sexta-feira, 31 de março de 2006

Bauru no espaço - Jayme Copstein

Com muita habilidade, cuidando para não derramar combustível e acender mais uma fogueira, o presidente da Associação Brasileira de Direito Espacial, o jornalista gaúcho José Montserrat Filho, em entrevista à GNT, pôs alguns pontos nos “is” desta badalada viagem de um brasileiro ao espaço.
Como muitos outros especialistas da área, Monserrat ressalvou que os milhões de dólares pagos pela carona podia ter sido investidos em outras pesquisas, no Brasil mesmo, com mais proveito, e dentro da própria área espacial. Não acha que as experiências programadas para o major Marcos César Pontes sejam inéditas ou tenham a importância alegada.
Então, por que tanto barulho, como se realmente fosse uma grande façanha? Há muitas opiniões a respeito.
O governo tratou de desmentir, tão logo surgiram, as críticas de que a decantada missão espacial é mera propaganda eleitoral. Só que não pode negar que os primeiros entendimentos com a Rússia previam a viagem do major Marcos César Pontes em outubro, em data posterior a das eleições presidenciais, mas foi antecipada para março, por escolha do governo brasileiro. Implicou a redução do treinamento do nosso suposto astronauta e também resultou no encurtamento da preparação da aparelhagem para fazer as ditas experiências. Devido à pressa, uma delas foi cancelada.
Há ainda alguns aspectos da missão, com a marca do pitoresco lulista: o governo brasileiro pretendeu incluir na bagagem do seu astronauta fitas do Senhor do Bonfim e outras lembrancinhas, para serem vendidas, na volta, em benefício do programa Fome Zero. O major Marcos César Pontes disse que não tem nada a ver com isso. É uma carga que chama de “institucional”, cujo conteúdo desconhece. A sua bagagem pessoal, de um quilo e meio, é outra.
Talvez o mais adequado fosse dizer que Pontes é passageiro da nave Soyuz., tal como aquele americano rico que pagou 20 milhões de dólares para fazer a primeira viagem de turismo em órbita da Terra. Quem deu tom bem humorado a respeito, foi o jornalista Cláudio Ângelo, editor de ciência da Folha de São Paulo. Parafraseando Neil Armstrong ao pisar na Lua – “Um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade” – Cláudio escreveu: “A viagem de Marcos Cesar Pontes é um grande salto para um bauruense, mas um passo minúsculo para a ciência no Brasil. Com ela provavelmente nasce e morre o programa espacial tripulado brasileiro, que começou como um delírio megalomaníaco na era FHC e acabou como uma piada no governo Lula.”
Talvez a aventura fosse até desnecessária. Hoje é 1º de abril e já temos um brasileiro vivendo comprovadamente no mundo da lua. É o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O país que ele acha que governa também se chama Brasil, mas com toda a certeza não fica no planeta Terra. Procurem, para ver se vocês conseguem encontrá-lo.

Jesus e o Brasil - Jayme Copstein


O humorista Guz (*) sugere em uma charge que a Igreja no Brasil devia adaptar a representação da Paixão. Na versão original, dois são os ladrões que ladeavam Jesus no Gólgota. Cá por essas bandas, uma multidão.
De minha parte, acho que também se impõem outros ajustes. São Lucas fala que, na hora de morrer, o bom ladrão pediu: “Lembra-te de mim quando vieres no teu reino!”
Na versão cabocla, os “bons” gatunos são efetivamente lembrados: aposentam-se como deputados ou arranjam ossos suculentos para si e os familiares.
A dificuldade de transpor a Paixão para o Brasil é grande. O Evangelho não especifica quem está à direita e quem está à esquerda. Aqui, a única certeza é sobre quem ocupa a cruz do centro – o povo.
Quem são os ladrões da direita, quem são os ladrões da esquerda? Depende da devoção, caríssimos irmãos. Os bons estão sempre do nosso lado; os maus, enquanto estiverem do lado “deles”.
(*) - Guz (Paulo Cangussu Cordeiro), mineiro do Vale do Jequitinhonha, vive em Belo Horizonte, de onde não arreda pé, por mais tentadoras venham propostas do resto do mundo. Esbanja talento, em traço e texto, no site www.guz.com.br

