segunda-feira, 20 de abril de 2009

A loucura da gente - Jayme Copstein

Anda acesa em São Paulo discussão sobre a legislação que extinguiu os hospitais psiquiátricos do Governo. Desencadeada pelo poeta Ferreira Gullar, a partir de artigo publicado na Folha de São Paulo no domingo retrasado, pedindo a revogação da “idiotice”, teve a intervenção dos calhordas do bom-mocismo que julgam ser a bem-aventurança mera questão de decreto.

O debate continuou ontem, na mesma Folha de São Paulo. Quem repôs os pontos nos “is” foi Jorge Cândido de Assis, portador de esquizofrenia e co-autor do livro "Entre a Razão e a Ilusão: Desmistificando a Loucura": nem oito nem oitenta – paciente fora de crise pode e deve ser tratado em ambulatórios. Em surto, não. É um risco para ele e para os outros.

O grande problema, portanto, não é o dilema, de internar ou não internar, que nem existe. O grande problema são as soluções simplórias, tipo retirar o sofá da sala para impedir namorados – os antigos – de fazer travessuras.

É o que afeta outras instituições da comunidade, particularmente os presídios, sepulcros onde a sociedade enterra culpas para se absolver dos crimes que comete. Ou alguém vê diferença entre a carne humana macerada nas masmorras do Estado e a que geme de dor e desamparo em macas, nos corredores dos hospitais superlotados?

Ferreira Gullar referiu-se à defesa que um deputado fez do fechamento dos manicômios ou hospícios – seja lá o nome que queiram dar – para evitar que famílias dos doentes mentais os internassem “para se livrar deles”. Como se essas mesmas famílias, de baixa renda, sem condições de manter os doentes em casa, não continuem se “livrando deles”, abandonando-os em outros bairros, em outras cidades até, bem longe de casa para que não encontrem o caminho de volta, restando-lhe perambular pelas ruas, dormir em baixo de pontes e viadutos, sofrer todo o tipo de violência e morrer de frio e de fome.
Cirandas
Deveras engraçada a notícia estampada por O Sul, ontem, revelando comentários do presidente da França, Nicolas Sarkosy, sobre seus colegas de outros países, durante encontro com deputados e senadores, para relatar suas impressões sobre o recente encontro do G-20 em Londres. O governo francês negou que seu presidente tivesse dito coisas vazadas por “fontes anônimas” ao jornal Liberation de Paris.
Segundo a notícia, Sarkozy acha Obama inteligente e carismático, porém indeciso, enquanto o primeiro-ministro espanhol José Luís Rodrigues Zapatero lhe pareceu meio burro e a chanceler Ângela Merkel teve de dar a mão à palmatória, concordando com ele quando a crise mostrou-se mais séria na Alemanha do que ela tinha percebido.
O jornal The Times. De Londres mostrou-se alarmado: “É o fim da curta lua-de-mel franco-americana”, publicou. El País, de Madri pediu briga, dizendo que as supostas declarações de Sarkozy deixaram “as nações à beira de um incidente diplomático”. Os redatores de tais comentários provavelmente têm pouca experiência em relações internacionais. Se houvesse um máquina de ler pensamentos e cada presidente levasse a sério o que outro presidente acha a seu respeito, eles se pegariam a tapas em todos os seus encontros, algo como uma mesa de pôquer onde só tem passador de cachorro.
O único que não sabe disso é o “Cara”, plenamente convicto de que relações internacionais é pura “ciranda-cirandinha-vamos-todos-cirandar”.

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