domingo, 5 de setembro de 2010

O bom debate – Jayme Copstein

Agradeço e cumprimento o leitor Giordano Spinoza pela civilidade com que externa opinião desfavorável à coluna de sexta-feira ("A Nova Chicago"). É algo incomum. Gostaria que as discordâncias fossem assim conduzidas. Aproveitaríamos todos, leitores, jornalistas, os eleitores, quem participasse do debate.

Diz Giordani Spinoza: "Percebo que o amigo é pródigo. Precisou de uma coluna inteira do O Sul "A Nova Chicago", para declarar-se FHC, PSDB, Serra, a direita brasileira. By the way (= Por falar nisso): o eleitorado alemão de 1930 responsável pelo sofrimento citado pelo amigo no final da coluna, devo lembrar-lhe, era todo de direita."

Gostei também da ironia sobre o esbanjamento da "coluna inteira" para declarar uma posição política. Ainda que tal contrarie as convicções do leitor, não creio que seja depreciativo alguém admirar Fernando Henrique Cardoso. Mas, em 19 de maio de 2005 (tenho bons arquivos), como comentarista de opinião do Chamada Geral 2ª Edição, da Rádio Gaúcha (5 da tarde), eu afirmei:

"Fernando Henrique Cardoso no terceiro ano de um mandato de cinco, gozava de popularidade suficiente para fazer o Congresso votar todas as reformas necessárias e modernizar o país. Mas não resistiu à tentação de trocar a primogenitura pelo prato de lentilhas da reeleição e aí mostrou o calcanhar de Aquiles: em troca de mais três anos de mandato, renunciou à sua dignidade e entregou o país às feras."

Houve, então, quem me acusasse de "lulismo". Quem o fez não prestou a outro trecho do mesmo comentário:

"O governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva é repetição, sem tirar nem pôr, do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. A mesma política econômica, virtude pequena diante das mazelas de corrupção, da barganha de votos pela reeleição, das más companhias de corruptos notórios. Enfim, tudo por tudo, só mudaram o nome do titular e dos seus apaniguados."

"Any way" (= Seja como for): no dia anterior a "A Nova Chicago", em "Aos gregos e troianos", eu defendia Dilma Roussef do besteirol que corre pela Internet, relembrando sua ficha na Polícia Política da ditadura militar. Seria eu, então, um esquerdista, em contraposição a "FHC, PSDB, Serra, a direita brasileira?"

Creio que esclareci em seguida: "Confesso humildemente que nem sei quem é grego ou troiano. O confronto é mera imagem diante do espelho: o que em um é esquerda, no outro é direita. O sim do lado de cá é o não do lado de lá. Corrupção quando praticada por "eles", para "nós" é mera retribuição pelo desprendimento de zelar para que eles não se "retribuam", impedindo que "nós" nos corrompamos".

Para encerrar o assunto trecho do artigo do jornalista e poeta Ferreira Gullar, na Folha de São Paulo de ontem:

"Faz muitos anos já que não pertenço a nenhum partido político, muito embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos, buscando sempre examinar os fatos com objetividade."

A propósito: vale a pena ler o Gullar em "Vamos errar de novo?" (http://tinyurl.com/3yqydph).


 


 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tempo de verbo – Jayme Copstein

O que um tempo de verbo pode fazer com a verdade acaba de ser demonstrado em episódio, envolvendo o Arcebispo Agostino Marchetto, secretário do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes. O Vaticano viu-se obrigado a esclarecer equívoco não cometido por seu prelado e até agora não retificado pelos jornais que o publicaram.

Jornais europeus estamparam em 27 e 28 de agosto, manchetes afirmando que o Vaticano havia comparado a expulsão de ciganos, anunciada pelo presidente francês Nicolau Sarkozy, com o massacre praticado pelos nazistas contra judeus, eslavos, deficientes físicos e mentais e os próprios ciganos.

As reiteradas tentativas de antissemitas, de banalizar o Holocausto, para absolver o nazismo dos seus crimes contra a humanidade, faz com que analogias do gênero desencadeiem protestos, como aconteceu com as declarações do Dom Marchetto. O Governo francês que já enfrentava críticas da União Europeia, ofendeu-se ao ser supostamente comparado aos nazistas.