quinta-feira, 30 de março de 2006

De fantasmas e corruptos - Jayme Copstein

O cinema às vezes lida com seres invisíveis, como se fosse ficção. Mas eles existem: é o porteiro, a recepcionista, o caseiro, a faxineira, o garçom do restaurante, a telefonista, o motorista do táxi. Enfim, são pessoas que, por instrução, não entendem, não se imiscuem, não opinam nem percebem o que ocorre em seu redor, e por isso sequer têm sombra no “Brasil importante” dos Lalaus, Malufes, Zé-Dirceus, Bob-Jeffersons e companhia ilimitada.
Como em todo o filme, a folhas tantas, como diziam os antigos burocratas, reverte-se o acidente técnico, os fantasmas surgem do nada para assombrar os criminosos perfeitos como seres reais.
Não há nenhuma máquina genial ou truque cinematográfico na metamorfose. Mais antigo no banditismo de colarinho branco do que os dinaossauros da pré-história, é que os gângsters também brigam entre si e aí não tem mãe que se respeite.
Pergunta simples: como alguém poderia saber que Palocci freqüentava a Casa de Drácula, para receber as suas transfusõezinhas, se não fosse também vampiro? O problema dever ter sido disputa de algum RH ou DNA mais polpudo.
Segundo os jornais, o governo continua esgravatando a vida do caseiro Francenildo Costa, para desqualificar a denúncia. Está perdendo tempo. Francenildo não denunciou nada, só testemunhou que viu Palocci onde Palocci não deveria estar.
Se a briga dos gângsters continuar nos bastidores, não demoram a se materializar outros seres invisíveis. Ao contrário do cinema, nesse Brasil importante dos Lalaus, Malufes, Zé-Dirceus, Bob-Jeffersons e companhia ilimitada, o filme nunca tem fim.

quarta-feira, 29 de março de 2006

Morte anunciada - Jayme Copstein

Com patético discurso do senador Delcído Amaral, cheirando a réquiem, iniciaram-se agora à tarde as cerimônias de sepultamento da ética e da decência no Congresso Nacional. O deputado Osmar Serraglio só conseguiu concluir a redação do seu relatório após retirar as menções mais desconfortáveis aos governistas.
Entre as omissões figura a do nome do filho do presidente da República, Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, dono da Gamecorp, empresa que recebeu R$ 10 milhões da Telemar. O escândalo ficou órfão de personagens.
Lula também é poupado. Sabia ou não o que se passava no próprio Palácio do Governo? O relatório diz que, alertado por Roberto Jefferson, tomou as devidas providências.
A douração da pílula não salva a imagem de Lula. Quando tomou as providências? Ao ser alertado privadamente por Jefferson ou depois, quando o escândalo estourou? Se nada sabia, como se explica que, sem investigar, quando surgiram os primeiros rumores, afirmou que nada havia de concreto, a não ser difamações da imprensa e demagogia da oposição?
São duas mil páginas de relatório, sugerindo o indiciamento de 130 nomes. Mas já se anunciam manobras, entre elas a de um relatório paralelo, para os debates se prolongarem, os prazos se esgotarem e a CPI se encerrar sem nenhuma conclusão aprovada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá afirmar, em mais um de seus memoráveis discursos,: “Viram?! Não provaram nada!”
Pêsames, Brasil.

terça-feira, 28 de março de 2006

A diferença - Jayme Copstein

Tripudiar é um verbo interessante. O sentido original é dançar ou saltar, batendo os pés. Como a certa altura dos acontecimentos alguém decidiu tripudiar sobre o cadáver do inimigo, o sentido acabou alargado para comemorar vitória, manifestando desprezo pelo rival.
Pois a deputada Ângela Guadagnim, do PT, dançou no plenário da Câmara, diz ela que para comemorar a absolvição de um correligionário, envolvido comprovadamente no mensalão. O que a deputada teve em mente, mesmo, foi tripudiar sobre os colegas oposicionistas que desejavam a cassação de João Magno.
Assustada com a repercussão do bailado, a deputada Ângela Guadagnin acusou a imprensa de massacrá-la Ela sequer tinha dançado, apenas se movimentara alegremente para abraçar o colega absolvido.
Cada um dá às coisas o nome que bem entende: ladroeira quando são os adversários que furtam, dinheiro não-contabilizado quando os gatunos estão do nosso lado. Pode aplacar a consciência da deputada Ângela Guadagnin e de todos que pensam como ela, mas não muda em nada a realidade.
A deputada Ângela Guadagnin foi mais além nas críticas à imprensa. Disse que tudo decorre de preconceito porque é gorda e não pinta os cabelos.
Examinem tudo o que foi publicado a respeito, incluindo as charges. Não há nada que possa ser considerado alusão à obesidade da deputada. A não ser que quisesse ser desenhada magra como o senador Marco Maciel. Pode ser que ela se enxergasse com menos angústia. De igual forma em nada mudaria a realidade.
A deputada Ângela Guadagnin diz que, não fosse gorda, tivesse o corpo de modelo, o tratamento ao seu tripúdio seria sido outro. Está redondamente enganada. A única diferença seria um convite da Playboy para que pousasse nua.

