segunda-feira, 20 de março de 2006

A revolução da língua - Jayme Copstein

Inaugura-se hoje em São Paulo um museu da língua portuguesa. Será que a idéia originou-se do massacre diário a que o idioma é submetido, a ponto de temer-se pela sua extinção? No futuro, se alguém desejar saber como se falava e se escrevia quando sonhávamos com um Brasil civilizado, encontrará ali alguns subsídios. Será essa a idéia?
Pergunto, então, se não seria melhor um Museu de Horrores. Sugiro como primeira peça do acervo, “risco de morte”, expressão inventada por algum gênio da lógica debilóide, para supostamente corrigir “risco de vida”. Não se precisa acionar mais do que um neurônio para se perceber que, sendo a morte irreversível, só a vida é que corre riscos.
Outro pecado mortal é o uso da expressão latina “in memoriam”, que significa “em memória de”, muito em moda em necrologias modernosas. Em vez da simplicidade de “viúvo ou a viúva de fulano ou fulana de tal”, sai: “Era casado com fulano ou fulana (in memoriam). O que convenhamos, só por mediunidade.
Tomei contato com tais novidades, pela primeira vez, quando um colega, extremado militante de esquerda, pretendeu convencer-me de que a omissão do “se” em verbos de sujeito inanimado, nas construções do tipo “Inaugura-se hoje”, era a Grande Revolução começando pelo idioma.
Respondi-lhe que, se era tudo o que tinha para derrubar o “sistema”, a direita continuaria dormindo em paz pelo resto da vida.

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