir 400 mil aos deputados da sua "base aliada" e guardou os 200 mil sobrantes, para "despesas" futuras, em "lugar ignorado e não sabido" como diziam os velhos policiais, no tempo em que prendiam e os gatunos ficavam na cadeia. Isso, porém, foi no tempo em que o Ariri Cachaça não bebia, amarrava-se cachorro com linguiça, a onça bebia água na hora certa, a porca torcia o rabo e o Brasil não era o país da impunidade ampla, geral e irrestrita de hoje.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A respiga da semana – Jayme Copstein

Faz muito tempo que não ouço jornalistas falarem em respiga (ato de recolher as espigas de um milharal, sobradas na lavoura, após a colheita). Nas velhas redações, significava ler todos os jornais e fazer síntese de matérias importantes ou interessantes que aquele jornal não tivesse publicado. Se a palavra desapareceu do jargão profissional, a respiga ressuscitou com toda a força e utilidade na Internet. Há inúmeros blogs desempenhando o papel com muita competência.
Fosse eu fazer a respiga das coisas publicadas na semana que passou, em Porto Alegre escolheria artigo da socióloga e acadêmica de Direito Rose Moraes, sobre a diminuição das vendas na última Feira do Livro. Foi publicada no portal do jornalista José Luiz Prévidi (www.previdi.com.br) e ainda pode ser lida na seção "Ainda há tempo".
É a melhor análise do que ocorre com a Feira do Livro de Porto Alegre: "É o Centro que está matando a Feira do Livro". Leiam: "Fui uma das muitas pessoas abaixo dos 55 anos que não apareceu na Feira do Livro deste ano", ela argumenta. "O motivo é que não gosto do local onde ela acontece. Acho sujo, confuso, apertado. Não é um ambiente agradável para se fazer compras. É claro que a Feira ocupou a Praça da Alfândega nos anos 50 para ficar à feição de quem tinha de passar por ali. Hoje, porém, acho que ela é apenas uma pedra no meio do caminho dos que têm assuntos para resolver no Centro e estão com pressa de voltar para casa".
E conclui: "A Feira do Livro na Praça da Alfândega é um anacronismo de uma cidade que desapareceu. Ela vem de um tempo no qual a vida social de Porto Alegre acontecia no Centro, e minha mãe vestia suas melhores roupas e calçava sapato alto de bico fino para ir aos bailes do Clube do Comércio. Uma época onde não havia shoppings com ar-condicionado e estacionamento para os carros da classe média, já que a todos andavam de bonde".
Oriente Médio
Fora de Porto Alegre eu escolheria o artigo de Franklin Goldgrub, professor da PUC de São Paulo, "O conflito do Oriente Médio não cabe na camisa de força ideológica", publicado originalmente na Revista PUC Viva, da Associação dos Professores da PUC-SP http://www.apropucsp.org.br e reproduzido também em www.jaymecvopstein.com.br). Goldgrub mostra o que tem sido escamoteado nos rios de tinta e saliva derramados sobre o Oriente Médios:
Não é segredo que a esquerda passa por uma profunda crise, desencadeada pelo colapso da União Soviética e dos regimes comunistas da Europa Oriental", ele disseca. "São bastante conhecidos os problemas econômicos e os percalços éticos da Revolução Cubana, o caricatural regime norte-coreano, o autoritarismo de Chavez, o genocídio cambojano, o expansionismo chinês (Tibete). A ideologização do conflito do Oriente Médio, visando transformá-lo em algo análogo à luta de classes, com Israel no papel do país colonialista enquanto os palestinos são chamados a representar a população nativa oprimida doublé de proletariado explorado, tenta reafirmar a autoimagem idealizada do militante e recuperar a dimensão ética da esquerda".
E conclui: "O quadro é convenientemente amputado do seu entorno, ou seja, o interesse das ditaduras do Oriente Médio em manter suas sociedades em estado semifeudal, razão principal (mas nunca mencionada) de sua profunda hostilidade a um país cuja estrutura econômica e social é percebida como ameaçadora pelos sheiks, reis, emires, aiatolás, imans e generais".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os carros que Hitler e Getúlio não tiveram – Jayme Copstein

Falsas antiguidades são boa isca para fisgar otários endinheirados. O Sul de ontem noticia a compra, por um bilionário russo, do Mercedes 770K que teria pertencido a Adolf Hitler. A própria Daimler, desmentiu a versão do vendedor, Michael Frölich, negociante de carros usados, que alegava ter garantia da fábrica, quanto à autenticidade da peça.

Quem leu sobre Hitler deduz que ele jamais possuiu qualquer automóvel. Não tinha vida fora do delírio ideológico, não praticava nenhum esporte, não cultivava nenhum passatempo. Antes de se tornar ditador, não tinha dinheiro para nada. Depois, dispunha de carros, aviões e até navios, como qualquer governante.

Hitler era pobre quando se alistou no exército, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ferido em combate e condecorado por bravura , permaneceu nas fileiras depois de 1918, engajado no serviço de informações. Tinha por missão espionar grupos políticos oara detectar e abortar subversões.

Foi assim que conheceu e apaixonou-se pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Ao nele ingressar, tornou-se militante profissional, sustentado pelos correligionários e também pelos direitos autorais de "Minha Luta (Mein Kampf)", que o fizeram milionário ao assumiu o poder porque a compra do livro passou a ser obrigatória , graças aos "argumentos convincentes" da Gestapo.