As tábuas da lei - Jayme Copstein

Quem tenta entender a soberana impunidade que governa o país, acaba convencido que a história de Moysés, quebrando as Tábuas da Lei no Sinai, não está bem contada. Que ele, em um momento de raiva quebrou as Tábuas, não se tem dúvidas. O caso foi que elas racharam bem no meio, de forma que todos aqueles “não” ficaram em um dos fragmentos, enquanto o resto – o “furtarás”, o “matarás”, o “cobiçarás a mulher do próximo” etc. – ficou no noutro.
Aí, decidiram inventar o Brasil, país muito religioso, sob a égide dos Dez Mandamentos. Como não havia lei que chegasse para todos, e as Tábuas já tinham vindo quebradas de fábrica, reuniram os fragmentos em dois pacotes: o da Lei, com papel de jornal, amarrado a barbante, onde ficaram todos os “não”; e o dos Amigos do Peito, em uma caixa de veludo, fechado com artístico laço de seda.
Como se tratava de patrimônio público, para ficar dentro do estrito princípio da mais elevada moralidade pública, abriram concorrência para vender os dois pacotes: os dos Amigos do Peito, com garantias de impunidade, financiado a fundo perdido, foi arrebatado por que pôde demonstrar a abnegação de generosas propinas. O da Lei, com todas aquelas proibições, não encontrou compradores. Foi, então, distribuído de graça aos pobres, como Programa Social.
Fica, pois, explicado porque Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda, e Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal não estão presos na companhia do jornalista Marcelo Netto e dos demais membros da quadrilha que decidiu esmagar um pobre coitado, enquanto o simplório caseiro Francenildo Costa continua investigado por “crime de lavagem de dinheiro”, para saber com quem estava falando.

segunda-feira, 27 de março de 2006

Paloccigate - Jayme Copstein

O mais recente escândalo do governo Lula acaba de ser batizado de Paloccigate pela imprensa. Mas até chegar ao rótulo, pipocaram algumas comparações sem fundamento, o que mostra a dificuldade para se separar o público do privado quando se faz jornalismo.
Os filhos fora de casamento formalizado, de Mitterrand na França ou de Lula no Brasil, jamais deveriam ter vindo à tona. Nada tinham a ver com a vida pública dos personagens. Já não era o caso de Bill Clinton, cujo envolvimento com Mônica Lewinsky ocorreu dentro de um espaço público, a Casa Branca, com o forte ingrediente da ascendência que um presidente de República tem sobre uma subalterna, por mais escolada que ela seja.
Sob esse estrito ponto de vista, as escapadas de Palocci também não deveriam ser devassadas porque a casa dos seus encontros com prostitutas é área privada.
O problema é outro. Tem semelhança com o escândalo protagonizado por Richard Nixon, cujo crime maior não foi ter ordenado a invasão de salas do Edfício Watergate, onde a sede do Partido Democrata já tinha sido desmontada e nada mais ali havia de importante. O problema de Nixon foi ter mentido para obstruir a Justiça.
Palocci fez igual. Mentiu sobre as suas relações com os corruptos assessores de seus tempos de prefeito em Ribeirão Preto. Tentou obstruir a apuração da verdade, violando o sigilo bancário e devassando a vida de um pobre coitado. É canhão demais para esconder apenas aventuras galantes.
Paloccigate, pois, é a palavra certa e merecida.

sábado, 25 de março de 2006

O rebolado da Caixa - Jayme Copstein

Deve ter gente graúda envolvida na violação do sigilo bancário do caseiro Francelino Santos Costa. Do contrário, a direção da Caixa Econômica Federal não andaria com tantas voltas para revelar os autores do crime.
Qualquer pessoa, com noções elementares de informática, sabe que a apuração de casos como esse é instantânea. Quando a megassena acumula e há milhões de apostas recolhidas em dezenas de milhares de terminais, a apuração dos vencedores é uma questão de horas. Por que, então, a demora, quando conhecida é a hora da violação, conhecido também o terminal e quem o usou?
O único motivo para a embromação é encontrar algum militante voluntário que se disponha a pagar o pato, para salvar o cappo de tutti cappi. O problema, além do coice na Constituição, é a perda da confiança que o público deposita na Caixa Econômica Federal, a qual nunca, na história deste país, como gosta de dizer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fora envolvida em escândalos.
Há muito tempo correm pela Internet, insinuações de vícios nos sorteios das loterias. Eu próprio tenho defendido a instituição, por crer com firmeza que uma falcatrua de tal porte, mesmo possível, seria difícil pelo número de pessoas a envolver. Não haveria segredo que resistisse a tanta gente.
Depois desse caso do caseiro, entretanto, a investigação deve ser mais ampla e também envolver as loterias. Quando o reles mistério de quem acessou uma continha merrequenta se mostra tão indecifrável, vem à baila a desgastada figura da mulher de César. Ela pode ser séria, mas andar rebolando as ancas por escuridões, não a ajuda a parecer séria.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Pavana dos elefantes - Jayme Copstein

