quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Triste espetáculo - Jayme Copstein

O Congresso brasileiro deu hoje triste demonstração de a que extremos de demagogia e hipocrisia pode chegar. Após terem Renan Calheiros e Severino Cavalcanti se comprometido formalmente em maio, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a impedir a rejeição, uma maioria de 370 deputados e 61 senadores derrubou o veto aos projetos de reajuste salarial dos servidores do Legislativo e do Tribunal de Contas.
A votação no Congresso foi de um despudor inqualificável. Parecia terem voltado as palhaçadas da época da ditadura, quando o relógio do plenário era parado para fingir que o tempo se congelara e impedir a oposição de obstruir projetos do governo. Durante horas, o tempo de votação foi prorrogado, para completar o quorum da rejeição e foi preenchido por discursos ridículos que envergonhariam até fim de banquete de time varzeano. Teve orador agradecendo a Renan Calheiros o jantar que ele patrocinaria para comemorar a sua traição ao compromisso com o presidente da República, e tudo isso com referências às habilidades culinárias não se sabe bem se à esposa ou a cozinheira do presidente do Senado.
É evidente que os deputados e os senadores sabem que o veto será mantido no Supremo Tribunal Federal porque tem vício de origem – o legislativo e o judiciário não podem criar ou aumentar as despesas administrativas. Recentemente houve decisão nesse sentido e ela será repetida.
Não há dinheiro para o aumento. A se privilegiar os funcionários do Legislativo e do Tribunal de Contas, terá de ser estendido, no mesmo percentual, a todo o funcionalismo federal. Significaria mais 11 bilhões nas despesas da União pondo na lata do lixo o sacrifício que desde 1994 o povo brasileiro vem fazendo para consertar as finanças.
Então por que Renan Calheiros e Severino Calvalcanti, sabendo disso, fal-taram com a sua palavra? Só pode ser por uma razão: para atenuar os efeitos da maior bandalheira que já se engendrou na história do país – a absolvição dos deputados comprovadamente envolvidos em corrupção.
Em outras palavras, os congressistas fingem dar a uns uma esmola – porque não passa de esmola – para esconder a grande roubalheira que ao longo dos anos é responsável verdadeiramente pelas privações e pelo sofrimento do povo brasileiro.
Não há mais dúvidas – a maneira de eleger os congressistas tem de mudar, de forma que a sua cassação não dependa só deles, mas também da vontade da maioria do eleitorado. É urgente, no mínimo instituir-se a retomada do mandato na legislação eleitoral.

A cobrança do cheque - Jayme Copstein

Não há motivo para os comentários sarcásticos que se ouvem aqui e acolá, sobre as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, travestindo-se de Juscelino Kubitschek, para mais uma vez culpar a imprensa pela crise.
Enquanto o fantasma de Napoleão Bonaparte não perambular pelos corredores do Palácio do Planalto, com a mão enfiada no colete e aquele chapéu atravessado na cabeça, ninguém tem por que se preocupar. O que há é a infelicidade do presidente na escolha de exemplos para se refugiar no coitadismo.
Não se pode falar em mídia na crise de 1954, culminada com o suicídio de Getúlio, porque então o rádio e a tevê eram entretenimento com algumas poucas notícias em horas pré-fixadas. Reconheça-se: o engajamento dos jornais, de um lado e de outro, foi um fato.
Só que isso marcou o fim de uma época. A partir daquele momento, graças aos cursos universitários de comunicação social que então se iniciavam, o jornalismo brasileiro se depurou e nunca mais repetiu o embate entre Carlos Lacerda e Samuel Wainer, apenas citando ícones.
Não foi a imprensa que criou aquela crise, menos ainda a expressão “mar de lama”, saída da boca do próprio Getúlio. Como agora. Marcos Valério, Delúbio Soares e Silvio Pereira, também só citando ícones, não são personagens de nenhuma novela de tevê.
E quem criou a expressão “mensalão”, não foi nenhum jornalista. Foi Roberto Jefferson, portador de um cheque em branco, assinado pelo sr. Luiz Inácio Lula da Silva.
É o que se está cobrando agora.

O sexo dos arcanjos - Jayme Copstein

Cinco longos anos após matar uma colega de redação, sua namorada por sinal, um jornalista de São Paulo continua em liberdade, adiando o julgamento para o Dia de São Nunca.
Apesar de réu confesso, a defesa do jornalista conseguiu interpor recursos que têm impedido a realização do júri.
As informações estão todas na revista eletrônica Consultor Jurídico. O processo volta agora para Primeira Instância, mas segundo o juiz, para o caso prosseguir, o Ministério Público e a defesa devem apresentar suas razões.
Só que – e aí é que está o problema – a defesa está alegando que ainda necessita do julgamento de agravos de instrumento contra despachos da segunda vice-presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo para que recursos extraordinários fossem apreciados pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
A quem achar muito complicado, deve ter relação a saber-se se Rafael e Gabriel são arcanjos ou arcanjas. Ou muito antes pelo contrário. Como o caso se passa em São Paulo, se também são torcedores do Corintians ou do Jabaquara.
O privilégio desse jornalista é ter assassinado alguém. Tivesse ele alguma opinião discordante, enfrentaria a Inquisição. No Brasil, matar não é o pecado. Crime mesmo é não pensar como os mandões.

Nosso Pancho - Jayme Copstein

Ninguém sabe onde se situa a fronteira entre a realidade e a fantasia quando se contam as andanças de Pancho Villa, o caudilho mexicano. Há um história engraçada, contudo muito adequada às fórmulas mágicas, apresentadas ontem na Folha de São Paulo, por Mangabeira Unger, o mais precoce “candidátou ô presidência do repâblica!” nas eleições de 2006.
Para Mangabeira Unger tudo é muito simples. Basta saber a palavra mágica – talvez abracadabra – baixar os juros e elevar o câmbio. Não fingiremos – mandaremos de fato o FMI àquela parte e seremos felizes para sempre.
Segundo se conta, em determinado momento Pancho Villa conseguiu se adonar do poder no México e lá se manteve até o ministro da Fazenda dizer que faltava dinheiro no tesouro.
O caudilho respondeu que não se preocupasse. Resolveria o assunto em poucos dias. De fato, não demorou muito para que chamasse o ministro e lhe mostrasse uma sala abarrotada até o teto de cédulas com sua própria efígie, que mandara imprimir na tipografia de um amigo.
– O que é isso? – perguntou o ministro.
“Ué, respondeu o caudilho. É o dinheiro que pediu1”
– Isso não passa de papel pintado! Dinheiro é coisa muito diferente!
Pancho Villa resolveu voltar para as suas tropelias, onde tiros e gritos resolviam a parada. Nosso Pancho Villa tem a vantagem de não dar tiros nem berrar patriotadas. Na verdade, guarda semelhança com o original por confundir ficção e realidade. Nascido e criado nos Estados Unidos, de mãe brasileira, ele quer salvar a pátria, só não sabe de quê.

