sexta-feira, 10 de abril de 2009

Caixa de Perguntas - Jayme Copstein

Já houve tempo em que emissoras de rádio tinham espaços para responder perguntas de seus ouvintes. Quem começou foi Almirante (Henrique Foréis), em mil novencentos e trinta e poucos, com sua “Caixa de Perguntas”, apresentada em auditório e dando prêmios a espectadores que soubessem a resposta.
O programa de maior sucesso de todos os tempos, entretanto, foi “Pergunte ao João”, na Rádio Jornal do Brasil, título sugerido por Alberto Dines ao seu criador e redator, o jornalista João Evangelista João Evangelista Alves de Sousa e tendo, entre seus apresentadores, a atriz Irene Ravache, então em início de carreira.

Não consigo entender porque um programa de tanto agrado para os ouvintes foi riscado da grade de programação. O “Pergunte ao João” chegou a ser publicado também no Jornal do Brasil. Lembro-me do sucesso por longos anos, do “Pergunte à Guaíba”, escrito originalmente por Luiz Gualdi e depois por mim, por Amir Domingues e outros colegas, do quais não guardei o nome, até sair do ar.

Ouvinte curioso – e leitor, também – é o que não falta. João Evangelista reuniu em quatro volumes toda a sua produção de “Pergunte ao João”, aos quais deu o subtítulo de “Um Curioso a Serviço de Milhares de Curiosos”. Lembro também – e aqui conto mais uma vez – que a primeira coisa que me perguntaram, quando comecei a apresentar o Brasil na Madrugada, na Rádio Gaúcha, foi: como se conhece a fêmea do quero-quero?

Nunca consegui descobrir. Já perguntei a meio mundo. Palpite não tem faltado nem mesmo referência a certo ferrão traseiro que tornaria o namoro um inferno para o macho. Resposta concreta, no duro, jamais.

Por que não me perguntaram a diferença entre jacarés e crocodilos? Esta eu sei por ter lido no Almanaque do Biotônico Fontoura que nem existe mais. Crocodilos têm o focinho mais estreito e comprido. Quando fecham a boca, aquele quarto dentão de cada lado fica de fora, metendo medo em todo o mundo. Jacaré é mais discreto.

Sei também a diferença entre camelos e dromedários. O camelo tem duas corcovas, o dromedário parece só ter uma porque a segunda se atrofiou. Sei até mais e conto sempre que me pergunto sobre esta diferença: ao tempo do império, alguém inventou a importação de camelos para resolver o problema da seca no Nordeste...

Típica idéia de jumento. Os animais foram comprados em Paris pela Sociedade Imperial da Alienação (esse negócio de Ongs é antigo!...) e chegaram em Fortaleza em 23 de julho de 1859.

Eram quatorze animais, quatro machos, dez fêmeas. Quando desembarcaram, todo mundo começou a rir. Em lugar de camelos, tinham vindo dromedários. Ninguém sabia a diferença. Uns achavam que a corcova faltante era defeito de fabricação. Outros, que tinha sido furtada pelo caminho, para ser vendida no “camelódromo”. A bicharada nem chegou a dar cria. Em poucos meses, morreu tudo.

Agora, como se identifica a fêmea do quero-quero, tenham paciência. Não consigo descobrir. Depois de tanto palpite furado, acho que só perguntando ao macho. Por ser o maior interessado no assunto, deve ser o único a conhecer a diferença.

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