No romance de Érico Veríssimo “O resto é silêncio”, há uma cena hilariante em que um desembargador aposentado, assistindo a concerto no Teatro São Pedro, entende por “Caravana dos elefantes defuntos”, o título da composição de Ravel, “Pavane Pour Une Enfante Defunte” (Pavana Por uma Infanta Defunta).
Pois o acordão, o conto de vigário que a Câmara Federal aplica para salvar o pêlo de deputados corruptos, aposta que os eleitores brasileiros não saibam distinguir entre a pisada de um elefante fazendo tremer o mundo e os acordes de uma melodia triste, sob a batuta de um maestro com ouvido de ferreiro.
Deputados de todos os partidos participaram da velhacaria, ausentando-se do plenário na hora da votação.
Na teoria, tanto para cassar como para preservar um mandato, são necessários 257 votos, metade mais um do número total de deputados. Se no plenário houver apenas 444 deputados, o quorum para cassar continua o mesmo, 257, mas para absolvê-lo diminui para 188. Foi o que aconteceu com Wanderval dos Santos da bancada do PL, mensalista que alugava o mandato ao bispo Rodrigues.
No caso de João Magno, do PT, outro réu confesso de mensalão, a aritmética foi ainda mais marota. O plenário se reduziu a 426 deputados, o que diminuiu para 169 o quorum da salvação.
Que não se pode acusar todos os deputados de participar da marmelada, é correto. Mas a lista dos velhacos, dos que faltaram, deve ser exposta nas ruas de todo o Brasil, para que o eleitor tome providências nas próximas eleições.

quinta-feira, 23 de março de 2006

O samba de Garotinho - Jayme Copstein

A confusão era geral. À frase genial de Machado de Assis, pintando o velório de um personagem em “Dom Casmurro”, poder-se-ia acrescentar: “e da ingenuidade nem se fale!”, para descrever o funeral da lucidez em certas análises políticas.
O principal orador da patuscada foi Anthony Garotinho, autor e ator de uma comédia patética, declamada ontem na Rádio Gaúcha, em que abria a possibilidade de ceder a candidatura presidencial a Germano Rigotto.
As interpretações do súbito desprendimento de Garotinho oscilaram da malandragem de comover o PMDB gaúcho e obrigar moralmente o partido em apoiá-lo ao psinacanalismo de um sentimento de culpa, por ter cooptado cabos eleitorais de Rigotto. Garotinho, o bom menino que não faz pipi na cama, pecador arrependido, queria reparar a maldade praticada contra Rigotto.
O extraordinário é que ninguém prestou atenção ao olhar torto de Garotinho. Enquanto punha a boca no microfone da Gaúcha, colava o ouvido no noticiário do Supremo Tribunal Federal. Sabia que mantida a verticalização, qualquer outra candidatura, fora do confronto Lula e Alkimin, é puro delírio.
Mais súdito de Momo que personagem de Machado de Assis, Garotinho apenas parodiou um velho samba. Passou a bomba às mãos de Rigotto e cantou: “Toma que o filho é teu!”

quarta-feira, 22 de março de 2006

A queda da barragem - Jayme Copstein

Pela primeira vez, em seus três anos e pouco de mandato, o governo Lula mergulha em uma crise séria, graças à incompetência com que sempre tratou dos incidentes de percurso.
No escândalo Valdomiro, bastava a demissão sumária, a apuração e punição dos crimes, para conter a pororoca. O governo decidiu apostar em uma fictícia conspiração para imobilizá-lo. Deixou que a lama se escoasse em doses controláveis por esta pequena fenda inicial.
No mensalão, seguiu com a mesma tática. Até aí a situação podia ser levada, considerando-se a falta de pudor e de senso de ridículo que tempera a nossa vida pública.
Sobreveio o caso Palocci. Houve o depoimento de um caseiro, e já não se tratava mais da liberdade de ir e vir do ministro da Fazenda.
A pergunta era: além de se divertir com as damas de companhia de Madame Jeanny Mary Corner, o que mais ele fazia naquela casa de Brasília, freqüentada também por ex-assessores, lobistas consumados e corruptos confessos, amigos do peito desde os tempos em que “o chefe” era prefeito de Ribeirão Preto.
A reação do governo foi enveredar pela delinqüência, equiparando-se aos hackers que invadem contas bancárias. Em vez de encontrar um delator de aluguel, subornado para o falso testemunho, violou a Constituição e devassou dramas pessoais de gente humilde.
Foi como pôr dinamite na fenda. A barragem ruiu. Pode ser que entregando Palocci, seu último anel, Luiz Inácio Lula da Silva consiga salvar os dedos e puxar o cordel para inflar o salva-vidas. Mesmo assim, difícil será manter-se à tona no mar de lama que ameaça engolfar o Planalto.