terça-feira, 30 de agosto de 2005

Hora do ajuste - Jayme Copstein

Se a democracia brasileira corre riscos neste momento, o maior risco vem do próprio Congresso. A instituição já se desmoralizou como jamais acontecera antes. Não obstante, o Congresso conspira nos bastidores para absolver os corruptos abrigados em seu seio, graças à uma perversão chamada voto proporcional, que o transformou em museu de horrores.
Por trás da aparente resignação de alguns eleitores, há um clamor nas ruas. Está dizendo – basta! Será difícil impedir que o povo sofrido, de salário minguado, maltratado em todas as instâncias, vá às ruas para fazer justiça com as próprias mãos.
Que o Congresso, se decidir salvar a pele de alguns corruptos através das firulas jurídicas com que dissimula seu espírito de corpo, que se prepare para assumir perante a História a responsabilidade de ter destruído o país. De pouco adianta alegar-se que há pessoas decentes, exercendo mandatos. Quem cala consente. Quem consente, é cúmplice.
Que não se acuse a quem alerta sobre o perigo da situação, de estar subvertendo a ordem ou incitando à desordem. As maroteiras se somam e se multiplicam. Descobre-se agora que o Congresso tem mentido à Nação nos últimos anos, quando proclamou que as indecentes aposentadorias de parlamentares haviam cessado com a extinção do respectivo instituto. A aposentadoria continua existindo e nem mesmo a deputados desonestos, que renunciam para não serem punidos, ela é negada. É a consagração da canalhice, acrescentando-se ao célebre “o crime não compensa” – exceto para políticos brasileiros.
Está começando a contagem regressiva. Que os honestos se rebelem e denunciem o crime que se pretende cometer contra a Nação. E que os desonestos, os que não foram apanhados na ratoeira, tenham presente de que não suportamos mais este estado de coisas.

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Atos e fatos - Jayme Copstein

O sr. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, volta a se queixar da imprensa, que durante tantos anos o acalentou como garoto mimado e debitou seus disparates na conta do pitoresco.
A relação de Lula com o jornalismo tem a ambivalência de quem não entende a realidade democrática e só vê os meios de comunicação como um instrumento de conveniências ocasionais.
O que afinal de contas o sr. Luiz Inácio Lula da Silva deseja da imprensa? Que ela se transforme em lira, para que nela dedilhe suas auto-louvaminhas enquanto esta Roma decadente, em que ele, seus correligionários e aliados transformaram Brasília, queime sob o escândalo do mensalão?
O que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva e muita gente que se tem por boa têm de pôr na cabeça é que são os atos que geram os fatos que geram as notícias. Não se necessita de exame profundo para saber-se que o que desagrada ao sr. Luiz Inácio da Silva, não são as notícias, são os fatos.
Mas como não há fatos sem atos que os antecedam, que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva assuma a responsabilidade pelos seus próprios atos. Foi lá que as notícias o encontraram quando analisaram os fatos.

Leia, também, "Melissa e maracujá", de Hilton Almeida, em http://arirs.blogspot.com

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

A corte de Brasília - Jayme Copstein

Há pouco tempo, um correspondente brasileiro em Londres transmitiu à emissora de tevê, com grande destaque e indignação, quase em tom de denúncia, a informação de que a família real da Inglaterra custa aos cofres públicos a bagatela de R$ 160 milhões de reais, convertendo libras ao câmbio do dia. Só faltou dizer – “Que horror! Que barbaridade!”
Com toda a certeza a pobre Inglaterra jamais chegará à situação de um país rico e próspero, como o Brasil, que só com os baronetes do Palácio Planalto, torrou bem mais do que esses modestos 160 milhões da família real inglesa, em despesas mal sabidas porque os respectivos cartões de crédito, muito utilizados para sacar dinheiro vivo, têm suas contas protegidas pelo sigilo.
Como o nosso presidente disse que nenhum outro governo na história deste país combateu tanto a corrupção, por favor não se levantem suspeitas infundadas. Se houve alguma trampolinagem, foi punida exemplarmente. Apesar de ninguém ter ficado sabendo, da mesma forma que ninguém foi sabendo até agora como o dinheiro foi gasto. Só de onde ele veio: do bolso de todos nós.
O assunto está chegando ao Tribunal de Contas da União, que deverá se manifestar nos próximos dias. Mas desde já, a sugestão – com o dinheiro que se gasta na Corte de Brasília, dava para contratar algumas famílias reais de grande pedigree e, com o troco, outros tantos príncipes – aqueles que, quando não estão conspirando para derrubar os titulares, andam matando cachorro a grito. Haveria de melhorar muito o nosso carnaval.

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Dia do Soldado - Jayme Copstein

O escândalo que sacode a Nação deixa em plano secundário a efeméride de 25 de agosto: o nascimento, em 1803, de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, um dos grandes estadistas do país, se não o maior de todos.
É um dos muitos paradoxos da história brasileira a ênfase quase exclusiva que se dá à carreira das armas na sua biografia, tanto assim que hoje é Dia do Soldado.
Se Caxias é a grande figura da história militar brasileira, maior ainda é a sua estatura de estadista Se hoje existe um Brasil “do Oiapoque ao Chuí”, como gostamos tanto de proclamar, e não uma dezena de republiquetas a guerrear entre si, deve-se à sua ação pacificadora em várias rebeliões: Bahia, Maranhão, São Paulo, Minas Gerais, culminando com a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul.
Os historiadores revisionistas não lhe fazem justiça. Não fosse a mesma luta pelo poder que hoje sacode o país, a Guerra do Paraguai teria terminado antes, com outro desfecho, e ele seria considerado também um dos grandes estadistas do continente.
Que pena que não aconteceu. Continuamos estripando a Nação com as nossas ambições pessoais.
Nossas homenagens ao Exército no Dia do Soldado.

Os azares do povo - Jayme Copstein

Alguma coisa anda errada na área da defesa do consumidor. Voltam a recrudescer as reclamações de leitores e ouvintes que lojista estão perdendo o saudável respeito à lei que tanto o Procon como os Tribunais Especiais de Pequenas Causas haviam incutido entre os hábitos do comércio varejista. Surgiu até uma nova “otoridade”, o gerente de loja, como se constatou em um tradicional magazine gaúcho.
O caso foi de um cliente que comprou um televisor gigante da marca Philco e, quando pela quarta vez, antes do prazo de a garantia se esgotar, a traquitana se estragou, ficou sabendo que a própria Itautec não fabricava mais o modelo porque não dera certo.
Depois de muitas propostas inaceitáveis – troca por um modelo menor, mas jamais a devolução integral do dinheiro já desembolsado, como manda a lei – o descaso e a prepotência. Se quiser vai até no tribunal de Pequenas Causas, que daqui um ano ainda não resolveram nada. E comigo, não tem Procon nem meio Procon. Sou gerente de loja e sei o que estou dizendo.
Pior foi a má sorte que alegaram ter o cliente. Imaginem. A Itautec se desfez recentemente da linha Philco, e não terá sido pelos lucros e satisfações que ela lhe tenha proporcionado. Tudo isso o consumidor em questão ficou sabendo, ao lhe alegarem que ele era uma pessoa muito azarada.
Ele nos contou a história. Nós o aconselhamos a procurar efetivamente o Procon, só para se verificar três pontos: primeiro, se o Procon agora está efetivamente subordinado a gerentes de loja; segundo, se foi revogada a legislação que diz ser responsabilidade do lojista a solução do problema que ele causou ao vender um eletrodoméstico defeituoso ao consumidor; terceiro, se não o consumidor em questão, mas se o povo brasileiro é tão azarado que aqui não “pegam” as leis que o beneficiam.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

A queda - Jayme Copstein

O confronto de Tarso Genro e José Dirceu é decisivo para o Partido dos Trabalhadores. São duas personalidades distintas, tendo em comum, porém, a exuberância que torna difícil traçar a fronteira exata entre ideais e ambições pessoais.
Nas circunstâncias presentes, quando se avalia avaliar a posição de um e de outro, a balança pende para Tarso Genro. Ele percebe, com lucidez que é necessário, com humildade e obstinação, rejuntar os destroços para reconstruir o PT.
José Dirceu parece não se não se dar conta disso. Guarda notável semelhança, com Adolf Hitler, o ditador nazista, mobilizando exércitos imaginários nos dias que precederam à queda de Berlim. Tem em mente o partido que existia antes da tragédia, da qual foi mentor e responsável, para dele se servir como blindagem.
Dirceu sabe que tem uma batalha perdida. O precedente de Hidelbrando Hildebrando Pascoal, cassado por crimes cometidos anteriores ao exercício do mandato, não favorece a tese de que estava licenciado da Câmara quando aconteceram os crimes pelos quais é acusado. Mas, prevalecesse a tese – e a mentira à Comissão de Ética, mandato já reassumido, quando negou envolvimento nas negociações de Marcos Valério com a Portugual Telecomm?
De novo a semelhança: Hitler achava que a Alemanha e o povo só existiam para servi-lo. José Dirceu parece achar que o PT não merece sobreviver sem ele.

