Dania Garcia, jornalista cubana, foi condenada por "maus-tratos" domésticos e abuso de autoridade contra sua filha por um tribunal de Havana, três dias depois de presa e acusada pelo delito, sem assistência de um advogado de defesa. A sentença escamoteou que Dania é dissidente política e sua filha é uma adulta de 23 anos, contra quem a mãe teria dificuldades de se exceder no exercício da autoridade, a não ser que se tratasse de uma deficiente física ou mental. O que decididamente não é o caso: aplaudiu a condenação da mãe, justificando ser "bom que ela esteja presa para que mude sua forma de pensar".
O conflito se originou nas diferenças políticas entre as duas mulheres. A filha apoia a ditadura de Castro, não admite a militância oposicionista da mãe e foi expulsa de casa quando as divergências se exacerbaram.
Relatos de testemunhas em favor da filha confirmam a agressão alegada. Todavia, o que chamou a atenção da Sociedade Interamericana de Imprensa foi a rapidez do processo, concluído em apenas 72 horas e sem a presença do defensor. A pressa em condenar Dania Garcia mostra a velha face das ditaduras, justifiquem-se elas em ideologias as mais contraditórias que sejam. Todas cometem os mesmos crimes, a começar pelo incitamento de filhos na delação contra os pais.
E no Rio Grande é assado...
O fotógrafo Eurico Salis, que há poucos dias lançou o excelente "Cidades Gaúchas - Paisagens Urbanas", à venda em todas as boas livrarias, recebeu no início da semana o que talvez possamos considerar título de cidadania do Rio Grande do Sul: foi assaltado nas ruas da cidade que ele também documentou em "Porto Alegre – cenas urbanas, paisagens rurais". Com toda a certeza, faltam ao título "flagrantes de faroeste" e "corrupção à moda da casa".
Eurico teve o carro, carteira e documentos levados por três assaltantes. O carro foi recuperado quando os bandidos o abandonaram, fugindo da Polícia, mas para voltar às mãos do dono percorreu distância cuja dimensão é medida pela mensagem que Eurico nos enviou:
"Ontem (quinta-feira), foi patética a liberação do meu carro no depósito do Detran. Primeiro, me pediram os documentos do carro e minha carteira de motorista. Apresentei o IPVA do ano passado. Eles queriam deste ano. Lembrei a eles que tinha sido roubado, inclusive com documentos. Então me solicitaram o número da identidade do delegado que enviou a liberação que eu tinha em mãos, pois o documento estava sem ele. Depois de uma troca de desaforos, tive que ligar pra delegacia e pedir o RG. Por fim, a liberação não estava no "sistema". Tive que, novamente, ligar pra delegacia e solicitar que pusessem no "sistema" a tal liberação.
O depósito não é da Secretaria de Segurança, mas terceirizado. Ou seja, uma franquia, de onde o Detran só recolhe os lucros dos pernoites dos veículos.
Ah, o carro foi localizado durante a fuga dos bandidos e levado pro depósito do Detran à noite. Estive lá e não me deixaram vê-lo. Voltei ontem e – imaginem: estava sem som e sem a estepe. Ou seja, devem ter sido tirados com os bandidos em fuga."