Não tem nenhum sentido a polêmica provocada por artigo de César Benjamin, relatando confidência de Luiz Inácio Lula da Silva de suposta investida sexual sobre um jovem militante e companheiro de cela, quando esteve preso em 1980. A confidência, melhor dito, a gabolice – Lula falava não poder passar sem sexo – aconteceu na campanha presidencial de 1994 e foi testemunhada também pelo cineasta Sílvio Tendler que registrou como "piada" entre as muitas que o candidato contava todos os dias para provocar o riso dos seus acompanhantes.
Ora, já era tempo de o Brasil habituar-se à generosa dose de tolices que o seu presidente lhe serve diariamente. Se em público Lula diz o que diz, imagine-se quando se sente resguardado pela intimidade. Talvez a suposta "vítima" – se é que existiu fora da sua imaginação e sobreviveu ao cárcere – pudesse esclarecer a verdade, Contudo, quem tem a mínima informação sobre a vida de militantes encarceirados, sabe que entre eles se estabelece um código de honra, cuja ruptura traz consequências desagradáveis para o infrator. Não fosse "piada" o relato de Lula, ele não sairia inteiro da aventura. A represália não se limitaria aos cotovelaços do "menino" e ele não teria como se queixar dos "torturadores do regime".
Helena de Almeida Prado Bastos, em carta à Folha de São Paulo pôs as coisas em seus devidos lugares: "Eu nem acredito nem desacredito, até porque Lula é mesmo um debochado e escrachado. Mas tenho duas dúvidas. Uma delas é saber por que Benjamin ainda trabalhou com alguém capaz de cometer torpeza tão grande. Outra é saber por que só agora fez essa revelação. Parece-me que seu artigo adianta a baixaria que será a campanha de 2010. (...) Que fique claro: a Folha publicou a opinião de um de seus vários colunistas. Não tem nada a ver com isso. Por dever de ofício deve apurar os fatos. Ponto. Que triste mania que os lulistas têm de querer cercear a liberdade de expressão, insuflada por Lula e seus asseclas, aliás."
Isto posto, e já que nosso ilustre Presidente anda chegado a um latim nos últimos tempos, eis um aforismo que lhe cabe como uma luva: "Aquila non caput muscas". A tradução correta é: A águia não caça moscas. Mas, em bom português, claro e sonante é: "Em boca fechada não entra mosca."
O silêncio de Chavez
Um velho samba de 1919 perguntava: "Papagaio louro do bico dourado./ Tu falavas tanto, / qual a razão que vives calado?" Era gozação de J.B. da Silva, o Sinhô, registrando a derrota de Ruy Barbosa para Epitácio Pessoa, na eleição presidencial daquele ano. Noventa anos depois, a mesma pergunta pode ser feita a Hugo Chávez, de bico enfiado nestes últimos dias, não por ter, afinal, conhecido a virtude de reflexão, mas por cair-lhe nas mãos um imenso pepino: o desempenho da economia "bolivariana".
A inflação na Venezuela já está atingindo a marca dos 30%, o dobro dos 15% previstos no orçamento do corrente ano. O PIB também despencou: queda de 4,5%. entre julho e setembro. Os lucros da Petróleos de Venezuela (PDVSA) encolheram 66,8 % neste primeiro semestre..
A esta altura dos acontecimentos, com a popularidade em queda, Chávez poderia recorrer aos investimentos privados para hidratar a economia da Venezuela. Mas como atraí-los se ele os escorraçou, ainda no início de seu governo? Não será fácil