terça-feira, 21 de março de 2006

Golpe de mestre - Jayme Copstein

Enquanto Germano Rigotto, tentava ser candidato do PMDB à presidência da República, trajando o figurino do bom menino, Anthony Garotinho, que não se chama Garotinho, criava uma fórmula mágica vencer a prévia eleitoral, também sem nenhum valor, graças às artimanhas de Zé Sarney, que nem Sarney se chama.
Foi um golpe de mestre. A fórmula criada por Garotinho e seus assessores não encontra semelhança em nenhum outro sistema eleitoral conhecido no mundo. Ele simplesmente escolheu os Estados em que o PMDB tem maior bancada e lhes atribuiu um peso maior, de forma que, só para exemplificar, um voto em Alagoas valesse por 106 votos no Rio Grande do Sul ou 17 em São Paulo. Enquanto Rigotto bom menino postulava a maioria dos votos, Garotinho tratou apenas embolsar os votos engordados pela sua fórmula. nesses Estados.
Rigotto está visivelmente magoado com a derrota. Não tem por quê. Quem vai a baile de cobras sem perneiras, não tem do que se queixar. Resta saber é o desfecho desta patacoada, quando se defrontarem Garotinho, que não se chama Garotinho, e Sarney que não se chama Sarney e só deseja atrelar o PMDB à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
Tudo muito parecido com aquelas sensacionais lutas livres entre Fantomas e Verdugo, marmelada pura, como todos sabiam, mas acompanhavam com entusiasmo. O vencedor era definido pelos empresários, sempre com vistas à revanche. No caso Garotinho versus Sarney, quem vai decidir será o Judiciário de Nelson Jobim.
Haja cachorro-quente e cerveja para o espetáculo.

segunda-feira, 20 de março de 2006

A revolução da língua - Jayme Copstein

Inaugura-se hoje em São Paulo um museu da língua portuguesa. Será que a idéia originou-se do massacre diário a que o idioma é submetido, a ponto de temer-se pela sua extinção? No futuro, se alguém desejar saber como se falava e se escrevia quando sonhávamos com um Brasil civilizado, encontrará ali alguns subsídios. Será essa a idéia?
Pergunto, então, se não seria melhor um Museu de Horrores. Sugiro como primeira peça do acervo, “risco de morte”, expressão inventada por algum gênio da lógica debilóide, para supostamente corrigir “risco de vida”. Não se precisa acionar mais do que um neurônio para se perceber que, sendo a morte irreversível, só a vida é que corre riscos.
Outro pecado mortal é o uso da expressão latina “in memoriam”, que significa “em memória de”, muito em moda em necrologias modernosas. Em vez da simplicidade de “viúvo ou a viúva de fulano ou fulana de tal”, sai: “Era casado com fulano ou fulana (in memoriam). O que convenhamos, só por mediunidade.
Tomei contato com tais novidades, pela primeira vez, quando um colega, extremado militante de esquerda, pretendeu convencer-me de que a omissão do “se” em verbos de sujeito inanimado, nas construções do tipo “Inaugura-se hoje”, era a Grande Revolução começando pelo idioma.
Respondi-lhe que, se era tudo o que tinha para derrubar o “sistema”, a direita continuaria dormindo em paz pelo resto da vida.

sexta-feira, 17 de março de 2006

Impunidade para todos - Jayme Copstein

Nunca é demais repetir: a impunidade libertina que hoje protege todo o tipo de delinqüente e acossa brasileiros decentes, nasceu no regime militar, para livrar da cadeia um sádico assassino, o policial Sérgio Fleury, que torturava e matava contestadores do regime. A ditadura que prendia pessoas sem nenhuma acusação formal, que não tinha horas para invadir lares sem mandado judicial, de repente ficou pressurosa em garantir direitos individuais de beleguins que lhe prestavam serviços.
Mais tarde, acobertados pelo bom mocismo debilóide de alguns messiânicos, os rábulas de porta de cadeia introduziram na Lei das Execuções Criminais alguns alçapões para garantir impunidade a todo e qualquer delinqüente que possa pagar por isso, em contrapartida condenando o povo honesto deste país à prisão perpétua em suas casas e também à morte, em qualquer esquina, nas mãos de um latrocida foragido das prisões ou então gozando das delícias do regime semi-aberto.
A população tentou se defender pacificamente, reunindo mais de um milhão de assinaturas para criar a legislação dos crimes hediondos, derrubada recentemente por decisão do STF.
O que acontecerá se as pessoas tomarem a pior decisão de fazer justiça pelas próprias mãos, que é o último estágio do caos? Nada, se elas tiverem dinheiro para pagar um bom rábula de porta de cadeia.
O que vale para uns deve valer para todos. Ou não?

