segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Brisas e furações - Jayme Copstein

Muito interessante a decisão da Corregedoria Geral de Justiça do Rio Grande do Sul, de exigir, a partir de agora, que toda a papelada encaminhada aos fóruns venha devidamente perfurada com dois buracos centralizados.
Ao contrário da aparência, a exigência não é descabida. Perde-se um tempo furando papéis. Eles podem ser comprados já esburacados com engenho e arte nas papelarias. É só pedir que se encontra papel de dois, de três de quatro – tem buraco para todos os gostos.
Descabida é argumentação de que a medida vai apressar os processos e proteger os escrivães das lesões por esforço repetitivo. Fura aqui, fura ali, o único trocadilho que não cabe é furacão porque, em matéria de ventania, o máximo que se pode aspirar nos tribunais, além da poeira e dos fungos, é a amenidade e a lentidão de certas brisas.
O descabimento é porque cabe ao Judiciário, o empregador, proteger seus funcionários e não exigir que as partes e os advogados o façam. Talvez se perca mais tempo nas elucubrações que ornamentam algumas decisões do que na furação de papéis.
Mas há aspectos filosóficos nesta questão. O buraco está se convertendo como medida de todas as coisas no Brasil. Tem buraco no orçamento, tem o buraco do mensalão, buraco mais em cima, buraco mais em baixo.
Como a vida é um buraco em toda a parte, chegamos à conclusão de que o Rio Grande do Sul é um Estado plural. Aqui, pelo menos, a vida são dois buracos. No papel, fora o alho.

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