Ícone do movimento negro brasileiro, o ator Abdias do Nascimento caiu na cilada de um repórter em busca de pauta, respondendo afirmativamente à pergunta de ser o racismo a origem do incidente ontem, no Supremo Tribunal Federal, entre o presidente da Corte, Ministro Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa. Abdias viu, em respostas ásperas de Gilmar Mendes um “viés racista”.
O incidente, todavia, não se gerou com as asperezas de Mendes. Antes, Barbosa acusara Mendes, com alguma insistência, de cercear o debate sobre processo envolvendo burocratas do Paraná, julgado pela Corte na sua ausência. Barbosa estava licenciado na ocasião e ficou ressentido por não ter podido expressar a sua opinião.
Foi a partir desta acusação que o episódio se desdobrou em ritual absolutamente inadequado à austeridade do STF. A verdade é que Joaquim Barbosa não consegue delimitar com precisão a fronteira entre a veemência e a descortesia, e isso nada tem a ver com raça, religião, biótipo ou preferências esportivas. Em outras ocasiões, também por diferenças de opinião, andou se atritando com colegas, excedeu-se e acabou pedindo desculpas.
Não se vê razão, porém, para o catastrofismo do noticiário a respeito do incidente. Mendes e Barbosa não são os dois únicos bicudos que não se beijam no STF, mas nenhuma dessas quizilas pessoais têm influído na atuação da Corte. Pelo contrário. Se faltam condores de oratória para vôos acima do Himalaia, tem sobrado bom-senso para assegurar aos brasileiros Brasil o exercício da cidadania plena, algo tão inédito que causa estranheza a muita gente.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
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