Sininho é uma policial que desde criança sonhou com a lei e a ordem. Entrou na profissão tão logo completou a maioridade e continua nela até hoje. Incorporou outros personagens, que fazem falta no cotidiano da maior parte das pessoas. É mãe, irmã,avó para aconselhar com doçura, mas é também a autoridade, diante da qual todos são bem comportados.
Ela continua sonhando com o dia em que o lobo e o carneiro sentarão na mesma mesa e trocarão brindes, sorvendo a paz em deliciosos goles de vinho. O que a desilude não é o salário minguado, mas a legislação de porta de cadeia que dá a todos, da criança ao velho, a idéia de impunidade.
Ela conta: a meninota de 14 anos começou a aprontar em casa. Não bem em casa – na rua. A mãe tinha saído para o mundo e nunca mais dera notícias. A avó que a criava, resolveu dar-lhe corretivo.
A menina ameaçou: “Vou no Deca dar parte de ti. Vão te botar na cadeia.”
Sininho foi chamada pela avó em pânico. A velha não sabia o que era Deca. Achou que era um delegado malvado, capaz de coisas terríveis.
A maninota afrontou Sininho. Sabia o que a sigla Deca queria dizer (Delegacia Estadual da Criança e do Adoslecente). Sabia tudo, até telefone. E ameaçou surrar a avó se Sininho aparecesse outra vez.
Sininho olhou para a menina e respondeu: “Faz isso e te levo para a Delegacia do Idoso”.
Foi o suficiente para que aparecessem dois olhos arregalados. “Tem isso?”, ela perguntou?
- Tem – Sininho respondeu, firmeza no olhar.
Foi um santo remédio. A menina hoje freqüenta a igreja e canta no coro. Sininho acha que o seu mundo de ordem de lei só acontecerá no Brasil,o dia em que legisladores e juízes puserem na cabeça que direitos só podem ser exercidos, sem limitação, se tiverem a contrapartida dos deveres.
Não limitar direitos, sem exigir o cumprimento dos deveres, não repara nenhuma injustiça social. Só abre o largo portão do crime e da violência.
terça-feira, 9 de agosto de 2005
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