Chama a atenção na notícia a versão do vendedor, alegando ter encontrado o carro, após "procurar em toda a parte como um louco", em uma garage a apenas uma hora de distância de Düsseldorf, a cidade onde vive e tem o negócio. A "cascata" faz lembrar episódio semelhante, em Porto Alegre, de alguém tentando vender ao Governo do Estado um automóvel que supostamente pertencera a Getúlio Vargas. Contei o episódio em "Opera dos Vivos" livro de reminiscências dos jornais por onde passei.

Eu era repórter do Diário de Notícias e fui apurar a história. O vendedor se dizia oficial reformado da Brigada Militar e alegava estar se desfazendo do "tesouro" para salvar a única filha, da tuberculose, angariando recursos para tratá-la em sanatório de Minas Gerais". O carro, fabricado em 1947, era uma limusine, das que se alugam a 30 dólares por hora em Nova York, com geladeira e mesa para o lanche. O suposto oficial reformado não explicava como viera parar em suas mãos. Sempre que se insistia na pergunta, contava que fora presente da ONU a Getúlio e repetia, de cara compungida, a história da filha tuberculosa, acrescentando críticas ardentes à falta de memória do brasileiro e apelos para "preservar relíquia histórica de inestimável valor".

A história não fechava em nenhum ponto. A ONU jamais deu presentes a alguém. Se o fizesse, não seria ao sr Getúlio Vargas em 1947, porque ele estava no ostracismo, fora do governo do qual fora deposto dois anos antes. Só voltaria em 1951. Àquela altura, 1966, já ninguém ia às serras de Minas Gerais ou de São Paulo para curar tuberculose. Os sanatórios tinham fechado ou mudado de especialidade e o tratamento fora reduzido a antibióticos.

Um telefonema a Alzira Vargas liquidou o assunto e revelou a curiosidade: Getúlio jamais tivera um automóvel de sua propriedade. Dona Alzira explicou que "papai não se entusiasmava por essas coisas". Um integrante da guarda pessoal, que àquela altura vivia em Porto Alegre e fazia segurança nos Associados do Rio Grande do Sul, tinha outra versão: "Getúlio era 'mão de vaca' (palavras textuais). Não gostava de gastar dinheiro".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Delírio de um otário – Jayme Copstein

Ninguém sabe se o presidente Luiz Inácio Silva ouviu falar de Neville Chamberlain, antigo primeiro-ministro inglês que também desejou perpetuar seu nome na História da Humanidade, celebrando a paz no mundo com Adolf Hitler, psicopata austríaco, ignorante, mas inegavelmente dotado de carisma e que sabia para falar para as massas e por isso mesmo alcançou altos índices de popularidade da Alemanha nos anos 30 do século passado.

Àquela altura, ninguém mais confiava em Hitler. Os próprios generais alemães tinham decidido prendê-lo por que suas maluquices estavam conduzindo o país à guerra. Pois Neville Chamberlain no último momento, para apaziguar Hitler, decidiu oferecer-lhe mais do que ele pedia em relação à Tcheco-Eslováquia. Em troca, recebeu um papel assinado, que sacudia vaidoso, enquanto posava para os fotógrafos e proclamava:> "Trouxe a paz para o nosso tempo!".

Mais de 50 milhões de mortos depois, mesmo tendo recebido a visita do presidente de Israel e do presidente da Autoridade Palestino, para alertá-lo das intenções de Mahmoud Ahmadinejad que financia o Hamas para manter aceso o conflito do Oriente Médio, Luiz Inácio Lula da Silva fecha aos olhos aos crimes da ditadura iraniana, porque deseja perpetuar seu nome na História da Humanidade, celebrando a paz no mundo.

Neville Chamberlain, de fato, conseguiu perpetuar seu nome na História, por ter mergulhado o mundo na catástrofe. Mas Luiz Inácio Lula da Silva nem isso conseguirá porque sequer é protagonista do quadro. O papel que está assumindo é o de um otário atacado de delírio, ao apostar suas fichas na banca de um bicheiro larápio.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ideologia e educação – Jayme Copstein

O brasileiro come mal, faz pouco exercício e engorda acima dos limites aceitáveis. A constatação é de recente levantamento do Ministério da Saúde, confirmando a tendência à obesidade já identificada na população pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2004. O próprio Ministério da Saúde assinala que, com mais dinheiro no bolso, preço da comida mais baixo, mas sem informação adequada, o brasileiro alimenta-se mal. Se os números relativos à desnutrição baixaram significativamente, do lado oposto a obesidade crescente vai se refletir no aumento da diabete e das doenças cardiovasculares.

O quadro mostra com sobras que o problema básico a emperrar permanentemente a vida do país é o da educação. Ela não pode se limitar à instrução dos bancos escolares, mas deva ser incluir ampla e adequada informação a toda população, o que naturalmente não se faz através de muezins proclamando que Lula é Lula e Dilma, sua maior profetisa. Menos ainda com um ensino que apenas pretende formar militantes, como fica patente em teste do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), divulgado pela revista Veja desta semana, A questão propunha:

"Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise financeira mundial era um tsunami no exterior, mas, no Brasil, seria uma marolinha, vários 'veículos da mídia' (sic) criticaram a fala presidencial. Agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula. Considerando a realidade atual da economia no exterior e no Brasil, é correto afirmar quer houve, por parte dos críticos – a) atittude preconceituosa; b) irresponsabilidade; c) livre exercício da crítica; d) manipulação política da mídia; e) prejulgamento."

O uso do Enade como instrumento de culto da personalidade está muito claro na questão formulada e também na intenção de substituir a informação pela ideologia. O que, aliás, vem acontecendo no Brasil há longo tempo e é responsável direto pelos elevados índices da violência, com origem na educação básica, quando passou, a pretexto de erradicar a submissão política, a formar jovens raivosos, sem lhes incutir as normas mais comezinhas de convivência social.