quinta-feira, 16 de março de 2006

Sob os nossos narizes - Jayme Copstein

Se há algo trágico e estarrecedor no noticiário dos jornais, é a imagem de crianças, vítimas do desvario dos adultos. Em sua edição de hoje, a Folha de São Paulo estampa na primeira página a foto da Agência France Press, mostrando corpos infantis, embrulhados em cobertores como se fossem trouxas de roupa suja, cuja morte é atribuída ao ataque do exército americano na cidade de Ishaqui, para prender colaborador estrangeiro da Al Qaeda.
Contestando a informação do prefeito sunita, de que tenha havido 11 mortos, dos quais cinco eram crianças, fontes do exército americano disseram que os mortos foram apenas quatro, dos quais só um era criança. Como se fizesse diferença.
O que realmente faz diferença é como essas tragédias são noticiadas, sem ênfase para as crianças mortas em atentados terroristas, seja no próprio Iraque ou em qualquer outro lugar do mundo. O exemplo mais gritante é o do menino-bomba de três anos de idade, explodido por controle remoto em lancheria de Tel-Aviv, onde um adolescente israelense festejava seu 13º aniversário.
Também aqui no Brasil, há poucos dias, as cinco crianças, uma das quais morreu, foram internadas com desidratação grave porque o MST impediu seus pais de abandonar a invadida Fazenda Coqueiros para procurar socorro médico. A imagem dessas crianças não foi para o noticiário internacional nem a agência francesa se preocupou muito em obter fotos para documentar a tragédia.
Quando a suposta sacralidade da causa substitui a solidariedade humana, mais do que voltar à selva, estamos na vizinhança do caos. É bom que as pessoas prestem atenção. Está debaixo dos nossos próprios narizes.

quarta-feira, 15 de março de 2006

Consumidor ou otário - Jayme Copstein

Hoje, Dia do Consumidor. Tem quem ache que devia ser em 1º de abril, Dia do Otário, pelos abusos e infrações ao CDC, cometidos sob a omissão maternal dos Procon, principalmente o do Rio Grande do Sul.
Começa pela propaganda enganosa do preço à vista ou em muitas prestações sem juros. Quando se examina a nota fiscal, os juros estão lá escarrados. Em outras palavras, o consumidor comprando à vista ou a prazo, paga os mesmo juros extorsivos – em torno de 4,8% ao mês.
Há uma associação entre o comércio varejista e as financeiras que não vieram ao mundo com o propósito de servir a Deus e redimir a humanidade, como só falta proclamarem. Se acaso o consumidor devolver o que comprou, por má qualidade, terá a surpresa de só lhe ser oferecido valor igual ao preço real da mercadoria, verdadeiro assalto a mão desarmada. O vendedor alega que juros e despesas de financiamento não foi ele que cobrou, logo não tem de devolver. E tudo isso, naturalmente, tem o aval do poderoso gerente loja que vai logo avisando com uma risadinha marota: “Procon?! Não dá em nada!”
Ao lado do Código de Defesa do Consumidor, existe o CEO, o Código de Embromação do Otário. Em seu primeiro artigo não-escrito, justifica a cobrança dos juros extorsivos, para o vendedor se indenizar de eventuais prejuízos com maus pagadores.
É de fazer inveja aos nobres boçais da Rússia Tzarista, aos fidalgos cretinos da França Imperial ou aos vorazes mandarins da China do século 19. Ao contrário da impunidade reinante no Brasil, todos passaram pelo cadafalso.

terça-feira, 14 de março de 2006

Cuecas na fechadura - Jayme Copstein

Que já não se fazem mais cuecas como antigamente, prova-o o fato de que até o plural obrigatório elas perderam: hoje a maior parte das pessoas só fala em cueca, provavelmente porque exerceram papel muito singular no escândalo do mensalão.
Sem alusão alguma a fundilhos, com toda a certeza as cuecas têm papel mais importante na crise do que o de servir de valise para carregar dólares. Lembram uma velha anedota: o marido ciumento cuida pelo buraco da fechadura, o encontro da sua mulher com um suposto amante. Mas não consegue ter certeza da traição, porque, após caírem no chão, uma por uma, as peças de roupa, o suposto amante pendurou as cuecas na maçaneta da porta e tapou o buraco da fechadura. “Que terrível dúvida!”, ele exclamou.
Quem escreveu as 80 páginas da defesa do deputado João Paulo Cunha na Comissão de Ética da Câmara Federal, deveria ter sido mais comedido tanto na extensão do documento como nos preciosismos. Evitaria que a deputada Ângela Guadagnin tropeçasse nas palavras e protagonizasse quatro horas a fio a tentativa de anestesiar ou adormecer os conselheiros, para obter a absolvição.
Mais até: pouparia a ela o trabalho insano e doloroso suplício aos demais. O voto secreto que absolve réus confessos no plenário da Câmara, é a cueca que tapa o buraco da fechadura, para que o eleitor enganado não consiga enxergar seu deputado refocilando em corrupção. Mas só ingênuos ou idiotas é que não vêem.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Nossos jeitinhos - Jayme Copstein

