quinta-feira, 30 de abril de 2009

Enganação - Jayme Copstein

Toda a barulheira que se está fazendo em torno da corrupção no Congresso brasileiro só tem um objetivo: enganar o eleitor mais uma vez. Criar normas que seriam desnecessárias se senadores, deputados e seus assessores tivessem um comportamento decente é o mesmo que arrancar um “não faço mais de uma criança”. Ela o fará enquanto for imatura, da mesma maneira que os safados continuarão com suas safadezas.

Se a criança cresce e amadurece, quanto aos safados não há esperança de que deixem de sê-lo um dia.

Não há nada que possa moralizar o Congresso brasileiro a não ser a reforma política, permitindo acesso ao mandato a pessoas, que afora a conduta ilibada, tenham alguma contribuição a dar ao país. Isso só se descobre no discurso direto ao eleitor, com a exposição da vida pregressa do candidato, o que só é possível no voto distrital em que o eleitor sabe em quem está votando e o eleito sabe quem nele votou.

Em outras palavras, o eleitor fiscaliza, o eleito sabe que é fiscalizado, e os dois sabem também que o mandato pode ser retomado mediante representação direta à Justiça, e não submergir nas águas barrentas das Comissões de Ética, cujo nome deveria ser bem outro.

A revista Veja desta semana dedicou duas páginas à reforma política, analisando virtudes e defeitos de todos os sistemas de votação. O voto distrital foi o único contra o qual toda a argumentação coube em uma única linha – cria, segundo seus opositores, “vereadores” estaduais e federais.

Nem se necessita dizer da impossibilidade de cada um desligar-se de suas raízes. O ser humano é chão que pisa, a família que tem, a casa em que mora, a rua que habita, a cidade onde vive e assim até integrar-se na comunidade nacional.

É um defeito, se é correto chamá-lo assim, que nenhum sistema de votação conseguirá erradicar. É só relembrar, também, momentos ditos históricos, em que senadores e deputados se levantam para cantar o Hino Nacional – mais adequado seria o “Mamãe eu quero mamar” – e dedicam suas decisões ao “povo heróico e sofrido de São João das Bombachas ou Santa Urraca do Ziriguidum. Afora serem confessos vereadores de luxo, por sua falta de representatividade só têm compromisso com o próprio bolso.

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