quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Zoologia da crise - Jayme Copstein

Aquela pequena escultura dos três macacos – um tapando a boca, o outro, os olhos, e o último, os ouvidos – é a caricatura acabada de testemunhas e investigados depondo sobre o escândalo do mensalão. Ninguém tem nada a dizer porque nada sabe, nada viu, nada ouviu.
É como se a macacada tivesse sido solta contra a vontade em uma loja de louças, para a quebradeira generalizada, sem saber o que fazia. “Ah! então era um prato? Pelo barulho, parecia lenço”.
É ingenuidade de sorro manso, fantasiado de cordeiro. Versão cabocla da fábula de La Fontaine. Sorrisos angelicais, lágrimas de crocodilo, mugidos de sapo-boi para fingir indignação, orelhas alçadas, atentas às instruções do advogado à tira-colo.
Por trás, raposões manipulando os cordéis. Aos poucos, cruzando-se cobras e lagartos, chega-se à origem da crise. Sem madalenos arrependidos nem gambás embriagados, apanhados em arapucas. É puro desentendimento sobre divisão de carniça. O dinheiro ficou escasso, os ratões viraram bugios, a guerra fedeu.
Como enjaular as feras no país da impunidade? Eis a questão.

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