O jeitinho brasileiro, que todos proclamamos como glória da pátria amada, salve, salve, é apenas a máscara que para esconder a promiscuidade entre quem deve zelar pela moralidade pública e os corruptos que infestam a Nação.
Um professor da Fundação Getúlio Vargas, Edilberto Carlos Pontes Limas, em tese defendida ano passado na Universidade de Brasília, mostrando que o código dos rábulas de porta de cadeia somado à generosa compreensão de tribunais de contas, que contam entre seus ministros, com ex-políticos em busca de aposentadorias confortáveis, abrem as brechas do descumprimento da lei.
Exemplo pinçado pela revista Exame, diz respeito à proibição da Lei de Responsabilidade Fiscal, de se criarem despesas sem o aumento da receita. Só que, interpretando o crescimento do PIB, que não é receita, como fonte de recursos, os Tribunais de Contas fecharam os olhos à malandragem.
Então, realmente, não há como punir os gatunos dos dinheiros públicos. Haja impostos para sustentar toda essa parasitalha.

sexta-feira, 10 de março de 2006

Perguntas sem resposta - Jayme Copstein

Vocês comeriam trilhos de trem, chips de computador, turbina de avião, telefone celular, leito de hospital e até esse rádio que vocês estão sintonizando?
Ninguém precisa responder. A idiotice não é da pergunta, é do argumento de uma mulher analfabeta, arrastando a língua em português capenga, para justificar a destruição do laboratório de pesquisas da Aracruz: “Ninguém come eucalipto”.
É evidente que pessoa de inteligência tão rudimentar teve seu cérebro lavado pelos espertalhões que se profissionalizam como líderes dos chamados movimentos sociais e se espojam em outro tipo de mensalão: as generosas verbas de países europeus, que depois de reduzir a África a uma massa sangrenta, agora voltam suas garras para a América Latina.
É estranho que não se assinale o padrão de comportamento comum ao Khmer Vermelho do Camboja, aos talibãs do Afeganistão, aos aiatolás do Irã, às Farcs colombianas e a todos esses grupos de agitação na América Latina, entre eles, o MST e seus penduricalhos no Brasil.
Será que fora daquela turma de cérebro lavado a escovão de aço, para que não reste um pingo de raciocínio, alguém, tenha acreditado que José Bové seja mesmo produtor de leite de ovelhas para fabricar queijo Roquefort?
Não é coisa de hoje, não é coisa nova. No fim dos anos 60 e início dos anos 70, o falecido jornalista Pércio Pinto detectou o ingresso de dinheiro, remetido através de bancos franceses, alemães e holandeses, para financiar as primeiras agitações no Brasil. Estranhamente, as autoridades da ditadura militar proibiram a divulgação da notícia no velho Grande Jornal Ipiranga que Pércio dirigia para a TV Piratini.
O que não se entende é por que as autoridades, hoje, não investigam isso a fundo. Será que entre o céu e a terra há mais mensalões do que supõe a nossa vã filosofia?

quinta-feira, 9 de março de 2006

O poder da máfia - Jayme Copstein

Vocês já viram chifre em cabeça de cavalo? Não, jamais verão. Mas outra impossibilidade que nunca passou pela cabeça de quem quer que seja, por mais devasso que fosse, aconteceu ontem na Câmara dos Deputados, graças à absoluta falta de escrúpulos das bancadas do PT e do PFL, para absolver dois corruptos confessos, o deputado Roberto Brant e o deputado conhecido como professor Luizinho.
O que se viu era de fazer corar um frade de pedra: o PT, defendendo o mensalista do PFL, partido ao qual sempre acusou de corrupção, o PFL, defendendo o mensalista do PT, partido ao qual sempre acusou de inimigo da pátria e das melhores tradições do povo brasileiro.
Assistimos a tudo, aparvalhados. E ficamos nos perguntando por que Roberto Jéferson e José Dirceu foram cassados? Roberto Jéferson foi punido porque não conseguiu provar o mensalão, José Dirceu, por ser o chefe do mensalão.
A contradição é apenas aparente. A absolvição de quatro outros deputados já havidas até agora, só demonstra que Jéferson e Dirceu foram punidos porque quebraram a regra de silêncio de qualquer agrupamento mafioso: escancararam a grossa bandalheira que se oculta na política brasileira.

