A coluna de ontem recebeu inusitada quantidade de mensagens, de leitores discordando da afirmação aqui feita, de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, não ser a figura central da conspiração, mas apenas símbolo adotado por seu martírio – foi o único a ser executado.
É uma pendenga antiga, esta, da Inconfidência Mineira, episódio cuja única documentação é os Autos da Devassa, o processo organizado pelas autoridades portuguesas contra os inconfidentes. Resulta da interpretação, uma narrativa sinuosa, que às vezes acrescenta sacralidades e demonizações, outras vezes omite fatos.
Um dos exemplos é a delação de Joaquim Silvério dos Reis, cujo nome completo era Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Silveira Guites. Não foi ele o único nem o denunciante principal – inclusive foi preso com os demais conspiradores. Como se pode concluir dos Autos da Devassa, o primeiro delator, antes de Silvério dos Reis, foi Basílio de Brito Malheiro do Lago, de quem ninguém fala e teve a companhia, depois, de Inácio Correa Pamplona, outro nome sumido dos relatos.
A principal omissão, porém, na história da Inconfidência é a do nome de José Joaquim da Maia e Barbalho, o verdadeiro mentor da utopia de se proclamar uma república no Brasil. Fazia parte de um grupo de estudantes brasileiros matriculados na Universidade de Coimbra e, depois, na Universidade de Montpellier, fascinados com as idéias políticas que grassavam por toda a Europa e redundaram na Revolução Francesa. Eram seus companheiros Domingos Vidal de Barbosa, José Mariano Leal da Câmara e José Álvares Maciel.
Maia desenvolveu intensa atividade política na Europa, inclusive encontrando-se com Thomas Jefferson, naquela época apenas embaixador dos Estados Unidos, pedindo-lhe auxílio, caso o movimento tivesse êxito e tornasse o Brasil independente. Jefferson conversou e desconversou.
Prometeu ajuda ao novo país, depois da Independência, não antes, porque os EUA, recém emancipados da Inglaterra, não desejavam se atritar com Portugal. O encontro ocorreu entre março e maio de 1787. No fim daquele ano, Maia morreu tuberculoso, sem retornar ao Brasil.
Foi José Álvares Maciel, ao regressar a Minas Gerais, quem trouxe as ideias revolução e engajou Tiradentes na conspiração. Se o objetivo era, como se supõe, organizar a rebelião entre os militares, foi um equívoco.
Àquela altura, desiludido com as carreiras das armas, pelas preterições sofridas em promoções a que tinha direito, Tiradentes engajara-se na batalha pela concessão do fornecimento de águas à população do Rio de Janeiro, aonde ia com freqüência. Se não as gabolices com o destino que daria à fortuna ganha com o fornecimento, ou quando tomassem o poder – há depoimentos nesse sentido, nos Autos da Devassa – as frequentes viagens ao Rio de Janeiro podem ter despertado as suspeitas das autoridades portuguesas.
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Em resumo, a Inconfidência Mineira, a despeito de todas as reuniões conspiratórias, jamais passou de um piquenique intelectual. A não ser planos, nenhum dos participantes tinha nada de concreto na mão para realizá-la.
A própria Coroa Portuguesa sabia disso, tanto que os juízes receberam instruções para não condenar ninguém à morte. Tiradentes foi a exceção dentro do quadro comum em despotismos – amedrontamento.para prevenir discordâncias e inconformidades.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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