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Acredite se quiser - Jayme Copstein

Chegou a tal extremo o ridículo da legislação de porta de cadeia, favorecendo a todo o tipo de delinqüente, que a gente não sabe mais o que é verdade ou mentira, o que é anedota ou não.
Um amigo me conta como piada – ele jura que é mentira, que é só piada mesmo, que foi inventada na Internet.
Um cidadão estava dormindo, quando ouviu ruídos no jardim Espiou pela janela e viu um ladrão tentando arrombar a porta.
Imediatamente telefonou para a Polícia e avisou:
“Tem um ladrão no meu jardim!”
O plantão, do outro lado, perguntou:
– O ladrão está armado? Oferece risco a alguém?”
“Por enquanto, não, respondeu o homem. Mas está tentando arrombar a porta. Se conseguir entrar, vai haver perigo, não é?”
– Então o senhor espere. Estamos com falta de viaturas e não podemos deslocar uma equipe de investigação agora. Vai demorar um pouco..
“Pára aí, insistiu o queixoso. Ele está tentando invadir a minha casa!"
– Lamento, mas não podemos fazer nada.
Clic. Desligou.
O queixoso homem pensou um pouco. Passados três minutos, telefonou de novo:
"Acabei de matar aquele ladrão que estava invadindo a minha casa!"
Não conseguiu sequer terminar a frase. No mesmo momento, surgiram três viaturas com as sirenes abertas em frente da casa. Os policias entraram e o ladrão ficou quieto.
Os policiais foram pedir satisfações ao queixoso:
– O senhor não disse que tinha matado um ladrão?
“Disse, mas foi para que vocês virem mais depressa.”
– Ele chegou a roubar alguma coisa?
“Não, não chegou a entrar. Ainda estava tentando arrombar a porta.”
– Tem testemunhas?
“Não, não tenho. Estou só em casa.”
– Bom, então o ladrão pode ir embora por falta de provas. Mas o senhor está preso por falsa comunicação de ocorrência.
O amigo que me contou jura por todos os santos que não é verdade, é piada, nunca aconteceu, foi inventada na Internet.
Acredite se quiser.

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Jogo de cena - Jayme Copstein

Muitos discordaram do comentário anterior, Idade da Pedra, sobre as respostas do ministro Antônio Palocci às acusações do ex-assessor, Rogério Buratti. Uns acharam que não se valorizou o suficiente a “façanha”. Outros, que "se encheu a bola do cara".
Não se trata de canonizar ou demonizar Antônio Palocci. A impropriedade de comportamento de um promotor de Justiça também não invalida as investigações que devem continuar e ir fundo, até que toda a verdade, não apenas parte dela, seja conhecida.
Desde que o escândalo estourou, tem se dito aqui que há algo de muito gra-ve por trás da trama e só muito timidamente vem à tona para logo em seguida submergir: a conspiração de poder e a origem dos recursos nela envolvidos. É difícil acreditar que as enormes quantias envolvidas tenham origem só no caixa 2 de empresas e até mesmo de receita das estatais. É muito dinheiro para pouco rio. É só traçar um paralelo com os conflitos que ocorrem na África para se encontrar forte semelhança.
No caso do Palocci, as acusações adicionais, no domingo à noite, tinham pontaria errada. Mais importante é cobrar de todos a mesma clareza e contundência. Por que Lula não o faz como Palocci? E também Gushiken, José Dirceu, Delúbio Soares, Genoíno, todos, enfim. Por que não o fazem preto no branco, pão-pão, queijo-queijo?
As acusações adicionais a Palocci têm origem suspeita: – César Maia, can-didato à presidência da República, deslocado do centro das atenções em uma área em que se julgava senhor: a do eleitorado que se impressiona com factóides. Roberto Jefferson com talento para passar do riso à lágrima e de um samba de Lupicínio a um cadente impropério, ao assumir a máscara de novo Catão da República deixou Anthony Garotinho falando sozinho e César Maia sem falar porque não tem que os escute. Agora aparece Antônio Palocci como o provável candidato do PT se Lula desistir da reeleição.
É difícil separar o que é jogo de cena e o que não é em todo o embrulho. Fala-se muito em reforma política para corrigir essas aberrações. Mas – reformar o quê, se o país, em matéria de política é uma terra de ninguém, à mercê de qualquer aventureiro bem dotado para o palco?
O que se precisa é devolver ao Brasil a estrutura perdida quando se inventou o milagre da ditadura republicana para substituir a monarquia inutilizada pelo envelhecimento. Está na hora da democracia parlamentarista.

A idade da pedra - Jayme Copstein

Terá havido engano tão palmar por parte dos repórteres da revista Veja no caso do ministro Palocci? Ele dissecou uma a uma e comprovou a inconsistência das supostas denúncias sobre ligações escusas que manteria com o advogado Buratti.
Jornalistas cometem enganos com ingenuidade que chega a ser incrível. Mas há uma explicação: a corrupção no Brasil tem a idade da pedra; a honestidade ainda está no útero e corre o risco de aborto.
Há um episódio curioso, inédito até agora, protagonizado pelo engenheiro gaúcho Ildo Meneghetti, duas vezes governador do Rio Grande do Sul. Era um tipo raro: empobreceu na vida pública. No intervalo entre os dois mandatos e mesmo depois, quando abandonou a política, necessitou trabalhar para sobreviver.
Dono de uma empresa de engenharia, Meneghetti certa feita foi a Brasília, para assistir à decisão de concorrência da qual participava. Na véspera, à noite, foi procurado no hotel por desconhecido que se identificou como membro da comissão julgadora. Vinha lhe oferecer a vitória se concordasse em pagar os 10 por cento, ditos “de praxe”.
Meneghetti recusou a proposta e pediu ao cidadão que se retirasse para não ser expulso do apartamento. No dia seguinte, a surpresa: havia ganhado a concorrência. Foi então que percebeu o golpe: alguém, com conhecimento antecipado do resultado, tentara lhe extorquir dinheiro.
Não há necessidade de se recorrer ao célebre caso colar de Maria Antonieta, para se perceber em que consistiu o “lobby” de Buratti no Ministério da Fazenda.

