domingo, 25 de janeiro de 2009

O joio e o trigo - Jayme Copstein

Anda pela Internet um audiovisual, atribuído a um mexicano, com as mesmas queixas que temos do Governo, do Congresso e do Judiciário no Brasil.

O meu espanhol, mal aprendido em um ano de colegial e engordado de ouvido com o “castejano” de turistas e fronteiriços, não é dos melhores. Não consegue distinguir se o texto foi gravado por um mexicano de verdade ou se tem parentesco com o inglês macarrônico, inventado em besteirol de anexação da Amazônia aos mapas dos colegiais norte-americanos, como já circulou há algum tempo na Internet.

Se o texto é autêntico ou não, se coletou ou não as nossas frustrações com intenções obscuras, vale, porém, para demonstrar como a América Latina é vítima do seu próprio atraso e vulnerável a qualquer experimento político bolado pela intelectualha para demonstrar gênio e assegurar a posse da verdade.

Menos atenção, com toda certeza, chamou o texto do professor Naércio Menezes Filho, diretor de pesquisas do Instituto Futuro Brasil, “Como ensinar nossas crianças a ler”, publicado por Valor Econômico em 31 de janeiro e disponível também na Internet, sem que alguém se digne a incluí-lo nas suas listas.

Em países como os da América Latina, se generalizarmos as mazelas apontadas pelos audiovisual supostamente mexicano – a nós, com toda a certeza se aplicam – não se pode esperar coisa melhor pelas deficiências da educação. Basta dizer que, no Brasil, acabaram soando como um traque as sonoridades das estatísticas que mostravam quase a erradicação do analfabetismo: mais de 60% dos supostos alfabetizados não conseguem entender o que lêem – apenas decifram o som das sílabas.

O artigo do professor Naércio relata as primeiras conclusões do projeto Geres (http://www.geres.ufmg.br), que observa cerca de 27 mil crianças de mais de 300 escolas desde 2005 em cinco cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Campo Grande e Campinas): passar e corrigir lições de casa funciona, o aumento dos recursos gastos não melhora o ensino e não há diferença de aprendizado entre alunos de classes com mais de 33 alunos ou com menos de 16. A diferença entre professores bons e ruins não depende de terem curso universitário (público ou privado), ou apenas ensino médio: os melhores são os que têm entre 5 e 15 anos de magistério. O que faz sentir saudades dos velhos cursos normais, onde se formaram legiões de excelentes mestres.

Entre as constatações importantes está a de “alunos que estudam com filhos de pais mais escolarizados e ricos aprendem a ler mais rapidamente. Vale notar que isto é mais importante do que o nível socioeconômico do próprio aluno. Isto acontece porque os pais mais ricos pressionam mais as escolas quando os professores não estão ensinando como deveriam e porque fica mais fácil aprender a ler quando seus colegas de classe têm mais facilidade”, escreve o professor Naércio.

O que desmascara o crime contra a nacionalidade cometido nas salas de aula, por quem politiza a educação, jogando brasileiros contra brasileiros, impedindo a sua integração cívica e reduzindo-os à mera de condição de militantes, em lugar de formar cidadãos.

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