Naqueles tempos de preconceito, “seu” Tajuba não levava ninguém de compadre, menos ainda homem cheio de não-me-toques. “Macho que não é macho, nem devia ter nascido”, pregava aos quatro ventos.
Quem não estava por esses conformes era a mulher, dona Sinhá. Depois que a tevê trouxe as novelas pra dentro de casa, começou a ter opinião, a discordar: “Você fica atracado com as vacas, não presta atenção no mundo. Tudo mudou.”
Andavam os dois nesses desconformes, quando um dia o Ruirinha voltou à cidade. Tinha sido escorraçado a rabo de tatu, pra deixar de frescura e de envergonhar São João dos Milagres, cidade de machos. Seu Tajuba foi quem mais bateu.
Choramingando, enxugando as lágrimas com lencinho de renda, Ruirinha jurou: “Um dia volto, todo mundo vai beijar minha mão!” Tocou-se pro Rio de Janeiro, rolou mundo, acabou costureiro famoso em Paris, onde casou com um ex-segurança da princesa de Mônaco. Quando desembarcou em São João dos Milagres, fez de propósito: cheio de ademanes e penduricalhos, trajava uma pilcha estilizada em seda brilhante rosa choque com aplicações verde malva.
Seu Tajuba ao ver aquilo, ficou possesso. Queria dar tiro: “A gente aqui faz força pra mostrar que é macho, esse cara envergonha a gente lá fora.” Dona Sinhá foi quem o conteve: “Tajuba, esse cara é famoso em todo o mundo. Ele faz vestido até pra rainha da Inglaterra!”
Seu Tajuba não queria acreditar: “Pra rainha da Inglaterra?!”, repetiu. Só quando ela lhe esfregou nas fuças a revista Caras, ele se rendeu: “Não me diga!... “
Tirou uma baforada comprida do palheiro, refletiu um pedacinho sobre as mudanças do mundo: “Quem diria... o Ruirinha, que a gente corria de rebenque pr’a deixá de se fresquear... “
Inflou o peito, botou no rosto um sorriso de orelha a orelha e soltou de puro orgulho: “Mas já é um carreiraço pr’um fresco!...
Ato contínuo, entrou na fila para pegar autógrafo.
sábado, 31 de janeiro de 2009
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