quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O raio que sobe – Jayme Copstein

Está o governo em conluio para decidir quem vai assumir o apagão de terça-feira. A esta altura dos acontecimentos, há uma investigação frenética para descobrir não o que aconteceu, mas quem vai dar a cara a bater. É preciso salvar a candidatura de Dilma Roussef, antes que ela tenha de dizer, como Fernando Henrique Cardoso: "Esqueçam tudo o que falei". Apresentada desde a primeira hora como administradora competente, ocupou a pasta de Minas e Energia, garantiu que "apagão não cai do céu".

Até certo ponto, a ministra tinha razão porque nem todo o raio cai do céu. Alguns sobem da terra e vai ver que este é o caso. Não foram feitos os investimentos que ela própria preconizava, conforme constatou o Tribunal de Contas, e o governo acabou se revelando todo o problema, não apenas parte dele, como ela também disse a respeito de seus antecessores.

Guardadas as proporções e dando graça a Deus não se trata de energia atômica, a situação é muito parecida com a de Chernobyl, ponde os camaradinhas do Partido se adonaram confortavelmente das suculentas pepineiras e consideraram inimigos contrarrevolucionários os técnicos que alertavam sobre a precariedade da segurança. Dilma foi guindada ao Ministério das Minas e Energia não porque entendesse de uma coisa ou de outra, mas pela sua devoção ideológica. Acabou substituída por Edson Lobão, imposto a Lula, entre tantas outras pílulas amargas, por Zé Sarney.

Tudo indica que Lobão está sendo cogitado para salvar Dilma do vexame. Não conseguiu passar de desculpas esfarrapadas, gaguejadas na entrevista coletiva de terça-feira, e recebeu um canhonaço do seu coleguinha Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, exigindo com veemência que o governo dê explicações que "satisfaçam à sociedade".

Tudo bem. Neste momento, Lobão é o Judas ideal para receber a pancadaria. Só falta combinar com Zé Sarney, seu padrinho, cuja notável biografia, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o torna intocável.

Acrobacia jurídica

Acrobacia jurídica, do advogado-geral do Senado, Luiz Fernando Bandeira de Melo, defendendo a posse de "suplentes" e até de candidatos que nem suplentes são porque suas legendas sequer alcançaram o quociente eleitoral: "A ampliação não altera o resultado das eleições. Os que foram eleitos permanecem eleitos. Só serão convocados alguns outros representantes do povo.".

Altera, sim, porque empossaria quem não foi eleito e, portanto, não é representante do povo. Luiz Fernando perdeu de goleada: 8 a 1.

A vez do eleitor

O ministro Marco Aurélio Mello, com sua brilhante defesa de Cesare Battisti, conseguiu de novo adiar a decisão sobre se o Brasil extradita ou não o terrorista italiano. A votação agora está empatada em 4 a 4. A próxima sessão do STF vai ferver com o bate-boca: cabe ou não o voto de Minerva ao presidente Gilmar Mendes?

O cidadão comum, porém, não deve se sentir impotente diante desse quadro. Como eleitor, pode se manifestar, não com papagaiadas de votar em branco ou anular voto, para evitar o ocorrido na Venezuela onde a abstenção "esperta" deu 100% do |Congresso a Hugo Chaves. A eleição de 2010 é um encontro de contas do eleitor com certos políticos que estão se lixando para a opinião pública, uns dizendo em alto e bom som, outros caborteiramente escondendo.