Foi estanho, em 2008, o silêncio que se fez em torno dos 190 anos da mais popular canção do Natal – Noite Feliz. Ouvida hoje em todas as esquinas do mundo, nasceu em 24 de dezembro 1818, em uma pequena aldeia dos Alpes austríacos – Obendorf, perto de Salsburgo.
O padre Joseph Mohr, pároco da aldeia, estava sem inspiração para escrever o sermão da Missa da Natividade. Chamado para ir às montanhas, batizar o filho recém-nascido de um casal de camponeses, ao regressar Mohr viu brotar em sua cabeça um poema que refletia a paz e o silêncio dos caminhos cobertos de neve por onde andara.
Entusiasmado, decidiu substituir o sermão pelo poema e o mostrou ao mestre-escola Franz Grüber, músico amador que tocava o órgão da igrejinha de Obendorf.
Inspirado pela beleza do poema do padre, Grüber compôs a melodia. E naquela noite de 24 de dezembro de 1818, os cristãos da pequena aldeia dos Alpes austríacos ouviram pela primeira vez o que se eternizaria como a canção do Natal.
Na primeira audição, Noite Feliz teve acompanhamento de violão, porque o órgão estava estragado. Os foles tinham sido roídos pelos ratos, cujo espírito natalino só encontra similar em certos homens.
Foi só em 1825, quando passou por Obendorf para consertar o órgão da igrejinha que Karl Mauracher conheceu e fascinou-se com a canção. Ele a transmitiu a uma família de cantores, os Strasser, que a popularizaram na Alemanha.
Os versos de Noite Feliz, levados por missionários europeus a todos os cantos do mundo, hoje estão traduzidos para cerca de 300 idiomas.
Natal de todos
Noite Feliz não é única canção tradicional do Natal, e aí temos uma curiosidade, porque há várias criações de compositores judeus, antecipando em mais de cem anos o espírito ecumênico hoje predominante. A primeiras dessas melodias foi criada em 1847 pelo francês Adolph Adams e tem o título de "Minuit Chrétiens" (É meia-noite, cristãos). Hoje conhecida como "Holy Night" (Noite Santa), foi também, segundo se crê, a primeira música transmitida por uma estação de rádio.
Entre as mais modernas, destacam-se "The Christmas Song (A canção de Natal), Let it Snow (Deixa nevar) e White Christmas (Natal Branco), de irving Berlim. A primeira, "A canção de Natal) é do cantor e compositor Mel Thorne, cujos versos trazem uma singela mensagem de amor: "Ofereço esta simples frase a todas as crianças de um a 92 anos: Digam bem alto, digam muitas vezes, digam de todos os jeitos – Feliz Natal para você!"
A mais popular é "Deixa nevar, dos compositores Jules Styne (Julius Kerwin Stein) e Sammy Kahn (Samuel Cohen). A melodia alegre se completa com versos brincalhões, descrevendo a neve e o frio do Hemisfério Norte nessa época do ano: "Já que o tempo lá fora é terrível, já que não se tem aonde ir, deixa nevar, deixa nevar". De todas as canções de Natal de autoria de compositores judeus, a mais bonita com toda a certeza é White Christmas (Natal Branco), criada por Irving Berlim. Além excepcional beleza da melodia, a poesia destas palavras: "Sonho com um Natal branco, como esses que eu vivo, em que a copa das árvores brilhe e as crianças ouçam os sinos dos trenós na neve.
Natal polonês
Já que estamos falando de curiosidades desta época do ano, as comemorações de Natal mais prolongadas são as da Polônia. Começam em 20 de dezembro e se prolongam até 2 de fevereiro. O ponto central é a ceia, em 24 de dezembro. A família se reúne em torno de uma mesa forrada de palha, para lembrar que Jesus nasceu em uma manjedoura. Senta-se à mesa sempre um número par de comensais, deixando-se vaga uma cadeira para um hóspede imprevisto, tradição que lembra a ceia de Rosh Shaná, o ano novo judaico, onde também uma cadeira é reservada ao profeta Elias, caso ele decida visitar aquela casa.
Antigamente, a ceia do Natal polonês, compunha-se de 12 pratos à base de peixe, para lembrar os 12 pescadores que foram discípulos de Jesus. Modernamente, os 12 pratos são substituídos doze frutas em compota. Depois da ceia, tal como os nossos antigos ternos de reis, ocorrem os Koledy. São grupos de rapazes que percorrem as ruas, cantando canções natalinas de casa em casa. E também armam-se os Jaselkas, presépios vivos que representam a história de Jesus através de peças teatrais, com até duas horas de duração.