Não é, portanto, a obesidade o que de pior pode acontecer a uma sociedade submetida a tais deformações. Mas serve como um exemplos acessível de que, quando falta a informação adequada, apenas se substitui um mal por outro. Mais dinheiro sem informação apenas está substituindo a subnutrição por diabete ou as doenças cardiovasculares. A educação genuína (informação correta + normais de convivência social) nos livraria disso.

Empate.

Agnaldo Fernandes escreve: "Que este é o país do futebol – além do carnaval, é claro – prova a contabilidade da desgraça, calculada pelos marqueteiros políticos. Com o apagão de Dilma, a oposição marcou um a zero. Com o desabamento de uma viga do Rodoanel em São Paulo (obra do governo Serra), o jogo empatou em um a um. E agora? – quem marca o próximo gol, contra ou a favor? O governo ou a oposição"

domingo, 22 de novembro de 2009

Lula e Battisti – Jayme Copstein

Sexta-feira, conversávamos, os advogados Flor Edison da Silva Filho e Adir Ney Generosi e eu sobre as sinucas de bico em que o diplomata diletante Marco Aurélio Garcia têm colocado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao prestar suposta assessoria de Relações Internacionais.

Garcia, com passagem fugaz pelo jornalismo (editoria internacional) não consegue descolar sua retina das visões ideológicas anacrônicas adquiridas nos bancos universitários, ao tempo em que o regime militar pretendeu substituir o bíblico livre arbítrio pelo Regulamento Geral do Exército. Além da experiência falta-lhe pé na realidade para admitir que figuras como Hitler, Stalin, Mao, Pol Pot, Castro, Milosevic ou Ahmadinejad perseguem não os que supostamente se opõe à grande humanidade feliz de Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e da Cegonha, mas apenas quem representa perigo para o seu poder absoluto.

As nações agem também da mesma maneira quando se trata de seus interesses. Garcia já podia tê-lo comprovado na risadinha de Putin, quando lhe foi proposto o eixo Brasília-Moscou ou quando os "companheiros" africanos cortesmente recusaram a proposta de uma "frente" por que têm as melhores relações comerciais com a União Europeia e não teriam a quem vender seus produtos em caso de ruptura. Ou então quando a então ministra do Comércio da França, Christine Lagarde, acusou o Brasil de pretender deixar a Europa sem roupa quando foi pedido ao "companheiro" Sarkozy o mesmo tratamento fiscal, sem limitação de cotas, concedido à produção agrícola das nações africanas.

Madame Lagarde deu-se ao luxo até de ser vulgar na recusa: "Já estamos de calcinhas e sutiã e vocês [do Brasil] querem que continuemos a tirar a roupa. Por isso a nossa resposta é não!" Com toda a certeza, assim como Garcia não consegue sair do centro acadêmico ao formular suas políticas internacionais, sobra em Madame Lagarde a lembrança do tempo em que a Legião Estrangeira, onde os Battisti de todo o mundo escondiam seus crimes, cortava a mão dos negrinhos da África para lhes mostrar quem mandava no pedaço. E continua mandado: a produção agrícola desses "negrinhos" – café, cacau, algodão, açúcar – está nas mãos das grandes empresas europeias que a negociam como se cultivada na própria Europa. Quando se reclama da maroteira, leva-se um coice pela cara.

É neste contexto em que, sob as mais ardentes juras de amor, cada um só enrola a linha do carretel na sua própria direção e quem não protege seu traseiro com uma tampa de ferro, faz papel de bêbado e de bobo da corte, que Lula terá de decidir sobre a extradição de Battisti. O dr. Adir Generosi, na conversa que tivemos, formulou hipótese interessante: se Lula pretende desempenhar algum papel de relevo no cenário internacional, para preencher o vácuo de poder dos quatro anos que o separam do próximo mandato de 2014, não pode recusar a extradição de Battisti. Mandar um tratado diplomático às favas e desafiar a ordem pública mundial em nada contribui para preservá-lo como o "Cara". Se há alguém perito em enrolar o carretel para dentro e já nasceu com uma tampa de ferro revestida de teflon no traseiro, com toda a certeza esse alguém é Lula.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O tribunal das urnas – Jayme Copstein

Segundo fonte do Palácio do Planalto, "que pediu para permanecer anônima", conform O Sul publicou ontem, Lula 'não deve desautorizar o ministro Tarso Genro [Justiça] candidato ao governo do Rio Grande do Sul". Por esta razão libertará Cesare Battisti, apesar do reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal de que seus crimes não foram políticos e, portanto, ele deve ser extraditado.

O presidente Lula não vai conseguir o intento, se a fonte anônima refletiu com precisão o seu pensamento. No momento em que Tarso Genro se desqualificou como ministro da Justiça, ao conceder por arbítrio pessoal, refúgio político a um criminoso comum, com a clara intenção de sustar procedimentos legais, pediu para si próprio julgamento bem mais amplo, o tribunal da opinião pública, a se manifestar, aqui no Rio Grande do Sul, através do voto dos eleitores, quando se travar a disputa pelo Governo do Estado.

Necessariamente Battisti será tema de debate na campanha eleitoral, dentro do item da segurança pública. O eleitor gaúcho vai dizer nas urnas se o que importa é o crime em si ou quem o cometeu – impunidade garantida de antemão a amigos e correligionários.

