sexta-feira, 1 de maio de 2009

A enganação – Parte 2 - Jayme Copstein

Cândido Norberto dizia que a frase – “política não é para gente decente” – foi inventada pelos corruptos porque não desejavam – continuam não desejando – a concorrência de gente honesta. Aprofundando o raciocínio, uma reforma política em profundidade – o voto distrital – não sai porque permite, pelo barateamento das campanhas, que pessoas decentes disputem mandatos sem se comprometer com financiados privados e até muito “privados”.

Só que para que o leitor – e eleitor – tenha idéia de como o voto proporcional encarece as eleições, basta tomar como exemplo o Rio Grande do Sul, onde um candidato a deputado deve disputar 120 mil votos. Na prática, vai disputar esses 120 mil votos entre 7.925.459 eleitores, espalhados 281.734 quilômetros quadrados.

Se a sua campanha custasse apenas um real por quilômetro – não custa, é bem mais do que isso – mas se custasse apenas um real por quilômetro e ele percorresse apenas uma vez esse território, uma campanha completa, a mais barata para deputado federal, implicaria despesa de 281 mil 734 reais.

Acrescentemos outras despesas, como a propaganda impressa. Se o famoso santinho, aquele pedaço de papel com a foto, nome e número de registro do candidato, custasse apenas um centavo – custa mais – para cobrir o eleitorado, gastaria mais 75.321 reais.
Por aí afora. É só ir somando as despesas, aluguel de comitês, faixas, camisas, bótons, no mínimo a campanha totaliza um milhão de reais. Fora desses esquemas, com raras e honrosas exceções, ninguém se elege com pouco dinheiro.

E agora? Quem fiscaliza o financiamento da campanha, quem faz as famosas doações por fora, em que condições de toma-lá-dá-cá a doação foi feita? Quem está presente em todos recantos de um Estado como o Rio Grande do Sul para verificar, conferir e impedir a corrupção?

Para corrigir esta situação, a primeira malandragem proposta pelos corruptos que não desejam a concorrência dos honestos: financiamento público de campanha (algo em torno de 7 a 8 reais por voto angariado pelo partido) e proibição das doações privadas.

E daí? Se para angariar 120 mil votos cada deputado gasta um milhão de reais, bem mais que esse 7 ou 8 reais divididos por todos os candidatos daquele partido, como se financia o resto? As eleições não se resumem apenas a deputados federais. E de novo, quem consegue fiscalizar o balcão do toma-lá-dá-cá?

Ao tempo da ditadura militar, em que a ameaça de cadeia pesava sobre os corruptos, também eram proibidas as doações eleitorais. Alguém tem a ilusão de que a corrupção não corria grossa como hoje?

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