Pouca gente há de saber hoje quem foi Charles Lindbergh e a façanha que praticou neste mesmo dia 21 de maio, em 1927. No entanto, nenhuma celebridade mundial foi tão endeusada em seu tempo, ao se tornar o primeiro ser humano a atravessar sem escalas o Atlântico, voando de Nova York a Paris.
Quem visita o Museu Nacional da Aviação e do Espaço na Instituição Smithsonian, em Washington, sente arrepios ao ver ao lado de cápsulas espaciais, o "Spirit of St. Louis", o pequeno avião em que Lindbergh, sozinho, percorreu os mais de 5.700 Km do percurso. Provavelmente poucos de nós se arriscariam a nele viajar até a cidade mais próxima, a poucos quilômetros de distância.
A primazia de Lindbergh tem sido contestada pelos ingleses, que apontam o pioneirismo de John William Alcock, em junho de 1919, e por nós, brasileiros, que a defendemos para o paulista João Ribeiro de Barros, com o hidroavião
Jahu, em abril de 1919, um mês antes do americano.
Ainda que os dois feitos mereçam lugar de honra nos anais da aviação mundial, nem o inglês nem brasileiro voaram sozinhos. Alcock levou consigo um navegador, Arthur Whitten Brown e percorreu trajeto consideravelmente menor (3.186 Km), da Terra Nova à Irlanda. João Ribeiro de Bastos completou o percurso, de Gênova a Santo Amaro, com escalas na Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e Fernando Noronha, trocando várias vezes a tripulação.
O que deu o recorde a Lindbergh e também um prêmio de 25 mil dólares, foi ter voado de sozinho, de Nova York a Paris, sem escalas. Não se tratava de mera façanha esportiva. Considere-se a limitada capacidade dos tanques daqueles rudimentares monotores, sequer equipados com rádio e recursos para avaliar as condições meteorológicas e poupar a pequena quantidade de combustível que carregavam. Sem apurado senso de logística, ninguém conseguiria vencer o desafio.
Vários o tentaram, com resultados trágicos. O próprio Lindbergh, estragando-se a bússola durante a viagem, não tinha muita certeza aonde tinha chegado, quando aterrissou no Campo de Le Bourget. Perguntou a quem o recepcionava se ali era Paris.
O feito tornou Lindbergh herói mundial. Não havia lugar no mundo, por menor que fosse, que não quisesse lhe prestar homenagens. Há monumentos, registrando sua passagem por inúmeros lugarejos de vários países. Sua popularidade era tal ordem que, em 1932, já condenado pela Justiça norte-americana e recolhido à prisão, o gângster Al Capone ofereceu recompensa de 10 mil dólares a quem indicasse pista que levasse aos sequestradores do filho mais velho Lindbergh, Charles Junior, encontrado morto, mesmo a família tendo pago o resgate.
O crime abalou o mundo. O sequestrador identificado pelo FBI, o alemão Bruno Hauptman, condenado à morte e executado na cadeira elétrica, até o fim negou a autoria, apesar de acharem em sua casa parte do dinheiro do resgate e restos da madeira com que fora feita a escada usada para escalar o sobrado e entrar no quarto onde o menino dormia.
Apesar das provas concretas, Hauptman alegava que tudo fora obra de um patrício a quem dera abrigo em casa e que lhe deixara aquele dinheiro como pagamento pela hospedagem, quando voltara para a Alemanha. Mas o tal amigo já não podia ser localizado nem interrogado, porque morrera. Já tinham se passado dois anos. A controvérsia inflamou a opinião pública e até hoje há quem diga que, não fosse Lindbergh um ídolo, o destino de Hauptman teria sido outro.