Só que o Arcebispo não afirmou que a expulsão de ciganos da França fosse um holocausto, mas apenas referiu-se aos riscos da generalização que, no passado, levaram ao Holocausto,

Textualmente, segundo o Portal Católico Zenit: "Quando acontecem expulsões, sofrimentos, não posso me alegrar pelo sofrimento dessas pessoas, em particular quando se trata de pessoas fracas e pobres que foram perseguidas, que foram vítimas, dessa forma, de um holocausto".

O Vaticano argumenta que a transposição do verbo conjugado no passado (foram) para o presente (são), mudou o sentido das palavras do Arcebispo. O jornal português "Expresso", após afirmar que ele havia comparado a decisão do Governo francês com um "novo" Holocausto, publicou como declarações literais: "Não posso alegrar-me com o sofrimento dessas pessoas, em particular quando se trata de pessoas débeis e pobres que são perseguidas, que também são vítimas de um 'Holocausto' e vivem sempre escapando aos que as perseguem."

Outro trecho da entrevista, não enfatizado no noticiário, em que o Arcebispo ressalvava que punições não podem ser coletivas, já indicava o erro da transposição do verbo: "É preciso prestar atenção às diferenças e não podemos culpar toda uma população pela falta de cumprimento da lei por parte de alguns." Dom Marchetto estava se referindo ao preconceito que faz as pessoas generalizarem para todo o grupo étnico, religioso, político, social ou econômico eventuais infrações de alguns de seus membros.

A crítica mais sólida feita ao Governo Sarkozy é o de oportunismo: usar delitos e crimes protagonizados por alguns dos ciganos vindos da Romênia para expulsá-los todos da França. Tanto eles como os oriundos da Bulgária são pessoas pobres, marginalizadas em seus próprios países e que se aproveitaram do livre trânsito da União Europeia para buscar melhores condições de vida.

O problema é que não há como evitar conflitos quando culturas diferentes entram em contato. É necessário grande dose de tolerância e compreensão mútua, para que os problemas sejam superados. A prática é muito mais difícil do que sugere a teoria.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A nova Chicago – Jayme Copstein

Se a velha Chicago tinha os "gangsters" de Al Capone, Brasília, a nova Chicago, tem os apaniguados de Luiz Inácio Lula da Silva. Eles estão aí desde que o PT assumiu o Planalto em 2002. Começaram a agir tão logo puderam manipular os cordéis do poder .

Nem se diga serem irresponsabilidades fora de controle, como Lula quis fazer crer em 2006, quando criou os "aloprados" para livrar a cara da "cumpanheirada", principalmente Aloízio Mercandante, José Genoíno, e de dirigentes do Banco do Nordeste, origem do dinheiro para financiar a tentativa abortada de chantagem contra o mesmo José Serra, então candidato ao governo paulista. Nem Mercadante nem Genoíno tinham como negar o envolvimento na fraude, alegando ignorância, pois ela nascera no gabinete de Mercadante e envolvera o irmão de Genoíno, José Nobre, deputado estadual no Ceará, cujo assessor Adalberto Vieira foi flagrado com 100 mil dólares nas cuecas.

Não era o primeiro flagrante da intrujice. O próprio escândalo do mensalão estourou porque Zé Dirceu, então chefe da Casa Civil, tentou chantagear o aliado trabalhista Roberto Jefferson, para alijá-lo da sinecura dos Correios onde estava aboletado com a sua trupe, usufruindo o quinhão ganho na divisão do butim.

O tiro saiu pela culatra porque em matéria de esperteza, quando Zé Dirceu recém toma a estrada de ida, Jefferson há muito tempo já está de volta. O mensalão é o maior escândalo de toda a história da República. Se nele não estivessem implicada uma maioria de congressistas, o Brasil teria repetido a impeachment que, por muito menos, alijou Collor da presidência.

Diante da impunidade, a violação à garantia constitucional do direito à privacidade tornou-se praxe de integrantes do Governo, não poupando sequer companheiros e até um humilde caseiro, Francenildo Santos Costa, para desmoralizá-lo como testemunha de que alguns espertalhões se valiam das aventuras galantes do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para realizar bons negócios. E de dossiê em dossiê, chegamos ao mais degradante nível do banditismo político, a utilização de um estelionatário fichado na Polícia, para invadir o sigilo fiscal de uma filha de José Serra.