A propósito

Curioso o açodamento do defensor de Battisti, o causídico Luís Roberto Barroso, sugerindo a libertação imediata de seu cliente, mesmo antes da publicação do acórdão do STF: "Se houver demora, como está inequivocamente declarada sua competência, penso que o presidente pode exercê-la [mesmo sem a publicação]".

Em resumo, Sua Senhoria quer proclamar o "liberou geral, tudo é Carnaval" com alguns meses de antecedência.

Aldori, o perplexo

Aldori, aquele gaúcho que só fala com Camões, o cavalo caolho que só vê metade das coisas, mais uma vez ficou perplexo. Não sejam maldosos. Aldori não é maluco, apenas crê que político honesto9, só no Rio Grande do Sul. Também não sejam brocoiós, achando que o cavalo fala. Cavalo não fala. Só relincha.

O "causo" é que o Aldori é teimoso. Ontem de manhã lá estava o Aldori querendo saber do Camões o que o ministro Tarso Genro quis dizer, quando afirmou que o presidente Lula só decidirá sobre a extradição de Battisti, "com responsabilidade e seguramente dentro da visão constitucional, humanista e altamente politizada e qualificada com que sempre tomou suas decisões".

- Fala, Camões! – bradou, impositivo.

O Camões, com sua proverbial sabedoria cavalar, só relinchou. O que enfureceu o Aldori:

"Fala, cavalo. Tu só relincha!"

Ditos e achados

Escrevendo em seu "Dicionário do Diabo", o jornalista norte-americano Ambrose Pierce disse: "No famoso dicionário do dr. Johnson, patriotismo é definido como o último refúgio de um canalha. Com todo o respeito devido a um dicionarista bem-informado, mas inferior, permito-me que é o primeiro."

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Peculiaridades do Caso Battisti – Jayme Copstein

A Constituição e a legislação atinente conferem ao chefe do Estado Brasileiro o poder de negar, a seu inteiro arbítrio, extradição de estrangeiro solicitada por Nação que conosco mantenha acordos específicos, Não resta nenhuma dúvida a respeito, conforme provaram por 9 a 0 os ministros do Supremo Tribunal Federal, anteontem, ao julgarem Cesare Battisti, delinquente condenado por quatro assassinatos na Itália. Mas, convenhamos, se é assim, há algumas peculiaridades neste processo que nos induzem a exercícios de lógica, usando da liberdade de pensamento e de expressão que a mesma Constituição nos confere – ao menos enquanto os correligionários e simpatizantes mais entusiasmados de Battisti não a revogam

A primeira peculiaridade foi levantada pelos próprios ministros do STF, na constatação de que nas centenas de casos de extradição julgados antes, nunca esteve em xeque se o eventual ocupante da presidência da República poderia ou não acatar a decisão da Corte. Desde que tem o poder de recusar a extradição sem consulta ao STF, é forçoso admitir que o presidente da República atendeu ao pedido de extraditação, pois é a única hipótese em que necessita saber se não há impedimento legal para que o faça.

Ora, se negarmos que é, cairíamos na demasia de supor que o Presidente da República é um demagogo barato, sem coragem para assumir suas decisões, jogando a responsabilidade no colo do Supremo. E dentro da mesma linha, com os ministros do Supremo devolvendo a prebenda ao Presidente, ao som do samba – toma que o filho é teu.

"Honni soi qui mal y pense" – maldito seja quem mal isto julgar, já dizia Eduardo III no tempo das Cruzadas, quando punha de volta na perna de sua amante, a Condessa de Salisbury, a liga azul que ela deixara cair enquanto saracoteava no baile. Afinal, estamos tratando do Presidente da República Federativa do Brasil e de ministros do Supremo Tribunal Federal, pessoas ilibadas, de cuja contração a dignidade dos seus papéis devem nos dar prova a todo o momento.

Enfim, são conjecturas, fala-se muito, muito pouco é dito, correm rumores de que o presidente Lula busca justificativa humanitárias para tomar sua melhor decisão. Com toda a certeza ele levará em consideração, por solidariedade, o sofrimento das famílias dos assassinados, todos mortos pelas costas, todos por vingança, ou por terem colaborado na prisão de Battisti ou por terem reagido a assaltos que ele liderou anteriormente. A princípio, ele era um delinquente comum. Convertido na cadeia por outros terroristas, apenas acrescentou uma utopia como pretexto para seguir em sua carreira de crimes.

Mural

Sobre as considerações relativa ao Caso Battisti, na coluna de ontem, Luís Lander escreve: "A lógica exposta é brutalmente simples, mas ... em se tratando de PT, Tarso Genro como Ministro da "Justiça", Luiz Inácio como Presidente da República, STF ideologicamente montado, Senado aos frangalhos, Câmara Federal, depois de 2005, nunca mais recuperará um mínimo de sanidade e credibilidade, aposto que o terrorista fica. O que me intriga é: porque os "refugiados" cubanos foram tratados, de forma tão diferente pelo Ministro?"


 


 


 



 

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Por que a marolinha não afogou o Brasil – Jayme Copstein

Até pode não ter chamado a atenção por ter sido publicada na véspera do feriadão – 14 de novembro – a entrevista do diretor de Política Monetária do Banco Central, Mario Torós, ao jornal Valor Econômico, reproduzida pelo portal www.globo.com, Mesmo assim é de causar espanto que logo tenha sido sepultada em silêncio: revela que o presidente da República e, particularmente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, portaram-se como macacos em loja de cristais no auge da crise financeira. Não fosse a competência, destreza e fibra da equipe do Banco Central e a liderança de Henrique Meirelles, que chegou a pensar em demissão, o Brasil teria se afogado na "marolinha" de Lula.

