quarta-feira, 22 de março de 2006

A queda da barragem - Jayme Copstein

Pela primeira vez, em seus três anos e pouco de mandato, o governo Lula mergulha em uma crise séria, graças à incompetência com que sempre tratou dos incidentes de percurso.
No escândalo Valdomiro, bastava a demissão sumária, a apuração e punição dos crimes, para conter a pororoca. O governo decidiu apostar em uma fictícia conspiração para imobilizá-lo. Deixou que a lama se escoasse em doses controláveis por esta pequena fenda inicial.
No mensalão, seguiu com a mesma tática. Até aí a situação podia ser levada, considerando-se a falta de pudor e de senso de ridículo que tempera a nossa vida pública.
Sobreveio o caso Palocci. Houve o depoimento de um caseiro, e já não se tratava mais da liberdade de ir e vir do ministro da Fazenda.
A pergunta era: além de se divertir com as damas de companhia de Madame Jeanny Mary Corner, o que mais ele fazia naquela casa de Brasília, freqüentada também por ex-assessores, lobistas consumados e corruptos confessos, amigos do peito desde os tempos em que “o chefe” era prefeito de Ribeirão Preto.
A reação do governo foi enveredar pela delinqüência, equiparando-se aos hackers que invadem contas bancárias. Em vez de encontrar um delator de aluguel, subornado para o falso testemunho, violou a Constituição e devassou dramas pessoais de gente humilde.
Foi como pôr dinamite na fenda. A barragem ruiu. Pode ser que entregando Palocci, seu último anel, Luiz Inácio Lula da Silva consiga salvar os dedos e puxar o cordel para inflar o salva-vidas. Mesmo assim, difícil será manter-se à tona no mar de lama que ameaça engolfar o Planalto.

2 comentários:

  1. O trágico é que, por maior que seja o mar de lama, ele não engolfa o Planalto: as CPIs não chegam a nada, o Boris foi calado, tudo é atribuído a uma suposta "conspiração das elites" e... o Lula continua viajando e discursando...

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  2. Anônimo2:07 PM

    Discordo. Esse negócio vai estourar.
    Rubens

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