sábado, 20 de agosto de 2005

Meia gravidez - Jayme Copstein

Devem ser rigorosamente apuradas as denúncias do advogado Rogério Tadeu Buratti de que o ministro Antônio Palocci recebia propinas de 50 mil reais por mês, quando prefeito de Ribeirão Preto. Devem ser apuradas porque tem que se chegar à verdade e, também, para se descobrir se não inventaram nova malandragem, a da denúncia sem fundamento, para gozar dos benefícios da delação premiada.
Há, entretanto, aspectos no mínimo estranhos na denúncia contra Palocci. Logo que o mercado financeiro acusou a alta do dólar e a queda da bolsa,o promotor estadual de Justiça de São Paulo, Sebastião Sérgio da Silveira, por demais agoniado em dar publicidade ao depoimento de Buratti, apressou-se a acrescentar que havia documentos comprovando parcialmente as acusações.
Não há mulher meio grávida, mas estamos diante de um novo conceito jurídico que é o da prova parcial. Ou seja a que meio prova e meio não prova. Meio que matou porque a vítima meio que morreu. Por aí afora.
Outro aspecto estranho é que Buratti foi preso quarta-feira, acusado de crime de lavagem de dinheiro, tentativa de destruição de documentos e formação de quadrilha. Delação premiada, ao que se sabe, favorece a quem revela detalhes que facilitam a investigação do crime do qual é acusado. Não parece que se aplique a quem revele o assassino do faraó Akenaton, mil anos antes de Cristo.
A verdade, não devidamente salientada, é que o advogado Rogério Tadeu Buratti foi demitido da Prefeitura de Riberão Preto por Palocci em 1994, sob acusação de favorecimento. Saindo da prefeitura, Buratti trabalhou cinco anos como consultor da empreiteira Leão Leão, a que teria pago os 50 mil mensais do suborno. Ele próprio ressalvou, o dinheiro tinha o destino da tesouraria do PT, não o bolso de Palocci. Que, aliás, ainda impediu faturamentos de Buratti em intermediações para a GTech. Que,aliás, chafurdou em outras encrencas por conta própria.
Desde o início de todo o escândalo do mensalão, temos dito aqui que não se sabe metade da missa. Exatamente aquela metade que os implicados vendem a alma ao diabo para esconder. Delúbio, Valéiro, Buratti são todos soldados desta cruzada.
O nome do diabo vai aparecer qualquer dia.

sexta-feira, 19 de agosto de 2005

Metade da missa - Jayme Copstein

O governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva assinou confissão de culpa, ao manobrar na CPI dos Correios para evitar a convocação de Toninho da Barcelona.
A primeira impressão que se tinha era a de que a oposição caíra em suas próprias armadilhas. A munição principal era segredo de polichinelo. O doleiro iria revelar remessas de dinheiro ao exterior do ministro Márcio Thomaz Bastos, cuja origem é por todos sabida e estão em suas declarações de renda. Nada em desabono à sua honorabilidade.
O dividendo político maior – pífio, pela banalização – seria a comparação demagógica com a miséria que mendiga um pedaço de pão nas esquinas das cidades. Mas quem, neste país, tem autoridade moral para fazer tal tipo de comparação, quando os rios do dinheiro contabilizado ou não, para se ficar com a nomenclatura da moda, correram sempre por caminhos escusos, sem restar uma gota que fosse para minorar o abismo social?
Estavam as coisas neste estágio quando, inesperadamente, o governo e seus aliados desenham um imenso ponto-de-interrogação na cabeça de todos, ao impedir a convocação do doleiro pela CPI.
O que terá o doleiro a dizer, que tanto pânico leva ao governo e seus aliados?
Com toda a certeza, não se sabe a metade da missa. Justamente aquela metade que querem esconder a qualquer preço.

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

A volta de Fantomas - Jayme Copstein

As acrobacias dos depoentes das CPIs, testemunhas ou investigados, nos remetem aos velhos ringues de luta livre que mudavam de nome e de heróis em cada cidade.
Esta versão teatral da arena romana tinha um personagem misterioso, o Fantomas, invencível, cuja identidade era à prova de qualquer investigação.
Quando algum gesto ou cacoete fazia suspeitar que se tratasse do lutador A ou B, disfarçado, no dia seguinte Fantomas lutava contra ele e o derrotava fragorosamente.
Quem trabalhava nos bastidores sabia que o Fantomas era todos ao lutadores. Tinha a estatura do lutador mais alto para que não aparecesse mais baixo, por alguma distração. O segredo estava nos pés de madeira que o encompridavam convenientemente. Era o que explicava porque Fantomas não dobrava as articulações dos joelhos nem dos calcanhares e andava sempre de pernas duras.
Pois Fantomas está de volta, agora em todas as CPIs do Congresso, para que os Delúbios, Valério e companhia ilimitada possam enganar o respeitável público indefinidamente. Suas mentiras têm pernas curtas, como todas as mentiras, mas acabam ganhando altura graças a um hábeas corpus que, a título de garantir direitos individuais, endurece a couraça e confere o privilégio da impunidade a quem fez a vida pública deste país refocilar na mais abjeta das imoralidades.
Enquanto dispuser desta fantasia jurídica, Fantomas continuará invencível e à prova de identificação.

O que vai acontecer agora? - Jayme Copstein

Paulo Acosta - In memorian

Paulo Acosta nasceu jornalista na cidade do Rio Grande. Eu o conheci no finalzinho dos anos 70, quando ingressou na Rádio Guaíba. Descia todas as noites para a redação do Correio do Povo, onde eu fazia plantão, e conversávamos sobre algo novo e palpitante que estava entrando em nossas vidas: o computador pessoal.
Éramos, então, os vaidosos proprietários de duas maquinetas chamadas TK 80, cuja programação se digitava na hora de usar. Quando se avançou um passo, a programa se guardava em um gravador de fita. De qualquer maneira uma tartaruga para fazer a engenhoca correr um pouco mais.
Bom matemático, o que muito pouca gente sabe, Paulo Acosta interpretava estatísticas com maestria. Foi capaz de prever com aquela maquineta rudimentar o desdobramento das eleições de 1978 e 1980 e advertir sobre o problema da superpopulação mundial, mantidos os índices de natalidade.
Trocávamos muitas fascinações. No passo adiante, quando apareceram os primeiros computadores Apple II, nos perguntamos: “O que vai acontecer agora?”
Difícil era ficar triste ou depressivo ao seu lado. Era sempre o futuro que estava presente nas cogitações de uma alegria permanente, da qual brotavam frases inteligentes e trocadilhos fáceis.
Fazia muito tempo que eu não via Paulo Acosta. Planejei telefonemas, encontros e visitas que foram sendo deixadas para a perpetuidade do amanhã e acabam jazendo em nossos arrependimentos.
Abro a Zero Hora esta manhã, dou com a notícia da sua morte. Ou será que partiu para o futuro, para antecipar algum grande furo? Continua sem resposta, a pergunta: “O que vai acontecer agora?”

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Zoologia da crise - Jayme Copstein

Aquela pequena escultura dos três macacos – um tapando a boca, o outro, os olhos, e o último, os ouvidos – é a caricatura acabada de testemunhas e investigados depondo sobre o escândalo do mensalão. Ninguém tem nada a dizer porque nada sabe, nada viu, nada ouviu.
É como se a macacada tivesse sido solta contra a vontade em uma loja de louças, para a quebradeira generalizada, sem saber o que fazia. “Ah! então era um prato? Pelo barulho, parecia lenço”.
É ingenuidade de sorro manso, fantasiado de cordeiro. Versão cabocla da fábula de La Fontaine. Sorrisos angelicais, lágrimas de crocodilo, mugidos de sapo-boi para fingir indignação, orelhas alçadas, atentas às instruções do advogado à tira-colo.
Por trás, raposões manipulando os cordéis. Aos poucos, cruzando-se cobras e lagartos, chega-se à origem da crise. Sem madalenos arrependidos nem gambás embriagados, apanhados em arapucas. É puro desentendimento sobre divisão de carniça. O dinheiro ficou escasso, os ratões viraram bugios, a guerra fedeu.
Como enjaular as feras no país da impunidade? Eis a questão.

