terça-feira, 14 de março de 2006

Cuecas na fechadura - Jayme Copstein

Que já não se fazem mais cuecas como antigamente, prova-o o fato de que até o plural obrigatório elas perderam: hoje a maior parte das pessoas só fala em cueca, provavelmente porque exerceram papel muito singular no escândalo do mensalão.
Sem alusão alguma a fundilhos, com toda a certeza as cuecas têm papel mais importante na crise do que o de servir de valise para carregar dólares. Lembram uma velha anedota: o marido ciumento cuida pelo buraco da fechadura, o encontro da sua mulher com um suposto amante. Mas não consegue ter certeza da traição, porque, após caírem no chão, uma por uma, as peças de roupa, o suposto amante pendurou as cuecas na maçaneta da porta e tapou o buraco da fechadura. “Que terrível dúvida!”, ele exclamou.
Quem escreveu as 80 páginas da defesa do deputado João Paulo Cunha na Comissão de Ética da Câmara Federal, deveria ter sido mais comedido tanto na extensão do documento como nos preciosismos. Evitaria que a deputada Ângela Guadagnin tropeçasse nas palavras e protagonizasse quatro horas a fio a tentativa de anestesiar ou adormecer os conselheiros, para obter a absolvição.
Mais até: pouparia a ela o trabalho insano e doloroso suplício aos demais. O voto secreto que absolve réus confessos no plenário da Câmara, é a cueca que tapa o buraco da fechadura, para que o eleitor enganado não consiga enxergar seu deputado refocilando em corrupção. Mas só ingênuos ou idiotas é que não vêem.

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