segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Jogo de cena - Jayme Copstein

Muitos discordaram do comentário anterior, Idade da Pedra, sobre as respostas do ministro Antônio Palocci às acusações do ex-assessor, Rogério Buratti. Uns acharam que não se valorizou o suficiente a “façanha”. Outros, que "se encheu a bola do cara".
Não se trata de canonizar ou demonizar Antônio Palocci. A impropriedade de comportamento de um promotor de Justiça também não invalida as investigações que devem continuar e ir fundo, até que toda a verdade, não apenas parte dela, seja conhecida.
Desde que o escândalo estourou, tem se dito aqui que há algo de muito gra-ve por trás da trama e só muito timidamente vem à tona para logo em seguida submergir: a conspiração de poder e a origem dos recursos nela envolvidos. É difícil acreditar que as enormes quantias envolvidas tenham origem só no caixa 2 de empresas e até mesmo de receita das estatais. É muito dinheiro para pouco rio. É só traçar um paralelo com os conflitos que ocorrem na África para se encontrar forte semelhança.
No caso do Palocci, as acusações adicionais, no domingo à noite, tinham pontaria errada. Mais importante é cobrar de todos a mesma clareza e contundência. Por que Lula não o faz como Palocci? E também Gushiken, José Dirceu, Delúbio Soares, Genoíno, todos, enfim. Por que não o fazem preto no branco, pão-pão, queijo-queijo?
As acusações adicionais a Palocci têm origem suspeita: – César Maia, can-didato à presidência da República, deslocado do centro das atenções em uma área em que se julgava senhor: a do eleitorado que se impressiona com factóides. Roberto Jefferson com talento para passar do riso à lágrima e de um samba de Lupicínio a um cadente impropério, ao assumir a máscara de novo Catão da República deixou Anthony Garotinho falando sozinho e César Maia sem falar porque não tem que os escute. Agora aparece Antônio Palocci como o provável candidato do PT se Lula desistir da reeleição.
É difícil separar o que é jogo de cena e o que não é em todo o embrulho. Fala-se muito em reforma política para corrigir essas aberrações. Mas – reformar o quê, se o país, em matéria de política é uma terra de ninguém, à mercê de qualquer aventureiro bem dotado para o palco?
O que se precisa é devolver ao Brasil a estrutura perdida quando se inventou o milagre da ditadura republicana para substituir a monarquia inutilizada pelo envelhecimento. Está na hora da democracia parlamentarista.

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