A monotonia do escândalo - Nahum Sirotsky

Nahum Sirotsky, correspondente de Último Segundo e Zero Hora no Oriente Médio, ostenta currículo que bem poucos jornalistas, no mundo todo, terão para exibir. Foi o criador da melhor revista cultural que já circulou no Brasil. Chamava-se Senhor. Foi também diretor de revistas de circulação nacional, entre ela Visão, e trabalhou para os grandes jornais norte-americanos e europeus
Nahum nos manda sua visão da crise brasileira. Faz uma série de indagações que são as de todos nós. Ele nos lembra algo que parece esquecido no meio do tumulto: a própria Nação.
Eis a sua “Monotonia do Escândalo”:
“A complexidade das questões do Oriente Médio que acompanho como correspondente me obrigam a atenta escuta e leitura da mídia local.Mas não deixo de ler jornais do Brasil e até de ouvir as emissoras daí.
Seis horas á frente no relógio, é até provável que leia os diários brasileiros antes da maioria dos gaúchos. Suspeitar que o noticiário sobre a corrupção no meio político começa a ficar monótono. É muita repetição, com acréscimos de personagens fazendo papéis semelhantes.
Tenho plena consciência do decisivo papel desempenhado pela imprensa em descobrir e denunciar a lama em que vivíamos.E que não deve suspender sua vigilância. Acontece, porém, que nem se provoca o debate sobre os lapsos no sistema que facilitam a corrupção nem sobre como corrigi-los.
Não se discute o suficiente, e na mesma persistência, os inúmeros outros problemas nacionais à espera de correção. Não se provoca o bastante os meios que têm por obrigação estudá-los como é o caso da universidade e dos profissionais liberais.
Duvidas banais que tenho. Por exemplo: será que os eleitos sabem que têm deveres e obrigações especificas? Ou só sabem que eleição é a porta para dias melhores e mais prósperos para eles mesmo, antes de mais nada?
Que as representações em todos os níveis custam caro demais? Ou que o povo já se conscientizou que é ele quem paga todas as contas dos governos que desperdiçam tanto o seu suado dinheirinho?
Que são possíveis providencias para reduzir desperdícios? E liberar mais recursos para que sejam aplicados no desenvolvimento e melhor distribuição de seus resultados? Ou superar as razões que explicam porque o salário mínimo tenha de ser tão mínimo?
O episodio da corrupção tende a ser superado. Mas os problemas não resolvidos permanecerão.”

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Caldo de mamona - Jayme Copstein

Com a oposição descobrindo que o caldo pode entornar, se mais uma gota nele for despejada, a crise política tende a se amainar, a não ser que Lula, com seus descentrados improvisos lance óleo de mamona na fogueira.
O risco é o presidente, cuja visão não abarca os horizontes mais largos que se conhecem, tomar a parte pelo todo e se entusiasmar com o foguetório de parcelas que integraram, no passado, espetáculos de grandiosidade cívica, como o “Diretas, já!” e o “Fora Collor!”
Espetáculos assim, protagonizados por um Brasil que despertava da longa noite da ditadura, não se repetirão. Em que pesem posições contrárias, o amadurecimento democrático ensinou que nem a adoração canina nem o despejo sumário do inquilino do Planalto resolvem o calote pregado nas ilusões das massas. O máximo que se consegue é substituir uma fraude por outra.
Que as CPIs prossigam em seu trabalho de apurar os fatos e apontar as responsabilidades à Justiça, para a devida punição. Que a imprensa continue a dar conta disso à opinião pública.
Mas é preciso retomar o governo com urgência, para evitar que molecagens, como a da elevação irreal do salário mínimo, ponha na lata do lixo o esforço e o sacrifício de longos anos para se chegar ao equilíbrio das finanças.

Bom senso Jayme Copstein

Em meio a alguns desvarios e outras tantas demagogias baratas, o bom senso marcou a reunião dos oposicionistas, ontem. Foi afastada a hipótese de impeachment do presidente da República, sem que surjam provas concretas que o justifiquem.
Em outras palavras, deixa-se de lado o jogo sujo da politiquice, para debater e encontrar caminhos que protejam não só a economia, mas também a própria política das crises periódicas que tumultuam a vida da Nação.
Não será fácil encontrar o mapa da mina. Há setores propondo as velhas e desgastadas “soluções emergenciais”, que a proverbial inércia brasileira acaba por tornar permanentes.
A sugestão mais séria é a de uma nova assembléia nacional constituinte, exclusiva para evitar contaminações. Não se precisa de argumento melhor para defender a idéia do que as 54 emendas já sofridas pelo texto de 1988 e os 90 por cento que ainda não foram regulamentados.
Uma constituição assim, cheia de remendos e omissa em questões relevantes, já seria suficiente para dificultar a governabilidade. Contudo, tem outro defeito que torna o país realmente ingovernável: o hibridismo. Não é, apesar das aparências, nem presidencialista nem parlamentarista. É um pouco de tudo. Isso faz com que o governo seja prisioneiro de um Congresso nada representativo da vontade popular, pelos defeitos também insanáveis do sistema de voto proporcional.
Enfim, postas de lado as chicanas, as armadilhas e as conspirações de poder, talvez cheguemos a algum lugar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Manchetes Jayme Copstein

A manchete de hoje do jornal Zero Hora (Porto Alegre) é significativa, porém modesta, diante do desdobramento da crise política. Diz respeito ao futuro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o que está em jogo é o futuro da Nação.
Mais adequado seria: Semana define futuro do Brasil. O que resta, no escândalo do mensalão – e não é pouco – não passa de investigação policial para identificar todos os culpados e puni-los, se é que se consegue punir alguém neste país da impunidade.
O problema é bem outro. É dar fim à crise, iniciada com o golpe que derrubou o velho e bom parlamentarismo e instituiu o presidencialismo. Em outras palavras: trocou-se mais de 60 anos de estabilidade política da monarquia pelas constantes quarteladas, conspiratas, duas ditaduras e a anarquia banalizada.
Não foi, pois, a monarquia que caiu nem foi a república instituída na troca, em 1889. Eduardo Prado definiu com precisão: passamos de uma monarquia republicana para uma república monárquica. Instituímos uma tirania, cujos problemas se agravaram com o voto classista, este felizmente extinto logo depois, e o voto proporcional, ambos introduzidos em 1934.
Não se trata de nostalgias realengas. Estas têm palco para ostentar suas exuberâncias nos sambódromos de qualquer cidade brasileira, sob comando de Momo I e Único. Estamos falando de trazer de volta o parlamentarismo, que assegurou a estabilidade política no Império e é o que pode consolidar a República.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Por trás da crise - Jayme Copstein

Desde o início da crise, falou-se aqui que a solução para o PT passava pelo caminho da humildade. Ou seja, reconhecer os erros - flagrantes - e reconstruir a casa com os destroços sobrados.Penitência difícil, talvez impossível a quem se apaixonou por si mesmo e se revestiu de sacralidades.
Nos últimos dias, acumularam-se os desabamentos. O jovem deputado Paulo Pimenta, com a ridícula manobra para salvar a insalvável reputação de José Dirceu, aprendeu que pimenta só é carícia no PT dos outros. Duda Mendonça decidiu tirar seus galos da reta e da rinha, e deu o serviço. Lula teve de engolir o discurso das elites e agora o que temos é um país estarrecido, desnorteado, com suas ilusões mais ingênuas sepultada no terremoto.
Não obstante, a penitência parece incompleta, apenas a metade da missa. Há um ponto crucial a ser esclarecido: o manancial generoso de onde saiu o dinheiro grosso, depositado em contas de Duda Mendonça e Marcos Valério de Souza nos paraisos fiscais e em outras contas e bolsos ainda não identificados.
A propósito: o que Hugo Chaves veio fazer em Brasília, fora de horas,sem ser chamado, pelo menos na aparência, e com uma pauta mais para desconversa do que para reflexões sobre a influência da banana caturra no reumatismo das formigas?
A agitação política dos últimos tempos mostra semelhança com o que acontece em alguns países da África. Talvez Monsieur Chirac pudesse nos esclarecer muito a respeito. É político experimentado e a Nação que ele preside tem vasto curriculo na tragédia africana.