Em outra ocasião, em maio de 2008, quando o Copom elevou a taxa Selic para prevenir inflação resultante do crescimento acelerado do primeiro trimestre, a boataria de que Lula iria mudar o presidente do Banco Central, nomeando para o posto o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, fez Meirelles entregar a carta de demissão. As coisa felizmente se acomodaram e Luiz Gonzaga Beluzzo, como todos sabemos, se houve com grande sucesso na presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras, com direito a destemperos na xingação ao juiz de futebol Carlos Simon.

Há uma discussão jamais decidida e por isso mesmo interminável, para se saber se Deus é ou não é brasileiro. Há certos fatos, porém que nos levam à firme convicção de que, no mínimo, Ele tem especial desvelo por este país.

Caso Battisti

O Supremo Tribunal Federal admitiu por cinco votos a quatro a procedência do pedido de extradição do terrorista italiano Césare Battisti, formulado pelo governo da Itália, mas – também por cinco votos a quatro – que a decisão é pessoal do presidente da República. Como Lula havia se comprometido com líderes europeus, em encontros internacionais, que acataria a decisão do STF, reina agora a expectativa do que ele vai fazer, diante da militância mais extremada, capitaneados por Tarso.Genro.

Os ministros do Supremo debateram com ardor uma segunda questão, se Lula está ou não obrigado a cumprir sua decisão neste tema específico. Ora se lei possibilita ao chefe de estado recusar a extradição por decisão pessoal – poder discricionário atribuído pela Constituição e por legislação específica – e apenas o obriga a ouvir o STF quando decide extraditar, fica muito claro que a simples remessa da questão à Corte significa a afirmação tácita de que a extradição está sendo solicitada. Portanto, cabe ao STF a decisão final, tanto afirmativa como negativa.

O resto, data vênia, data máxima vênia, é sexo dos anjos.

Ditos e achados

"Dai-nos urna cena e com ela marcaremos o tempo de forma a tirá-lo da uniformidade sem graça e sem sentido de seu fluxo contínuo. No campo das miudezas cotidianas, o momento do "parabéns a você" é o teatro que assinala a passagem de mais um ano devida. No campo das grandiosidades históricas, o muro forneceu o cenário, e as pessoas que trepavam em cima dele, dançavam e lhe arrancavam pedaços. num misto de levante e festa popular, com¬puseram a dramaturgia de que carecia um evento do porte da queda da fortaleza comunista." Roberto Pompeu de Toledo, na revista Veja desta semana, sobre os 20 anos da Queda do Muro de Berlim.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

À margem de uma palestra – Jayme Copstein

Quem foi buscar transfusão de talento ou, mais modestamente, aval para seus narizes-de-cera (*), anteontem, na palestra do escritor e jornalista Tom Wolfe, saiu tosquiado. Encerrando o "Fronteiras do Pensamento" deste ano, Wolfe apenas se propôs a traçar uma charge dos modismos intelectuais da nossa época, subjugada ao catecismo do politicamente correto e gerida por uma "aristocracia do gosto" cujo espírito de tolerância bota talibãs e aiatolás no chinelo.

Foi disso que Wolfe falou todo o tempo, com nuanças impossíveis de serem transmitidas pela tradução simultânea, a não ser que os intérpretes sejam atores consumados. É mais do que evidente que não negou a genialidade de Picasso ou de James Joyce – ninguém tem como revogá-la – mas fez gozação dos subprodutos, vendidos pelos camelôs da "aristocracia do gosto" a quem deseja comprar atestados de bom-mocismo, inteligência e erudição. Como otários sempre encontram vigaristas prontos a depená-los, este mercado mostra-se mais promissor que a pirâmide financeira criada por Carlo Ponzi e aperfeiçoada recentemente por Bernard Madoff.

Wolfe exemplificou o beco sem saída do politicamente correto com a carnavalização da liberdade sexual, ao comparar as fêmeas dos chimpanzés, que sinalizam seu desejo erguendo a cauda e expondo os genitais, com o quadro que testemunhou em uma universidade americana, onde cerca de 20 garotas ajoelhadas diante de outros tantos rapazes – todo mundo nu – praticavam sexo oral como se estivessem em uma linha de montagem. O que civiliza o animal humano, o "bípede implume" de Platão, são os códigos de convivência social, purificados de seus excessos na medida em que o conhecimento se alarga e se aprofunda. Nada, porém, a ver com fantasias de "seres-robôs" recentemente criados por uma cruza de neurociência e genética, segundo a qual todos os comportamentos já estão programados no DNA.

Nada disso é novidade nem se distingue um til das exasperações do século 19 quando os destroços do feudalismo recalcitrante manipularam a genética para se preservar como "elite pensante" e desencadearam a tragédia étnica do Século 20. Sequer o novo jornalismo de que Wolfe, com Norman Mailer, Truman Capote e Gay Talese são apontados como luminares, é algo verdadeiramente novo. Quem presta atenção no britânico Winston Churchill, no americano Ernest Hemingway e no brasileiro Euclides da Cunha, apenas para citar alguns exemplos de bom jornalistas e bons escritores, sai convencido que escrever se faz com mais ou menos talento, mais ou menos cultura, e que a diferença básica entre o jornalismo e literatura é que jornalistas criam textos para os fatos que testemunharam, enquanto ficcionistas criam fatos para textos que assomam em suas mentes.

Fora disso, é mera papagaiada, para a qual certa "aristocracia" devota seu gosto. Neste caso já não está mais aqui quem falou.