quarta-feira, 8 de março de 2006

O mérito de todos - Jayme Copstein

Os políticos fazem por merecer a indignação dos eleitores?
A malandragem dos gazeteiros, a ladroeira do mensalão, a absolvição dos gatunos do nosso lado e a condenação dos gatunos do lado alheio, a mudança casuística das regras do jogo, mesmo que afrontem a Constituição, como é o caso da verticalização eleitoral, tudo isso desilude o eleitor.
O que fazer diante de tanta indignidade?
Desvairado, o eleitor se apega à primeira baboseira que lhe sugere a ignorância de plantão permanente neste país: que a metade mais um dos eleitores vote em branco ou anule seu o voto, para que a eleição seja anulada.
O médico e publicista Heitor de Paola, no site eletrônico Mídia sem Máscara, há poucos dias publicou um artigo dissecando esta idiotice. Só existe uma possibilidade legal de anular um pleito: a fraude comprovada em mais de 50% das urnas.
Em outras palavras, ocorresse a hipótese impossível, por tão remota, que só os candidato votassem em si mesmos – todos empatados com um voto cada um – assim mesmo estariam eleitos os mais velhos, pois a idade é o critério para o desempate.
Então, como corrigir tudo isso?
É simples. É só aprender a lição magistral de João Ubaldo Ribeiro, que pode ser encontrada na Internet com o título de Precisa-se de matéria prima para construir um país! O artigo mostra onde a corrupção começa de verdade: em quem finge não perceber que a caixa da padaria lhe deu troco a mais, na empresa que contrata idosos como boys para furar a fila do banco, no bancário que se associa com um despachante para agilizar o tramite de financiamento da casa própria, no dirigente esportivo que suborna árbitros ou jogadores adversários e processam empresas jornalísticas cujos repórteres fazem a denúncia, para obter polpudas indenizações por danos morais, o pseudo-espertalhão que compra peças roubadas no ferro-velho para pagar uns tostões a menos, é um enumerar sem fim de situações que nos envolvem a todos na vida diária.
Sim, os políticos fazem por merecer a indignação dos eleitores.
E os eleitores? O que merecem?

terça-feira, 7 de março de 2006

Atrás da notícia - Jayme Copstein

Semana passada, plantada não se sabe com que intenção, correu a informação de que a Rainha da Inglaterra pediria desculpas ao presidente Luiz Inacio Lula da Silva, pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, baleado pela Scotland Yard, no metrô de Londres, ao ser confundido com um terrorista.
É surpreendente que os jornais de todo o Brasil tenham notíciado, sem se deter no complemento de que o pedido seria “indireto”: Elisabeth II lamentaria a morte de todos os inocentes, vítimas do terrorismo, e aí estaria incluído, como não podia deixar de ser, mesmo sem citação, o nome do brasileiro Jean Charles.
Reis e rainhas, mesmo em monarquias constitucionais, não pedem desculpas a ninguém. Daí porque são chamados soberanos. O próprio Imperador do Japão, com duas bombas atômicas devastando Nagasaki e Hiroshima não o fez, apesar de renunciar à condição “divina” que até então ostentava. Reis e rainhas, se voltarem atrás, perdem a coroa
Este, porém, é até um aspecto secundário da questão. Custa a crer que a nenhum jornalista tivesse ocorrido que a Rainha das Inglaterra é chefe de Estado, mas não do Governo. O que exclui de sua jurisdição o comando da Scotland Yard, afeto ao primeiro ministro Tommy Blair.
O que está deixando de ser mencionado neste contexto são as pressões internacionais que o Brasil sofre, para que controle a Tríplice Fronteira, ali em Foz do Iguaçu, onde o tráfico de armas e de drogas corre solto e municia e financia o terrorismo mundial.
Tal como surgiu, atribuído a um colunista inglês, o pedido de desculpas desapareceu do noticiário. Mas a Tríplice Fronteira sequer chegou aos jornais.
Que estranho tudo isso.

segunda-feira, 6 de março de 2006

Petróleo, Carnaval e Quaresma - Jayme Copstein

Todos estranham que apesar de o Brasil ter atingido a auto-suficiência em petróleo, o brasileiro tira cada vez mais dinheiro do bolso para pagar a gasolina que consome. É que por trás do ufanismo, esconde-se a falta de previsão e planejamento – enfim, a velha bagunça nacional.
É só olhar os números publicados pelo próprio governo para se perceber que há mais Carnaval do que Quaresma nessa devoção: no exercício encerrado em julho de 2005, a Agência Nacional do Petróleo informava que o Brasil passara de importador a exportador: vendera ao exterior 21 milhões 217 mil barris e comprara no estrangeiro 21 milhões 125 mil barris. Ou seja, exportara mais 92 mil barris do que importara.
Raciocinemos com simplicidade: se produzo mais do que eu consumo, por que vendo toda a minha produção e importo todo o meu consumo? É aí que o sapato aperta: por incrível que pareça, nossas refinarias não servem para refinar o petróleo mais pesado que produzimos. Nesses anos todos, é incrível que a Petrobrás não tenha feito investimentos nesse sentido e o pior – tenha impedido as duas refinarias privadas de fazê-lo.
Ao mesmo tempo em que se ufana da auto-suficiência, a Agência Nacional do Petróleo dissimula que o Brasil, exportando mais 92 mil barris do que importa, mesmo assim ainda gasta US$ 3,5 bilhões para cobrir a diferença de preço entre o barato petróleo pesado que vendemos e o caro petróleo leve que compramos.
Falta inteligência ou sobra ignorância neste país?