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Destemperos do Pimenta - Jayme Copstein

O deputado Paulo Pimenta, do PT gaúcho, poderia ter poupado à Nação o vexame que protagonizou na CPI dos Correios. Já antes, ao inquirir Marcos Valério de Souza, apresentou-lhe um insonso questionário que Valério, bem ensaiado, respondia com prontidão. Os dois deliberadamente simulavam provas de que governos anteriores eram os inventores do mensalão. Quem duvidar, que examine o vídeo gravado.
Não satisfeito, o deputado Pimenta foi de carona para casa com Marcos Valério e seus advogados, e desta promiscuidade desencavou uma lista fraudada de envolvidos no escândalo. Pode lhe valer a perda da vice-presidência da CPI e até o mandato, diante da flagrante infração ao decoro parlamentar.
Por que o deputado Paulo Pimenta e seus correligionários do PT insistem na ridícula versão de que não inventaram a corrupção, mas apenas a aperfeiçoaram?
Provavelmente – urge investigar-se a fundo para se chegar à verdade – porque não se trata de corrupção, mas de conspiração, o dinheiro jorrando de fontes não identificadas para financiar um projeto totalitário de poder.
É tática de quero-quero, cantando longe do ninho para desviar a atenção dos predadores. Com a diferença de que o quero-quero o faz para preservar a vida dos filhotes; não para sentenciar à morte uma democracia nascente.

O enigma de Waldomiro - Jayme Copstein

O retrato de que se chama justiça no Brasil estará em exposição de corpo inteiro, hoje, na CPI dos Bingos, quando Waldomiro Diniz ali comparecer para prestar depoimento.
Mais de ano depois de flagrado na tentativa de extorquir dinheiro de Carlos Cachoeira, ele continua em liberdade e tudo o que lhe diz respeito está empacado. Agora, pode afrontar a quem bem entender porque é o todo-poderoso dono de um hábeas corpus preventivo, com direito a meias verdades, mentiras inteiras, criar versões, inocentar culpados e acusar inocentes. Enfim, de fazer o que bem o que bem entender.
Waldomiro Diniz é uma figura assim tão poderosa? Notável a sua trajetória: apanhado com a boca na botija, não foi sujeitado à expulsão sumária, como aconteceu com Heloísa Helena e Luciana Genro, cujo único crime foi discordar da “nomenclatura” que dirigia o partido. Pelo contrário, foi tratado com panos quentes e, entre aspas, “afastou-se “voluntariamente” da subchefia da Casa Civil da Presidência da República, com direito a choros e velas por José Dirceu que por ele punha a mão no fogo.
As pessoas dizem que, tivessem tomado as providências que se impunham no caso Waldomitro Diniz, o PT e o governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva não estariam enfrentando os dissabores de agora.
É equívoco que não considera a impossiblidade de Zé Dirceu e sua turma punirem Waldomiro Diniz. Tal como Delúbio Soares, Sílvio Pereira e até esse Marcos Valério de Souza, tem tudo a ver com a grossa corrupção que hoje abala a nação. Há muito mais coisas nesta cloaca do que foi denunciado por Roberto Jefferson.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Armas e almas - Jayme Copstein

Com o escândalo do mensalão monopolizando atenções, fica um pouco de lado o plebiscito sobre a venda de armas de fogo, marcado para 23 outubro. A Justiça eleitoral decidiu: aperta o botão 1, o eleitor diz não, não proíbe a venda; aperta o dois, sim, proíbe a venda legal.
Sobre o comércio clandestino, não lhe estão pedindo a opinião.
A questão está mal colocada. Proibir não substitui nem temporária nem definitivamente a educação, que civiliza o ser humano, ameniza instintos e desarma o espírito.
A seguir-se o mesmo raciocínio, em breve teremos de votar se cortamos ou não as mãos dos ladrões, É com elas que eles roubam. Ademais, prática adotada largamente por países islâmicos, insere-se, também, no mais politicamente correto.
Foi dentro deste catecismo que o governo propôs a proibição. É o mito do bom selvagem, como se algum marciano, não o próprio bom selvagem, tivesse inventado as armas de fogo e alguma força extraterrestre irresistível o fizesse puxar o gatilho.
Como tempero, a esperteza safada e burra de sempre: fontes oficiais andaram divulgando que 85% da população apóiam o "sim", a proibição. Mas se há esta pesquisa, se há tanta certeza, por que e para quê o plebiscito?
Não são apenas os mensalões que desmoralizam os governos.

O canto do quero-quero - Jayme Copstein

Enquanto o PT esforça-se por provar que governos anteriores também eram informais com dinheiros duvidosos, Marcos Valério de Souza surge ontem, na CPI do mensalão, com terceiras versões que não fecham com nada.
O PT procura demonstrar que não inventou a corrupção, apenas a “aperfeiçoou”. O script de Marcos Valério de Souza é outro. Preservando a frieza estilo mercúrio nas veias do primeiro depoimento, deixa de lado, também, o estilo gângster arrependido da aparição. Propõe delação premiada, como personagem de filmes policiais de terceira categoria, finge brigas com José Dirceu para dar substância ao álibi dos empréstimos bancários.
Nada de corrupção. Apenas temeridades, nada de tão grave que mereça algo além de admoestações.
Não adianta membros da CPI argumentarem com ele que banqueiros não perdoam um centavo que seja dos juros extorsivos que cobram de suas vítimas. Marcos Valério mantém-se na tática do quero-quero, cantando longe do ninho, para desviar a atenção dos predadores.
Algo muito grave e inconfessável se esconde atrás desse teatro. O Brasil que se prepare para o estarrecimento.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Sininho, a lei e a ordem - Jayme Copstein

Sininho é uma policial que desde criança sonhou com a lei e a ordem. Entrou na profissão tão logo completou a maioridade e continua nela até hoje. Incorporou outros personagens, que fazem falta no cotidiano da maior parte das pessoas. É mãe, irmã,avó para aconselhar com doçura, mas é também a autoridade, diante da qual todos são bem comportados.
Ela continua sonhando com o dia em que o lobo e o carneiro sentarão na mesma mesa e trocarão brindes, sorvendo a paz em deliciosos goles de vinho. O que a desilude não é o salário minguado, mas a legislação de porta de cadeia que dá a todos, da criança ao velho, a idéia de impunidade.
Ela conta: a meninota de 14 anos começou a aprontar em casa. Não bem em casa – na rua. A mãe tinha saído para o mundo e nunca mais dera notícias. A avó que a criava, resolveu dar-lhe corretivo.
A menina ameaçou: “Vou no Deca dar parte de ti. Vão te botar na cadeia.”
Sininho foi chamada pela avó em pânico. A velha não sabia o que era Deca. Achou que era um delegado malvado, capaz de coisas terríveis.
A maninota afrontou Sininho. Sabia o que a sigla Deca queria dizer (Delegacia Estadual da Criança e do Adoslecente). Sabia tudo, até telefone. E ameaçou surrar a avó se Sininho aparecesse outra vez.
Sininho olhou para a menina e respondeu: “Faz isso e te levo para a Delegacia do Idoso”.
Foi o suficiente para que aparecessem dois olhos arregalados. “Tem isso?”, ela perguntou?
- Tem – Sininho respondeu, firmeza no olhar.
Foi um santo remédio. A menina hoje freqüenta a igreja e canta no coro. Sininho acha que o seu mundo de ordem de lei só acontecerá no Brasil,o dia em que legisladores e juízes puserem na cabeça que direitos só podem ser exercidos, sem limitação, se tiverem a contrapartida dos deveres.
Não limitar direitos, sem exigir o cumprimento dos deveres, não repara nenhuma injustiça social. Só abre o largo portão do crime e da violência.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Papo de Robô - Jayme Copstein

