sexta-feira, 24 de março de 2006

Pavana dos elefantes - Jayme Copstein

No romance de Érico Veríssimo “O resto é silêncio”, há uma cena hilariante em que um desembargador aposentado, assistindo a concerto no Teatro São Pedro, entende por “Caravana dos elefantes defuntos”, o título da composição de Ravel, “Pavane Pour Une Enfante Defunte” (Pavana Por uma Infanta Defunta).
Pois o acordão, o conto de vigário que a Câmara Federal aplica para salvar o pêlo de deputados corruptos, aposta que os eleitores brasileiros não saibam distinguir entre a pisada de um elefante fazendo tremer o mundo e os acordes de uma melodia triste, sob a batuta de um maestro com ouvido de ferreiro.
Deputados de todos os partidos participaram da velhacaria, ausentando-se do plenário na hora da votação.
Na teoria, tanto para cassar como para preservar um mandato, são necessários 257 votos, metade mais um do número total de deputados. Se no plenário houver apenas 444 deputados, o quorum para cassar continua o mesmo, 257, mas para absolvê-lo diminui para 188. Foi o que aconteceu com Wanderval dos Santos da bancada do PL, mensalista que alugava o mandato ao bispo Rodrigues.
No caso de João Magno, do PT, outro réu confesso de mensalão, a aritmética foi ainda mais marota. O plenário se reduziu a 426 deputados, o que diminuiu para 169 o quorum da salvação.
Que não se pode acusar todos os deputados de participar da marmelada, é correto. Mas a lista dos velhacos, dos que faltaram, deve ser exposta nas ruas de todo o Brasil, para que o eleitor tome providências nas próximas eleições.

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