O Congresso brasileiro deu hoje triste demonstração de a que extremos de demagogia e hipocrisia pode chegar. Após terem Renan Calheiros e Severino Cavalcanti se comprometido formalmente em maio, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a impedir a rejeição, uma maioria de 370 deputados e 61 senadores derrubou o veto aos projetos de reajuste salarial dos servidores do Legislativo e do Tribunal de Contas.
A votação no Congresso foi de um despudor inqualificável. Parecia terem voltado as palhaçadas da época da ditadura, quando o relógio do plenário era parado para fingir que o tempo se congelara e impedir a oposição de obstruir projetos do governo. Durante horas, o tempo de votação foi prorrogado, para completar o quorum da rejeição e foi preenchido por discursos ridículos que envergonhariam até fim de banquete de time varzeano. Teve orador agradecendo a Renan Calheiros o jantar que ele patrocinaria para comemorar a sua traição ao compromisso com o presidente da República, e tudo isso com referências às habilidades culinárias não se sabe bem se à esposa ou a cozinheira do presidente do Senado.
É evidente que os deputados e os senadores sabem que o veto será mantido no Supremo Tribunal Federal porque tem vício de origem – o legislativo e o judiciário não podem criar ou aumentar as despesas administrativas. Recentemente houve decisão nesse sentido e ela será repetida.
Não há dinheiro para o aumento. A se privilegiar os funcionários do Legislativo e do Tribunal de Contas, terá de ser estendido, no mesmo percentual, a todo o funcionalismo federal. Significaria mais 11 bilhões nas despesas da União pondo na lata do lixo o sacrifício que desde 1994 o povo brasileiro vem fazendo para consertar as finanças.
Então por que Renan Calheiros e Severino Calvalcanti, sabendo disso, fal-taram com a sua palavra? Só pode ser por uma razão: para atenuar os efeitos da maior bandalheira que já se engendrou na história do país – a absolvição dos deputados comprovadamente envolvidos em corrupção.
Em outras palavras, os congressistas fingem dar a uns uma esmola – porque não passa de esmola – para esconder a grande roubalheira que ao longo dos anos é responsável verdadeiramente pelas privações e pelo sofrimento do povo brasileiro.
Não há mais dúvidas – a maneira de eleger os congressistas tem de mudar, de forma que a sua cassação não dependa só deles, mas também da vontade da maioria do eleitorado. É urgente, no mínimo instituir-se a retomada do mandato na legislação eleitoral.
quarta-feira, 31 de agosto de 2005
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Isto tudo parece um teatrão de quinta categoria.
ResponderExcluirNão sejas exagerado no teu otimismo. É de décima-quinta categoria.
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