O jornalista Paulo Victorino indica endereço na Internet (*) onde se conversa com um robô. A gente pergunta, o robô responde (**). Principalmente, sobre a preservação da energia e de outros recursos naturais.
Travei pequeno diálogo com ele. Me perguntou por que eu queria conversar. Falei em curiosidade. Perguntei por que se rouba.
Respondeu, entre irônico e descortês:
– A curiosidade matou o gato!
Contrapus:
“O gato comeu o rato.”
Continuou arrogante:
– O gato comeu é só brincadeirinha! Na realidade nunca existiu.
“Existe. Tem gato comendo rato...
Ele interrompeu:
– Só agora você descobriu?… Sou um “robot” (sic), sim!
“Falei em roubo, não em robô!”
Desconversou:
– Quem rouba é ladrão!
“No Brasil? Duvido!”
O robô começou a discursar:
– Robôs servem para muitas coisas. Foram criados - como indica a palavra robotnik - para fazer trabalhos repetitivos que os homens não agüentam. Hoje tem robô trabalhando nas mais diversas áreas, de escavações arqueológicas (o Hermes) a Marte, passando por mim e pelo interior do corpo humano (os nanor-robôs)!
Corrigi:
“Robô vem do tcheco, robota, trabalho forçado, não do russo, robotnik. Foi criado por Karel Capek em 1924, na novela de ficção científica, A Guerra das Salamandras. Isso tem na Internet. Mas não falei em robô. Falei – roubo, roubar!"
– Quem rouba é ladrão.
“Ué! Ficou gago? Só sabe dizer isso?"
- Bip-bip, Bip-bip...
Moral da história: tem robô na política, com discurso de PT.
(*) – pitoresco@pitoresco.com.br - O que vocês quiserem saber sobre artes plásticas, encontram neste endereço.
(**) – http://www.inbot.com.br/ed/popup.htm

domingo, 7 de agosto de 2005

Contos da Carochinha - Jayme Copstein

O jornalista Carlos Brickmann, em sua coluna de hoje, no Diário do Grande ABC, jornal do Estado de São Paulo, põe a equação da atual crise brasileira nos devidos termos. A viagem de Marcos Valério e seu encontro com o então ministro Antônio Mexia talvez dê a resposta à pergunta mais importante: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia ou não sabia do mar de lama?
O raciocínio de Carlos Brickmann é irretocável: ninguém é recebido pela autoridade de um país como representante de outro governo, se não apresentar documentação. Ninguém chega inesperadamente no gabinete de um ministro de Estado e entra para conversar sobre o que quer que seja, como se fosse a casa da Mãe Joana.
Há uma agenda pré-estabelecida, a audiência deve ser marcada com antecedência, e o assunto tem de ser submetido previamente. Alegar-se que Marcos Valério e o então tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, foram a Lisboa por conta própria e conseguiram falar com o ministro Mexia, é anedota de português. Não tem nenhum sentido.
O governo brasileiro entrou em pânico. Mobilizou o velho Mombaça, Paes de Andrade, que protagonizou a inesquecível novela “Presidente por um dia” e hoje está travestido de embaixador. Ele tentou consertar as coisas, afirmando, em entrevista à Folha de Paulo, que “O governo português e o governo brasileiro tratam diretamente das questões do Brasil e de Portugal sem intermediários. Seria um absurdo que se apresentasse um interlocutor.” Se Paes de Andrade não tenta esconder algo muito grave, só faz confessar que nem mesmo ele, embaixador, sabia da visita de Marcos Valério.
A explicação do ex-ministro Antônio Mexia é outro disparate. Encontrou-se só por uns 10 minutos com Marcos Valério. Falaram de “(...) tópicos genéricos, como a evolução econômica do Brasil e a importância do investimento estrangei-ro, onde Portugal e a PT (Portugal Telecom) têm um papel de destaque.”
É surpreendente a revelação de que Marcos Valério seja um erudito em evolução econômica brasileira, a ponto de ser recebido oficialmente por uma autoridade superior portuguesa, para trocar idéias e abordar investimentos estrangeiros no país. Mexia deu-se conta da gafe. Emendou em nota posterior, negando “envolvimento em questões de política interna do Brasil”.
Roberto Jefferson, que jogou o esterco no ventilador ao se defrontar com José Dirceu na Comissão de Ética, no dia seguinte deu-se conta da vidraça que atingira com a pedrada. Voltou atrás – o presidente está fora de tudo, ele defendeu.
Mas o estrago já está feito. Não há como fugir da indagação que, com tanta inteligência, Carlos Brickmann faz para abrir sua coluna no Diário do Grande ABC.
O que vocês acham de tudo isso?

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Roda, roda, roda - Jayme Copstein

Pela infinitésima vez, um juiz determina às companhias telefônicas cessarem a cobrança da chamada taxa mínima. Pela infinitésima vez, a Anatel recorre da decisão em um caso que já rodou por todas as instâncias da Justiça, sempre com o mesmo resultado: há contratos a serem respeitados, a taxa pode ser cobrada.
Ao ser empossado, o novo ministro das Comunicações, jornalista Hélio Costa, levantou o tema de novo. Em seguida, deu o dito por não dito e mudou o discurso para a diminuição do valor. Também não se deu conta de que mais de 30% do que é cobrado são taxas e impostos.
Bastaria o “Moloch” tropical, aqui chamado “governo”, ser mais comedido em sua predileção por cuecas de grife, para termos a redução substancial da taxa básica.
O problema é que a Justiça brasileira gosta de brincar de roda: roda, roda, roda, volta sempre ao mesmo lugar.
O cravo brigou com a rosa. Até hoje não se conseguiu decidir quem tinha razão. Ou se havia razão para o cravo brigar com a rosa.

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

O Madaleno - Jayme Copstein

Tudo o que Roberto Jefferson denunciou é verdadeiro. Tão verdadeiro que ele próprio se incluiu na bandalha. Poderá haver maior prova de sinceridade e despreendimento?
Não fosse o figurino, talhado na Baixada Fluminense, poder-se-ia pensar em uma freira confessando pecados mortais, com olhos postos na imortalidade dos altares.
Ou então, nos penitentes que se retorcem em convulsões no chão e após o indefectível exorcismo, transformam-se em pastores furibundos contra Satanás e seus sequazes, e criam rendosas igrejas nos bairros pobres.
Aí é que está a chave do enigma. Roberto Jefferson é candidatíssimo à presidência da República. Criou o melhor factóide de toda a história brasileira.
É a própria Madalena arrependida, que sabe das coisas. No imaginário popular, é quem pode acabar com a “imundície”. Santo homem!...
Haverá exemplo mais flagrante da sordidez do presidencialismo como sistema de governo? Crises que não são crises, mas corrupção endêmica transformada em tragicomédia na perpétua luta pelo poder?
Não está na hora de acabar com isso e pensar em parlamentarismo?

