segunda-feira, 27 de março de 2006

Paloccigate - Jayme Copstein

O mais recente escândalo do governo Lula acaba de ser batizado de Paloccigate pela imprensa. Mas até chegar ao rótulo, pipocaram algumas comparações sem fundamento, o que mostra a dificuldade para se separar o público do privado quando se faz jornalismo.
Os filhos fora de casamento formalizado, de Mitterrand na França ou de Lula no Brasil, jamais deveriam ter vindo à tona. Nada tinham a ver com a vida pública dos personagens. Já não era o caso de Bill Clinton, cujo envolvimento com Mônica Lewinsky ocorreu dentro de um espaço público, a Casa Branca, com o forte ingrediente da ascendência que um presidente de República tem sobre uma subalterna, por mais escolada que ela seja.
Sob esse estrito ponto de vista, as escapadas de Palocci também não deveriam ser devassadas porque a casa dos seus encontros com prostitutas é área privada.
O problema é outro. Tem semelhança com o escândalo protagonizado por Richard Nixon, cujo crime maior não foi ter ordenado a invasão de salas do Edfício Watergate, onde a sede do Partido Democrata já tinha sido desmontada e nada mais ali havia de importante. O problema de Nixon foi ter mentido para obstruir a Justiça.
Palocci fez igual. Mentiu sobre as suas relações com os corruptos assessores de seus tempos de prefeito em Ribeirão Preto. Tentou obstruir a apuração da verdade, violando o sigilo bancário e devassando a vida de um pobre coitado. É canhão demais para esconder apenas aventuras galantes.
Paloccigate, pois, é a palavra certa e merecida.

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