Sexta-feira, conversávamos, os advogados Flor Edison da Silva Filho e Adir Ney Generosi e eu sobre as sinucas de bico em que o diplomata diletante Marco Aurélio Garcia têm colocado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao prestar suposta assessoria de Relações Internacionais.
Garcia, com passagem fugaz pelo jornalismo (editoria internacional) não consegue descolar sua retina das visões ideológicas anacrônicas adquiridas nos bancos universitários, ao tempo em que o regime militar pretendeu substituir o bíblico livre arbítrio pelo Regulamento Geral do Exército. Além da experiência falta-lhe pé na realidade para admitir que figuras como Hitler, Stalin, Mao, Pol Pot, Castro, Milosevic ou Ahmadinejad perseguem não os que supostamente se opõe à grande humanidade feliz de Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e da Cegonha, mas apenas quem representa perigo para o seu poder absoluto.
As nações agem também da mesma maneira quando se trata de seus interesses. Garcia já podia tê-lo comprovado na risadinha de Putin, quando lhe foi proposto o eixo Brasília-Moscou ou quando os "companheiros" africanos cortesmente recusaram a proposta de uma "frente" por que têm as melhores relações comerciais com a União Europeia e não teriam a quem vender seus produtos em caso de ruptura. Ou então quando a então ministra do Comércio da França, Christine Lagarde, acusou o Brasil de pretender deixar a Europa sem roupa quando foi pedido ao "companheiro" Sarkozy o mesmo tratamento fiscal, sem limitação de cotas, concedido à produção agrícola das nações africanas.
Madame Lagarde deu-se ao luxo até de ser vulgar na recusa: "Já estamos de calcinhas e sutiã e vocês [do Brasil] querem que continuemos a tirar a roupa. Por isso a nossa resposta é não!" Com toda a certeza, assim como Garcia não consegue sair do centro acadêmico ao formular suas políticas internacionais, sobra em Madame Lagarde a lembrança do tempo em que a Legião Estrangeira, onde os Battisti de todo o mundo escondiam seus crimes, cortava a mão dos negrinhos da África para lhes mostrar quem mandava no pedaço. E continua mandado: a produção agrícola desses "negrinhos" – café, cacau, algodão, açúcar – está nas mãos das grandes empresas europeias que a negociam como se cultivada na própria Europa. Quando se reclama da maroteira, leva-se um coice pela cara.
É neste contexto em que, sob as mais ardentes juras de amor, cada um só enrola a linha do carretel na sua própria direção e quem não protege seu traseiro com uma tampa de ferro, faz papel de bêbado e de bobo da corte, que Lula terá de decidir sobre a extradição de Battisti. O dr. Adir Generosi, na conversa que tivemos, formulou hipótese interessante: se Lula pretende desempenhar algum papel de relevo no cenário internacional, para preencher o vácuo de poder dos quatro anos que o separam do próximo mandato de 2014, não pode recusar a extradição de Battisti. Mandar um tratado diplomático às favas e desafiar a ordem pública mundial em nada contribui para preservá-lo como o "Cara". Se há alguém perito em enrolar o carretel para dentro e já nasceu com uma tampa de ferro revestida de teflon no traseiro, com toda a certeza esse alguém é Lula.