quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Brincando com a inflação

O Banco Central, por estreita maioria do Conselho Monetário Nacional (5 a 3) , cedeu às pressões políticas e baixou em um por cento a Taxa Selic. Os bancos diminuíram 0,25% a taxa de mais de 7 por cento ao mês no cheque especial, o que pouca diferença faz no bolso de quem já está encalacrado.

Líderes sindicais aplaudiram a decisão por acreditarem em varinhas de condão, capazes de fazer dinheiro crescer em árvores. Ninguém lhes disse que não há vinculação entre a Taxa Selic e o desemprego. Ela é instrumento de política financeira para controlar a inflação e pouco tem a ver com os juros

Líderes empresariais festejaram a redução por amarem uma “inflaçãozinha maneira” que corrói seus débitos, mas aumenta substancialmente seus haveres em aplicações no mercado financeiro. Antes, odiavam o câmbio flutuante que mantinha baixo o valor do dólar. A crise quase dobrou o valor da moeda norte-americana, mas não surtiu efeito porque a Selic segurou inflação.

Ora, a Selic não tem muito a ver com o chamado “spread”, a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram para emprestar o dinheiro. O “spread” não baixa porque o maior tomador desses papagaios é o próprio governo, sobrando pouco para a iniciativa privada.

É a velha lei da oferta e procura. Para não cair em situação idêntica – ou para sair dela – Barak Obama anunciou em seu primeiro dia de Casa Branca, corte dos gastos públicos, admitindo até a redução dos salários dos funcionários públicos. Ele não tem como diminuir mais a taxa de juro, bem próxima de zero nos Estados Unidos.

Foi exatamente a oferta abundante de dinheiro para adiar a recessão que criou as condições do subprime e da crise mundial conseqüente, conforme reconheceu agora Alan Greenspan, o antigo presidente do Banco Central norte-americano. Quando já não há mais produção de bens para financiar, com facilidade desemboca-se na aventura e na trampolinagem. Algo, aliás, encontrável com facilidade na história brasileira, desde o “encilhamento”, o primeiro escândalo da República até os modernos incentivos à área cultural.

Enquanto isso...

...levantamento feito pela Fecomercio do Rio de Janeiro, revela o aumento do consumo de produtos piratas no Brasil. Em 2008, aumento em 8 milhões o número de brasileiros que preferiram a “muamba”, por ser mais barata apesar de não pagar impostos, criar empregos, ser de pior qualidade e não estar protegida pelas garantias do Código de Proteção ao Consumidor.

Se calcularem em 500 reais a média do gasto anual com artigos pirateados, só considerando esses 8 milhões de novos consumidores de “muambas”, representou sangria de 4 bilhões de reais.
É fácil calcular quanto se perdeu de impostos, de salários e de lucros que seriam reinvestidos na atividade econômica, sem necessidade de o governo inflacionar a moeda para manter o crescimento.

Claro que o governo tem sua parcela de culpa. Se há algo inexistente neste país é fiscalização. Mas é só parte do problema. O resto corre mesmo por nossa conta – quase metade da população transgride a lei por ninharia.

Não há governo que consiga levar um país adiante com um povo assim.

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