segunda-feira, 31 de maio de 2010

O velho “vigário” – Jayme Copstein

Um empresário brasileiro foi resgatado, na África do Sul, das mãos de sequestradores nigerianos que para lá o haviam atraído sob promessa de um "bom negócio". O Comissário Nacional de Polícia da África do Sul festejou a prisão dos bandidos com forte advertência: "Quem pensa que pode usar este país como base para seus malefícios, está enganado".

Só há uma pequena questão – de marketing, por sinal – que enfraquece a frase do Comissário. Se os bandidos nigerianos escolheram a África do Sul como palco para atuar é porque a tanto foram estimulados pela falta de polícia ou pela impunidade predominante. Um decálogo de segurança, distribuído aos turistas e publicado nesta coluna no sábado retrasado, fortalece a hipótese. Tal como comprovação de que 80% da cocaína consumida no Brasil vêm da Bolívia, segundo investigação da própria Polícia Federal sob o Governo Lula. Robustece a denúncia de José Serra sobre a cumplicidade das autoridades bolivianas no tráfico da droga e desfavorece os estrilos da "cumpanheira" Dilma Roussef e do "cumpanheiro" Evo Morales.

Seja como for, são apenas considerações à margem dos fatos. Tanto o brasileiro, o coreano e quem mais caiu no golpe e por vergonha não procurou a Polícia, tiveram sorte de sobreviver. Geralmente essas quadrilhas matam suas vítimas para evitar a identificação.

É de admirar que ainda haja quem caia em conto de vigário. É um dos golpes mais antigos praticados em todo o mundo. O "Annuario do Rio Grande do Sul", de Graciano de Azambuja, edição de 1899 (página 205), já advertia sobre o logro tentado em 14 pessoas (não se sabe quantas caíram no conto) por suposto vigário da Igreja de São Jayme (!), que lhes remeteu carta timbrada com selo da paróquia, oferecendo a tutela de uma órfã, dona de 18 milhões de reales. O piedoso cura desejava, e era justo, uma contribuição em dinheiro apenas para ressarcir-se das dívidas contraídas para cumprir o que lhe pedira o pai da menina antes de morrer.

Mal de uns, benefício de outros – já dizia o antigo provérbio, hoje pouco citado. Que a experiência deste empresário brasileiro sirva de lição a quem anda atrás de dinheiro fácil. Todavia, 125 anos depois a história de Rio Grande, ainda tem gente que não aprendeu.

O vice

Para que serve um "vice" qualquer coisa, em qualquer lugar do mundo? Para substituir o titular em seus impedimentos. E se assim é, deve ter o perfil para exercer o cargo ou funções quando eventualmente for chamado.

Isso em qualquer lugar do mundo, repita-se. Na política brasileira é diferente. O vice até pode ser capacitado para ser o titular do cargo, mas esta não é a regra comum nem essencial. Ele deve trazer no currículo como primeiro item, tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita e cacife para angariar doações à campanha. Se, ainda acrescentar alguns votinhos à chapa, ótimo, mas não é motivo para alguém se entregar à bebida.

Quem tinha razão a respeito de vices era Getúlio Vargas, que conhecia a fundo os homens e os meandros da política: vice, a gente tem que dar alguma coisa para fazer, senão fica incomodando.

Que o diga a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius. Ela não conhecia ou não acreditou no conselho do Mestre Getúlio. Deu no que deu.

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