Fins-de-semana, bota-se conversa fora nas mesas dos cafés do Moinhos Shopping, em Porto Alegre (entrada pela Tobias da Silva).
São contumazes o Octavio Medeiros de Albuquerque, Bruno Bertschinger, Flávio Del Mese, Carlos Augusto Bisson e Marcos Abreu. Sábado, o papo recaiu sobre o enigma de certos rituais. Bruno contou de uma estranha proibição, de sentar nos bancos da Praça Conde de Porto Alegre, fronteira ao quartel que existia na esquina da Duque de Caxias com a João Pessoa, antes da reurbanização da área e construção da Praça Raul Pilla.
Bastava alguém ocupar qualquer banco da Praça Conde de Porto Alegre, para que a sentinela viesse avisar da proibição – “por ordem do comandante”. Durante anos foi assim, até que alguém se decidiu pelo mais lógico: perguntar ao comandante por que era proibido. Resposta surpreendente: não havia tal ordem nem motivo para a proibição.
Pesquisa daqui, pesquisa dali, a origem do ritual foi ainda mais surpreendente: havia muito tempo, um dos comandantes decidira embelezar a praça, renovando a pintura dos bancos. Conseguiu doação de uma fábrica de tintas e pusera os soldados na tarefa, até tudo ficar novinho em folha.
Daí, a ordem de algum sargento – “Não deixem ninguém sentar” – para evitar que alguém estragasse a roupa e a pintura. Como não houve contra-ordem, a proibição resistiu anos a fio.
O trem do Casino
Eu me lembrei de outra renitência enigmática na minha cidade natal. O trem que fazia o trajeto de Rio Grande à Vila Siqueira (Praia do Casino) em determinado ponto entre as estações de Senandes e Bolaxa (assim mesmo, com “x”) parava no descampado, apitava, esperava um minuto e depois seguia viagem.
Durante muitos anos procurei descobrir a origem do ritual. Teria existido ali alguma estação, algum desvio, para que dois trens pudessem circular em sentido contrário na mesma linha? A resposta era não: a viagem era sempre feita por única composição que ia e voltava, nunca tinha havido nenhuma estação no local.
Um dia conversando com dona Alayde Armando Azevedo, amiga querida, que era do tempo em que a ferrovia tinha sido construída, ela me esclareceu o mistério: a família Assumpção só dera permissão para que os trilhos passassem por sua terras se em cada viagem o trem parasse ali, apitando para alertar da sua presença e saber se a família queria ir à praia ou precisava ir à cidade.
O tempo passou, as terras da família Assumpção passaram por muitos donos, foram loteadas, mas o ritual permaneceu até a extinção do ramal ferroviário.
Tenho em mente escrever algo a respeito dessa teimosia ritual – quem sabe até um livro, se houver material suficiente. Qualquer colaboração é bem-vinda.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
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