La "famiglia"
Há poucos dias, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez referência a equívocos da Polícia Federal na caça a corruptos da vida pública, a primeira suposição era a de que Sua Excelência reconhecia os excessos cometidos, principalmente contra políticos de oposição.
Doce, precoce e fugaz ilusão. A revista "Veja" desta semana transcreve gravações da Polícia Federal, mostrando o tráfico de influência praticado pela filha e pelo genro do Presidente, o que, aliás, não é nenhuma novidade, eis que a atividade foi inaugurada seu irmão mais velho, o Genival Inácio da Silva, o Vavá, que cobrava a módica taxa de dois "pau".
Lurian da Silva e Marcelo Sato aumentaram consideravelmente as avenças, mas não sejamos maldosos – é mero reajuste à inflação que no andar "lá de cima" é notavelmente maior que a do andar debaixo. É só comparar o reajuste das aposentadorias da plebe com o dos proventos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados e senadores, para concluir-se que não é só a Índia que tem párias.
As façanhas da "famiglia" não pararam aí. Há poucos dias o Fabinho (conhecido também como Lulinha) e mais 15 amigos pegaram carona no "Sucatão", que levava o presidente do Banco Central de São Paulo a Brasília. A carona foi considera "normal" pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Lulinha tornou-se conhecido por ter nascido em decúbito dorsal para a lua – vendeu sua "empresa" de joguinhos eletrônicos por 5 milhões de reais e hoje, segundo noticiam os jornais, instalado no mundo empresarial, goza de confortável prosperidade.
O galho do Arruda
Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, um velho conhecido das colunas de jornal, José Roberto Arruda, atual governador de Brasília, era flagrado por crime que – supõe-se de imodéstia: em vez dos dois ou dos dez "paus" de Vavá, Lurian e Sato, inflacionou para 600 mil reais a contribuição "voluntária" arrecadada de fornecedores do governo. Faça-se justiça, porém – em vez de ficar com tudo, Arruda mandou distribuir 400 mil aos deputados da sua "base aliada" e guardou os 200 mil sobrantes, para "despesas" futuras, em "lugar ignorado e não sabido" como diziam os velhos policiais, no tempo em que prendiam e os gatunos ficavam na cadeia. Isso, porém, foi no tempo em que o Ariri Cachaça não bebia, amarrava-se cachorro com linguiça, a onça bebia água na hora certa, a porca torcia o rabo e o Brasil não era o país da impunidade ampla, geral e irrestrita de hoje.