Ontem, estive na Rádio Gaúcha, para abraçar um dos amigos mais queridos: Holmes Aquino. Completava 50 anos de casa. Com justiça a direção da RBS transformou a data em efeméride pela contribuição que deu ao crescimento da empresa. Perpetuou seu nome na Central Técnica onde, na época em que comunicação por satélite era mera ficção científica, ele operava milagres com alguns metros de fio e pedaços de arame, sem contar a bateria de automóvel, para garantir a transmissão nas eventuais faltas de energia elétrica.
Se meio século já é bastante na história dos povos – impérios surgiram e desapareceram em menos tempo – na história de um ser humano é toda a sua vida. Fernando Ernesto Corrêa, outro combatente da mesma batalha, ressaltou esta qualidade de soldado do Holmes, que jamais perguntava se dava para fazer – apenas procurava saber como fazer.
Desejo acrescentar aqui o testemunho de quem o conheceu menino na cidade do Rio Grande. Soldado da vida foi ele desde que nasceu em uma família paupérrima de muitos filhos, deixados na orfandade pela morte prematura do "velho" Lourival. Ainda bem jovem assumiu a responsabilidade do sustento da mãe e da educação dos irmãos, sem xingações a Deus ou indagações ao Demo.
Não houve biscate que recusasse para não deixar faltar comida, roupa e escola em casa. Um dia, cobrando a contribuição à Guarda Noturna do dono do poderoso SRA-2 (Serviço Riograndino de Altos Falantes), Lindalvo Monteiro, dele aceitou a tarefa de pôr no ar, diariamente, a Hora do Brasil. Era tarefa simples – um cabo conectado ao receptor de rádio injetava o som no equipamento e o entregava à surdez coletiva na Praça Xavier Ferreira.
Quando não se xinga Deus nem se tomam intimidades com o Demo, as respostas caem do céu. Descobrir como aquilo acontecia era o desafio. Pouco meses depois, Holmes fazia seus primeiros prodígios na Rádio Cultura Riograndina. Trabalhamos juntos na década de 1950, na Rádio Minuano, e ele foi autor de façanha histórica, instalando um posto móvel de transmissão a bordo do rebocador Tritão, da Marinha de Guerra, possibilitando a cobertura ao vivo, a partir da Foz do Mampituba, da viagem de jangadeiros cearenses, de Fortaleza até Rio Grande.
Não dá para se alinhar todos os "milagres" do Holmes Aquino, desde que começou, na infância do rádio, quando transmitir apenas o som de um locutor narrando futebol exigia uma floresta de fios e mais de 100 quilos de equipamento, até os "milagres" de agora, quando basta um laptop para se transmitir som e imagem, de qualquer lugar do mundo. Ele próprio, hoje manejando com igual competência a moderna tecnologia digital, se pergunta como foi possível ter feito tudo aquilo que ficou lá atrás.
A resposta é muito simples: para o que se faz com amor, não há enigmas. Integridade pessoal, responsabilidade, perseverança e espírito de equipe escrevem as letras maiúsculas do caráter de um ser humano. E também a biografia de Holmes Aquino, o primeiro homem de rádio, ao que eu saiba, a receber em vida e sem estar desenganado pelos médicos, a retribuição ao muito que contribuiu para a vida de uma empresa.
"Para que o caráter de um ser humano revele qualidades verdadeiramente excepcionais, é necessário observar a sua ação durante longos anos. Se essa ação é despojada de egoísmo, se a idéia que a orienta é de uma generosidade sem par, se é absolutamente certo que não a animava qualquer expectativa de recompensa, então, sem risco de errar, pode-se afirmar que estamos perante um excelente caráter". Eis a definição de alguém como Jayme Copstein e Holmes Aquino. Ambos, ainda perambulam pelo árduo caminho das pedras, o qual pelas dificuldades, solidifica o percurso e aperfeiçoa o caráter. Jayme querido: parabéns por este novo formato de comunicação. Atenta, prossigo sobre as alpondras que, igualmente, tens colocado no nosso caminho; teus leitores. Grande abraço.
ResponderExcluirA homenagem ao Holmes Aquino foi mais que justa e bonita. A crônica muito especial. Também tive o prazer e a alegria de conhecer o Holmes, pois além do trabalho na rádio ele comandava e muito bem, o som do excelente Renato e seu conjunto. Eu já havia passado o microfone para o Edgar no Conjunto Norberto Baldauf (fins de 1959), porém continuamos todos convivendo amistosa e pacificamente. Foi uma época magnífica, da qual gosto de lembrar.
ResponderExcluir