Quando o regime militar se abriu, veio a anistia e começou o retorno dos exilados, encontrei na rua da Praia um amigo, cujo currículo tinha como principal item sua lealdade aos ideais de extrema esquerda.
Estava transtornado diante da iminente volta de Brizola. “Não pense ele que chega aqui e assume o comando”, me falou já em pé de guerra, mostrando que 20 anos de ditadura não lhe haviam ensinado a lição. Continuava a luta encarniçada pelo poder, origem da frase: “Esquerda só se une na cadeia ou no hospital”.
Mas não são as frases o elemento importante para se analisar a crise da nossa esquerda. Mesmo porque não passam de falácia. Esquerda, direita, centro, ou o que seja só se unem enquanto podem manter o poder. Ao menor aceno de aumentar o quinhão, descabam para a incoerência, a traição, a corrupção e até a autodestruição.
O grande problema brasileiro são os mitos que geram essas frases, alguns dos quais, de tão repetidos, acabam por adquirir aparência de verdade, dentro da melhor dialética hitlerista.
Jeitos de governar, ética na política, monopólio do saber, da verdade e da democracia, tanto de caçadores de marajás com o de redentores da espécie humana, escorrem esgoto abaixo quando se vislumbra qualquer suculência.
Oscar Wilde tinha razão: pode-se resistir a tudo, menos às tentações.
segunda-feira, 19 de setembro de 2005
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