(*) Nariz-de-cera, em jargão jornalístico, é uma futilidade que nada acrescenta a uma notícia ou reportagem, escrita ao mais das vezes para preencher espaço. Banida durante decênios, tem retornado aos jornais como "originalidade". Nada há nada que seja novo debaixo do sol, como já dizia o Eclesiastes, há milênios,

Vai acontecer

O seminário "Debates Contemporâneos" vai examinar a literatura de hoje no Brasil, na Alemanha e na França, no fim deste mês (dias 24,25 e 26). Participam das palestras, mesas e oficinas críticos literários, escritores e editores. Promoção conjunta do Instituto Goethe, o Instituto de Letras da UFRGS e a Secretaria Municipal da Cultura. Na pauta, as mudanças no hábitos de leitura, trazidas pela leitura digital.

domingo, 15 de novembro de 2009

Diferenças e trivialidades – Jayme Copstein

Luíza Erudina e Paulo Maluf foram prefeitos em São Paulo, fizeram péssima administração e foram processados por problemas com dinheiros públicos.
Terminam aí as semelhanças e as trivialidades. Erundina saiu mais pobre do que entrou na maior Prefeitura do país, Maluf enriqueceu ainda mais. Erundina não embolsou o dinheiro público, mas apenas o gastou mal, pagando um e apenas um anúncio defendendo greve dos transportes em 1989. Os processos enfrentados por Maluf são excelente material didático para ensinar o Código Penal e, principalmente, os labirintos do Código de Processo Penal.
Erundina está entregando o único apartamento que possui – abriu mão da impenhorabilidade assegurada por lei – dois calhambeques (um Fiat Pálio 1997 + um Gol 2002), e mais 10% de seu salário para pagar a dívida. Os oficiais de Justiça não conseguem encontrar o Porsche de Maluf e ele alegou – pobrezinho! – que os 40 mil reais penhorados de sua conta salário eram para seu sustento. Não paga os 120 mil reais a que foi condenado por difamação de uma procuradora de Justiça. Pelo resto ainda nem foi julgado.
Tem toda razão o advogado Flávio Crocce Caetano que defendeu Erundina: "Ela não fez chicana. Fez o que a Justiça pediu e a execução foi rápida. No Brasil, se a pessoa age com má-fé, se se esquiva de oficiais, não declara bens para a penhora, nunca é punido
Resumindo: a diferença fica com Luíza Erundina, a trivialidade nacional com Paulo Maluf.

Bartolomeu de Gusmão

Se não leio ontem em O Sul a reportagem de Felipe Caruso sobre os 200 anos da experiência do padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão, a data me teria passado despercebida. Mas também passou despercebida ao autor da reportagem a real importância do evento que estava muito além da invenção do balão de São João e que "havia algo mais leve que o ar" (sic).
A demonstração do Padre Bartolomeu de Gusmão é um momento decisivo da história da aviação. É, ao que se tem notícia, a primeira demonstração de que se poderia navegar no ar, era a fronteira entre o sonho de Ícaro e a realidade de Santos Dumont: "(...) um instrumento para andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar, capaz de vencer duzentas léguas e meia por dia, o que poderia ser muito importante para os exércitos" – palavras textuais quando solicitou a D. João V permissão para demonstrá-lo na corte em Lisboa.
Concedida a licença, o padre Gusmão trouxe um pequeno balão de papel, como os de São João, que se elevou quase à altura do teto e foi derrubado pela criadagem porque flutuou em direção do cortinado, ameaçando incendiá-lo. Bastou para que considerassem a demonstração um fiasco e o padre caísse no ridículo, ganhando o apelido de Passarola.
Muitos anos depois, quando a tecnologia do voo tornou-se disponível, a história foi reescrita para absolver os patetas que não tinham percebido aquele primeiro passo a caminho do céu. Transformaram uma caricatura da época – um pássaro gigante com passageiros no bucho – em projeto batizado convenientemente de "Passarola", atribuindo tudo ao padre Bartolomeu de Gusmão, para esconder a perfídia com ele praticada.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O apito de ouro – Jayme Copstein

Pois um juiz de futebol, o goiano Elmo Resende está curtindo saia justa porque apitou antes de a bola ter sido chutada, mas assim mesmo validou o gol. Ora, ora, por que tanto escândalo? Ouvi certa vez, em um programa de tevê, que mesmo tendo Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos naquela Seleção de 1958, na véspera da partida contra a Suécia os cartolas da CBF convidaram o juiz para vir ao Rio de Janeiro, caso o Brasil vencesse e fosse campeão do mundo, e depois ainda lhe deram um apito de ouro.

Desde então não escrevo nem falo de futebol. As pessoas, sem saber o motivo, perguntam se é excentricidade. Cada um tem a sua. Abrem a boca, pálidas de espanto, como diria o poeta Olavo Bilac, quando lhes digo que fui cronista esportivo da "Gazeta da Tarde", glorioso jornal da cidade do Rio Grande, de 4 páginas, 300 exemplares diários. Cabia-me o importante papel de registrar a história cotidiana do futebol riograndino, dívida para sempre caloteada, por sorte jamais cobrada pelos conterrâneos.

Hoje, porém, com a façanha do Elmo Resende, não consigo resistir à tentação: para mim não é novidade. Tanto não é novidade que já contei aqui esta história e poderia ficar repetindo, como o velho Timbira do poema de Gonçalves Dias, "I-Juca Pirama", sobre muitos causos parecidos e também dizer, como ele, "Meninos, eu vi!".

