quinta-feira, 16 de abril de 2009

A nova religião - Jayme Copstein

O tititi da vez é a paternidade de um filho informal, assumida com relutância pelo atual presidente do Paraguai, o bispo licenciado da Igreja Católica Romana, Fernando Lugo, mas assim mesmo louvada por colegas de batina, como demonstração de honestidade e transparência.

Não estranhem nenhum dos termos usados no parágrafo anterior. Um bispo católico jamais deixa de ser bispo. Mesmo nos casos extremos de excomunhão, os padres que ordenarem são legalmente padres à luz do Direito Canônico. Levantada a excomunhão, retomados os votos e a reafirmação da obediência ao Papa, são devolvidos às suas mitras, tal como aconteceu recentemente com os bispos lefevristas.

Já “paternidade informal” corre por conta do “politicamente correto”. Soa com menos cinismo que a também politicamente correta “cultura deles”, como argumentou o cientista político Alfredo Boccia Paz: “A sociedade paraguaia é bem flexível sobre esses assuntos”.

O que está em discussão não é a flexibilidade do povo paraguaio em matéria de prática sexual, mas a conduta de um bispo católico romano, quando ainda comprometido com os votos de celibato e castidade, seduzindo uma menina de 17 anos a quem devia preparar para a Crisma, mantendo-a como amante durante longo tempo sob promessa de casamento e lhe dando uma machista bofetada quando ela engravidou e lhe cobrou responsabilidades de pai.

A pergunta pertinente é se Fernando Lugo, sacerdote ou não de qualquer religião, mereceria tanta atenção e projeção não fosse um desses tantos gurus populistas, paridos no ventre fértil da política latino-americana, e aos quais todos os pecados são perdoados, alguns, inclusive, transformados em excelsas virtudes.

Não está em questão, no caso, a norma da Igreja Católica Romana, impondo celibato aos seus sacerdotes. A constatação é outra: estamos diante de uma nova religião com indulgências plenas muito peculiares. Basta pronunciar o sagrado nome de Marx para se obter a absolvição de todos os pecados.

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