quinta-feira, 30 de março de 2006

De fantasmas e corruptos - Jayme Copstein

O cinema às vezes lida com seres invisíveis, como se fosse ficção. Mas eles existem: é o porteiro, a recepcionista, o caseiro, a faxineira, o garçom do restaurante, a telefonista, o motorista do táxi. Enfim, são pessoas que, por instrução, não entendem, não se imiscuem, não opinam nem percebem o que ocorre em seu redor, e por isso sequer têm sombra no “Brasil importante” dos Lalaus, Malufes, Zé-Dirceus, Bob-Jeffersons e companhia ilimitada.
Como em todo o filme, a folhas tantas, como diziam os antigos burocratas, reverte-se o acidente técnico, os fantasmas surgem do nada para assombrar os criminosos perfeitos como seres reais.
Não há nenhuma máquina genial ou truque cinematográfico na metamorfose. Mais antigo no banditismo de colarinho branco do que os dinaossauros da pré-história, é que os gângsters também brigam entre si e aí não tem mãe que se respeite.
Pergunta simples: como alguém poderia saber que Palocci freqüentava a Casa de Drácula, para receber as suas transfusõezinhas, se não fosse também vampiro? O problema dever ter sido disputa de algum RH ou DNA mais polpudo.
Segundo os jornais, o governo continua esgravatando a vida do caseiro Francenildo Costa, para desqualificar a denúncia. Está perdendo tempo. Francenildo não denunciou nada, só testemunhou que viu Palocci onde Palocci não deveria estar.
Se a briga dos gângsters continuar nos bastidores, não demoram a se materializar outros seres invisíveis. Ao contrário do cinema, nesse Brasil importante dos Lalaus, Malufes, Zé-Dirceus, Bob-Jeffersons e companhia ilimitada, o filme nunca tem fim.

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