De fato vi muita coisa, mas a maior parte ouvi. Vi, como o velho timbira, o veterano Esporte Clube Rio Grande empatar em 1 a 1, gol do Carruíra, no último minuto do segundo tempo, com o selecionado carioca de 1936. Os jornais locais registraram manchete na primeira página e torcedores mandaram re-imprimir a matéria em seda, enquadrar em belas molduras e pendurar nas salas-de-visitas, para perpetuar o feito glorioso.

Eu vi. Mas foi como cronista que ouvi o resto da história: quando a bola chegou nos pés do Carruíra, o Orlando, escriturário da Prefeitura, torcedor do "Veterano" e que estava servindo de juiz, apitou.

Todos pararam, menos o Carruíra, que chutou a bola na rede. Para surpresa geral, o Orlando apontou o centro do campo, confirmando o gol. Os cariocas reclamaram, mas em vão. O centro-avante carioca (naquele tempo era center-foward) Carvalho Leite, que por sinal jogava no Botafogo, argumentou:

– Seu juiz, o senhor apitou antes da bola ser chutada!

"É que o senhor não é daqui, e não conhece o Carruíra", o Orlando respondeu. "Se conhecesse, saberia que ele nunca errou um gol dali."

E pondo um dedo na cara do Carvalho Leite, advertiu:

"Se reclamar mais uma vez, vai pra rua!".

Mal houve tempo de dar nova saída, a partida terminou. O relógio do Orlando estava em boa forma e também corria muito. Aliás, ele nunca mais foi convidado para ser juiz nem de pelada.

Que pena. Desde então, não consigo deixar de pensar. Que dupla, aquela, o Carruíra de goleador, o Orlando de juiz, com seu apito de ouro. Se a gente tivesse se encaprichado e mantido a dupla, o nosso time poderia ter chegado a campeão do mundo.

Agora, com o Elmo Resende, quem sabe, heim? É só arranjar o goleador.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O raio que sobe – Jayme Copstein

Está o governo em conluio para decidir quem vai assumir o apagão de terça-feira. A esta altura dos acontecimentos, há uma investigação frenética para descobrir não o que aconteceu, mas quem vai dar a cara a bater. É preciso salvar a candidatura de Dilma Roussef, antes que ela tenha de dizer, como Fernando Henrique Cardoso: "Esqueçam tudo o que falei". Apresentada desde a primeira hora como administradora competente, ocupou a pasta de Minas e Energia, garantiu que "apagão não cai do céu".

Até certo ponto, a ministra tinha razão porque nem todo o raio cai do céu. Alguns sobem da terra e vai ver que este é o caso. Não foram feitos os investimentos que ela própria preconizava, conforme constatou o Tribunal de Contas, e o governo acabou se revelando todo o problema, não apenas parte dele, como ela também disse a respeito de seus antecessores.

Guardadas as proporções e dando graça a Deus não se trata de energia atômica, a situação é muito parecida com a de Chernobyl, ponde os camaradinhas do Partido se adonaram confortavelmente das suculentas pepineiras e consideraram inimigos contrarrevolucionários os técnicos que alertavam sobre a precariedade da segurança. Dilma foi guindada ao Ministério das Minas e Energia não porque entendesse de uma coisa ou de outra, mas pela sua devoção ideológica. Acabou substituída por Edson Lobão, imposto a Lula, entre tantas outras pílulas amargas, por Zé Sarney.

Tudo indica que Lobão está sendo cogitado para salvar Dilma do vexame. Não conseguiu passar de desculpas esfarrapadas, gaguejadas na entrevista coletiva de terça-feira, e recebeu um canhonaço do seu coleguinha Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, exigindo com veemência que o governo dê explicações que "satisfaçam à sociedade".

Tudo bem. Neste momento, Lobão é o Judas ideal para receber a pancadaria. Só falta combinar com Zé Sarney, seu padrinho, cuja notável biografia, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o torna intocável.

Acrobacia jurídica

Acrobacia jurídica, do advogado-geral do Senado, Luiz Fernando Bandeira de Melo, defendendo a posse de "suplentes" e até de candidatos que nem suplentes são porque suas legendas sequer alcançaram o quociente eleitoral: "A ampliação não altera o resultado das eleições. Os que foram eleitos permanecem eleitos. Só serão convocados alguns outros representantes do povo.".

Altera, sim, porque empossaria quem não foi eleito e, portanto, não é representante do povo. Luiz Fernando perdeu de goleada: 8 a 1.

A vez do eleitor

O ministro Marco Aurélio Mello, com sua brilhante defesa de Cesare Battisti, conseguiu de novo adiar a decisão sobre se o Brasil extradita ou não o terrorista italiano. A votação agora está empatada em 4 a 4. A próxima sessão do STF vai ferver com o bate-boca: cabe ou não o voto de Minerva ao presidente Gilmar Mendes?

O cidadão comum, porém, não deve se sentir impotente diante desse quadro. Como eleitor, pode se manifestar, não com papagaiadas de votar em branco ou anular voto, para evitar o ocorrido na Venezuela onde a abstenção "esperta" deu 100% do |Congresso a Hugo Chaves. A eleição de 2010 é um encontro de contas do eleitor com certos políticos que estão se lixando para a opinião pública, uns dizendo em alto e bom som, outros caborteiramente escondendo.

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A grande incógnita – Jayme Copstein

A grande incógnita: o Brasil é um país soberano? A defesa do italiano Cesare Battisti acha que não. Ameaça revogar a ordem constitucional brasileira, recorrendo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para libertar o terrorista italiano, caso o Supremo Tribunal Federal decida pela sua extradição. Simplificando: quer subordinar a última instância do Judiciário à vontade de um político que em 1º de janeiro de 2011 encerra seu mandato.