Cancan - Jayme Copstein

Se houvesse algum instrumento para medir bobagens – um asneirômetro – com toda a certeza estouraria com os equívocos do PT para superar a crise do mensalão. Exceção a Tarso Genro, inteligente, que faz das tripas coração para rejuntar os fragmentos, o resto é desastre puro.
Dizer que o PT não inventou a corrupção não seria considerada desculpa aceitável nem mesmo por criancinhas que estão mudando os dentes. O jornalista Hilton Almeida, outra pessoa inteligente, nos manda dois parágrafos comentando a extensão do disparate.
“Cancan”, escreve o Hilton Almeida, " é um filme marcante, do gênero revista, retratando a permissividade da sociedade no final do Século XIX. Em seu prólogo, o bufão, ao abrir as cortinas do palco famoso, pronuncia, com sotaque característico, a frase que justificaria as ocorrências insólitas do enredo: “Não fomos nós, franceses, que inventamos o pecado. Nós apenas o aperfeiçoamos”. O dito se presta muito ao momento. O PT e especialmente o presidente da República repetem o bufão, ao dizer que o mensalão já existia. Só faltou apenas complementar: "Nós apenas o ampliamos e institucionalizamos"
“As novas lideranças do partido, continua o Hilton Almeida, seguem esse traço de dar cunho a frases expressivas. Agora imitam Maluf, quando proclama “esse dinheiro não é meu”, frase já apropriada por um programa humoristico da televisão. Esse mensalão não é nosso, dizem. É coisa do Delúbio, do Silvio, não do partido. Para salvar os anéis, que se percam os dedos,” conclui Hilton Almeida
Não bastasse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a derramar o pote, mostrando-se temeroso dos respingos do mensalão. Por que, ninguém sabe. Ele tem sido preservado até agora. O que ele sabe, que todos desconhecemos, para se amedrontar assim?
Ao contrário da crença de muitos de seus correligionários, Lula foi eleito presidente da República não por um projeto de esquerda, mas em grande acordo de 2º turno, reunindo PT-PL, PC do B, PSB, PPS, PDT, PTB, PP, partes do PMDB comandadas por José Sarney e Orestes Quércia, partes do PFL comandadas por Antônio Carlos Magalhães e parte do PP comandada por Paulo Maluf).
Uma aliança assim, já que Hilton Almeida tocou nos franceses, é o famoso marriage au diable, o casamento do diabo, que reúne gregos, troianos, água e azeite, cerveja bock com quindim, enfim um panelão onde não cabem muitos projetos a não ser o manjadíssimo “mateus, primeiro os meus” .
Queixar-se da vida a esta altura não tem cabimento. Só ingênuos crêem que Satanás não cobra a conta de quem lhe vende a alma.

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

O carro usado de Dirceu - Jayme Copstein

Vocês comprariam um automóvel usado do ex-ministro José Dirceu? Já pensaram no dia seguinte, quando descobrissem que o carro “não era nenhuma Brastemp”?O ex-ministro José Dirceu teve o PT como de sua propriedade pessoal durante 25 anos. Dirigiu o partido com a mão de ferro, a mesma que assinou a expulsão sumária de Heloísa Helena e Luciana Genro, em contraste com os panos quentes que permitiram Waldomiro Diniz sair voluntariamente do governo e ainda fomentam as costas de Delúbio Soares e Silvio Pereira.Durante um quarto de século, José Dirceu usou o PT como um utilitário que o levou aonde ele quis. Mandou, comandou, desmandou, foi presidente do partido durante sete anos, secretário-geral por mais cinco anos, elegeu-se e reelegeu-se duas vezes deputado federal, tornou-se o todo-poderoso chefe da Casa Civil e levou para o Planalto o chamado “núcleo-duro” do partido. Estoura o escândalo, José Dirceu despe-se da arrogância e tira o DNA da reta, eufemismo para substituir uma expressão popular não tão imprópria para menores quanto a gatunagem desenfreada do mensalão. Entrega toda a cúpula do PT, como se Genoíno, Delúbio, Silvio Pereira e companhia não fossem soldados obedientes da sua liderança de ferro. Ele, no Palácio do Planalto, não sabia de nada. Nunca teve nada ver com nada. A propósito: vocês comprariam um carro usado de José Dirceu?

terça-feira, 2 de agosto de 2005

O desencanto do bruxo - Jayme Copstein

Todos conhecem a história da moça que encontrou um sapo no lago da praça, só que o sapo não era sapo, mas príncipe encantado que a bruxa malvada, de pura em inveja, transformara em batráquio, até que a moça fosse à praça e o levasse pra casa e lhe desse um beijo durante um banho de espuma na banheira de hidromassagens.Bom, pelo menos foi esta a história que contou ao marido, quando ele chegou em casa, de repente, e a encontrou nua na banheira com o idem príncipe já desencantado, e que não pensassem mal dela pois, ao contrário das aparências, tudo o que pretendia era não estragar o vestido contrabandeado da China e comprado a peso de ouro na Daslu ou Daslúbio, seja lá qual for o nome correto. Se o marido acreditou ou não, a gente não sabe porque anedota tem que terminar na primeira risada, nunca tem desfecho. Um pouco parecido com o “causo” de eleitores também enganados, que hoje assistem a Zé Dirceu jurar pelas 11 mil virgens, apesar da escassez do produto, que tudo o que o pretendeu na vida eram contribuições para comprar as novas camisetas do falecido Fortes e Livre de Muçum Futebol Clube.Puro desencanto de bruxo, ó incrédulas criaturas.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Bom senso - Jayme Copstein

Em meio à confusão, gente berrando de todos os lados, uns por histeria, outros por desejarem mesmo tocar fogo no circo, ressalte-se o bom senso da proposta de Jefferson Peres, senador pedetista, de se proteger a economia, para que a crise política não nos jogue mais uma vez no caos. Jefferson Peres tem toda a razão. Os choques de opinião são da democracia. Mas são meros conflitos, não esta crise permanente do presidencialismo que esgotou suas possibilidades em qualquer geografia, como bem demonstra a situação da política norte-americana em contraste com a política britânica, de parlamentarismo consolidado há mais de três séculos. São dois países que podem servir como exemplo de democracias perfeitas.É claro, pois, que a crise brasileira só pode ser resolvida com a reforma política, terminando-se com a perversão chamada voto proporcional e procedendo-se à mudança do presidencialismo pelo parlamentarismo. Não é o que está contido, pelo menos por enquanto, na proposta do senador Jefferson Peres. O acordo sugerido tem por objetivo não voltarmos àqueles tempos nefandos do governo Zé Sarney, quando a incompetência e a demagogia puseram na lata do lixo decênios da história brasileira.O problema da proposta de Jefferson Peres é a resistência dos seus correligionários, afeitos a palavras de ordem que demonizam a política econômica, sem se darem conta de que a expressão nada tem a ver com “sistema econômico”. Terá a árdua missão de convencê-los: dinheiro não nasce em árvores; papel pintado com efígies de personagens tutelares da Nação, não passa mesmo de papel pintado, de valor menor que as figurinhas compradas pela garotada, a 10 por um vintém, para encher álbuns de coleção.Afora apurarem-se as responsabilidades e pôr-se os culpados na cadeia, é preciso ganhar tempo para dotar o país de mecanismos políticos que previnam a corrupção e lhe tragam estabilidade. Boas-vindas à proposta do senador Jefferson Peres.