É de estarrecer. Se a candidata de Lula já teria, segundo pesquisas de opinião, possibilidade de vencer as eleições ainda no primeiro turno, e ninguém estava contestando esses números, por que golpe tão baixo? Serão verdadeiras estas pesquisas, se nem os seus beneficiários nelas confiam?

Não há respostas para estas perguntas, a não ser a desconfiança de que toda a campanha eleitoral de Dilma Roussef seja uma fraude e sua tática seja passar impingir aos eleitores dos seus antagonistas, o "conto da já-perderam". Cairão eles nesta arapuca?

O Brasil é uma democracia e democraticamente terá de resolver por quanto tempo o será. Serão os eleitores que vão decidir esta questão crucial em 3 de outubro. Se por maioria compactuarem com o vale-tudo dos meios justificando os fins, não terão do que e, pior ainda, nem como se queixar da parcela de sofrimento que lhe será destinada, tal como aconteceu com os alemães no início da década de 1930.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A gregos e troianos – Jayme Copstein

Pois hoje é dia de desagradar gregos ou troianos porque a troianos ou gregos tenho desagradado com frequência. Confesso humildemente que nem sei quem é grego ou troiano. O confronto é mera imagem diante do espelho: o que em um é esquerda, no outro é direita. O sim do lado de cá é o não do lado de lá. Corrupção quando praticada por "eles", para "nós" é mera retribuição pelo desprendimento de zelar para que eles não se "retribuam", impedindo que "nós" nos corrompamos.

As reflexões me vêm à cabeça quando apago as milésimas mensagens, relembrando a ficha de Dilma Roussef na Polícia Política que aqui, como na Alemanha ou na Rússia, também teve vários nomes, sendo DOPS o mais conhecido. E me vêm à cabeça, porque são as mesmas de quando apaguei as milésimas mensagens dos revogadores da Lei da Anistia, com a qual todos – eles e os outros – concordaram há mais de 30 anos, para devolver ao país a tranquilidade política.

A Lei foi assinada por ambos. Vale para gregos e troianos, sem apelação. Mesmo porque, nesta pornografia de proporções oceânicas em que se converteu a política brasileira, a putaria da troca de casais, conhecida como "swing", soa tão inocente que até pode ser confundida com lições de catecismo na escola dominical. Não dá mais para saber quem é de quem.

Socialismo delinquente

O Portal Contas Abertas (HTTP://contasabertas.uol.com.br) traz revelação interessante sobre Dona Antonia Aparecida Neves Silva, a funcionária da Receita Federal cuja senha foi usada para acessar dados fiscais e fabricar o dossiê que o grupo de inteligência (??!?) da campanha de Dilma Rousseff pretendia usar como arma contra seus adversários tucanos. Entre as vidas devassadas pelos novos "aloprados", estava o da apresentadora Ana Maria Braga, talvez por suspeitarem que pudesse participar dos filmes de propaganda de Serra. Tudo no melhor estilo Gestapo e KGB.

Segundo fonte do próprio Governo, o Siafi (Sistema de Acompanhamento de Receitas e Despesas da União), Dona Antônia Aparecida, a dona da senha que permitiu o acesso ao cadastro dos contribuintes, dez dias após a violação fiscal, foi para o Rio de Janeiro, com total de diárias de R$ 1.300,00, para participar de treinamento e desenvolvimento de gerentes e agentes da Receita Federal.

Faz sentido: quem assim "socializa" sua senha mostra qualidades ideológicas que a credenciam para missões mais grandiosas.

A propósito

Portais de notícias e assinantes de newsletters estão sendo prejudicados pela inundação de "spams" eleitorais. Os provedores foram obrigados a implantar filtros mais abrangentes para proteger os usuários. Muitas mensagens acabam na pasta de quarentena nem sempre acessada.

A Justiça Eleitoral providenciou medida para coibir o abuso. A partir de agora, as mensagens eleitorais devem exibir fornecer link de descadastramento, prevendo-se multa caso os spams continuem a ser enviados.

Telemarketing

É pouco. Melhor ainda, caso fosse possível aplicar aos "spams", o bloqueio que já existe em relação ao "telemarketing". Basta cadastrar no PROCON Estadual os números das linhas (duas no máximo), para impedir o abuso. Há pesadas multas aos infratores.

Acessem http://www.proconbloqueio.rs.gov.br/ para obter as instruções que começam o cadastramento prévio do interessado.