quinta-feira, 9 de abril de 2009

O público e o privado - Jayme Copstein

Com freqüência, lêem-se campanhas nos jornais para não se emporcalhar as ruas com lixo. Motoristas jogando cascas de frutas, latas de cerveja, outras embalagens e até coisas inimagináveis pelas janelas dos carros é um espetáculo comum em qualquer cidade brasileira. Bueiros entupidos por garrafas de plástico e outros objetos, também inimagináveis, é lugar comum em noticiário de tevê nos alagamentos dos dias de chuva.

Não é por falta de apelos e conclamações que as pessoas continuam emporcalhando as ruas. O que há é uma visão equivocada do “público” e do “privado”. Lembro-me de cena que testemunhei na Rua da Praia, em Porto Alegre, de um menina de 15 anos repreendida por uma senhora porque tinha jogado a embalagem do picolé no calçadão, mesmo com uma lixeira disponível a dois metros de distância. A menina respondeu: “A rua é pública e eu faço o que eu quero.”

Se a rua é pública – e de fato é – pertence a todos, não a alguém em particular, à menina em questão ou a quem mais seja. Não pode ser usada ao arbítrio de cada um. Dentro de casa – espaço privado – sim, o dono ou os seus familiares podem jogar o que bem entenderem no chão, escreverem o que bem quiserem nas paredes e até fazerem banheiro da sala de visitas. Este, aliás, foi o tema de um comercial premiado em festival internacional de propaganda: se você não faz dentro de casa, que é sua, por que faz na rua que é de todos?

Se aprofundarmos a análise da questão, vamos chegar à conclusão de não haver diferença entre o aparentemente inofensivo porcalhão que joga lixo nas ruas e o político ladrão que se ceva nos dinheiros públicos. Se qualquer de um de nós deixar cair a carteira, ao passarmos perto de um governante, senador, deputado ou vereador, tenham certeza: eles a devolverão intacta em comovedora demonstração de honestidade.

Porém, quando se trata de dinheiro da Nação – sendo público, não é de ninguém – fazem o que bem entendem: pagam celular dos filhos, compram passagens aéreas para os amigos, abastecem o carro da família, contratam a empregada doméstica como assessora, esbanjam em restaurantes caros e até o põem tranquilamente no bolso.

De que nos queixamos, então? De não termos um mandato político? No resto, parece que somos muito iguais.

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