É notícia interessante, mas tenho cá minhas dúvidas se entusiasmante: segundo o Ministério da Saúde, de 1980 a 2003, houve decréscimo anual de 9% nas estatísticas de morte por doenças cardíacas.
Os números foram publicados em estudo de pesquisadores da Fiocruz e Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas inspiram um pergunta: qual foi o aumento das mortes prematuras – gente moça que não viveu o suficiente para sofrer do coração – provocadas por crimes e acidentes de trânsito?
Na primeira metade do século passado, sem as políticas de prevenção e antes do surgimento dos antibióticos, estatisticamente morria-se muito menos ainda de câncer e das doenças cardíacas. A mortalidade infantil e a tuberculose ceifavam vidas de tal maneira no Brasil (a expectativa de vida mal ultrapassava 40 anos, ao começar a segunda metade do século), que poucos viviam o suficiente para sofrer daquelas moléstias.
Por falar em tuberculose, John Rennie, editor da revista American Science, alertou os leitores na edição de março, para o fato de que a doença nunca deixou de ser uma das ameaças mais letais que afetam a humanidade. Nos últimos 60 anos, porém, esta realidade tem passado despercebida dos meios de comunicação social porque 99% dos casos são assinalados nas camadas pobres dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, caso queiram dourar a pílula.
Reside aí, também, a omissão da cobiçosa indústria farmacêutica na pesquisa e fabricação de remédios para a tuberculose porque se trata de consumidores de baixo poder aquisitivo, incapazes de proporcionar os polpudos lucros que os grandes laboratórios andam sempre à caça.
É verdade que medicamentos potentes foram criados, mas perderam gradativamente a eficácia porque a ignorância, parceira infalível da pobreza, faz as pessoas interromperem o tratamento tão logo desapareçam os sintomas, sem a eliminação completa da infecção. Resultou daí uma cepa microbiana super-resistente que encontrou no enfraquecimento das defesas orgânicas consequente à AIDS, o paraíso para a sua proliferação.
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É evidente que não estamos nos defrontando com o irrevogável Apocalipse, mas apenas diante de uma das muitas lições que os nossos equívocos podem proporcionar. Políticas de saúde exigem educação do povo e esta se faz com equipes bem estruturadas e treinadas de agentes sanitários, não com comerciais milionários, capazes de arrebanhar prêmios em festivais de propaganda, porém incapazes de serem assimilados pelos seus destinatários.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
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