terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Conspirações judaicas - Jayme Copstein

No fim do século 19, quando a França construía o metrô de Paris em meio a acesas discussões políticas, o antissemitismo que já havia produzido o Caso Dreyfus levantou a acusação de que os judeus queriam construir o sistema subterrâneo de trens para explodir as cidades dos cristãos.
Quando alguém alegou que os judeus também morreriam na explosão, a resposta foi: seriam avisados a tempo para se porem a salvo.

A idiotice, incluída nos Protocolos dos Sábios do Sião, fraude racista arquitetada pelos serviços secretos russo e francês, era repetida com ares de esperteza pelo integralista Gustavo Barroso, o sumo sacerdote do nazismo no Brasil. Era a prova acabada do complô judeu para dominar o mundo.

Pois agora, difundida pela agência Folha Press, outra idiotice semelhante ganhou manchetes de jornais, noticiando um software israelense – programa de computador – que agiria “nos bastidores da internet, modificando resultados de enquetes on line, entupindo caixas de e-mails de autoridades e ajudando a protestar contra notícias desfavoráveis à comunidade israelense”. Mais: “com poucos cliques, (e sem dominar o idioma da página em questão), é possível influenciar uma pesquisa no site do Yahoo ou mandar um notícia sobre mísseis palestinos para a ONU”.

Afora a baboseira de a ONU e demais instituições internacionais e governamentais elegerem o Yahoo ou a Wikipedia como fonte de informações para decidirem suas posições, a notícia consegue o milagre da onisciência: mesmo não conhecendo idiomas, o militante sionista é capaz de detectar e modificar qualquer coisa escrita, do tulugu ao bretão.

Quem já tentou traduzir textos para o português, usando programas de computador, sabe das risadas que deu com o resultado. Já houve quem tivesse obtido a informação de que The Gay-Lussac’s Law é uma lei do “homossexual Lussac regulando relacionamentos matemáticos”.

A dificuldade – até impossibilidade – da informática para “humanizar” o computador é não conseguir programar máquinas para sentir emoções. Daí porque se alguém puser no Google “textos a favor de Israel”, vai encontrar também textos desfavoráveis, como na página “Desabafo Brasil” (http://desabafopais.blogspot.com/2009/01/ir-fecha-jornal-por-publicar-artigo.html), de militantes petistas, engajados na candidatura presidencial da ministra Dilma Roussef:
“Irã fecha jornal por publicar artigo a favor de Israel” – uma contribuição atribuída a um gerente da Caixa Econômica Federal que parece ter acrescentado aos encargos de seus executivos o de tomar oficialmente partido em conflitos internacionais.

O computador encontrou a expressão “a favor de Israel”, sem distinguir o que significava no contexto da frase. A máquina é incapaz de identificar emoções, se a notícia era a favor ou contra Israel. O espantoso é essas patetices encontrarem guarida nos jornais, fora da edição de 1º de abril. Não faz muito, acusava-se Israel de ter desenvolvido um vírus que atacava apenas pessoas com DNA árabe. Os geneticistas sabiam que era absurdo, mas não se ouviu uma voz desmascarando a difamação. Tal como aconteceu na Alemanha, durante o Holocausto.

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