A não ser que os fotógrafos e os cinegrafistas tenham procurado o melhor ângulo – propaganda enganosa, se foi o caso – o mais pertinente para comentar sobre a alaúza protagonizada por uma aluna da Uniban é: "Que belo par de pernas!". Permitam-me confessar a politicamente incorreta mas invencível ojeriza pelos esqueletos ambulantes que faturam milhões (no que fazem muito bem) em desfiles de modas, Ao contrário do que diz o provérbio, a carne é forte...
No resto, foi mera soma de palhaçadas, começando com a fúria dos colegas acossando a senhorita, nada diferente do que fazem o MST, os usuários dos trens metropolitanos do Rio de Janeiro ou as torcidas de futebol, todos pretextando a mesma nobreza de propósitos e todos aderindo à bagunça instaurada pelo bom mocismo calhorda que transformou o Brasil em terra da impunidade. Cada um faz o que bem entende e todos discutem – se é proibido proibir, como se proíbe de proibir?
Culminou o episódio com a mercadântica revogação da irrevogável e mercadântica expulsão da aluna pela Uniban, graças à pronta intervenção das autoridades educacionais, enfastiadas por nada mais terem a fazer neste e agora, graças ao bom Deus, podendo dedicar-se de corpo e alma, em tempo integral, ao comprimento dos vestidos das moças universitárias.
Escapa em tudo isso, porém, uma frase da própria protagonista, de que havia "exagerado um pouco" (sic|) nas suas andanças pelas dependências da Uniban, Ora, todo o grupo tem seu código de conduta e convivência que, com a frase, ela reconhece ter desafiado. Não justifica a selvageria da reação dos colegas, apenas evidencia o que foi dito antes, que vivemos tempos de bagunça institucionalizada, mas induz a uma indagação: se ela sabia que era assim, por que o desafio?
Querem apostar que a resposta vem em uma das próximas edições da Playboy?
Perigo à vista
O ministro Guido Mantega tem toda a razão quando se mostra alarmado com a enxurrada de dólares derramada no Brasil – valoriza o real, derruba as exportações e põe em risco a indústria nacional. Há duas semanas, perguntava-se nesta coluna de onde vinha tanto dinheiro, sugerindo-se até a possibilidade de origem duvidosa. A resposta, entretanto, está no portal do economista Nouriel Roubini (http://www.rgemonitor.com): são dólares que especuladores obtêm em empréstimos a juros microscópicos no exterior e invistam em países que paguem juros maiores, como é o caso do Brasil.
É uma situação de risco igual a da "bolha" imobiliária que pôs as finanças mundiais em crise no ano passado. A certa altura, ela estoura – tal como entram, os dólares saem. Roubini diz que esta situação pode sacudir outra vez as finanças mundiais e é bom se precaver. O problema é que as medidas até agora adotadas não conseguiram sustar a enxurrada dos dólares. Mantega vai ter de pensar em algo mais drástico.
Mera coincidência
Deve ser coincidência. Mal o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se desentende com o Tribunal de Contas da União, a Polícia Federal descobre que um irmão de um ministro está metido em irregularidades. Com toda a certeza, as supostas irregularidades não começaram a ser praticadas ontem. Como ensina o Eclesiastes, tudo tem o seu tempo, e sendo o nosso Presidente um exemplo de devoção religiosa, o tempo da investigação é sempre quando os herejes põem em dúvida a santidade do governo.