quinta-feira, 23 de março de 2006

O samba de Garotinho - Jayme Copstein

A confusão era geral. À frase genial de Machado de Assis, pintando o velório de um personagem em “Dom Casmurro”, poder-se-ia acrescentar: “e da ingenuidade nem se fale!”, para descrever o funeral da lucidez em certas análises políticas.
O principal orador da patuscada foi Anthony Garotinho, autor e ator de uma comédia patética, declamada ontem na Rádio Gaúcha, em que abria a possibilidade de ceder a candidatura presidencial a Germano Rigotto.
As interpretações do súbito desprendimento de Garotinho oscilaram da malandragem de comover o PMDB gaúcho e obrigar moralmente o partido em apoiá-lo ao psinacanalismo de um sentimento de culpa, por ter cooptado cabos eleitorais de Rigotto. Garotinho, o bom menino que não faz pipi na cama, pecador arrependido, queria reparar a maldade praticada contra Rigotto.
O extraordinário é que ninguém prestou atenção ao olhar torto de Garotinho. Enquanto punha a boca no microfone da Gaúcha, colava o ouvido no noticiário do Supremo Tribunal Federal. Sabia que mantida a verticalização, qualquer outra candidatura, fora do confronto Lula e Alkimin, é puro delírio.
Mais súdito de Momo que personagem de Machado de Assis, Garotinho apenas parodiou um velho samba. Passou a bomba às mãos de Rigotto e cantou: “Toma que o filho é teu!”

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