segunda-feira, 26 de abril de 2010

Baile de cobras – Jayme Copstein

Sejam quais forem os defeitos pessoais de Ciro Gomes – é destemperado, impulsivo, fantasioso, incoerente – é um ser humano decente. Nem os indecentes merecem o que fizeram com ele – ser ridicularizado depois de o induzirem ao equívoco. É uma cafajestada digna de botequim de enésima categoria.

A verdade é que ninguém se lança candidato à presidência da República indo sozinho ao coreto da praça e fazendo um discurso. Que o sonho de Ciro de chegar ao Planalto é uma quimera que ele próprio se encarregou de incinerar com seus excessos em 2002, é por todos certo e de todos sabido. Mas ele consultou e obteve aquiescência dos líderes de seu partido e também de Luiz Inácio Lula da Silva, de quem ganhou tapinha nas costas e atendeu ao pedido absurdo de transferir o domicílio eleitoral para São Paulo, para atrapalhar a vida de José Serra, não se sabe como, em termos práticos, fora de elucubrações alopradas.

Tudo isso mostra serem os defeitos de Ciro mera consequência de incurável ingenuidade. Se depois de tanta estrada ainda crê em história de carochinha, com toda a certeza não é homem talhado para a política em um país como o Brasil, apesar de já ter governado o Ceará e lá deixado boa imagem como administrador. É que ele não usa as perneiras indispensáveis a quem pretende dançar em um baile cobras.

"O "golpe"de Lula

Corre pela Internet, entre muitas outras bobagens, mensagem advertindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desapontado com o desempenho de sua candidata na campanha, pensaria em renunciar e concorrer à Vice-Presidência, para fazer Dilma vencer as eleições de outubro/novembro. Depois de um período conveniente, ela renunciaria e ele assumiria de novo a Presidência.

Basta o fato de que, se houvesse realmente qualquer intenção neste sentido, estaria liquidada em 3 de abril, data limite para titulares de mandatos executivos (presidente, governadores e prefeitos) se desincompatibilizar (seis meses antes da eleição) e concorrer a outros cargos. Não há, pois qualquer sentido, que a tal mensagem continue a circular, a não ser para gozo dos aloprados da oposição, em cuja cabeça ela deve ter nascido. .

Mesmo, porém, que tal intenção tivesse realmente tivesse existido antes de 4 de abril, a lei proíbe que esses detentores dos mandatos executivos os exerçam em sequência, salvo por uma única reeleição. É discutível, portanto, que, elegendo-se deputado federal ou senador, um Presidente da República possa concorrer à presidência da Câmara Federal ou do Senado, nos quatro anos subsequentes ao encerramento do seu mandato. Passando por estes cargos a substituição do Presidente da República em seus impedimentos, ele estaria burlando interdição que é clara no Parágrafo 5º do Artigo 14 da Constituição Federal.

É bom tema para trabalho de conclusão de curso de direito. Espero que, entre os escassos leitores desta coluna, há algum constitucionalista de boa vontade que nos esclareça a respeito.

Jornais em crise

O portal "Periodista Digital" (http://tinyurl.com/2wkzvz7), analisa a crise financeira do jornalismo impresso espanhol e afirma: "A situação hoje é pior que ontem e melhor que amanhã". Afora a crise financeira mundial, a redução drástica do faturamento deve-se à migração dos leitores do papel para a tela do computador. Até agora, porém, o faturamento das edições "online" não tem compensado tais perdas.