O povo elegeu Luiz Inácio Lula da Silva presidente de uma república democrática e não o Mussolini das Américas ou o Stalin dos Trópicos. Se querem colocar a questão em termos eleitorais, há uma excelente oportunidade no Rio Grande do Sul, onde o ministro Tarso Genro, amigo devotado de Battisti, é candidato a governar o Estado. Basta que inclua em sua plataforma a promessa de nomear Batistti para assessorar José Paulo Bisol na Secretaria de Segurança Pública em seu futuro governo, caso seja eleito. Mas que peça o voto plebiscitário do eleitor. Concorda com a impunidade do italiano, vota em mim. Não concorda, vota em outr5o candidato. Tudo simples e absoluitamente dentro da legalidade democrática.

Sem comentário

"Apagão não cai do céu. [Apagão] é não investir em geração e transmissão. Antes o governo era parte do problema". Dilma Roussef, declaração à imprensa em março de 2009.

"Fizemos as linhas de transmissão, estamos fazendo as hidrelétricas necessárias, e hoje posso dizer que o Brasil não tem e nem terá, em um curto prazo, qualquer problema de energia." Presidente Luiz Inácio Lula da Sil, idem, em 2008.

"Brasil no escuro: apagão afeta 9 Estados e o Distrito Federal". Notícia de ontem da Folha de São Paulo.

Enxurrada de dólares

Sobre o ingresso alarmante de dólares que valoriza o real, prejudica as exportações e põe em risco a produção industrial, estive conversando com gente do setor que entende do riscado, nunca se meteu em política e participou profissionalmente da formulação das ações do Banco Central ao longo de décadas.

Não é a primeira vez que acontece. Ao tempo de Mário Simonsen no Ministério da Fazenda e Paulo Lira na presidência do Banco Central, a enxurrada dos dólares foi contida com a fixação de um prazo mínimo de permanência no país. Podem trazer quantos dólares quiseres, mas só podem levá-los de volta em quatro ou cinco anos.

Equivale ao plantio e cultivo de uma árvore que exige cuidados e tempo para crescer e dar frutos. Quem especula, apenas retira o húmus, devasta o solo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Playboy sabe a resposta – Jayme Copstein

A não ser que os fotógrafos e os cinegrafistas tenham procurado o melhor ângulo – propaganda enganosa, se foi o caso – o mais pertinente para comentar sobre a alaúza protagonizada por uma aluna da Uniban é: "Que belo par de pernas!". Permitam-me confessar a politicamente incorreta mas invencível ojeriza pelos esqueletos ambulantes que faturam milhões (no que fazem muito bem) em desfiles de modas, Ao contrário do que diz o provérbio, a carne é forte...
No resto, foi mera soma de palhaçadas, começando com a fúria dos colegas acossando a senhorita, nada diferente do que fazem o MST, os usuários dos trens metropolitanos do Rio de Janeiro ou as torcidas de futebol, todos pretextando a mesma nobreza de propósitos e todos aderindo à bagunça instaurada pelo bom mocismo calhorda que transformou o Brasil em terra da impunidade. Cada um faz o que bem entende e todos discutem – se é proibido proibir, como se proíbe de proibir?
Culminou o episódio com a mercadântica revogação da irrevogável e mercadântica expulsão da aluna pela Uniban, graças à pronta intervenção das autoridades educacionais, enfastiadas por nada mais terem a fazer neste e agora, graças ao bom Deus, podendo dedicar-se de corpo e alma, em tempo integral, ao comprimento dos vestidos das moças universitárias.
Escapa em tudo isso, porém, uma frase da própria protagonista, de que havia "exagerado um pouco" (sic|) nas suas andanças pelas dependências da Uniban, Ora, todo o grupo tem seu código de conduta e convivência que, com a frase, ela reconhece ter desafiado. Não justifica a selvageria da reação dos colegas, apenas evidencia o que foi dito antes, que vivemos tempos de bagunça institucionalizada, mas induz a uma indagação: se ela sabia que era assim, por que o desafio?
Querem apostar que a resposta vem em uma das próximas edições da Playboy?
Perigo à vista
O ministro Guido Mantega tem toda a razão quando se mostra alarmado com a enxurrada de dólares derramada no Brasil – valoriza o real, derruba as exportações e põe em risco a indústria nacional. Há duas semanas, perguntava-se nesta coluna de onde vinha tanto dinheiro, sugerindo-se até a possibilidade de origem duvidosa. A resposta, entretanto, está no portal do economista Nouriel Roubini (http://www.rgemonitor.com): são dólares que especuladores obtêm em empréstimos a juros microscópicos no exterior e invistam em países que paguem juros maiores, como é o caso do Brasil.
É uma situação de risco igual a da "bolha" imobiliária que pôs as finanças mundiais em crise no ano passado. A certa altura, ela estoura – tal como entram, os dólares saem. Roubini diz que esta situação pode sacudir outra vez as finanças mundiais e é bom se precaver. O problema é que as medidas até agora adotadas não conseguiram sustar a enxurrada dos dólares. Mantega vai ter de pensar em algo mais drástico.
Mera coincidência
Deve ser coincidência. Mal o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se desentende com o Tribunal de Contas da União, a Polícia Federal descobre que um irmão de um ministro está metido em irregularidades. Com toda a certeza, as supostas irregularidades não começaram a ser praticadas ontem. Como ensina o Eclesiastes, tudo tem o seu tempo, e sendo o nosso Presidente um exemplo de devoção religiosa, o tempo da investigação é sempre quando os herejes põem em dúvida a santidade do governo.