O jornalista Carlos Brickmann, em sua coluna de hoje, no Diário do Grande ABC, jornal do Estado de São Paulo, põe a equação da atual crise brasileira nos devidos termos. A viagem de Marcos Valério e seu encontro com o então ministro Antônio Mexia talvez dê a resposta à pergunta mais importante: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia ou não sabia do mar de lama?
O raciocínio de Carlos Brickmann é irretocável: ninguém é recebido pela autoridade de um país como representante de outro governo, se não apresentar documentação. Ninguém chega inesperadamente no gabinete de um ministro de Estado e entra para conversar sobre o que quer que seja, como se fosse a casa da Mãe Joana.
Há uma agenda pré-estabelecida, a audiência deve ser marcada com antecedência, e o assunto tem de ser submetido previamente. Alegar-se que Marcos Valério e o então tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, foram a Lisboa por conta própria e conseguiram falar com o ministro Mexia, é anedota de português. Não tem nenhum sentido.
O governo brasileiro entrou em pânico. Mobilizou o velho Mombaça, Paes de Andrade, que protagonizou a inesquecível novela “Presidente por um dia” e hoje está travestido de embaixador. Ele tentou consertar as coisas, afirmando, em entrevista à Folha de Paulo, que “O governo português e o governo brasileiro tratam diretamente das questões do Brasil e de Portugal sem intermediários. Seria um absurdo que se apresentasse um interlocutor.” Se Paes de Andrade não tenta esconder algo muito grave, só faz confessar que nem mesmo ele, embaixador, sabia da visita de Marcos Valério.
A explicação do ex-ministro Antônio Mexia é outro disparate. Encontrou-se só por uns 10 minutos com Marcos Valério. Falaram de “(...) tópicos genéricos, como a evolução econômica do Brasil e a importância do investimento estrangei-ro, onde Portugal e a PT (Portugal Telecom) têm um papel de destaque.”
É surpreendente a revelação de que Marcos Valério seja um erudito em evolução econômica brasileira, a ponto de ser recebido oficialmente por uma autoridade superior portuguesa, para trocar idéias e abordar investimentos estrangeiros no país. Mexia deu-se conta da gafe. Emendou em nota posterior, negando “envolvimento em questões de política interna do Brasil”.
Roberto Jefferson, que jogou o esterco no ventilador ao se defrontar com José Dirceu na Comissão de Ética, no dia seguinte deu-se conta da vidraça que atingira com a pedrada. Voltou atrás – o presidente está fora de tudo, ele defendeu.
Mas o estrago já está feito. Não há como fugir da indagação que, com tanta inteligência, Carlos Brickmann faz para abrir sua coluna no Diário do Grande ABC.
O que vocês acham de tudo isso?
domingo, 7 de agosto de 2005
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