quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula e o Islã – Jayme Copstein

Há um provérbio da sabedoria islâmica que seria deveras proveitoso ao presidente Lula, caso ele cultivasse o hábito de ler alguma coisa: "Não digas tudo que sabes, não faças tudo que podes, não creias em tudo que ouves e não gastes tudo que ganhas. Quem diz tudo que sabe e faz tudo que pode, acredita em tudo que ouve e gasta tudo que ganha. Muitas vezes diz o que não convém, faz o que não deve, julga o que não vê e gasta o que não pode".
Enquanto as coisas permanecem no reino das palavras, nada mais resulta senão ridículo. Convocar os ministros da Fazenda e os presidentes de Banco Central dos 192 países membros da ONU para resolver a crise de 2008 apenas fez o planeta inteiro gargalhar. Dizer que o "amigo" Kadhafi é parecido com o Cauby Peixoto, fez rir seus assessores mas lembrou outro provérbio, este da sabedoria judaica: "Deus me guarde dos amigos, que dos inimigos me cuido eu".
O fiasco de Honduras, a tola papagaiada da mediação do conflito do Oriente Médio ou o apoio à repressão da ditadura cubana aos dissidentes políticos, tudo se encaixa na primeira parte do provérbio islâmico: quem diz tudo o que sabe (e Lula sabe muito pouco), crê em tudo que ouve (de seus assessores Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia), diz o que não convém, faz o que não deve, julga o que não vê.
O problema é a segunda parte – quem gasta tudo que ganha, gasta o que não pode. Quando esse alguém é um governo, quem paga a conta é o povo que o elegeu. Os primeiros sinais de alarma estão nesta elevação dos juros (Taxa Selic), contida até agora com propósitos descaradamente eleitorais, mas inadiável para sustar o consumo do mercado interno, que já está bem acima dos níveis anteriores a 2008 (o ano da crise|), inclusive sobrecarregando as importações em um terço, enquanto não se conseguiu, até agora, recuperar a quarta parte das exportações daquele ano.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles é otimista e diz as melancias se acomodarão no andar da carreta. Com o déficit da balança de comércio exterior acumulado em março já somando 34,5 bilhões de dólares (entraram 23,3 bilhões, saíram 57,8 bilhões nos últimos 12 meses), mesmo com o aumento de 100% do aço (deve acrescentar algo em torno de 10 bilhões à receita), deduz-se que Meirelles se contaminou com a tagarelice do chefe: o país terá muita sorte se o buraco não ultrapassar os 50 bilhões de dólares até dezembro.
O Governo costuma responder a estas críticas com os 200 bilhões de dólares de reservas internacionais e a entrada de capital externo que agora funciona como válvula de escape, ao camuflar o déficit do balanço de pagamentos, e escondendo que toda a suposta prosperidade do "como nunca na história" foi produto dos investimentos estrangeiros.
Nos anos das vacas gordas, sem incentivar a poupança para consolidar o mercado interno, o Governo fez exatamente o contrário: estimulou o consumo com a poupança alheia, derramou "benemerências" ditas "sociais", multiplicou as despesas fixas com o inchaço do funcionalismo público e derramou dinheiro às toneladas para corromper políticos e assim lhes comprar o apoio, tudo vistas à perpetuação no poder.
É algo muito próximo ao que aconteceu com a Grécia e também a também Portugal. O Brasil é uma das próximas "bolas da vez" e tudo por que seu presidente, por não gostar de ler, não fez caso de um simples provérbio da sabedoria islâmica.